28/02/2019 17:54 - Direitos Humanos
Radioagência
Levantamento de comissão revela que imprensa registrou quase 70 mil casos de violência contra mulher em 2018
A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher fez, no ano passado, um extenso trabalho de pesquisa dos veículos de comunicação do país, com o objetivo de apurar os casos de violência contra mulheres que viraram notícia.
Ao todo, foram analisadas 140.191 notícias veiculadas pela imprensa brasileira entre janeiro e novembro de 2018. E encontrados 68.811 casos de violência contra a mulher, divididos em cinco principais categorias: importunação sexual, violência online, estupro, feminicídio e violência doméstica. No caso de mais de uma notícia sobre o mesmo crime, o episódio foi registrado apenas uma vez.
A base de dados para a pesquisa foi o banco de matérias da Linear Clipping, empresa especializada em monitoramento estratégico de notícias.
No caso do estupro, foram 32.916 casos. 43 por cento das vítimas tinham menos de 14 anos.
O Mapa registrou 14.796 casos de violência doméstica, cometida em 58% das vezes por namorados e maridos, atuais ou ex. Os outros 42% foram cometidos por pais, avôs, tios e padrastos.
Já para o feminicídio, ou seja, o assassinato de mulheres motivado por discriminação pela condição de mulher, foram encontradas 15.925 notícias. 95% dos assassinos eram maridos, namorados ou ex-companheiros.
São, ainda, 2.788 casos de crimes contra a honra de mulheres em ambiente online.
Já para a importunação sexual, prática que virou crime recentemente, foram encontradas 72 notícias.
A deputada Luizianne Lins, do PT do Ceará, foi uma das vice-presidentes da comissão da Mulher na legislatura passada. Para ela, um dos grandes desafios é garantir que as vítimas de violência denunciem os crimes.
"Infelizmente, é aquela velha história, a gente fica muito entristecido porque a violência contra a mulher é uma das formas mais brutais do machismo, da sociedade patriarcal. Eu acho que o fato de as mulheres estarem se conscientizando de que é crime, isso tem ajudado muito pra que isso vá pra esfera pública. Eu costumo dizer que, ainda, o nosso principal desafio, como mulheres que lutam e militam nessa causa contra violência à mulher, é a primeira denúncia."
O levantamento da comissão da Mulher não teve um recorte racial, mas, segundo o Atlas da Violência de 2018, em dez anos, a taxa de homicídio de mulheres brancas caiu 8%, enquanto os assassinatos de mulheres negras cresceram 15,4%.
A deputada Benedita da Silva, do PT do Rio de Janeiro, ressalta que o combate à violência de gênero passa pelo debate racial.
"A maioria da população feminina brasileira é negra. Então elas vão sofrer por dois motivos: porque é mulher, mas também porque são negras. E isto é muito sério, nós temos que combater o racismo e a exclusão que se faz, a invisibilidade da população feminina negra."
E a deputada estreante Joenia Wapichana, da Rede de Roraima e primeira mulher indígena a ser eleita deputada, pretende participar da Comissão da Mulher e quer colaborar com estudos ainda mais aprofundados.
"É um levantamento bastante importante, e que confirma alguns dados que a gente já tinha conhecimento. Apesar de não ter umas novidades que eu acharia que deve ter, talvez agora, talvez as mulheres já com a experiência desse levantamento, desse mapa de violência, pode abordar outras questões, por exemplo, as questões raciais. Por exemplo, na questão relacionada à mulher negra, às mulheres indígenas, à questão socioeconômica, que também é importante a gente analisar nessa ótica."
O Mapa da Violência contra a Mulher 2018, levantamento feito pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, será lançado oficialmente quando a comissão for instalada nessa nova legislatura, o que deve ocorrer depois do Carnaval.