Rádio Câmara

Reportagem Especial

Fronteiras - Panorama geral dos 17 mil quilômetros revela precariedade da vigilância

17/01/2013 - 00h01

  • Fronteiras - Panorama geral dos 17 mil quilômetros revela precariedade da vigilância (bloco 1)

  • Fronteiras - Plano estratégico um ano e meio depois; apreensões aumentaram, mas o tráfico também (bloco 2)

  • Fronteiras - Retrato do abandono: postos que têm apenas um funcionário e liberam a cancela às 17h (bloco 3)

  • Fronteiras - Faltam pessoal e tecnologia para vigiar; especialistas cobram ações de inteligência (bloco 4)

  • Fronteiras - Deputados apontam falhas no plano estratégico e cobram atuação mais efetiva do governo (bloco 5)

TÉC.: TRILHA SONORA SOME AMOUNT OF EVIL 

Um ano e meio após o lançamento do Plano Estratégico de Fronteiras, pela presidente Dilma Rousseff, a facilidade com que as drogas, as armas e o contrabando em geral entram no Brasil é apontada por autoridades e especialistas como a origem dos altos índices de criminalidade urbana.

O general Santos Guerra, comandante do Centro de Comunicação e Guerra Eletrônica do Exército, diz que a vigilância nas fronteiras aumenta dia a dia, mas tem sido insuficiente para conter o crime, que aumenta com maior rapidez.

“Eu acredito que a situação, no que diz respeito às drogas que circulam pela fronteira, seja a principal causa da criminalidade dos grandes centros. Não circulam apenas as drogas. São outros ilícitos: tráfico de armamentos, descaminhos. Eu acredito, e isso todo mundo sabe, que isso vem frustrando a política de segurança, a política pública na área de saúde, a educação, e olhando o jornal no dia a dia, a questão das drogas nos grandes centros, a criminalidade está se tornando um caos e isso ocorre principalmente pelo descaminho na nossa fronteira.”

O delegado Leonardo de Castro, da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do Distrito Federal, explica que o tráfico de drogas desencadeia uma série de outros crimes nos centros urbanos.

“O tráfico de drogas reflete bastante na criminalidade. A gente vê nas ocorrências policiais e nas investigações que grande parte dos homicídios são relacionados a acertos de contas do tráfico de drogas e também surgem quadrilhas de roubos de carros, de lojas, do comércio para arrecadar dinheiro para comprar drogas nos outros países.”

TÉC.: MÚSICA HIP HOP BASTA VIOLÊNCIA 

“Droga, armas, crianças não se combinam, mentes assassinas que destroem vidas, espalhando maldade e mediocridade, abriram as portas do inferno na terra."

O vice-presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, deputado Antonio Carlos Mendes Thame, do PSDB de São Paulo, compara a fronteira brasileira a um queijo suíço.

“O Brasil faz fronteira com os três grandes produtores de cocaína. A Bolívia produz mais de 100 toneladas por ano. O Peru, mais de 300 toneladas por ano. A Colômbia, mais de 400 toneladas de cocaína por ano. Para quê? Para exportar, notadamente para o Brasil, aproveitando esse queijo suíço que é a nossa fronteira, onde se passa tudo.”

Além do contrabando de armas e outras mercadorias, como cigarros e produtos eletrônicos, O deputado concorda que o grande problema é o tráfico de drogas. Para Mendes Thame, além de ser um mal em si, pelas consequências devastadoras para os usuários, o tráfico alimenta a violência urbana.

“Há uma lógica perversa em tudo isso. As drogas entram, dão um lucro fantástico para esses traficantes, esses traficantes investem também em armas, em armamentos modernos, financiam o crime organizado e, com isso, estimulam a insegurança, estimulam o enfrentamento, que é uma coisa que cada vez mais nos assusta em muitas das capitais brasileiras. Enquanto que os estados fazem um esforço significativo para reduzir a criminalidade, nós vemos o governo federal absolutamente inerte, sem praticamente nada fazer para controlar as nossas fronteiras.”

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Com a implantação do sistema de proteção e vigilância aérea da Amazônia, o chamado Sipam/Sivam, e a aprovação da Lei do Abate, que deu sinal verde para a Força Aérea derrubar aviões de traficantes, o tráfico de drogas e armas passou a ser feito principalmente por terra nos últimos anos.

Segundo a Polícia Federal e a Polícia Civil do Distrito Federal, a cocaína entra no Brasil principalmente pela região Norte, vinda da Bolívia, do Peru e da Colômbia, enquanto a maconha e as armas entram principalmente pela região Centro-Oeste, vindas do Paraguai.

O geólogo Antônio Feijão, que é superintendente do Departamento Nacional de Produção Mineral no Amapá, afirma que o Poder Público precisa se instalar na fronteira.

“O Estado nacional, a organização de governo, sempre foi um turista na Amazônia. Nós chegamos aqui há cinco séculos e até hoje o governo ainda não se instalou nas fronteiras. Então, o que precisa de fato é o governo se instalar não com esses pingados pelotõezinhos de fronteira, que agregam 40, 50 soldados, que mais estão para hastear o pavilhão nacional do que para defender geopoliticamente uma nação que tem uma Amazônia na dimensão que nós temos.”

O delegado da Polícia Federal Alexandre Silveira, responsável pela fronteira brasileira com o Peru e a Bolívia, no estado do Acre, afirma que a vigilância na região amazônica é muito difícil, por ser uma área muito extensa, de mata fechada, despovoada e difícil acesso.

“É muito difícil fazer essa fiscalização simplesmente com a presença de homens. Se você colocasse todo o efetivo do Exército brasileiro de mãos dadas, mesmo assim você não conseguiria fechar a fronteira e também não conseguiria bons resultados em termos de segurança pública.”
O Brasil faz divisa com dez países. A fronteira terrestre tem 16 mil e 800 quilômetros.

TÉC.: TRILHA SONORA SOME AMOUNT OF EVIL 

Reportagem: Wilson Silveira

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