Falta de financiamento é um dos principais problemas apontados por dirigentes de campi nos interiores do Brasil

Além da falta de financiamento, há queixas sobre estrutura física e de pessoal, alimentação, transporte e moradia estudantil
27/10/2017 07h00

Acervo/Câmara dos Deputados

Falta de financiamento é um dos principais problemas apontados por dirigentes de campi nos interiores do Brasil

Dirigentes de campi fora das sedes se reuniram com deputados

Dirigentes de campi de universidades públicas localizados nos interiores de diversos estados brasileiros estiveram em Brasília. Na pauta, a situação de cada um deles, o relacionamento com o MEC e a solução para problemas como falta de investimento, de infraestrutura, de pessoal.

Durante duas horas e meia, eles debateram com os deputados da Subcomissão Especial para tratar da situação dos campi fora das sedes das Universidades Federais e dos Institutos Federais. O presidente da subcomissão, deputado Caio Narcio (PSDB-MG), disse que a ideia é “formatar uma agenda para ampliar e melhorar as condições dos campi avançados”, ou seja, implementar melhorias.

O diretor do campus de Governador Valadares (MG) da Universidade Federal de Juiz de Fora, Peterson Andrade, fez uma relação de alguns dos problemas que acometem a maioria dos campi avançados: falta de recursos, insegurança, fragilidades na capacitação dos funcionários, infraestrutura precária. Ele afirmou que as universidades não foram preparadas para essa expansão e que a comunidade acadêmica está cansada de discursos. Agora, todos cobram ações efetivas para resolver os problemas. Peterson espera que a Subcomissão Especial ajude a intermediar uma negociação junto ao MEC em busca de ações práticas. “Não queremos nada além do justo”, desabafou Peterson.

Aos poucos, os dirigentes dos campi avançados de todo o país começaram a expor as dificuldades que estão enfrentando. Veja o que alguns deles relataram:

Jorge Kanda, diretor do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) no município de Itacoatiara

A expansão em Itacoatiara começou em 2006. Hoje, são 2.200 alunos matriculados em 9 cursos de graduação e 1 de mestrado. Em 2017, o corte no orçamento foi de 22%.

James Rogado, diretor-geral do campus Iturama da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)

O campus foi implantado em 2015. Oferece 4 cursos e funciona num prédio alugado. Mas o que foi prometido para o funcionamento da instituição, não foi entregue. Há problemas sérios com laboratórios e bibliotecas.

Daniel Arruda Nascimento, diretor do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Com 70 mil alunos matriculados, o campus precisa de restaurante universitário, transporte para os alunos e moradia estudantil.

Paulo Roberto Rodrigues, ex-diretor do campus de Varginha da Universidade Federal de Alfenas (Unifal)

O campus tem 8 anos de funcionamento e boa infraestrutura mas falta pessoal e dinheiro para o custeio. Defende que haja uma quantidade mínima de 10 cursos para se abrir um campus avançado.

Josimar Rangel, diretor do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), localizado em Coari.

O campus fica na região do médio Solimões, área de difícil acesso. Oferece 7 cursos e ainda está em processo de consolidação. Não possui restaurante universitário e nem moradia universitária. A biblioteca é péssima.

José Mário Soares, diretor do campus de Cachoeira do Sul da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

O campus funciona desde 2014. Atualmente são ofertados 5 cursos. Nos anos de 2015 e 2016 não recebeu dinheiro.

Juan Martin, campus de Xerém (RJ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

O campus está há 9 anos em uma estrutura temporária, usada também por uma creche e um clube de futebol. Oferece 3 cursos de graduação e outros 2 estão sendo criados. Também oferece 4 cursos de mestrado. Estão em processo de mudança para um novo local mas há necessidade de dinheiro para obras de recuperação.

 

Apesar dos relatos de problemas, muitos deles comuns a várias instituições, todos os dirigentes fizeram questão de ressaltar o impacto positivo da chegada de cada um desses campi nas regiões onde foram instalados. Representaram geração de emprego, renda e movimentaram a economia local. Ou seja, os campi se tornaram estruturas essenciais para o desenvolvimento dos locais onde estão funcionando.

Ao término dos depoimentos dos diretores, o relator da Subcomissão Especial, deputado Pedro Uczai (PT-SC), propôs aos dirigentes universitários que eles façam seminários estaduais com quatro objetivos:

1. Realizar um diagnóstico dos campi fora das sedes

2. Identificar o que é necessário para consolidar cada um dos campi

3. Verificar em quais locais ainda há necessidade de expansão dos campi

4. Saber quais são as propostas para as universidades

A ideia é que, com esse amplo diagnóstico da situação dos campi avançados, seja realizada uma audiência pública na Câmara dos Deputados com a presença do ministro da Educação, Mendonça Filho. Os dirigentes querem que a subcomissão ajude a mediar a negociação junto ao MEC para resolver os problemas relatados. Um dos principais é a falta de financiamento contínuo e ininterrupto para essas instituições. E, por esta razão, todos estão bastante preocupados com o Orçamento 2018 e com os impactos da Emenda Constitucional 95, que estabelece o teto de gastos para os próximos 20 anos.

Reportagem: Claudia Brasil