Entrevista:

Leia - O senhor participou, em outubro, de dois eventos importantes relacionados à cultura: o colóquio Brasil-França, promovido na esteira das comemorações do ano internacional do Brasil na França, e a celebração dos 60 anos de criação da UNESCO, quando foi aprovada a Convenção da Diversidade Cultural. Qual a posição do Brasil nesses encontros?
Dep. Paulo Delgado - Fortemente ativa e respeitada. Seja pelo caráter universal de nossa cultura, seja pela força e destaque da UNESCO brasileira. A posição histórica do nosso país em relação à diversidade cultural nos últimos anos ajudou a conformar amaioria - quadse unanimidade - da assembléia para a aprovação da Convenção. A parceria com a França foi harmônica e decisiva nesta questão.

Leia -  O tema do colóquio propunha uma reflexão sobre a cultura ser ou não uma questão econômica. Como foram os debates? Os dois países chegaram a algum consenso?
Dep. Paulo Delgado - Há uma economia da cultura que deve ser tratada fora do âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), como exceção no trato da circulação das mercadorias. Além do que a subjetividade, os sabores, sons, imagens, o caráter imaterial, os clichês (samba, futebol e carnaval) são sinais de uma indústria cultural para o Brasil - o que os franceses já descobriram há muito tempo e faz de Paris a cidade mais visitada do mundo.

Leia -  A Convenção foi aprovada pela quase unanimidade dos países, contra o voto dos Estados Unidos. Por que a posição americana é divergente?
Dep. Paulo Delgado - Os Estados Unidos chegaram tarde na UNESCO - ficaram fora vinte anos - e não conseguiram por ato de força constranger a maioria. Depois eles já resolveram seus problemas econômicos/comerciais fazendo do mundo seu mercado cativo - para o cinema, música, estilo de vida, a própria língua que não é mais inglesa, é americana. O que elestemem é a emersão de  novos atores nacionais, criativos e capazes de empolgar o mercado mundial com seus produtos, sua cultura.

Leia - O que é patrimônio imaterial?
Dep. Paulo Delgado - A expressão patrimônio imaterial se refere ao conjunto de bens e valores não-materiais de um povo, uma nação, que se transmitem de geração em geração e contribuem para sua identidade. Abrange a totalidade das tradições, expressões orais, manifestações artísticas, práticas sociais, rituais e festividades, além de conhecimentos e técnicas relacionados à natureza e ao universo. Como se vê, trata-se da cultura em sua expressão simbólica por excelência.