20/06/2018 21:37 - Saúde
Radioagência
Debatedoras defendem importância do pré-natal e humanização do parto
Deputadas e convidados de audiência pública na Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher defenderam (20) o apoio ao pré-natal e a adoção de protocolo de humanização do parto. Essas seriam formas de combater a violência sofrida pela mulher no momento da gestação e no pós-parto. O debate se concentrou na necessidade de diminuir o número de cesarianas desnecessárias realizadas no país.
De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, em 2016, 56% das mulheres tiveram parto por cesariana e 44%, parto normal. Entre as mulheres que escolheram o tipo de parto, o principal motivo para a escolha do parto normal foi a expectativa de melhor recuperação no pós-parto. Já o medo da dor e a tensão às vésperas do parto foram os fatores que mais motivaram as mulheres a escolher a cesárea.
A representante do ministério, Thais de Oliveira, reforçou os benefícios do parto normal:
"Ele ativa a imunidade do bebê, fortalece o organismo do bebê. O bebê tem menor risco de internação em UTI, de prematuridade, de baixo peso. Os hormônios do parto fortalecem a confiança da mulher, aliviam a dor, tem o menor risco de infecção, hemorragia e de acidentes anestésicos. Porque no parto normal a mulher só é anestesiada se ela quiser e é uma recuperação mais rápida, com maior facilidade na amamentação e reduz o risco também de em uma futura gestação ela ter de fazer uma cesariana."
A deputada Carmen Zanotto (PPS-SC) falou da importância do pré-natal para diminuir o número de cirurgias desnecessárias:
"Não é raro a gente receber ligações de familiares pedindo pelo amor de Deus para se fazer uma cesariana porque não querem esperar o parto normal por causa das contrações uterinas durante o trabalho de parto; porque a gente não preparou a mulher para aquelas contrações."
Ouvidas pela Fundação Perseu Abramo, 25% das mulheres afirmaram ter sofrido algum tipo de violência no parto. Segundo esse levantamento, 74% desses casos ocorreram na rede pública e 17% na rede privada, sendo que 8% das entrevistadas admitiram ter sofrido violência em ambas as redes.
Para a presidente da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (REHUNA), Daphne Rattner, o problema não está no SUS, e sim na cultura de hostilidade aos direitos das mulheres.
"É uma questão da cultura da nossa sociedade, que é uma cultura que legitima o feminicídio, que legitima que uma menina de 16 anos seja estuprada, por 33 que postam na internet, por estar com uma roupa, porque 'ela chamou, ela pediu'. Como é que é isso? Essa mesma cultura está fora dos hospitais, mas está dentro dos hospitais."
Hellen Cristhyan, fundadora da Casa Frida, que auxilia mulheres em São Sebastião, no Distrito Federal, sugere a adoção de um protocolo para humanização do parto para evitar o racismo:
"Ainda no Distrito Federal é negado o acesso das doulas e elas não podem ter também a equipe médica que deveria dar um suporte para elas porque... 'Ela é mulher negra, ela é forte o suficiente para estar na cena do parto'."
Durante a audiência na Comissão de Combate à Violência contra a Mulher foi reforçado que o protagonismo feminino na cena do parto deve ser respeitado por todos os profissionais envolvidos. O pedido para o debate partiu da deputada Luizianne Lins (PT-CE).