Legislação Informatizada - DECRETO-LEI Nº 7.197, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1944 - Republicação

DECRETO-LEI Nº 7.197, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1944

Estabelece a classificação comercial de lã de ovinos e dispõe sobre o comércio dessa matéria prima.

     O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição,

     DECRETA:

    Art. 1º Fica estabelecida a classificação comercial de lã de ovinos, produzida, negociada, consumida e exportada, de acôrdo com as especificações abaixo.

    Art. 2º Para efeito de classificação, a lã de ovinos será baseada na origem, finura e comprimento das fibras e dividida em nove categorias assim discriminadas:

    1ª - Lã de velo.

    2ª - Lâ de borrêgo.

    3ª - Lã de retosa.

    4ª - Lã de pelego.

    5ª - Lã de aparas ou ponta de mesa.

    6ª - Lã de pata e barriga.

    7ª - Lã de capacho.

    8ª - Lã do campo.

    9ª - Lã preta ou moura.

    Art. 3º Denomina-se lã de velo aquela produzida nas diversas regiões do corpo de um ovino, com exceção das patas e barriga, durante o período de 12 meses.

    Art. 4º A lã de velo compreenderá cinco classes com as seguintes denominações:

    1ª - Merina.

    2ª - Amerinada.

    3ª - Prima.

    4ª - Cruza.

    5ª - Crioula.

    Parágrafo único. Para efeito de distinção entre as classes indicadas neste artigo, será tomado em consideração apenas o comprimento das fibras e a finura estabelecida pela escala Bradford.

    Art. 5º Considera-se Merina a lã proveniente de ovinos da raça Merina, com a finura mínima de 64 s".

    Parágrafo único. Esta classe será dividida em três tipos assim especificados:

    Alta - Quando apresentar mechas, não estiradas com o comprimento mínimo de 4 centímetros.

    Corrente - Quando apresentar mechas, não estiradas, com comprimento de 2 a 4 centímetros.

    Curta - Quando o comprimento das mechas não estiradas, fôr inferior a 2 centímetros.

    Art. 6º Considera-se Amerinada a lã produzida por ovinos em que predomina o sangue merino, com a finura de 60 s a 64 s, e com o comprimento mínimo de 5 centímetros.

    Art. 7º Considera-se Prima a lã produzida por ovinos de raças puras ou mestiças que ainda evidenciem o sangue merino, com finura de 58 s a 60 s.

    Parágrafo único. Esta classe compreende dois tipos assim especificados:

    Prima A - Quando o comprimento das mechas fôr, no mínimo, de 6 centímetros e finura de 60 s.

    Prima B - Quando o comprimento das mechas fôr, no mínimo, de 7 centímetros e finura de 58 s.

    Art. 8.º Considera-se Cruza a lã produzida por ovinos puros ou mestiços, diferindo das classes anteriores por já apresentar mechas alongadas, com finura de 58 s a 40 s.

    Parágrafo único. Esta classe divide-se em cinco tipos:

    Cruza I - Mechas com o comprimento mínimo de 8 centímetros e finura de 56 s.

    Cruza II - Mechas com o comprimento mínimo de 10 centímetros e finura de 50 s.

    Cruza III - Mechas com o comprimento mínimo de 11 centímetros e finura de 48 s.

    Cruza IV - Mechas com o comprimento mínimo de 12 centímetros e finura de 46 s.

    Cruza V - Mechas com o comprimento mínimo de 13 centímetros e finura de 40 s a 44 s.

    Art. 9º Considera-se Crioula a lã produzida por ovinos da primitiva raça crioula, com ausência de mechas pròpriamente ditas e existência de grande quantidade de pêlos que acompanham as fibras, destacando-se no velo em forma de extensas pontas, cujo comprimento atinge até 15 centímetros.

    Art. 10. Denomina-se Lã de Borrêgo aquela produzida pela primeira tosquia de um ovino que ainda não alcançou a idade de um ano, com mechas pouco consistentes e sem ligação entre si.

    Parágrafo único. Esta categoria compreende três classes:

    Retosa Merina - Proveniente da classe merina e finura mínima de 60 s.

    Retosa Cruza - Proveniente das classes cruza e finura variável de 58 s a 40 s.

    Retosa Grossa - Proveniente das classes cruza, porém de finura abaixo de 40 s.

    Art. 12. Chama-se Lã de Pelego a lã retirada mecânica ou quìmicamente da pele dos ovinos abatidos para consumo.

    § 1º Esta categoria compreende duas classes, que se distinguem únicamente pelo processo de extração, assim denominados:

    Tosquia - Quando obtida mecânicanimente.

    Cortume - Quando obtida pelo processo químico usado nos cortumes.

    § 2º Cada uma dessas classes pode ser dividida nos três seguintes tipos:

    Lã curta - Quando constituído por lã com menos de 3 meses de crescimento.

    Um quarto de lã - Quando constituído por lã correspondente a 3 a 6 meses de crescimento.

    Meia lã - Quando constituído de lã de 6 e mais meses de crescimento.

    Art. 13. Chamam-se Aparas ou Pontas de Mesa os pedaços de lã provenientes dos trabalhos de classificação e limpeza de outras lãs, nas mesas de classificação.

    Art. 14. Denomina-se Lã de Patas e Barriga aquela produzida nas pernas e barriga dos ovinos.

    Parágrafo único. A lã de patas e barriga compreenderá uma única classe com os seguintes característicos: fibras geralmente crespas, sem formar mechas, porém entrelaçadas, de finura e coloração variáveis, suarda em elevada quantidade, misturada com impurezas que lhe emprestam aspecto desagradável.

    Art. 15. Chama-se Lâ de Capacho a lã de velo que sofreu intensa feltragem a ponto de tornar difícil a divisão das suas diferentes partes.

    Art. 16. Denomina-se Lã de Campo a proveniente de animais encontrados mortos e que sofreram a ação das intempéries. Caracteriza-se pela côr branco-escura, com tons esverdeados.

    Art. 17. Denomina-se Lã Preta ou Moura a que provém de ovelhas pretas, pardas ou mouras.

    Parágrafo único. Esta categoria comporta duas classes:

    Fina - Quando se tratar de fibras com finura de 50 s ou acima.

 Grossa - Quando se tratar de fibras com finura abaixo de 50 s.

    Art. 18. De acôrdo com seu grau de uniformidade nos velos, qualquer classe ou tipo terá ainda as seguintes denominações:

    Especial - Quando apresentar mais de 75% do tipo referido e menos de 25% dos tipos imediatos.

    Boa - Quando apresentar de 65 a 75% do tipo referido e o excedente dos tipos imediatos.

    Corrente - Quando a uniformidade de tipo estiver compreendida entre 50 a 65% e o excedente dos tipos imediatos.

    Mista - Quando se tratar de lã com menos de 50 % de uniformidade.

    Art. 19. Desde que atenda às conveniências de comprador e vendedor, será facultado o agrupamento de dois tipos ou classes imediatas.

    Art. 20. Além da especificação das classes, tipos e uniformidade, na classificação da lã, deverão constar os defeitos que de certa maneira depreciem o produto.

    Parágrafo único . Serão considerados defeitos:

    a) Lã com sarna - lã impregnada de partículas provenientes da escamação epitelial, ocasionada pelo Psoroptes Ovis (sarna). Apresenta-se geralmente ressequida, sem elasticididade e sem resistência;

    b) Lã queimada ou manchada - lã prejudicada pelo banho sarnicida,apresentando coloração variável;

    c) Lã epidêmica - lã proveniente de animais que sofreram transtornos fisiológicos. Descoloridas, sem brilho, quebradiças, sem elasticidade e resistência. Mechas geralmente emaranhadas com pontas retorcidas até quase a metade;

    d) Lã terrosa - lã com elevada quantidade de pó terroso, reduzindo a suarda e respectivo rendimento;

    e) Lã arenosa - lã com elevada quantidade de areia;

    f) Lã com semente - lã com sementes aderidas às fibras;

    g) Lã rosada - lã com terra vermelha que modifica a coloreção natural.

    Art. 21. A lã classificada será acondicionada sôlta ou em velos atados, sendo para êstes obrigatório o emprêgo do fio de papel.

    Art. 22. A embalagem de lã será feita em fardos de aniagem ou algodão, em bom estado e resistentes, de seção retangular e capacidade variável.

    Art. 23. A classificação a que se refere êste Decreto-lei será feita exclusivamente nos entrepostos devidamente licenciados e por classificadores registrados no Serviço de Economia Rural.

    Art. 24. O resultado da classificação da lã destinada ao comércio ou ao consumo, será mencionado, com a responsabilidade do classificador, nos documentos comerciais (fatura, romaneio, etc.) e marcado nos volumes correspondentes.

    Art. 25. Quando for solicitado por uma das partes interessadas, o classificador poderá emitir um certificado oficial de classificação, de acôrdo com as normas já estabelecidas.

    Art. 26. As possíveis divergências que surgirem entre comprador e vendedor, com referência à classificação da lã negociada, serão resolvidas por meio de arbitragem.

    Parágrafo único. As arbitragens serão efetuadas por meio de uma comissão de dois árbitros que serão indicados pelas partes interessadas e um terceiro pelo Serviço de Economia Rural.

    Art. 27. No estado de produção, as lãs destinadas aos entrepostos, em acondicionamento original do produtor, terão livre trânsito, respeitadas as instruções que forem baixadas para êste fim.

    Art. 28. Para dar cumprimento ao presente Decreto-lei, o Serviço de Economia Rural fiscalizará a classificação, o comércio, o trânsito e o consumo, a importação e a exportação de lã de ovinos em todo o território nacional, baixando os regulamentos e as instruções que para êsse fim se tornarem necessários e que serão assinados pelo Ministro da Agricultura.

    Parágrafo único. As atribuições dêste artigo poderão ser delegadas aos serviços especializados dos Estados produtores.

    Art. 29. Para custear os serviços referidos no artigo 28, serão cobradas as seguintes taxas:

                                                                                                        por quilo

     Fiscalização no Estado produtor ................................................ Cr$ 0,05

     Fiscalização para exportação ..................................................... Cr$ 0,01

    Art. 30. O certificado de fiscalização da exportação sòmente será emitido, e cobrada a respectiva taxa, quando as lãs se destinarem ao estrangeiro.

    Art. 31. As fraudes e infrações constatadas pelo Serviço de Economia Rural ou pelos serviços estaduais competentes, sem prejuízo da ação criminal a que estiverem sujeitas, serão punidas com aplicação de multa de Cr$ 1.000,00 a Cr$ 5.000,00, podendo ser elevadas ao dôbro nas reincidências.

    Art. 32. O presente Decreto-lei entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 1945.

    Art. 33. Fica com êste revogado o Decreto-lei n. 6.604, de 19 de junho de 1944 e as demais disposições em contrário.

    Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 1944, 123º da Independência e 56º da República.

GETULIO VARGAS
Apolonio Salles.


Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União - Seção 1 de 23/02/1945


Publicação:
  • Diário Oficial da União - Seção 1 - 23/2/1945, Página 2913 (Republicação)