Ariano Suassuna dá aula-espetáculo aberta ao público

29/01/2014 13h04

O escritor é o primeiro convidado de série de entrevistas com grandes nomes do pensamento nacional. Lançamento, dia 21, terá aula-espetáculo na Câmara. TV Câmara exibe entrevista dia 26

A Câmara dos Deputados lança na próxima terça-feira (21) o projeto Personalidade, uma grande entrevista com brasileiros de destaque cujo conteúdo será reproduzido pela TV Câmara, Agência Câmara, Jornal da Câmara e Rádio Câmara. O primeiro entrevistado da série é o dramaturgo e escritor Ariano Suassuna. Para marcar o lançamento, o próprio Ariano vai ministrar uma de suas famosas aulas-espetáculo no auditório Nereu Ramos, às 19h. A aula-espetáculo é gratuita e aberta ao público.

A entrevista rendeu um programa de uma hora de duração, que estréia na TV Câmara domingo (26), às 20h. A íntegra da conversa do escritor com os jornalistas Cláudio Ferreira e Amneres Pereira e com a antropóloga Aparecida Nogueira estará disponível no dia seguinte (segunda-feira, 27) na Agência Câmara. Os melhores momentos serão veiculados ainda pela Rádio Câmara e publicados pelo Jornal da Câmara.

As próximas edições do Personalidade terão como convidados o iatista Lars Grael, o antropólogo Roberto DaMatta e o economista Luciano Coutinho.

A proposta do Personalidade é discutir a sociedade brasileira a partir de personalidades de renome nacional. Artistas, diretores, professores universitários, pensadores, quaisquer pessoas que se destaquem em suas áreas de atuação vão expor suas idéias em relação ao Brasil, seu diagnóstico de nossa realidade e sua reflexão sobre os melhores caminhos a tomar.

Cultura popular

Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista, poeta, ensaísta, defensor incansável da cultura popular, das raízes brasileiras, especialmente a nordestina, tem 79 anos e nasceu em João Pessoa (PB). Em 1946, aos 19 anos, entrou para a Faculdade de Direito do Recife, onde conheceu um grupo de escritores, atores, poetas, romancistas e pessoas interessadas em arte e literatura, entre os quais Hermilo Borba Filho, com o qual fundou o Teatro de Estudantes de Pernambuco.

Em 1947, escreveu sua primeira peça de teatro, Uma mulher vestida de sol, baseada no romanceiro popular do Nordeste. Com ela ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno, em 1948. Em outubro de 1970 lançou o Movimento Armorial, com o concerto Três séculos de música nordestina: do barroco ao armorial, na Igreja de São Pedro dos Clérigos e uma exposição de gravura, pintura e escultura.

De 1975 a 1978 foi Secretário de Educação e Cultura do Recife. Doutorou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1976. Foi professor UFPE, onde ensinou Estética e Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira, por 32 anos.

Em agosto de 1989 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira número 32, que pertenceu ao escritor Genolino Amado. É autor, entre outras obras, de Auto da Compadecida (1955); O santo e a porca (1957); O casamento suspeitoso (1957); A pena e a lei (1959); Farsa da boa preguiça (1960); A caseira e a Catarina (1962); Romance d′a pedra do reino e o príncipe de Sangue do Vai-e-Volta (1971, traduzida para o inglês, alemão, francês, espanhol, polonês e holandês).

De política à cultura

A equipe dos veículos de comunicação da Câmara dos Deputados foi até Recife entrevistar o escritor na casa dele, no tradicional bairro de Casa Forte. Ariano Suassuna falou de política, da cultura brasileira, da influência estrangeira, de sua obra, da formação política do país, da América Latina e de diversos outros temas. Leia alguns trechos:

Sobre Lula:

"Pela primeira vez, um homem do povo do Brasil real atingiu a Presidência da República"

Sobre a América Latina:

"Acho que é uma coisa fundamental o fato de (Hugo) Chávez partir de Bolívar, que, para mim, é o maior homem da América Latina. O meu sonho de união latino-americana segue a linha do sonho de Bolívar"

Sobre a Língua Portuguesa:

"Traduzir goalkeeper por goleiro eu acho que foi um progresso, uma aquisição. Com isso, a língua se enriquece e não se deturpa, não se vulgariza, não se corrompe"

Sobre a influência cultural estrangeira:

"A boa arte estrangeira, eu não tenho nada contra ela. Eu falo mal é contra o lixo cultural que querem nos apresentar como modelo, como parâmetro. Querem a uniformização da cultura e querem que eu ache que uniformização da cultura é universalização da cultura. Não é"

Sobre a formação do país:

"A América de fala hispânica se fragmentou toda. E o Brasil ficou nessa unidade. O Brasil se tornou essa unidade entusiasmadora de contrastes que é hoje graças a uma jogada política habilíssima, uma jogada de Sancho, de um misto de Sancho e Dom Quixote que era José Bonifácio, que, contrariando os radicais da época, deu um estalo e disse: "A independência do Brasil deve ser feita pelo herdeiro da Coroa Portuguesa".

Sobre a influência da cultura popular em sua obra:

"Eu me baseei em três folhetos da literatura da cordel (para escrever o Auto da Compadecida). O primeiro ato é baseado num folheto chamado O Enterro do Cachorro. O segundo ato é baseado noutro folheto, chamado O Cavalo que Defecava Dinheiro. Na peça, eu transformei num gato por motivos óbvios, porque era muito difícil você botar um cavalo no palco. E o terceiro ato é baseado num terceiro folheto, chamado O Castigo da Soberba."

Serviço

Personalidade - Ariano Suassuna

Lançamento: 21 de novembro, aula-espetáculo com Ariano Suassuna no auditório Nereu Ramos, Câmara dos Deputados, às 19h

Estréia: TV Câmara - domingo (26), às 20h