Cidades e transportes

Em SC, casas foram reconstruídas, mas barragens ainda estão no papel

22/03/2013 - 11:42  

Santa Catarina registrou sua pior catástrofe natural em 2008, quando quase três meses de chuva atingiram 1/3 do estado. Oficialmente, 135 pessoas morreram e 78 mil ficaram desabrigadas ou desalojadas temporariamente. A região mais afetada foi o Vale do Itajaí, assolado por enchentes, enxurradas e deslizamentos. A reportagem da Agência Câmara visitou dois dos municípios mais afetados: Blumenau e Itajaí.

Em 2011, as cidades voltaram a sofrer com enchente, mas o prejuízo foi bem menor e não houve mortes. Tanto Blumenau como Itajaí já retomaram o ritmo normal e praticamente não possuem escombros que remetam aos desastres. Mas as obras estruturantes, que podem evitar novos alagamentos e enxurradas na região, ainda não saíram do papel. Entre elas, as sete barragens apontadas como solução para o problema desde a década de 70. Em 40 anos, só três foram construídas.

O governo do estado admite que as maiores obras ainda não viraram realidade. “Temos um repasse de R$ 700 milhões para um grande projeto preventivo do Vale do Itajaí, com a aquisição de radar, sobre-elevação de barragens já existentes, construção de outras barragens, indenização para retirada de moradores de áreas ribeirinhas”, explica o diretor de Resposta a Desastres da Secretaria Estadual de Defesa Civil, Major Aldo Neto.

“As pessoas acham que nada foi feito porque não veem obras. Mas houve destinação de verba para prevenção, as defesas civis se estruturaram, os sistemas de monitoramento de clima e tempo, os alertas para a comunidade”, enumera Neto.

“Aprendemos, mas poderíamos ter aprendido muito mais. Tem muito que não se reconstruiu”, critica o Coordenador do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina, Antonio Edésio.

Itajaí
Em novembro de 2008, Itajaí ficou com 80% de seu território debaixo d'água. “A gente foi pego de surpresa. Já em 2011, o pessoal já passou avisando”, compara o morador do Bairro Cidade Nova, Robson Almeida, que, com o aviso da Defesa Civil, em 2011, conseguiu sair de casa com a família a tempo.

Ginny Moraes
Imóveis do Minha Casa, Minha Vida prontos, mas não entregues em Itajaí (SC) em 2013
Imóveis do Minha Casa, Minha Vida prontos em Itajaí.

Esse aviso faz parte do sistema de alerta e monitoramento da chuva e do rio implantado em Itajaí depois da catástrofe de 2008. É apontado pelas autoridades como o grande avanço que o município teve para prevenção a novas enchentes.

Nesses quatro anos, apesar de o porto, as ruas e as rodovias terem sido reconstruídas, os moradores reclamam que promessas, como a doação de moradia para os desabrigados e a remoção das famílias de áreas de risco, não foram cumpridas. “A gente vai na prefeitura em busca de solução e a solução é sempre aguardar. Enquanto isso eu moro numa casa que está quase desabando e não posso reformar porque a fiscalização não deixa”, desabafa Osmar Garcia, morador de uma invasão à beira do rio.

Segundo a Prefeitura de Itajaí, 35 casas foram entregues pelo governo para vítimas das enchentes desde 2008. Nos próximos dois anos, estão prometidas cerca de 300 moradias.

Blumenau
Blumenau registrou 75 enchentes nos últimos 100 anos. Em 2008, a enxurrada que devastou a cidade deixou 24 mortos e quase 4 mil casas destruídas. “Estávamos preparados para enchente, quando, de repente, o Vale do Itajaí começou literalmente a derreter. Com isso, tivemos que aprender na marra como trabalhar com várias vítimas, desabrigados, mortos”, lembra o coordenador regional de Defesa Civil, Sandro de Carvalho.

Wilson Dias/ABr
Cidades - catástrofes - Enchente em Blumenau (SC) em 2008.
Enchente em Blumenau em 2008.

De lá para cá, a fiscalização ficou mais rigorosa para que não haja mais construções em áreas de risco e os alertas de enchentes, agora, são dados com pelo menos 8 horas de antecedência.

“Grande parte das obras nas vias públicas foi realizada. Mas na parte estrutural, para contenção de encostas, ainda estamos em fase de projetos e licitação”, resume José Egídio De Borba, que comandou a secretaria de Defesa Civil de Blumenau de 2008 a 2012.

Em relação à moradia, a prefeitura afirma que não existem mais vítimas das tragédias em abrigos. Cerca de 600 famílias que foram para moradias provisórias já receberam um apartamento de 41 metros quadrados. “Graças a Deus, pegar água na minha casa não pega mais”, diz, aliviada, Elizandra da Silva, que se mudou para a casa nova logo depois da enchente de 2011.

Mas a política de habitação não agrada a todos. “Os apartamentos são pequenos, minúsculos”, reclama Lucas Teixeira, integrante do Movimento dos Atingidos pelo Desastre de 2008.

Reportagem – Ginny Morais
Edição – Natalia Doederlein

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.