18/07/2018 17:16 - Direito e Justiça
Radioagência
Mulheres cobram mudanças culturais que viabilizem maior participação feminina nas esferas de poder
As eleições deste ano trazem mais tempo e recursos para a viabilização de candidaturas femininas, mas as mulheres também cobram mudanças culturais que viabilizem o efetivo aumento de sua participação nos parlamentos e demais esferas de poder. Em maio, o Tribunal Superior Eleitoral garantiu a aplicação de, no mínimo, 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e do tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV para as candidaturas femininas. Desde março, o Supremo Tribunal Federal já havia determinado a aplicação mínima de 30% dos recursos do Fundo Partidário para as candidatas. Hoje, a bancada feminina no Congresso Nacional é de pouco mais de 10% dos parlamentares. Deputadas e senadoras elogiaram as recentes decisões da Justiça.
Socióloga, a assistente técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Masrá de Abreu, também vê avanços, mas ainda os classifica de "tímidos".
"Vai dar mais visibilidade e espaço para as mulheres apresentarem as suas plataformas e candidaturas. Contudo, a reverberação disso no número de eleitas, eu acredito que vai ser muito baixa. Para a mulher chegar na campanha eleitoral, ela tem que conquistar vários espaços, vários debates. E o tempo disso é bem complicado nesse contexto em que vivemos".
Para o Cfemea, a atual divisão do trabalho é "cruel" com as mulheres. Pesquisas mostram que a dupla de jornada, no emprego e em casa, faz com que elas trabalhem cerca de 10 horas semanais a mais do que os homens. Apesar de exemplos de competência das mulheres na política espalhados pelo mundo e de estudos (do College Le Moyne e Virginia Tech - EUA) apontarem que os países onde elas estão no governo têm menos corrupção, Masrá lembra que, no Brasil, o discurso feminino ainda é alvo de desqualificações.
"É o reflexo da nossa sociedade conservadora e patriarcal: a leitura de que a mulher não está no espaço de disputa do poder e tem que estar cuidando das famílias. Em muitos desses espaços - sindicatos, movimentos mistos e partidos - elas têm menos tempo de fala; quando falam, elas são sistematicamente cortadas, corrigidas, como se o que elas estivessem falando fosse menor. Romper com essa lógica patriarcal na possibilidade de construção enquanto sujeito político é um desafio a ser alcançado".
O Cfemea luta pela paridade, ou seja, 50% de participação feminina na política, como afirma Masrá de Abreu.
"Menos que isso, a gente não considera que seja um sistema político que contemple todos os direitos".
A recente decisão do TSE prevê que o atual índice mínimo de 30% de recursos e tempo de propaganda para candidaturas femininas pode aumentar, inclusive nas eleições deste ano, desde que o partido tenha uma proporção maior de candidatas.