Relações exteriores

Ex-chanceler critica posição do governo brasileiro e do Mercosul em relação à Venezuela

Celso Amorim, que foi ministro dos governos Lula e Dilma, participou de audiência, na Comissão de Relações Exteriores, sobre a situação do país sul-americano

04/10/2017 - 16:25  

Will Shutter/Câmara dos Deputados
Audiência pública  sobre a situação na Venezuela e buscar reestabelecer diálogo com todas as forças políticas daquele país, na tentativa de contribuir para mediar o grave conflito que acomete aquela nação irmã e amiga. Ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, Embaixador Celso Amorim
Ex-ministro Celso Amorim disse que posição mediadora do Brasil foi descartada em relação à decisão tomada sobre a Venezuela

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim condenou a atitude do governo brasileiro que, segundo ele, tem isolado a Venezuela e deixado de buscar uma solução negociada para os conflitos daquele país.

Amorim disse aos deputados da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, nesta quarta-feira (4), que isso é uma quebra de paradigma “porque o Brasil sempre foi procurado por todos os países da região pela sua atitude moderadora”.

Para o ex-chanceler, a posição de mediador normalmente exercida pelo Brasil foi praticamente descartada com as declarações do atual governo a favor das forças que atuam contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro. O Brasil, na opinião de Amorim, não deveria ter se posicionado por nenhum dos lados.

O ex-ministro e o sociólogo Marcelo Zero, que também participou da audiência, classificaram ainda como "gravíssimas" as ameças de intervenção feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a Venezuela.

"Eu não me recordo, desde a invasão de Cuba pelo menos, de nenhum caso em que o presidente norte-americano tenha ameaçado um país sul-americano com o uso da força. Muita gente pode dizer que o presidente Trump fala muito, escreve no twitter. Mas ele é o presidente dos Estados Unidos, não é? De qualquer forma, acho algo extremamente grave que teria em si mesmo justificado uma reunião extraordinária do Mercosul, uma reunião da Unasul."

Amazônia
Outra quebra de paradigma, segundo Amorim, foi a anunciada participação dos Estados Unidos em manobras militares na Amazônia. Ele disse que é a primeira vez que o Brasil faz essa concessão para países que não são da região. A justificativa de que as manobras serão apenas humanitárias não é suficiente, acrescentou.

Billy Boss/Câmara dos Deputados
Audiência Pública e Reunião Ordinária . Dep. Vanderlei Macris( PSDB - SP)
Vanderlei Macris: documento foi assinado por quatro países do Mercosul e debatido com profundidade

Ainda em relação à Venezuela, o sociólogo Marcelo Zero destacou que o país é importante para o Brasil em termos econômicos porque compra produtos industrializados e não apenas produtos agrícolas.

Esse foi um dos motivos para a entrada do país no bloco econômico formado por Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, o Mercosul, negociada desde os anos 90.

Para o governo brasileiro, porém, o governo venezuelano "deu um golpe" ao convocar uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição. A assembleia tem poderes superiores ao do Parlamento, de maioria oposicionista.

Ordem democrática
O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) lembrou que a suspensão da Venezuela do Mercosul foi justificada por ruptura da ordem democrática.

Segundo o deputado, não é necessária uma ampla análise para se chegar à conclusão de que a assinatura de um documento, por quatro países, condenando a ruptura da ordem democrática interna de um país, participante do bloco, foi decidida após debate aprofundado.

Mas o ex-ministro  defendeu que isolar a Venezuela é pior, pois após as sanções norte-americanas contra o país, a popularidade do presidente Maduro, segundo ele, até aumentou. Amorim disse ainda que a internacionalização do conflito pode desestabilizar a região dada as relações próximas da Venezuela com China e a Rússia.

Outra crítica do diplomata foi em relação à aproximação do Brasil com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo ele, o governo brasileiro busca um "selo de qualidade", entrando em acordo com os países mais desenvolvidos, mas “abrirá mão de várias coisas sem garantir nada em troca”. 

Reportagem - Sílvia Mugnatto
Edição - Rosalva Nunes

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.