TV Câmara, emissora a serviço do cidadão
Presidente da Radiobrás elogia programação da TV Câmara e defende que emissoras públicas sirvam ao cidadão, não ao poder. Novas instalações da TV Câmara serão inauguradas dia 29
A TV Câmara, canal público de informação e cidadania, inaugura no próximo dia 29 suas novas instalações, um projeto de três anos feito à imagem e semelhança da filosofia da emissora: a transparência. Através de uma parede de vidro, quem estiver na Câmara dos Deputados poderá presenciar a atividade dos jornalistas e a transmissão, ao vivo, do telejornal Câmara Hoje - exibido às 21h.
As novas instalações são um marco na história da TV Câmara, criada há oito anos com a finalidade de divulgar o que se passa no Legislativo mas que se consolidou, neste período, como uma emissora pública que discute os grandes temas nacionais a partir da Câmara dos Deputados. A TV Câmara faz parte de uma verdadeira rede de comunicação pública pautada pelos interesses do cidadão, em que se destacam parcerias com outras TVs, como as emissoras das assembléias legislativas estaduais, a TV Senado e a Radiobrás - sem contar entidades como a Unesco.
A TV Câmara é parceira da Radiobrás na TV Brasil. As duas emissoras ainda produzem juntas o programa VER TV, o único da TV brasileira a discutir e debater o conteúdo da programação das emissoras. Para o presidente da Radiobrás, Eugenio Bucci, o programa inaugurou um debate que não existia na televisão do país.
Eugenio Bucci também é um teórico da comunicação e, como tal, defende que as emissoras públicas trabalhem a serviço do cidadão e não a favor dos governantes de plantão. "A TV Câmara, a TV Senado, a TV Justiça, a Radiobrás e todas as outras emissoras de comunicação pública só se justificam se atenderem a uma necessidade do cidadão e da sociedade. Não são palanques, não são agências de publicidade", disse.
Confira a entrevista do presidente da Radiobrás:
Qual o papel das emissoras públicas hoje no Brasil?
Eugenio Bucci - As emissoras públicas são fundamentais não apenas no Brasil, mas em qualquer sociedade democrática porque elas se pautam por um padrão de comunicação que é complementar em relação àquele padrão de comunicação próprio das emissoras privadas de mercado. As emissoras privadas comerciais sustentam-se à partir da receita obtida dos anunciantes. Isso faz com elas se dirijam a buscar sempre mais platéia, mais audiência e dessa forma valorizar comercialmente o espaço publicitário de que elas dispõem. Isso é fundamental numa democracia. Não se pode conceber uma democracia sem a comunicação comercial. A comunicação comercial, por ter receita independente do Estado, do governo, do setor público, adquire condições materiais para uma observância e vigilância do exercício do poder político que não pode faltar numa democracia. Mas essa forma de comunicação também não pode ser vista como a única e como aquela que resolve tudo. Porque comunicação tem necessidades que requerem a participação de sujeitos que muitas vezes não teriam espaço se baseada apenas nos critérios comerciais. Vamos pensar, por exemplo, nos programas abertamente educativos. Eles são fundamentais, precisam acontecer, mas estão longe de ser programas que tenham potencial de serem campeões de audiência. Televisão pública também é fundamental na transmissão de eventos de interesse público como reunião ou sessões do Poder Legislativo, onde estão sendo discutidos temas de interesse de parcelas da sociedade.
A TV Câmara está inaugurando suas novas instalações. Vale a pena o investimento?
Em primeiro lugar estamos falando de dinheiro público. Sempre que há um investimento na TV Câmara, na Radiobrás, na TV Senado em qualquer instituição pública, seja ela de comunicação ou não, é indispensável que a opinião pública verifique, conheça, examine. Eu, que estou há quatro anos trabalhando numa empresa pública de comunicação, me pergunto todos os dias se é melhor investir dinheiro público numa câmera de TV ou num leito de hospital. O benefício do investimento precisa repercutir diretamente no exercício dos direitos pelos cidadãos. A informação, a informação com credibilidade, não é um bem supérfluo. Ela não é um acessório, não é um luxo, não é um dado a mais. Se bem feita, se bem produzida, se veiculada de forma desinteressada, ela é essencial para o exercício da cidadania. A informação, bem trabalhada, salva vidas. Sem instituições de comunicação pública, o acesso de vastas camadas da população ao exercício de seus direitos seria pior do que é. Eu sou um defensor da comunicação pública, mas isso não faz com que eu apóie acriticamente todo e qualquer investimento, toda e qualquer contratação de pessoas. Não, isso precisa sempre estar ao exame da opinião pública e da imprensa. É legítimo haver questionamento. E o questionamento nos ajuda a fazer uma televisão melhor. Eu avalio à distância que a TV Câmara vem fazendo um trabalho cada vez melhor. Agora, todos os investimentos que a Radiobrás faça, ou que a TV Câmara faça, precisam estar sempre abertos ao exame e à crítica da sociedade.
Existe um movimento real para que essas emissoras atendam ao cidadão e não apenas quem está no poder?
Existe e essa formulação precisa ser refeita. Ela deve atender ao cidadão e só ao cidadão. Não deve atender quem está no poder. É muito difícil explicar e fazer com que esta verdade seja assimilada. Mas as instituições públicas de comunicação não são assessorias privadas de relações públicas ou de propaganda ou de assessoria de imprensa daqueles que ocupam os postos de comando na administração pública de qualquer dos três poderes da República. Não pertencem a essas pessoas. Não existem para fazer promoção de imagens, que é uma função privada, não pública. Portanto, qualquer veículo de comunicação do setor público só existe para atender o cidadão. Não é para atender quem está no poder. Não existem para isso. Isso ainda não foi assimilado no Brasil. Dizer que, em parte, uma emissora de TV deve atender, ainda que parcialmente, quem está no poder é a mesma coisa que dizer que um hospital público deve atender o prefeito ou o governador. Ou que uma escola pública deve atender o Presidente da República ou um ministro de Estado. Não faz sentido. A TV Câmara, a TV Senado, a TV Justiça, a Radiobrás e todas as outras emissoras de comunicação pública, sejam elas de porte mais estatal ou menos estatal, só se justificam se atenderem a uma necessidade do cidadão e da sociedade. Não são palanques, não são agências de publicidade. São instituições que, ou atendem direito ao cidadão, ou não têm que existir.
Que programa da TV Câmara o senhor destacaria como importante?
Eu vou destacar o VER TV porque não apenas inaugurou um tipo de debate que não havia na televisão brasileira, como consolida uma prática de parceria e põe, numa mesma direção de programa, profissionais da Radiobrás e da TV Câmara. Então isso é um momento alto da TV Câmara. Outra coisa que eu destacaria é a cobertura ordinária da TV Câmara. Esse é o serviço essencial da TV Câmara. Mostrar as sessões, as reuniões, os parlamentares. Isso acabou impactando de maneira muito positiva na cobertura normal da imprensa nacional. É um grande passo.
As novas instalações da TV Câmara
As novas instalações da TV Câmara, com 410 m², reúnem em um único complexo a redação - acoplada à bancada de apresentação do Câmara Hoje -, o estúdio de gravações, as ilhas de edição, além de espaço destinado á área administrativa e aos diversos núcleos de produção da emissora. O projeto segue a tendência da maioria dos canais informativos do mundo e contou com projetos de dois dos profissionais mais requisitados do setor, o designer Ucho Carvalho e o lightning designer Peter Gasper.
Ucho Carvalho assina o projeto de redações e cenários de emissoras como a Rede Globo (Jornal da Globo), o canal de informações GNT (da GloboSat) e o iG Studios (produtora de TV para a Internet). Peter Gasper, alemão radicado no Brasil há 49 anos, começou a carreira como cenógrafo em 1961 e tem passagens pela Atlântica Cinematográfica e as TVs Rio, Continental, Tupi, Excelsior, Manchete, Bandeirantes e SBT. Além disso, são dele os projetos de iluminação da Catedral de Brasília, da Praça dos Três Poderes, do Congresso Nacional (DF), do Museu de Arte Contemporânea em Niterói (RJ), das obras de Aleijadinho em Congonhas (MG), além de outros. Durante 12 anos, trabalhou como diretor de fotografia da Rede Globo.
Prêmios e serviços ao cidadão
Aos oito anos de idade, a TV Câmara é assídua freqüentadora de premiações jornalísticas de alcance nacional. Em 2004, dois documentários receberam o prêmio Vladimir Herzog: Florestan Fernandes — O Mestre; e a série Contos da Resistência, composta por quatro documentários sobre o golpe de 64 e a redemocratização do país. Em 2005, mais dois prêmios Vladimir Herzog, dessa vez para programas e personagens do cotidiano: a série de reportagens sobre a mortalidade infantil entre os índios do Mato Grosso do Sul e o documentário da série Brasileiros entitulado "Sônia Maria, sonho 100 dimensão".
A TV Câmara busca ainda ocupar lacunas deixadas pelas demais emissoras, comerciais ou não. Dentro dessa ótica, dois programas merecem destaque, o VER TV (mencionado por Bucci) e o Câmara Ligada, que estrearam em 2006. O VER TV, semanal, analisa o conteúdo das TVs brasileiras. A produção é uma parceria da TV Câmara com a TV Nacional e conta com o apoio da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Já o Câmara Ligada, mensal, é um programa de auditório voltado para os jovens, principalmente os da periferia. O objetivo é estimular quem não tem intimidade com a política a debater temas de seu dia-a-dia. O ponto de partida para a discussão são as letras de bandas e artistas oriundos dessa mesma realidade - os bairros mais pobres. Na platéia, estudantes de escolas públicas de cidades do Distrito Federal discutem temas como a violência, as drogas e a cidadania.
Custos
As novas instalações físicas da TV Câmara totalizaram R$ 2,29 milhões, assim distribuídos:
Mobiliário - R$ 835.000,00
Luminárias e mesas dimerizáveis - R$ 367.417,60
Ar-condicionado - R$ 366.603,97
Segurança/Comunicação de voz e dados/detecção de incêndio/elétrica - R$ 236.800,58
Divisórias, esquadrias e vidros - R$ 142.000,00
Piso elevado - R$ 79.779,40
Revestimento acústico/chapas das paredes - R$ 63.449,80
Carpete - R$ 62.405,00
Revestimento colunas e painéis/lâminas de vidro - R$ 59.899,99
Forro acústico - R$ 45.550,87
Revestimento acústico do teto - R$ 15.340,00
Eletrocalhas circulares - R$ 8.000,00
Gesso acartonado - R$ 4.799,85
Mobiliário da recepção - R$ 4.197,00
Piso vinílico do estúdio - R$ 2.808,00
Granitos da copa - R$ 675,00
Total - R$ 2.294.727,06