Músicas, poemas e recordações marcam homenagem a Vinícius de Moraes

Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados comemora em dose dupla a vida e obra do poetinha: com uma audiência pública e com a segunda edição dos Manifestos Culturais.
16/10/2013 12h20

Agência Câmara

Músicas, poemas e recordações marcam homenagem a Vinícius de Moraes

Homenagem a Vinicius de Moraes

Na semana em que Vinicius de Moraes completaria de 100 anos de vida, a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados comemorou em dose dupla a vida e obra do poetinha: com uma audiência pública e com a segunda edição dos Manifestos Culturais. Vinicius nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913 e viveu intensamente até 1980. Reconhecidamente um dos maiores nomes da cultura brasileira, brilhou na música, no teatro, no jornalismo, na crítica de cinema, na poesia e na diplomacia. 

Entre poemas e músicas, os convidados da audiência pública lembraram a trajetória de Vinicius, suas histórias e seu legado. Para o deputado Penna (PV/SP), a ideia era trazer uma experiência diferente para a Câmara. “Estamos atravessando no País, uma época mediocrizante, e eu acho que a memória de Vinicius, ao ser resgatada, serve como um energizante para a gente se distanciar da burrice, da grossura tão evidentes nos dias de hoje. Eu tenho a ideia que [essa audiência] pode melhorar um pouco a política no Brasil e diminuir a distância entre o que se passa no Congresso e as aspirações da sociedade brasileira”, afirmou o autor do requerimento para a realização da homenagem.

“Ele foi um criador de cultura. Firmou essa nossa cultura múltipla, sendo múltiplo também. Trabalhando sua arte no teatro, cinema, canção popular. Ele é realmente um ‘multiartista’, que tem que ser cuidado pela universidade com mais cuidado”, reforçou a professora de Literatura e Teoria Literária da Universidade de Brasília, Sylvia Helena Cyntrão.

Amigo pessoal de Vinicius de Moraes, jornalista, pesquisador e presidente do Conselho Empresarial da Cultura, Ricardo Cravo Albin, relembrou a trajetória do poetinha. Para Albin, definir Vinicius é tarefa difícil, “talvez impossível”, pelas várias facetas do artista. “Ele não foi um, foi vários. O poeta foi um brasileiro de excelência. Foi letrista, foi o pai da bossa nova, dos filhos da bossa nova e foi um poeta lírico de uma altura insuperável. Ele se compara aos grandes poetas de sempre dentro da literatura de língua portuguesa. Vinicius foi a figura mais completa em termos de dimensão humana. Era uma figura amorosa, generosa, luminosa, com espírito de comiseração muito grande que o fazia defender sempre o lado da justiça”, destacou.

As homenagens não pararam por aí, o cantor e compositor Raimundo Fagner – após a promulgação da PEC da Música no Plenário do Senado – foi à audiência participar da conversa. Fagner cantou que Vinicius foi figura importante na sua trajetória profissional e que lhe abriu portas quando muitos fechavam. “Vinicius foi um dos maiores brasileiros que a gente teve. Uma figura extraordinária. Um homem culto, mas que jamais abandonou as raízes mais profundas do povo brasileiro. Cem anos de Vinicius é uma aula, uma lição para o Brasil.” 

Para a presidente da Comissão de Cultura, deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), as homenagens a Vinicius agregadas à promulgação da PEC da Música, tornaram o dia 15 de outubro, o Dia da Música, na Câmara. “Foi uma feliz coincidência termos essas homenagens no mesmo dia da promulgação da Emenda Constitucional que retira os tributos das obras musicais. Vinicius foi o cantador do amor, o cantador da tolerância, da diversidade cultural. Uma pessoa grandiosíssima. Passou pelo Itamaraty e manteve-se na arte, foi censurado, perseguido. Retoma tudo e eterniza o amor e as relações humanas para todos nós.” 

O ministro George Torquato Firmeza, do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, trouxe a vida diplomática de Vinicius para a audiência. Disse que a trajetória do poetinha foi interrompida naquela seria a metade da carreira diplomática no Brasil, quando foi cassado pelo regime militar ainda como primeiro secretário. Segundo George, o Estado "corrigiu um equívoco" ao promover Vinicius a embaixador do Brasil em 2010. "Essa promoção póstuma tinha duplo sentido: reparar um equívoco, mas também por Vinicius ser o embaixador da cultura."

Poeta jovem e hábil, James Mendonça Martins teve Vinicius como uma grande inspiração. Lembrou que ele dizia que havia poucos poetas porque faltavam “homens de verdade”. Instigado pela vida e obra de Vinicius, além de outras influências, James se rendeu à arte. Para ele, homenagear Vinicius é um culto à memória. “Nós que estamos fazendo a vida agora precisamos desses referenciais todos. E Vinicius é, falando de Brasil, um dos principais referenciais. Ele encarna a figura necessária do homem do século 20. O homem capaz de atuar em várias frentes. Se é verdade que o homem inteligente é aquele que tem multiplicidade de interesses, Vinicius encarna o homem inteligente. Mas se é verdade também dizer que o afeto é a forma suprema de inteligência, então Vinicius é ainda mais inteligente porque ele é o afeto encarnado.”

O músico Renato Matos e o cineasta e também músico André Luiz Oliveira deram, junto com James, o tom irreverente da audiência. Com poemas e músicas deixaram os presentes no clima da próxima homenagem ao poetinha: os Manifestos Culturais.

Manifestos culturais

No Hall da Taquigrafia, o espetáculo ”Tributo a Vinícius: o poetinha” trouxe a descontração e a informalidade tão prezadas pelo homenageado para a Câmara dos Deputados. Numa mesa de bar com um copo de whisky e seu inseparável cigarro, Vinicius – encarnado pelo ator Reinaldo Vieira – narrou sua trajetória e a história de suas músicas – interpretadas pela cantora Lúcia de Maria e pelos músicos Amilcar Paré, José Cabrera, Zambinha e Fio de Castro. Essa foi a segunda edição dos Manifestos Culturais promovidos pela Comissão de Cultura em parceria com o Sesc/DF. O espetáculo reforçou a importância da pauta cultural dentro do Congresso. Envolveu parlamentares, funcionários e visitantes em pouco mais de uma hora de músicas e histórias de um crítico do seu tempo.

 “Vinicius sempre foi um contestador. Quando ele foi cassado disse que ia se vingar e inaugurou todos os circuitos universitários de música do País. Foi levar a música em todos esses lugares como uma contestação. E ele fala de amor, que é uma coisa atual e eterna, e tudo aqui é atual e eterno, sobretudo a arte como manifestação cultural”, disse o ator Reinaldo Vieira. 

Para Lúcia de Maria, a homenagem reforçou a importância da música no Congresso. “É um dia simbólico, porque a música é um instrumento de manifesto. Sempre tivemos a música em tudo: nos manifestos, no cinema novo, quando veio a bossa nova pouco tempo depois veio o golpe militar e a música foi também  um instrumento de resistência. E hoje o Congresso promulgou a PEC da Música e estamos aqui falando de Vinicius. Isso é muito simbólico”, destacou a cantora ao lembrar que na mesma tarde a Emenda Constitucional 75 – que isenta de impostos obras musicais nacionais – foi promulgada no Congresso.

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