Sexualidade e religião, uma discussão em amadurecimento

15/05/2013 19h57

 

 

Arte: Divulgação


Há muito se discute sobre o exercício da religião e da sexualidade. O debate que surge protagoniza mudanças e adaptações nas mais diversas religiões. A discussão não fica somente no âmbito da possibilidade ou não de mulheres exercerem o sacerdócio, da possibilidade ou não do casamento para os sacerdotes, dos casos de pedofilia envolvendo sacerdotes, etc. A configuração social do momento acirra para a aceitação de pessoas homossexuais e de práticas comuns previstas para os casais heterossexuais, como a adoção e direitos matrimoniais, por exemplo.

A ideologia veiculada pelas religiões, como as católicas, as evangélicas, protestantes, islâmicas, conserva um conflito não resolvido com a questão da sexualidade. Isso porque vem para desempenhar um papel regulador dos comportamentos e não o de esclarecer sobre os dogmas das religiões.

Muitas religiões ainda consideram o desnudar do corpo como algo obsceno e imoral, e não como um fato natural. Para a maioria é inaceitável o uso de métodos contraceptivos em relação ao planejamento familiar, são contrários ao sexo antes do casamento, condenam o adultério, o aborto e o homossexualismo (sendo considerado pecado), há liberdade quanto às variações sexuais, mas a prática do sexo anal é condenado.

O Estado brasileiro tornou-se formalmente laico a partir da primeira Constituição Republicana de 1891. Mas um olhar mais atento, podemos observar que os evangélicos e outros grupos religiosos estão ocupando espaços importantes dentro do cenário político. Encontramos representantes no Parlamento Nacional (Frente Parlamentar Evangélica, 2003; Pastoral Parlamentar Católica, 1991; Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família, 2007; Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais de Terreiros, 2011), assim como em organizações da sociedade civil e em associações de classe (União de Juristas Católicos do Rio de Janeiro e de São Paulo – esta última conta com o celebrado Ives Gandra, um dos maiores juristas do país).

Embora os evangélicos sejam mais citados nas matérias jornalísticas (em 1.062 matérias contabilizadas, os evangélicos são referidos 358 vezes – entre título, subtítulo e matéria), eles não são os únicos a se posicionarem de modo controverso e em defesa de posições ditas conservadoras (os católicos são referidos 239 vezes no mesmo quantitativo de matérias). Assim podemos constatar que os religiosos estão presentes e atuantes dentro e fora do parlamento, com uma voz ativa forte.

Do outro lado, temos o Governo Federal que trata de assuntos delicados e polêmicos. Como por exemplo, o Programa de Combate à Violência e à Discriminação Contra GLTB e Promoção da Cidadania Homossexual, mais conhecido como Programa Brasil Sem Homofobia, apresentado em 2004. O programa tem o objetivo de propor e executar políticas públicas contra a homofobia de forma transversal aos Ministérios e secretarias do governo federal. Uma das ações do programa foi à criação de um kit contra a homofobia para ser distribuído nas escolas. O kit ficou conhecido como “Kit Gay” e o mesmo não teve a aprovação das bancadas religiosas do Congresso Nacional.

“A questão existe e precisa ser debatida e respeitada. A opção sexual não diz respeito ao Estado, mas o preconceito, o bullying e as doenças sexualmente transmissíveis diz. Enquanto não deixarmos as crenças religiosas e o conservadorismo de lado para discutir de forma madura e respeitável a questão, o Estado não poderá trabalhar corretamente para combater a violência contra os que se declaram homossexuais, bissexuais e transexuais. O Brasil precisa de políticas de ações inclusivas culturais e de respeito”, destacou a presidenta da Comissão de Cultura deputada federal Jandira Feghali (PCdoB- RJ).

Na opinião do deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ), “é imprescindível nesse momento debater com a sociedade esse tema, já que o fundamentalismo vem tolhendo os espaços de discussão dos direitos das minorias culturais”.