Agropecuária

Produtores orgânicos ainda são minoria; Câmara debate formas de ampliar produção

Produtores brasileiros que acreditam na possibilidade de organizar seus negócios a partir do uso mais consciente dos recursos do planeta ainda são minoria.

28/05/2012 - 10:46  

Divulgação/ Ana Raquel Macedo
Agropecuária - Plantações - Ecomonia verde - Plantação orgânica na fazenda Malunga no entorno do DF
Fazenda Malunga: debate sobre produção orgânica também mobiliza parlamentares na Câmara.

A 70 km do centro de Brasília, na área rural conhecida como PAD-DF, há uma fazenda que é referência na produção de orgânicos na capital do País.

Na Fazenda Malunga há 120 hectares destinados à produção vegetal e animal e outros 40 de mata nativa preservada. Mais de 200 funcionários ajudam a colocar no mercado do Distrito Federal e de Goiânia mais de 40 variedades de vegetais durante todo o ano e cerca de 600 litros de leite, em média, por dia. Mas o sucesso não veio de um dia para o outro.

Nessas três décadas de estrada, avanços e também muitas dificuldades colocaram à prova a persistência dos proprietários da fazenda. Quem atesta é a gerente de laticínio da empresa, Ana Catarina Valle. “A Malunga passou por vários estágios, várias dificuldades, mas, aos pouquinhos, está conseguindo. Tanto que hoje ela é bem conhecida.”

Nas últimas décadas, segundo ela, as técnicas de produção orgânica aos poucos têm se aperfeiçoado, a consciência do consumidor aumentado e as regras legais se tornado mais claras. Mas ainda existem dificuldades. Ana Valle compara a realidade do produtor brasileiro com a situação dos fazendeiros em outros países. "Na Alemanha, por exemplo, há várias linhas de crédito e o governo fornece vários incentivos para os produtores. No Brasil, não. Isso está começando a surgir agora.”

Divulgação/ Ana Raquel Macedo
Provisória - Economia verde - Plantação orgânica na fazenda Malunga no entorno do DF - Ana Catarina Valle é gerente de lacticínios da fazenda
Ana Valle: agropecuária orgânica é mais do respeitar leis ambientais.

A Malunga tem produção certificada e, por isso mesmo, deve fazer um cuidadoso monitoramento de suas práticas. Ana Catarina explica que agropecuária orgânica não significa apenas produzir sem agrotóxicos, adubos químicos ou sem o uso indiscriminado de medicação no rebanho. Envolve também o respeito às leis ambientais, a redução do desperdício, o cuidado com o bem-estar animal e o respeito ao trabalhador.

"É um sistema fechadinho. O gado fornece esterco para horta e a horta fornece o excedente de produção para o gado.” Sobre adubação e combate às pragas, Ana explica que trabalha com prevenção. “A gente procura nutrir muito bem a planta para que o sistema imune dela esteja preservado. Quando não tem jeito, a gente entra com controle biológico. É a mosca, um besourinho que põe na produção para combater a larva."

Sustentabilidade
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alerta que a agricultura tem o desafio de alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050 sem prejudicar os ecossistemas e a saúde humana e sob condições de temperatura mais elevada, conforme as previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, ligado à Organização das Nações Unidas (ONU).

As práticas atuais, contudo, vão, muitas vezes, no caminho oposto ao da sustentabilidade. Segundo o PNUMA, a agropecuária consome mais de 70% da água doce do mundo e emite mais de 13% dos gases de efeito estufa.

Para "esverdear" a agricultura, o PNUMA defende investimentos financeiros, em pesquisa e em capacitação, bem como o uso eficiente de água e energia, a diversificação de culturas e animais, o controle integrado de pragas e a mecanização adequada do solo.

O deputado Bohn Gass (PT-RS), que também é agricultor, também defende o investimento em pesquisas para mudar o sistema de produção agrícola tradicional.

"É perfeitamente possível produzirmos sem veneno com tecnologias adequadas. Os nossos órgãos de pesquisa precisam trabalhar para que a gente possa ter os produtos sem veneno com tecnologias apropriadas e com custo menor.”

Reportagem - Ana Raquel Macedo/Rádio Câmara
Edição – Natalia Doederlein

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