18/03/2019 16:05 - Direitos Humanos
Radioagência
Solene em homenagem à Marielle Franco é marcada por cobranças sobre quem são os mandantes da execução
Parlamentares e convidados cobraram resposta para a pergunta "quem mandou matar Marielle Franco?", em sessão solene (18/3) em memória da vereadora carioca e do motorista Anderson Gomes no Plenário da Câmara dos Deputados.
Os assassinatos de Marielle e Anderson completaram um ano na última quinta-feira (14). Dois dias antes, dois homens que participaram do crime foram presos - o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, que teria sido autor dos tiros; e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, acusado de dirigir o carro em que Lessa estava. Ambos têm seus nomes associados a milícias.
Para o deputado Ivan Valente, do Psol de São Paulo, que pediu a sessão, esclarecido o dedo que apertou o gatilho, uma nova pergunta surge:
"A pergunta que não quer calar é quem mandou matar Marielle? Nós queremos essas respostas, o Brasil inteiro exige essa resposta, o mundo inteiro exige essa resposta, pelo ícone que Marielle representou. E também Anderson Gomes, vítima cruel."
Antonio Francisco Neto, pai de Marielle, também cobrou a continuidade das investigações:
"Temos que continuar com as cobranças, apenas o primeiro passo foi dado na prisão dos dois assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes. Falta saber quem mandou, por que mandou matar Marielle Franco. Não podemos relaxar porque não queremos que outros defensores de direitos humanos tenham a vida ceifada. Afinal de contas: temos um país de fato democrático ou não?".
Em discurso lido no Plenário, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também pediu solução integral e punição exemplar para o crime. Ele ressaltou que se tratava de parlamentar em pleno exercício do mandato, o que configura ataque ao sistema representativo.
Para a deputada Talíria Petrone, do Psol do Rio de Janeiro, foi um crime político com a participação do Estado:
"O Estado brasileiro tem sangue nas mãos. Não há possibilidade de haver crime organizado, de haver milícias sem o braço do Estado brasileiro. As milícias têm seu braço econômico, o seu braço militar, armado, e seu braço político, que elege senadores, que elege deputados. No Rio de Janeiro, não há separação entre crime, política e milícia."
Viúva do motorista Anderson Gomes, Agatha Reis observou que muitas pessoas no último ano reclamaram da atenção dada à morte de Marielle e de Anderson. Porém, na visão dela, não se trata de privilégio fúnebre, mas o início de uma luta contra a impunidade, contra a corrupção, contra grupos paramilitares, em favor da vida.
A procuradora Deborah Duprat, por sua vez, ressaltou que o mandato de Marielle representava muitas vozes - de raça, de gênero, de orientação sexual, de território. Marielle era negra, feminista, nascida na favela da Maré e identificava-se como bissexual.
Porém, para Valéria Payé, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Marielle foi semente que brotou:
"Aqui dentro desta Casa tem muitos resultados desse fruto que a gente está plantando em conjunto. Deputadas negras, indígenas, mulheres, guerreiras como a Marielle, que continuam e levam a pauta que ela colocou do lugar onde estava."
A sessão terminou com a performance da cantora Marina Íris do samba enredo da campeã do carnaval carioca deste ano, a Estação Primeira de Mangueira, que fala sobre líderes que influenciaram a história do Brasil, incluindo Marielle Franco.