Fora do Eixo e Mídia Ninja: uma nova estética de jornalismo e política

A Comissão de Cultura realizou na terça-feira (17), uma audiência pública com Fora do Eixo e Mídia Ninja para debater o papel da mídia alternativa e o modelo proposto pelo coletivo para disseminar informação. Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), presidente da Comissão de Cultura e uma das proponentes do debate, trazer essa discussão para o Congresso é uma forma de reforçar o papel da Comissão na sua luta pela democratização da comunicação.
18/09/2013 18h40

Alexandra Martins/Câmara dos Deputados

Fora do Eixo e Mídia Ninja: uma nova estética de jornalismo e política

Pablo Capilé fala sobre os gargalos da cultura

A tarde desta terça-feira (17) ficou marcada pela presença dos “ninjas” na Câmara dos Deputados. Eles encheram o Plenário 1 da Casa para participar da audiência pública proposta pela Comissão de Cultura para tratar do papel da mídia alternativa e o modelo de disseminação de informação proposto pela Mídia Ninja (acrônimo de Narrativas Independentes Jornalismo Ação), popularizado nas manifestações que pararam o País entre junho e julho deste ano. 

Munidos de celulares, notebooks, acesso à internet e muita disposição, milhares de colaboradores cobriram ininterruptamente os anseios populares que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas no meio do ano. A cobertura marcou uma nova proposta de fazer jornalismo e política – menos preocupada no momento com a qualidade das imagens e mais focada no conteúdo a ser transmitido. “A gente queria ser simplesmente um laboratório de mídia, mas vieram as manifestações e nós fomos para a rua. Acabamos virando protagonistas de um processo”, afirmou Bruno Torturra, representando a Mídia Ninja.

Para o ativista cultural Pablo Capilé, do Fora do Eixo, a Mídia Ninja conseguiu popularizar um debate que há muito tempo vinha sendo maturado no País: a importância das mídias alternativas como contraponto à mídia de massa. “A mídias alternativas vêm se fortalecendo no Brasil há muito tempo e a Mídia Ninja conseguiu dar um link pop para que muita gente pudesse visualizar que fora daqueles filtros também havia uma possibilidade muito grande de fazer coberturas cada vez mais próximas das expectativas de quem tá assistindo, sem intermediários”, destacou.

A Mídia Ninja nasce no Fora do Eixo, após dois anos de experiência com streaming, mas se transforma numa estética nova de fazer jornalismo – e porque não – política. “Acho que jornalismo, comunicação, política, cultura tá tudo dentro do mesmo campo, dessa mesma estética de fazer política. O Ninja que tá ali, tá fazendo política, evidenciando uma visão de um processo. Não tem mais a lógica do jornalista distante, que é mais importante que o ativista. Acho que o jornalista e o ativista estão no mesmo lugar, qualificando seu olhar e trazendo cada vez mais esse olhar com apuro estético maior e aprofundamento do que representa”, continua Capilé.

Para a deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), presidente da Comissão de Cultura e uma das proponentes do debate, trazer essa discussão para o Congresso é uma forma de reforçar o papel da Comissão na sua luta pela democratização da comunicação. “Nós assumimos essa pauta desde o início dos nossos trabalhos, seja no debate da regionalização, do fomento e financiamento da chamada mídia alternativa e mídia livre. Esse é um tema estratégico, pois a democracia depende da liberdade de comunicação e essa Comissão assumiu essa pauta por entender que tem a ver com a cidadania, diversidade e a difusão da cultura nessa pluralidade que é o Brasil.”

“Esse debate vai arejar a Câmara dos Deputados e essa Comissão tem esse papel”, completou o deputado Nilmário Miranda (PT/MG), também proponente da audiência, lembrando que o objetivo era trazer reflexões sobre uma nova forma de fazer cultura que vem sendo experimentada pelo Fora do Eixo há 10 anos. 

Gargalos do setor

Durante o encontro, parlamentares e convidados também apontaram a falta de financiamento para a cultura como um dos grandes gargalos do setor e defenderam maior agilidade do Estado para as políticas públicas.

“É muito pouco o que se investe em cultura no País. Também precisamos de mecanismos que diferenciem o pequeno produtor do grande na prestação de contas, pois é impossível fazer cultura no País com a forma com que o Estado lida hoje com os movimentos. Além disso, não existe um sistema que faça os governos federal, estadual e municipal atuarem integrados na cultura”, afirmou Pablo Capilé.

Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), endossou a crítica ao modelo de financiamento do setor cultural e rebateu as críticas às alternativas que vêm surgindo nos últimos anos. “O Fora do Eixo é uma afronta à economia fordista. Quando se ataca a moeda complementar do Fora do Eixo está se atacando o modelo da economia solidária, que já tem mais de cem moedas complementares no Brasil”, argumentou.

Durante a audiência, os convidados também lembraram a necessidade de o Congresso se posicionar de fato em defesa da democratização da comunicação e pelo fortalecimento da cultura. “A Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática e o marco civil da internet são essenciais para a revolução da comunicação”, disse Torturra em referência ao projeto lançado pela sociedade civil em agosto desse ano e que está em busca de assinaturas para conseguir colocar em votação na Casa e ao PL 2126/2011, que trata do marco civil da internet, que tramita desde o dia 11/09 em regime de urgência constitucional e por isso deve ser votado na Câmara até o final de outubro para que não tranque a pauta da Casa.

Uma atuação mais estratégica em relação às pautas caras à Comissão tem sido cobrada pela deputada Jandira Feghali ao colegiado. Para ela, o segundo semestre deve estar voltado à articulação com o movimento social para que se consiga avançar em pautas, como o orçamento para a cultura e a democratização da comunicação.