Iarc classifica ondas emitidas por aparelhos celulares como possivelmente cancerígenas
Cientistas e representantes do governo reunidos ontem na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados disseram que não há comprovação científica de que o telefone celular cause danos à saúde. No entanto, todos advertem que é necessário dar prosseguimento às pesquisas sobre o tema, como sugere o estudo divulgado em maio desse ano pela Agência Internacional para Pesquisa de Câncer (Iarc).
O estudo da Iarc classificou as ondas emitidas pelo telefone celular no grupo 2B (possibilidade de ser cancerígena para humanos). Além desse nível há o 2A, que significa probabilidade cancerígena em humanos e o grupo 1, que afirma que o produto ou o alimento é cancerígeno.
O gerente de tecnologia em equipamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Márcio Luiz Varani, frisou que as pesquisas precisam continuar, mas é necessário lembrar que na classificação da Iarc, o uso do telefone celular aparece apenas como “possivelmente cancerígeno”.
A audiência pública que tratou do tema foi solicitada pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que citou casos de tumores cerebrais em membros de sua família e em pessoas próximas. “Há uma mudança clara com relação a tumores cerebrais, uma maior incidência”, disse Maia.
O gerente-geral de certificação e engenharia de espectro da Superintendência de Radiofrequência e Fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Marco de Souza Oliveira, disse que mesmo a maior radiação transmitida pelas antenas de telefonia estão longe dos limites estabelecidos pela Agência. Segundo ele, a autarquia só poderá estabelecer regras que protejam as pessoas contra o risco de tumores cerebrais por uso de telefones celulares se isso for comprovado cientificamente.
Já o neurocirurgião Júlio Thomé de Souza Silva, Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Geral de Ipanema, acredita que há, sim, uma relação entre o aumento do número de casos de tumores e o uso de aparelhos celulares. Ele destacou o risco para crianças e adolescentes. Segundo os estudos citados pelo médico, as ondas eletromagnéticas penetram com maior intensidade no crânio de menores de dez anos.
O pesquisador Osório Chagas, da Universidade de São Paulo (USP), disse que é preciso encontrar uma forma de cuidar da saúde das pessoas sem prescindir do uso do telefone celular, o que hoje é impossível. ”O governo deveria, por exemplo, desencorajar o uso desses aparelhos por menores de 16 anos”, destacou.