Política e Administração Pública

Cunha: Lula não conseguirá melhorar a relação do governo com o Congresso

Segundo o presidente da Câmara, a deterioração da base aliada ao Executivo já chegou a um ponto em que o governo não tem mais nada a ganhar, só a perder

15/03/2016 - 20:24  

Luis Macedo / Câmara dos Deputados
Presidente da Câmara, dep. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concede entrevista
Eduardo Cunha: "Estamos numa crise política e econômica agravada a cada dia por novas denúncias envolvendo não só a campanha eleitoral, como membros do próprio governo"

O presidente da Câmara da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirmou nesta terça-feira (15) que a eventual nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar um ministério não irá melhorar a relação do governo com o Congresso Nacional. Cunha disse também que esta semana não será encerrada sem a Câmara dar o próximo passo na tramitação do processo de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff.

“É muito pouco provável que melhore, porque a deterioração da base do governo já está num tal nível que é difícil a reversão”, avaliou o presidente, ao ser questionado, no Salão Verde, sobre uma possível contribuição de Lula à articulação política do governo. “A tendência é só perder, não tem o que ganhar. Não tem mais ninguém que possa chegar e mudar essa relação. Estamos numa crise política e econômica agravada a cada dia por novas denúncias envolvendo diretamente não só a campanha eleitoral, como membros do próprio governo”, explicou.

Segundo ele, é um direito de Lula se tornar ministro e um direito da presidente Dilma nomear quem quiser, mas isso não será a melhor saída para nenhum deles: “Não vai mudar o cenário e não sei para quem isso é bom. Não vai mudar a relação com os partidos, pois os partidos da base não acompanham mais as suas lideranças nas votações. É um processo continuado.”

Impeachment
Cunha informou que, ao contrário das eleições para as comissões permanentes da Câmara, não haverá possibilidade de acordo político no sentido de considerar, para a escolha dos integrantes da comissão especial do impeachment, os tamanhos das bancadas após o fim da “janela” de trocas partidárias.

“Processos dessa natureza, que têm repercussões no Supremo Tribunal Federal (STF), de legalidade, não podem ser alvos de acordos políticos. A comissão do impeachment foi criada já em dezembro, então não tenho amparo legal para mudar a regra depois de começado o jogo. Vale o que existia naquele momento: o bloco com o seu tamanho no dia da criação da comissão”, explicou. “Qualquer alteração nisso seria recomeçar o processo do zero, e ele poderia ser anulado por inteiro. Não vou praticar qualquer ato que possa gerar questionamento de legalidade”, acrescentou.

O presidente reafirmou que uma vez respondidas pelo STF, nesta semana, as dúvidas sobre a formação da comissão especial, ele irá cumprir a sua obrigação de dar continuidade imediatamente ao impeachment. “O processo tem que ter um desfecho, não pode ficar eternamente sem solução. Não deixaremos esta semana terminar sem que o passo seguinte seja dado”, disse, referindo-se à efetiva instalação da comissão.

Delação premiada
Questionado por repórteres, Cunha comentou também o episódio desta terça-feira relativo ao senador Delcídio do Amaral (PT-MS) — que acusou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de haver tentado evitar a delação premiada de Delcídio no âmbito da Operação Lava Jato.

“É um fato mais grave porque não se trata somente da delação, mas de uma gravação [de conversa de Mercadante com um assessor de Delcídio]. Existe a gravação com a voz e com as acusações que estão contidas nos autos, e aí as pessoas vão julgar. Não ouvi a gravação, só vi a transcrição e alguns noticiários; eu não tenho todo o detalhe, mas definitivamente é um fato grave.”

Os repórteres perguntaram se Mercadante deveria deixar o governo. “É um problema dele e da presidente”, respondeu Cunha.

Quando uma jornalista indagou se a delação de Delcídio abriria oportunidade para a investigação de “aloprados” do Palácio do Planalto na Lava Jato, Cunha disse: “A sua pergunta já é uma conclusão.”

Da Redação/JPJ

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