Expansão do ensino profissionalizante é prioridade para três comissões
Carolina Pompeu - Jornal de Câmara
Uma proposta do Executivo que reúne estratégias de ampliação de vagas nas redes públicas, custeio de cursos oferecidos pelo Sistema S e financiamento do ensino na rede privada promete multiplicar por oito o número atual de matrículas do ensino profissional. Isso significa criar 8 milhões de vagas até 2014. As medidas estão previstas no Projeto de Lei 1209/11, que institui o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), em análise na Câmara.
Considerado uma prioridade por três comissões (de Educação e Cultura; de Finanças e Tributação; e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática), o projeto tramita em regime de urgência e, por essa razão, tranca a pauta da Câmara desde o último dia 14 de junho. Parlamentares reivindicaram a retirada da urgência, mas, segundo o deputado Biffi (PT-MS), relator na Comissão de Educação, o governo sinalizou que não atenderá o pedido.
Apesar dessa polêmica, a tendência é que o texto seja aprovado por governo e oposição em sua maioria. “Essa matéria independe de partidos, é importante para o nosso desenvolvimento, pois dá oportunidades a jovens e trabalhadores que muitas vezes até tê emprego, mas precisam de mais qualificação”, afirma o deputado Alex Canziani (PTB-PR), relator na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. O relator na Comissão de Finanças, deputado Júnior Coimbra (PMDB-TO), concorda: “Não deve haver dificuldade para aprovação dada a importância da matéria”.
Além da análise das três comissões, o texto está também na pauta da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Segundo Biffi, a avaliação geral é que a proposta é boa, mas precisa de ajustes. O parlamentar adianta que o grupo deverá acatar boa parte das 18 emendas apresentadas pelos deputados. Entre elas, estão a priorização de agricultores familiares, jovens que cumprem medidas socioeducativas, pessoas com deficiência, índios e quilombolas no preenchimento das novas vagas. Além disso, deverão ser criada uma bolsa para os professores do ensino profissional que frequentem cursos de aperfeiçoamento no exterior − essa sugestão foi feita pelo deputado Gastão Vieira (PMDB-MA).
Parcerias - Uma das vantagens do projeto assinalada por especialistas é a possibilidade de aporte direto de recursos da União em escolas estaduais, municipais e do Sistema S para o custeio das vagas no ensino profissional. O dinheiro servirá para pagar todos os gastos com mensalidade e matrícula e, em alguns casos, bancar também o transporte e a alimentação dos estudantes.
O doutor em economia e autor de publicações sobre educação Cláudio de Moura Castro destaca a perspectiva de ampliação dos cursos oferecidos pelos sistemas nacionais de aprendizagem. Com a proposta, essas instituições do Sistema S passarão a receber, além do percentual da arrecadação compulsória sobre a folha de pagamento das empresas que recolhem hoje, um valor fixado pelo Executivo por aluno matriculado em curso profissionalizante.
O diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, disse que atualmente são atendidos 2,3 milhões de estudantes e que a meta, com o Pronatec, é dobrar esse número até 2014. “Essa é uma agenda comum para governo e a indústria, pois dá aos jovens maiores oportunidades de inserção no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, garante maior competitividade para as empresas, particularmente as indústrias brasileiras.”
O projeto prevê, inicialmente, a aplicação de R$ 1 bilhão somente com a oferta de bolsas para estudantes e expansão das vagas públicas. Mas, segundo Júnior Coimbra, os valores investidos pelo governo devem ser ainda maiores. “Não há ainda um número preciso, mas a previsão é que esses recursos sofram um aumento substancial já a partir de 2012”, disse.
Empréstimo - A proposta do governo também prevê que estudantes do ensino técnico privado poderão contratar empréstimo em condições bastante facilitadas para custeio das mensalidades, como já é permitido hoje aos alunos do ensino superior pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Outra novidade é a possibilidade de as empresas contratarem diretamente o financiamento em benefício de seus trabalhadores. Nessa hipótese, o empréstimo não ficaria em nome do aluno, mas da firma.
Deputados pedem ajustes na proposta
Apesar dos elogios à proposta do Pronatec, parlamentares pedem ajustes no texto. Para a deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), por exemplo, faltam ações específicas para cada estado, que levem em consideração as desigualdades regionais.
Dorinha Seabra ressalta que as regiões brasileiras têm diagnósticos bastante diferentes quanto ao ensino profissional. De acordo com o Inep, autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), das 860 mil matrículas na educação profissional em 2009, 689 mil concentraram-se nas regiões Sul e Sudeste. Norte, Nordeste e Centro-Oeste, juntos, somaram apenas 172 mil matrículas. “Esta é uma oportunidade de ter um olhar diferente para as regiões”, declara.
O diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Rafael Lucchesi, afirma que, pelo menos no caso do Sistema S, a tendência é que a expansão das vagas beneficie os estados que têm menos oferta hoje. Isso porque, segundo ele, a instituição acompanha a dinâmica do setor industrial no País.
Deficiência - Já o deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG) reclama que o texto não prevê nenhum benefício específico para as pessoas com deficiência. O parlamentar apresentou quatro emendas que, em geral, dão prioridade aos deficientes no preenchimento das vagas do Pronatec e estabelecem como princípio do programa a garantia da formação profissional desse público.
O deputado argumenta que o benefício é condição necessária para a adaptação dos ambientes escolares aos cidadãos com deficiência: “As escolas normalmente não são preparadas para capacitá-los. São necessárias adequações, como nos equipamentos e nos materiais didáticos. Se não há obrigatoriedade legal, a tendência é que elas não sejam feitas”.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, em audiência na Comissão de Educação e Cultura no último dia 29 de junho, já adiantou que o governo é favorável aos benefícios sugeridos às pessoas com deficiência e que deve apoiar qualquer mudança com esse objetivo. (CP)
Carolina Pompeu - Jornal da Câmara