Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Brasília 4 - A cidade projetada não é a ilha da fantasia que muitos pensam - ( 07'44'')

16/04/2007 - 00h00

  • Especial Brasília 4 - A cidade projetada não é a ilha da fantasia que muitos pensam - ( 07'44'')

NA REPORTAGEM ESPECIAL DE HOJE, VOCÊ VAI VER QUE BRASÍLIA TEM PROBLEMAS COMO QUALQUER OUTRA CIDADE BRASILEIRA.

QUAIS SÃO ESTES PROBLEMAS E COMO SÃO EXPLICADOS POR ESPECIALISTAS: ? FALTA DE ADMINISTRAÇÃO OU FALHAS NO PLANEJAMENTO ORIGINAL ? SAIBA AGORA COM A JORNALISTA ADRIANA MAGALHÃES

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Veículos de transporte pirata e vans de transporte alternativo congestionam as paradas de ônibus de Brasília e desrespeitam as mais simples leis de trânsito. Nos horários de rush, as largas avenidas da capital brasileira ficam totalmente congestionadas. No centro da cidade, nas entrequadras e nas superquadras, os motoristas encontram a mesma dificuldade para encontrar uma vaga, e muitos preferem estacionar em locais proibidos. Roubos, assaltos e seqüestros relâmpagos afligem a população, transformando as casas em verdadeiras fortalezas. Inchaço populacional, falta de moradia, emprego e até de água. Com 47 anos de idade, Brasília apresenta os mesmos problemas de cidades não planejadas. Maria Elisa, filha de Lucio Costa, o idealizador do Plano-Piloto da Capital da República, tem a justificativa.

"E Brasília, como dizia meu pai, é capital do Brasil, não da Suécia. Então tem todos os problemas que o Brasil tem."

Os problemas que o Brasil tem e que também são observados em Brasília residem na falta de planejamento. Não na falta de planejamento do Plano Piloto, pois esse foi projetado nos mínimos detalhes por Lúcio Costa. O problema, dizem os especialistas, é que o plano previa que fosse feito um planejamento de toda a região, o que nunca saiu do papel. Antônio Carlos Carpintero, professor de arquitetura e urbanismo da UNB, destaca que cabia à Novacap elaborar um plano regional, mas as populações que chegavam aos montes em Brasília foram sendo absorvidas de qualquer jeito.

"Então, o que seria necessário é a Novacap, naquele momento, em que estava fazendo a construção da cidade, ela planejar toda a distribuição da população, que foi muito maior do que ela previu para a cidade. Se ela queria que tivesse 500 mil habitantes na capital, ela tinha que ter estudado as coisas para que as populações excedentes tivessem condições adequadas de se implantar. E não teve. As populações chegaram, foi aquele corre-corre, vamos fazer cidade satélite, vamos deixar acampamento, vamos deixar invasão, aí muda a invasão, vira Ceilândia. A coisa foi muito atabalhoada desse crescimento de população que não foi previsto."

O superintendente do Iphan em Brasília, Alfredo Gastal, também critica a falta de planejamento regional na capital do Brasil  e a uma sucessão de governos locais que nunca se interessaram em melhorar a qualidade de vida do DF.

"Por 40 anos a cidade foi pessimamente governada. E as autoridades nunca se deram conta que essas alterações podiam afetar as quadras, o trânsito e tudo mais. E o resultado é o que a gente vê hoje."

Essa falta de planejamento traz como consequência o inchaço das cidades próximas à Brasília, o que eleva o nível de violência no Distrito Federal. Para o Pesquisador de Gestão de Políticas Públicas do Departamento de Administração da UnB, Antônio Flávio Testa, o problema da violência em Brasília é geopolítico. Ele diz que as cidades do entorno deixam Brasília sitiada, porque são municípios pobres, sem perspectivas. Para Testa, deveria haver um esforço de investimento nas cidades do entorno.

"Se houver um investimento significativo para o fortalecimento das economias do entorno e aumentar a presença do estado nessas regiões, será possível neutralizar a açao do crime, que se baseia nessas regiões mas atua no DF. Então é possível haver essa desconcentração e minimizar a incidência dessas ações criminosas no DF. Isso só vai acontecer se fizermos esforços muito fortes agora, para termos resultados em uma década, antes disso, não creio que haverá possibilidade nenhuma de minimizar a violência que está acontecendo em Brasília."

A falta de planejamento nas cidades do entorno não tem reflexos apenas na segurança e no trânsito do DF. A questão ambiental também é duramente afetada. A cidade de Águas Lindas de Goiás, a cerca de 50 km do Plano Piloto, fica localizada ao lado da principal fonte de abastecimento de água do Distrito Federal, a barragem do Descoberto. Como a cidade não tem tratamento de esgoto, toda a sujeira deságua na barragem.

TRILHA: PLEBE RUDE - Brasília - "Brasília tem luz, Brasília tem carros, asas e eixos do Brasil" Brasília tem centros comerciais, muitos porteiros e pessoas normais"

Para o professor Antônio Carlos Carpintero  a base dos problemas sociais observados  hoje em Brasília foi a criação das cidades-satélites. Ele afirma que elas foram pensadas como uma nova forma de segregação social.

"Os problemas sociais de Brasília estão muito no início na postura dos governos originários, nos primeiros governos, seja do próprio Juscelino, seja do Jânio Quadros, João Goulart, depois os governos militares, que tiveram uma postura de segregação social. As populações de renda mais baixa, os operários que trabalharam na construção, não tiveram condições de morar no Plano Piloto. Não foi dada condição de eles morarem no Plano Piloto."

O Distrito Federal é formado por Brasília e outras 25 regiões administrativas ou cidades. São mais de dois milhões de habitantes, sendo que Taguatinga e Ceilândia são as mais populosas. Juntas, elas somam quase seiscentas mil pessoas. São cidades tão importantes que Taguatinga é, atualmente, a sede do Governo do Distrito Federal. Quem explica o porquê dessa mudança é o vice-governador do DF, Paulo Octávio.

"400 mil carros trafegam diariamente das cidades para o Plano Piloto, inchando o Plano Piloto, o tornando o tráfego insuportável. Nós temos um crescimento e uma demanda muito grande das cidades de Taguatinga, Celiândia, Samambaia, e conseqüentemente a busca de um local para criar uma sala onde todo o governo pudesse funcionar junto é uma ação inovadora."

O superintendente do Iphan em Brasília, Alfredo Gastal elogia a medida. Na opinião de Gastal, a capital do Distrito Federal poderia ser perfeitamente Taguatinga, o que iria colaborar na preservação da área tombada. Já existe um projeto no Senado que prevê a formação de um novo estado brasileiro formado pelos municípios do Entorno, pelas cidades-satélites do Distrito Federal e por alguns municípios dos estados de Goiás e Minas Gerais. Com a aprovação do projeto, Brasília voltaria a ser apenas uma cidade administrativa. De acordo com o autor da proposta, o ex-senador Francisco Escórcio, o objetivo é justamente preservar Brasília e ao mesmo tempo promover o desenvolvimento do Entorno. A proposta já recebeu parecer favorável do relator na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

De Brasília, Adriana Magalhães.

AMANHÃ, NA ÚLTIMA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE A CAPITAL DO BRASIL, UMA ANÁLISE SOBRE AS PERSPECTIVAS PARA QUE BRASÍLIA SE ENCAIXE NO MODELO DE QUALIDADE DE VIDA SONHADO PARA ELA.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h