Programa Comitê de Imprensa em que os deputados Ibsen Pinheiro e Alceni Guerra relataram o drama de quem é acusado pela imprensa recebe menção honrosa no prêmio Confea de Jornalismo

 
O jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, recebe nesta quarta-feira (15), no Rio de Janeiro, menção honrosa no Prêmio Confea de Jornalismo pela edição do programa Comitê de Imprensa que contou com a participação dos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Alceni Guerra (DEM-PR). O programa estreou no último dia 3 de agosto e abriu espaço para que os dois parlamentares, prejudicados por matérias publicadas pela imprensa, expusessem em público juntos, pela primeira vez, o drama pessoal, profissional e político decorrente de acusações que depois não foram comprovadas.

Alceni, ex-ministro da Saúde, e Ibsen, ex-presidente da Câmara, estiveram no topo de suas carreiras no início dos anos 90 e amargaram um longo exílio até retornarem à cena política nacional, no ano passado, quando foram eleitos deputados federais.

Ibsen era presidente da Câmara em 1992, quando foi instalada a CPI do caso PC Farias. Comandou a sessão que autorizou a abertura de processo de impeachment contra o então presidente Fernando Collor de Mello. Na ocasião, pronunciou uma frase histórica: "O que o povo quer, esta Casa acaba querendo".

No ano seguinte, a vontade da Casa se voltou contra ele. Ele foi investigado pela CPI dos Anões do Orçamento e acusado de ter movimentação financeira incompatível com seu patrimônio. A acusação foi reproduzida à exaustão pela imprensa e, em maio de 1994, Ibsen teve o mandato cassado. Em dezembro de 1999, o STF extinguiu o processo: considerou insatisfatória a consistência das denúncias. Em 2004, um dos jornalistas que escreveu matéria contra ele admitiu ter cometido erros na apuração.

Em 2003, Ibsen voltou à política como secretário de Comunicação do governo Germano Rigotto, no Rio Grande do Sul, depois de trabalhar como professor, diretor de clube de futebol, jornalista e comentarista esportivo. Em 2004, foi o vereador mais votado em Porto Alegre. No ano passado, voltou à Câmara com 76.165 votos.

A vida política de Alceni Guerra seguiu roteiro semelhante. Em dezembro de 1991, uma reportagem do jornal Correio Braziliense acusou o então ministro da Saúde do governo Collor de superfaturar a compra de 23 mil bicicletas. Alceni deixou o ministério e, um ano depois, foi inocentado pelo Tribunal de Contas da União, pelo Ministério Público Federal e pelo STF. Em 1996, foi eleito prefeito de Pato Branco (PR), com 72% dos votos. Em 2006, recebeu 69.022 votos para deputado federal.

Revelações inéditas

No Comitê de Imprensa, o programa da TV Câmara que faz uma radiografia da cobertura política do Congresso, os dois deputados fizeram revelações inéditas a respeito do drama que sofreram e analisaram o papel da mídia. Alceni lembrou com emoção a sensação que teve quando viu, na capa de um dos jornais de maior circulação do Brasil, uma charge em que seu filho, então uma criança, aparecia retratado ao seu lado com uma tarja nos olhos. E se penitenciou: "Cometi um grande erro ao não processar a imprensa". Ele contou que só conseguiu conversar sobre o assunto com a família anos depois, durante uma entrevista , em que ele, os filhos e os jornalistas presentes não conseguiram segurar as lágrimas.

Ibsen também contou sua história, mas se mostrou contrário a um endurecimento maior da legislação no que diz respeito à atuação da imprensa. Ele disse ser favorável à auto-regulamentação dos jornalistas. "É perigoso criar um conselho de jornalistas", disse, em referência a uma iniciativa do governo. Os dois fizeram um relato emocionado e, mesmo assim, irônico a respeito da atuação da imprensa. "Depois da nossa morte talvez haja uma efusiva retratação", disse Alceni.

O Comitê de Imprensa vai ao ar todas as sextas-feiras às 23h na TV Câmara.

Produção: Shirley Farias e Cida Hipólito
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