Frequência ao ensino médio cresceu, mas etapa não atrae jovens que estão fora da escola
Fonte: Agência Brasil
por Amanda Cieglinski
Nos últimos anos, cresceu o número de jovens entre 15 e 17 anos que estão no ensino médio, etapa de ensino correspondente a essa faixa etária. Mas o número de jovens fora da escola permanece estagnado. Foi o que apontou o pesquisador Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) durante seminário promovido hoje (16) pelo Movimento Todos pela Educação e pelo Instituto Unibanco.
Segundo Paes de Barros, a taxa da população de 15 a 17 anos matriculada no ensino médio têm crescido porque mais estudantes estão terminando o ensino fundamental na idade correta. Mas a escola ainda não conseguiu atrair aquela população que desistiu de estudar, que hoje corresponde a 18%.
"Minha perspectiva é que a desigualdade está muito por trás disso. Esses 18% não estão espalhados pelo país, mas localizados em áreas específicas. São jovens de famílias pobres, que vivem em áreas mais isoladas, parte disso na zona rural. O sistema educacional atingiu um nível de inclusão dessa população que agora terá que fazer mais do que tem feito para superar isso”, defendeu Paes de Barro.
Os especialistas presentes no evento defenderam que a escola hoje é pouco atraente para o jovem, especialmente de classes mais baixas, já que ele não tem a perspectiva de ingresso no ensino superior. Hoje, a principal função do ensino médio, é preparar os estudantes para o vestibular.
“Se você tem uma escola totalmente com viés acadêmico, voltada para a universidade, você já tem 18% que sabem que não vão para a universidade, então para que ir para uma escola que vai ensinar um monte de coisas que ele não vai utilizar na vida dele?”, questiona o pesquisador.
O presidente do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, destacou que 40% dos jovens que evadiram da escola dizem ter saído por falta de interesse. O diretor de Concepções e Orientações Curriculares do Ministério da Educação, Carlos Artexes, destacou que ainda “assusta” o fato de a taxa de conclusão desta etapa ser de 50%, ou seja, metade dos jovens que entram no ensino médio não se formam.
“A escola é infantilizada e não reconhece o sujeito que ela atende. O ensino médio tem que dialogar com o jovem e é impossível que a escola tenha uma política pedagógica eficiente sem dialogar com esse aluno”, afirmou.
No ano passado foi aprovada pelo Congresso Nacional uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que torna o ensino médio uma etapa obrigatória da escolarização no país. Para Artexes, a legislação é importante porque demonstra um comprometimento do estado, mas “não garante que vamos ser capazes de atrair os jovens que estão fora da escola”.
“Se não melhorarmos a qualidade não adianta porque não vamos conseguir elevar as taxas de acesso”, afirmou.
Para a superintendente do Instituto Unibanco, Wanda Engel, o ensino médio é uma “bomba-relógio” que pode comprometer o desenvolvimento econômico do país. “Nós não estamos conseguindo fazer com que a nossa juventude tenha um passaporte mínimo para entrar no moderno mercado de trabalho. Ou estancamos isso, ou o nosso país não terá condições mínimas de competitividade”, defendeu.