Câmara lança o Ano do Centenário de Niemeyer
Cerimônia em 15 de dezembro, quando o arquiteto completou 99 anos, marcou o início do período de celebração de um dos brasileiros mais conhecidos no mundo
Na sexta-feira (15 de novembro), dia em que Oscar Niemeyer comemorou 99 anos, a Câmara abriu oficialmente o ano do centenário do arquiteto na Casa. Na cerimônia, foram lançados um calendário com fotos da construção do Palácio do Congresso e a logomarca do "Ano do centenário de Niemeyer na Câmara dos Deputados".
Participaram da solenidade o neto do arquiteto, Cadu Niemeyer, representando seu avô; o secretário de Cultura do Distrito Federal, José Ricardo Marques; o diretor da Secretaria de Comunicação da Câmara, William França; o diretor do Departamento Técnico, Hamilton Cordeiro; o arquiteto da Câmara Danilo Matoso; e o responsável pelo escritório de Niemeyer em Brasília, Carlos Magalhães. A direção geral da Câmara criou um grupo de trabalho encarregado de programar as atividades comemorativas do centenário.
É muito forte a ligação de Niemeyer com a Câmara. Em diversas entrevistas concedidas nos últimos anos, Niemeyer classifica o Palácio do Congresso como sua obra preferida. É com visível satisfação que ele fala das curvas e da dificuldade técnica do cálculo estrutural das cúpulas. "Aqui tem invenção", disse um dos grandes inspiradores da obra de Niemeyer, o arquiteto suíço Le Corbusier, quando visitou as obras.
Oscar Niemeyer Soares Ribeiro de Almeida nasceu no Rio de Janeiro, no bairro das Laranjeiras, em 15 de dezembro de 1907. Era neto do ministro do Supremo Tribunal Federal Ribeiro de Almeida. Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes aos 26 anos, onde fez o curso de arquitetura.
Um dos professores de Niemeyer foi o urbanista Lucio Costa, então diretor da Escola Nacional de Belas Artes. Foi no escritório do urbanista, também arquiteto, que ele conseguiu o primeiro emprego. Aceitou trabalhar de graça. Sua principal influência foi a arquitetura moderna européia, difundida por Le Corbusier.
Em 1939 conheceu Juscelino Kubitschek - por intermédio do governador mineiro Benedito Valadares. Juscelino era prefeito de Belo Horizonte, no início da década de 40, e contratou Niemeyer para projetar o complexo da Pampulha. "Brasília nasceu em Pampulha", gosta de repetir o arquiteto.
A parceria abriu caminho para que Juscelino, eleito presidente da República, chamasse Niemeyer para projetar Brasília. O arquiteto recusou e sugeriu a realização de um concurso público, vencido por Lucio Costa. O resto é história.
Ligações com a Câmara
Danilo Matoso Macedo, arquiteto da Câmara dos Deputados, fez mestrado sobre a arquitetura de Oscar Niemeyer, tese defendida em 2002 na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Ele relata o respeito da Câmara para com o projeto original de Niemeyer ao longo dos anos.
"Os arquitetos envolvidos com a Câmara dos Deputados foram sempre muitos ligados ao escritório dele. Por vezes, quando vinha a Brasília, se instalava numa das salas do Anexo I para trabalhar. Isso na década de 80.Através deste contato muito estreito, sempre que se ia fazer algum anexo, alguma adição, alguma grande reforma, Oscar era convidado para fazer o projeto básico", conta.
Todos os diretores do Departamento Técnico (Detec) da Câmara mantiveram estreito contato com o escritório de Niemeyer, autor dos diversos estudos de construção dos prédios anexos. O primeiro anexo (o Anexo II, já que o Anexo I, uma das torres do Congresso, faz parte do projeto original) foi feito em 1962. No início dos anos 70, foi reformado o edifício principal e o Salão Verde perdeu a vista para o lago Paranoá - tudo sob a supervisão de Niemeyer.
No final da década de 70, em pleno regime militar, a necessidade de construção do anexo IV para resolver o problema da falta de gabinetes para os deputados fez com que os diretores do Detec fossem a Paris, onde Niemeyer estava exilado, pedir um estudo preliminar - projeto depois concluído pelo arquiteto João Filgueiras Lima. Foi a única obra brasileira idealizada por Niemeyer no exílio.
O Congresso Nacional é o prédio que Niemeyer mais gosta. Não só por sua carga simbólica. A terraplenagem na área faz que com as cúpulas, olhando da Rodoviária, pareçam estar pousadas no chão - e não sobre um prédio.
"Existe uma retomada do estudo da arquitetura moderna, nos últimos dez anos, e a Câmara faz parte através do Departamento Técnico. Um dos projetos é de sistematizar os desenhos de Niemeyer que foram tão bem guardados aqui e publicá-los como material inédito, parte dessa cultura de reavaliação do movimento moderno", concluiu Danilo Macedo.