12/03/2015 20:24 - Política
Radioagência
Presidente da Câmara depõe espontaneamente na CPI da Petrobras
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, prestou depoimento nesta quinta-feira, de forma espontânea, na CPI da Petrobras. Cunha é uma das 50 pessoas citadas na lista entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, para ser investigado como suspeito e de participação no esquema de corrupção da Petrobras. Eduardo Cunha negou todas as acusações e disse que a lista de Janot tem caráter político. Partidos do governo e da oposição apoiaram Cunha.
Ao pedir a abertura de inquérito sobre Eduardo Cunha, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot apontou três indícios que foram rebatidos pelo presidente da Câmara
O nome de Eduardo Cunha é mencionado no depoimento do policial Jayme de Oliveira, acusado de fazer entregas de dinheiro para o doleiro Alberto Youssef. Jayme disse que entregou dinheiro três vezes em uma casa que seria de Cunha, no condomínio Nova Ipanema, no Rio. Depois, mudou a versão e disse que o condomínio era outro, o Novo Leblon.
O presidente da Câmara disse que a casa não é dele e que o verdadeiro proprietário, o advogado Francisco Reis, é ex-assessor do deputado estadual Jorge Picciani, do PMDB. A ligação entre o advogado e Picciani também foi usada pelo procurador da república para justificar a abertura de inquérito.
"O policial retifica, dá o endereço correto. A gente comprova de quem é o endereço. Aí, o procurador vai já por ilação que o proprietário da casa, que eu não sei quem é. Foi assessor do presidente do PMDB do Rio de Janeiro, de 1991 a 1997, até 2001, 14 anos atrás. E a partir daí tem ilação, que faz supor que a própria eleição do lícder do PMDB, nosso nobre líder, deputado Leonardo Picciani... Isso aí é justificativa para abertura de investigação? Isso é uma piada."
Eduardo Cunha também negou ter recebido propina relativa ao aluguel de um navio-plataforma da Samsumg à Petrobras. A propina seria intermediada pelo empresário Júlio Camargo, da empresa Mitsue. E o dinheiro seria entregue a Fernando Soares, apontado como operador do PMDB. Cunha também negou ter apresentado requerimentos na Câmara com pedidos de investigação sobre a empresa Mitsue. Os requerimentos seriam uma forma de pressionar Júlio Camargo a continuar pagando propinas.
"Eu não fiz qualquer requerimento a quem quer que seja. Depois, eu mesmo sugeri ao jornalista que me procurou que pesquisasse o site da Câmara. Tanto que o jornal 'O Globo' o fez e encontrou o requerimento, não com a Samsung, em nome de Mitsui, segundo a matéria do jornal "O Globo", assinado por dois parlamentares: Solange Almeida e Sérgio Brito, que não é do PMDB."
No pedido de abertura de inquérito, o procurador-geral da República relaciona ainda doações oficiais de campanha feitas por empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato ao PMDB em 2010. Eduardo Cunha garantiu que todas as doações são oficiais e feitas diretamente ao PMDB.
"Em 2010, as doações indo para o comitê, e o comitê e o partido destinam a quem quiser. Como é que eu posso... Não tem nem como afirmar que as doações feitas ao comitê financeiro do PMDB tenham sido feitas porque eu as coloquei lá e ainda mais fruto de benefício indevido. Isso é uma afirmação leviana."
Os deputados da CPI criticaram o pedido de abertura de inquérito contra o presidente da Câmara. O deputado Carlos Sampaio, que é promotor de Justiça, considerou inconsistente o pedido de Rodrigo Janot, que também envolveu um parlamentar do partido dele, o PSDB: o senador Antonio Anastasia.
"Por vezes, ficamos com uma impressão realmente ruim de que pessoas foram inseridas num contexto, nesta investigação, que nada tem a ver com investigação que está sendo feita de outros. Ou seja: réguas distintas para assuntos distintos. Ou melhor, para assuntos que ele trata como iguais."
E o deputado Arnaldo Faria de Sá, do PTB de São Paulo, resumiu o sentimento geral entre os deputados a respeito das suspeitas de que doações oficiais de campanha tinham relação com propina.
"Tentar usar, de maneira duvidosa, as doações de 2010, colocadas claramente na prestação de contas, sem dúvida nenhuma é a tentativa espúria de querer forjar algo para poder incriminar alguém."
Eduardo Cunha é um dos 22 deputados investigados a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Além deles, doze senadores, doze ex-parlamentares e uma ex-governadora também tiveram a abertura de inquérito autorizada pelo ministro Teori Zavascki, do STF. Eduardo Cunha se ofereceu para comparecer à CPI para dar esclarecimentos sempre que for necessário.