Falta de financiamento é um dos principais problemas apontados por dirigentes de campi nos interiores do Brasil
Dirigentes de campi de universidades públicas localizados nos interiores de diversos estados brasileiros estiveram em Brasília. Na pauta, a situação de cada um deles, o relacionamento com o MEC e a solução para problemas como falta de investimento, de infraestrutura, de pessoal.
Durante duas horas e meia, eles debateram com os deputados da Subcomissão Especial para tratar da situação dos campi fora das sedes das Universidades Federais e dos Institutos Federais. O presidente da subcomissão, deputado Caio Narcio (PSDB-MG), disse que a ideia é “formatar uma agenda para ampliar e melhorar as condições dos campi avançados”, ou seja, implementar melhorias.
O diretor do campus de Governador Valadares (MG) da Universidade Federal de Juiz de Fora, Peterson Andrade, fez uma relação de alguns dos problemas que acometem a maioria dos campi avançados: falta de recursos, insegurança, fragilidades na capacitação dos funcionários, infraestrutura precária. Ele afirmou que as universidades não foram preparadas para essa expansão e que a comunidade acadêmica está cansada de discursos. Agora, todos cobram ações efetivas para resolver os problemas. Peterson espera que a Subcomissão Especial ajude a intermediar uma negociação junto ao MEC em busca de ações práticas. “Não queremos nada além do justo”, desabafou Peterson.
Aos poucos, os dirigentes dos campi avançados de todo o país começaram a expor as dificuldades que estão enfrentando. Veja o que alguns deles relataram:
Jorge Kanda, diretor do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) no município de Itacoatiara
A expansão em Itacoatiara começou em 2006. Hoje, são 2.200 alunos matriculados em 9 cursos de graduação e 1 de mestrado. Em 2017, o corte no orçamento foi de 22%.
James Rogado, diretor-geral do campus Iturama da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
O campus foi implantado em 2015. Oferece 4 cursos e funciona num prédio alugado. Mas o que foi prometido para o funcionamento da instituição, não foi entregue. Há problemas sérios com laboratórios e bibliotecas.
Daniel Arruda Nascimento, diretor do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Com 70 mil alunos matriculados, o campus precisa de restaurante universitário, transporte para os alunos e moradia estudantil.
Paulo Roberto Rodrigues, ex-diretor do campus de Varginha da Universidade Federal de Alfenas (Unifal)
O campus tem 8 anos de funcionamento e boa infraestrutura mas falta pessoal e dinheiro para o custeio. Defende que haja uma quantidade mínima de 10 cursos para se abrir um campus avançado.
Josimar Rangel, diretor do Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), localizado em Coari.
O campus fica na região do médio Solimões, área de difícil acesso. Oferece 7 cursos e ainda está em processo de consolidação. Não possui restaurante universitário e nem moradia universitária. A biblioteca é péssima.
José Mário Soares, diretor do campus de Cachoeira do Sul da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
O campus funciona desde 2014. Atualmente são ofertados 5 cursos. Nos anos de 2015 e 2016 não recebeu dinheiro.
Juan Martin, campus de Xerém (RJ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
O campus está há 9 anos em uma estrutura temporária, usada também por uma creche e um clube de futebol. Oferece 3 cursos de graduação e outros 2 estão sendo criados. Também oferece 4 cursos de mestrado. Estão em processo de mudança para um novo local mas há necessidade de dinheiro para obras de recuperação.
Apesar dos relatos de problemas, muitos deles comuns a várias instituições, todos os dirigentes fizeram questão de ressaltar o impacto positivo da chegada de cada um desses campi nas regiões onde foram instalados. Representaram geração de emprego, renda e movimentaram a economia local. Ou seja, os campi se tornaram estruturas essenciais para o desenvolvimento dos locais onde estão funcionando.
Ao término dos depoimentos dos diretores, o relator da Subcomissão Especial, deputado Pedro Uczai (PT-SC), propôs aos dirigentes universitários que eles façam seminários estaduais com quatro objetivos:
1. Realizar um diagnóstico dos campi fora das sedes
2. Identificar o que é necessário para consolidar cada um dos campi
3. Verificar em quais locais ainda há necessidade de expansão dos campi
4. Saber quais são as propostas para as universidades
A ideia é que, com esse amplo diagnóstico da situação dos campi avançados, seja realizada uma audiência pública na Câmara dos Deputados com a presença do ministro da Educação, Mendonça Filho. Os dirigentes querem que a subcomissão ajude a mediar a negociação junto ao MEC para resolver os problemas relatados. Um dos principais é a falta de financiamento contínuo e ininterrupto para essas instituições. E, por esta razão, todos estão bastante preocupados com o Orçamento 2018 e com os impactos da Emenda Constitucional 95, que estabelece o teto de gastos para os próximos 20 anos.
Reportagem: Claudia Brasil