TV Câmara dá voz aos jovens
O Câmara Ligada, programa de auditório da TV Câmara, estréia no próximo domingo (24) e discute a realidade da juventude das periferias das grandes cidades
Imagine um programa de auditório em que a platéia (foto), formada por estudantes, dá sua opinião sobre temas como violência, oportunidades de trabalho, a ameaça das drogas, as doenças sexualmente transmissíveis... e política. Imagine que o ponto de partida para a discussão sejamm as letras de bandas e artistas oriundos dessa mesma realidade - os bairros mais pobres. E que esse programa seja produzido por uma emissora de TV pública. Esse programa existe, se chama Câmara Ligada, é uma produção da TV Câmara e vai estrear no próximo domingo (24), às 22h.
O Câmara Ligada vai estimular os jovens que não têm intimidade com a política a debater temas de seu dia-a-dia. Será também um canal de comunicação entre o Parlamento e o público-alvo, situado na faixa etária entre 15 e 24 anos, a mesma usada pela ONU para definir juventude. São cerca de 34 milhões de brasileiros nesta idade, segundo o censo de 2000. Jovens que em sua maioria têm uma certa rejeição à política, resvalando para o descrédito em relação às instituições democráticas. A pesquisa "O jovem, a sociedade e a ética", realizada pelo Ibope entre julho e agosto deste ano, aponta que 85% dos cariocas entre 14 e 18 anos não confiam na classe política. E 46% dos jovens acreditam que o Brasil será pior daqui a alguns anos.
O programa começou a ser produzido há três anos pela TV Câmara, em parceria com a a UNESCO, o SESC e a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). O Câmara Ligada busca responder às questões levantadas no livro "Remoto Controle — Linguagem, Conteúdo e Participação nos Programas de Televisão para Adolescentes", editado pela ANDI, Unicef e Editora Cortez. A obra analisou todos os programas já produzidos para jovens no país e concluiu que, neles, os brasileiros com menos de 24 anos são relegados ao papel de figurantes. No Câmara Ligada, eles viram os protagonistas.
O programa de estréia tem como atração o grupo de rap Da Guedes, do bairro Partenon, periferia de Porto Alegre. O nome vem da rua onde os integrantes se reuniam, a Guedes da Luz - nome do comandante da Revolução Farroupilha cujos soldados tinham como lema "Morro Seco Mas Não Me Entrego", bastante apropriado para a temática do programa.
Assim como os soldados farrapos, o Câmara Ligada incentiva os jovens a aderir à política - no sentido de poder transformador - e lutar por seus objetivos.
O programa de estréia conta também com as presenças do cientista político Cristiano Noronha, de Brasília, e da socióloga baiana Mary Garcia Castro. Também do Rio Grande do Sul, Rubielson Athayde e Camila Ferrão, da ONG Canta Brasil, que resgata a cidadania e dá formação profissional ensinando crianças e adolescentes a dançar e cantar.
A definição de pautas, da abordagem, do cenário e todo o processo que envolveu a criação do Câmara Ligada resultou do trabalho de dois conselhos montados para colaborar com a equipe da TV Câmara. O primeiro, formado por jovens identificados em uma pesquisa de opinião realizada com cerca de 500 estudantes em diversas escolas de Brasília. O segundo, composto por especialistas em juventude, com representantes dos parceiros oficiais UNESCO, ANDI e SESC e da professora Vânia Lúcia Quintão Carneiro, da UnB.
O Câmara Ligada tem duração de 1 hora e meia. O de estréia tem a participação de 100 alunos do Centro de Ensino Médio nº1 de São Sebastião, Brasília.
Cada programa enfocará um tema específico, pautado pelos próprios jovens. O Câmara Ligada é apresentado por Evelin Maciel, dirigido por Roberto Tavares e a produção é de Cláudia Brisolla, Shirley Farias e Isabele Carvalho.