Pedro Simon SF 22-02-2008
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, primeiro agradeço a meu companheiro e amigo, brilhante Senador Mão Santa, que está em estado de graça com as publicações da Época e da Piauí - que não tem nada a ver com o Estado do Piauí, mas é uma revista de intelectuais -, que o apontam como um fenômeno de seriedade e de credibilidade e astro de primeira grandeza hoje na televisão brasileira.
Só espero que S. Exª não aceite nenhuma daquelas propostas irrecusáveis da Globo e nos deixe para ser artista global, pois, a Globo está precisando de gente que aumente alguns de seus programas no Ibope, e S. Exª é o campeão do Ibope da nossa televisão.
Srªs e Srs. Senadores, é interessante o nosso Senado. Às vezes, debatemos longamente matérias, importantes ou não, e, às vezes, há um silêncio em torno de situações que são manchetes, praticamente, no mundo inteiro. Eu não poderia, meu querido Presidente, deixar de tecer alguns comentários sobre um assunto que está pautando a mídia internacional nesta semana: trata-se da carta- renúncia do Presidente Fidel Castro depois de 49 anos e vários dias no poder como Presidente ou como Primeiro Ministro de Cuba.
Cuba é um pequeno país, uma ilha situada na América Central, com pouco mais de 110 mil km², algo como vinte vezes o tamanho geográfico do Distrito Federal, um pouco maior que o Estado de Pernambuco, menos de metade do Estado do Rio Grande do Sul; uma população de 11 milhões de pessoas, pouco maior que os gaúchos e igual à da Cidade de São Paulo.
Mas por que um acontecimento político, num país tão pequeno, pouco mais de um centésimo da nossa área geográfica do Brasil e de 6% da nossa população, desperta tamanha atenção em todos os países do planeta? Talvez a renúncia do Presidente de um dos menores países esteja hoje inclusive empanando a atenção da mídia, e até é o ponto principal.
Nós sabemos que a eleição americana, nas suas primárias, está em um apogeu de debate, numa fantástica ascensão de Barack Obama, tido como um concorrente apenas para participar, provável vice da ex-Primeira Dama, está empolgando uma campanha fantástica. Ontem - geralmente na campanha americana acontecem essas coisas: de repente aparece uma loira bonita, na vida de um candidato republicano, que está praticamente indicado, e não se sabe quais são as conseqüências - ainda ontem, no debate, no Texas, entre a ex-Primeira Dama e Obama, a expectativa de todos os americanos, eu diria de todo mundo que acompanhou o debate, foi sobre o que eles falariam da renúncia de Fidel Castro. É porque, fora do País, a história cubana, com Fidel Castro e Che Guevara à frente dos revolucionários à época de Cuba, se construiu com muito mais do que fatos, muito mais do que fatos concretos. Na verdade, ela teve o condão de construir sonhos. Ela espelhou a luta libertária de dezenas de povos e países em um tempo em que vicejavam regimes de exceção, principalmente ao sul da mesma América. A figura de Che Guevara foi muito mais do que um retrato no peito, muito mais do que fotos nas paredes do mundo, a figura de Che Guevara simbolizou, contraditoriamente ao que se publica hoje, à ilha de Fidel Castro, desejos de liberdade.
A bandeira de Cuba, um país de onde se noticia o poder pela força, também tremula contraditoriamente nos movimentos pela paz, até porque a mensagem "Há que se endurecer..." vem acompanhada de "sem perder a ternura jamais". Eu vi essa frase pelo mundo afora - "Há que se endurecer..." e mais embaixo da figura de Che Guevara: "sem perder a ternura jamais".
Cuba, portanto, é notícia, mais do que pelo que é, mais do que aquilo que Cuba é. A notícia é maior do que isso porque ela representou, política e ideologicamente, o que nós todos sonhamos no passado.
Eu não quero entrar neste contraditório de que Cuba é um paraíso, que não é, ou de que Cuba é o terror para outros, que também não é. Não é essa a discussão que eu acho deva ser travada. Há emoção em ambos os lados: dos que defendem o regime cubano, que eu acho difícil - eu não defenderia; e o dos que lhe atribuem características diabólicas, com o que eu também não concordo - não é verdade.
Parece até não haver um meio termo nessa violenta contradição. Mas, apenas, das minhas críticas à falta de liberdade em Cuba, e ela existe - não há a liberdade que gostaríamos que existisse -, há muito o que preservar dos progressos sociais evidentes naquele pequeno país e que temos de reconhecer.
São outros os tempos neste mundo globalizado, muito diferente da época da revolução cubana, o mundo dividido entre Rússia e Estados Unidos, entre capitalismo e comunismo. Isso não existe mais hoje.
O comunismo desapareceu e o capitalismo está vivendo uma crise que nós conhecemos. Vivemos em um mundo de mercado internacionalizado, como o atual. Não se concebe ainda a manutenção do boicote ao povo cubano, orquestrado pelos Estados Unidos. E lá se vão 40 anos.
Que interesses estariam por trás desse boicote? É evidente que não será o mercado cubano, afinal, pouco mais de 10 milhões de habitantes, nada mais do que uma pequena margem, nada mais do que uma pequena parte da demanda reprimida em qualquer outro país, como o Brasil. Um milhão de cubanos que se pode dizer que estão no mercado internacional, que podem comprar, consumir. Hoje, repito, pouco mais de 10% de cubanos possuem algum possível e eventual potencial efetivo de demanda. Pouco mais de um milhão de consumidores, quando muito. Também aí, mais uma vez, Cuba entra no cenário econômico e político pelo que representa muito mais do que pelo que ela é de fato. Isso não significa que a realidade não seja um fato.
Diz o noticiário que dezenas de presos políticos permanecem em celas cubanas. Diz também que foram encarcerados exatamente pelos seus ideais de liberdade. Claro que não posso aceitar, eu que bem conheci como funcionam os cárceres políticos nos nossos anos de exceção. Eu com Teotônio Vilela e outros, na luta pela fim da tortura, percorremos este Brasil inteiro até libertarmos todos os presos políticos. E me lembro, lá no Ceará, quando soltamos o último deles... Eu não consigo conceber a idéia da existência, ainda hoje, de presos políticos, principalmente porque defendem o livre direito de escolha. Que se prendam os que cometeram delito, mas que se livrem os que defendem exatamente a liberdade!
Ainda há pouco tempo, soubemos do fuzilamento de cubanos. Fui um dos que protestaram contra esse absurdo. Tomou-me de assalto a indignação, mas tal e qual o que Cuba representa, é a mesma indignação quando vejo milhares de pessoas inocentes mortas pelas bombas, pelos mísseis, lançados exatamente por aqueles que se arvoram os donos da liberdade.
E, no Iraque, o que está acontecendo? E, em vários países do mundo, o que está acontecendo?
Eu estou entre aqueles que querem ver, a partir da renúncia de Fidel, uma Cuba caminhando cada vez pela plenitude democrática, mas quero também vê-la independente. Por isso, temos de reconhecer que terá de haver mudanças urgentes dentro e de fora para dentro na realidade cubana. Dentro, propiciando aos cubanos a liberdade de escolha sobre os seus destinos o mais breve possível. De dentro para fora, eliminando imediatamente o boicote econômico que perdura há mais de 40 anos.
Como falar em liberdade interna se não se permite a força para que essa liberdade se exerça na sua plenitude? Eu continuo confiante em Cuba, que ela prosseguirá na hipótese de abertura política que tanto se cobra por meio da imprensa, como modelo de atuação nos segmentos dos mais importantes da vida humana.
A pequena ilha deve continuar sendo espelho para todos os demais países, no campo da saúde, por exemplo. Repito: ao lado da abertura política, há de se reconhecer o que significa Cuba em vários setores sociais. A saúde é um espelho. Quem não se lembra das seqüelas do desastre de Chernobyl, pois as feridas do vazamento nuclear foram cicatrizadas pela ciência médica cubana.
Quantos são os males epidêmicos que encontraram em Cuba a vacina salvadora? Quantos são os médicos cubanos que se espalham por periferias do mundo capitalista, socorrendo quem está fora dos limites do mundo globalizado? Bom será, portanto, se a liberdade, ainda que tardia, raiar em Cuba. Mas que essa mesma liberdade seja alcançada com a manutenção dos ganhos sociais que o país, às duras penas, conseguiu nessas mesmas quase cinco décadas de persistência.
Desejo, como tantos, uma Cuba livre, mas não quero que a ilha de Fidel Castro se transforme numa realidade de muitos outros países onde hoje, embora se diga que se respire a liberdade, milhões de crianças continuam morrendo de fome e de doenças plenamente curáveis. A dor da fome é a mesma em Cuba, no Brasil, na Namíbia e até em setores dos Estados Unidos.
Frei Betto escreveu no final de um artigo, anteontem, do Correio Braziliense. Ele se lembra de que, neste ano ainda, esteve em Cuba e, na saída do aeroporto, viu dois cartazes enormes. Um, dizendo: "A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana". Outro cartaz: "Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana".
Importante essa análise feita por Frei Betto a olho nu, há pouco mais de dois meses, quando esteve em Cuba.
Eu estou certo de que a manutenção da falta de liberdade política em Cuba tem correlação com o boicote econômico que lhe impuseram. Um pecado que se tenta remir. Passo exatamente a dizer: que dêem o primeiro passo, exatamente aqueles que mais pregam a necessidade da instalação da plena liberdade.
Virá certamente a liberdade - depois, lhe darei com o maior prazer - se nós pudermos ver terminar a triste e absurda atitude dos americanos, há mais de quarenta anos, de boicotar a ilha. Boicotaram, lá atrás, quando armas russas, infelizmente, quiseram se instalar em Cuba. A invasão da Baía dos Porcos, único traço negro da biografia de Kennedy, na verdade, tem causas e tem efeitos.
Antes de se esperar que algo aconteça após o afastamento de Fidel Castro, que se levante o bloqueio econômico e o bloqueio político que ainda se mantêm sobre o país. Enquanto isso não acontecer, não haverá moral suficiente para se cobrarem ações concretas internamente. Eu não tenho dúvida.
Saiu Fidel Castro. Levanta-se o bloqueio econômico e o mundo inteiro estará cobrando absoluta liberdade interna em Cuba.
Portanto, no desejo de que haja liberdades políticas absolutas, não me dirijo unicamente ao novo mandatário que será escolhido e, parece-me, será o irmão de Fidel Castro que, aliás, em todas as manchetes dos últimos tempos, tem falado ao exterior, principalmente aos americanos, dando a entender claramente que quer uma mudança, mas dizendo que deseja uma reaproximação com os americanos e o término, no futuro, do boicote. Dirijo-me principalmente ao governo dos Estados Unidos. O boicote econômico tem que acabar de imediato. Não faltará ao presidente americano apoio para esse gesto. Mesmo entre os cubanos residentes nos Estados Unidos, há forte apoio para que se restabeleça o diálogo com Cuba.
Um fato sem precedentes, acho que pela primeira vez no congresso americano: Fidel renunciou, manchete no mundo inteiro, e na última terça-feira, em questão de horas, 104 congressistas americanos, democratas e republicanos, enviaram correspondência à Secretária de Estado, Srª Condoleezza Rice, pedindo revisão completa da política americana em relação a Cuba.
Reparem como a repercussão é esta: o congressista, a imprensa e a sociedade americana entenderam que tem que se aproveitar e jogar nessa aposta.
E não vamos aqui discutir. Não, primeiro, o novo presidente tem que fazer isso para, depois, fazermos aquilo. Vamos fazer um gesto. Vamos determinar a abertura gradual, o término do boicote. E o mundo inteiro estará a cobrar a caminhada para plenitude democrática em Cuba.
A imprensa americana corre no mesmo sentido. Por exemplo, Washington Post, um dos jornais de maior repercussão nos Estados Unidos, afirma que a política punitiva americana para Cuba fracassou. Que foram inúteis os esforços do governo americano para derrubar Fidel Castro. Na mesma matéria, a articulista cita o Brasil como exemplo dos países que, ao contrário dos Estados Unidos, optaram por manter relações construtivas com Cuba e que poderiam até se beneficiar com isso.
E acrescento: a política americana com Cuba não só fracassou como contribuiu para que se mantivesse por mais tempo o regime de Fidel Castro. Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Penso assim. Se não houvesse agressão americana, se houvesse diálogo, se Cuba continuasse pertencendo à Organização dos Estados Americanos, se eles se reunissem e debatessem, Cuba não teria ido para a Rússia, para a União Soviética, afirmando que era a única opção que tinham para sobreviver. Dar-se-iam condições. Se os Estados Unidos não tivessem fechado o mercado com Cuba, primeiro, com o açúcar, de quem era seu grande comprador. E de repente, não tendo mais o que fazer e a Rússia chegando e dando mesada para que sobrevivessem, enfim, se não tivesse acontecido isso, acho muito difícil que Cuba tivesse tido Fidel Castro por 50 anos. Porque isso ficou e inspirou outros povos favoráveis a transformações sociais e criou uma antipatia ao americano, o que não precisava.
O Brasil poderá desempenhar um papel importante neste momento de transição cubana. Nessas confusões de Presidente da Venezuela, da Bolívia, para onde é que vai, para onde é que não vai, em que, diga-se de passagem, o Presidente Lula tem mantido uma posição de respeito e compreensão, de entendimento e de diálogo. Mantém o entendimento com o seu amigo Bush - como ele diz -, mas mantém o entendimento com o Presidente da Venezuela, da Bolívia, da Argentina. Estão se reunindo, se não me engano hoje, a Presidente da Argentina com o Presidente brasileiro e o da Bolívia. E a Presidente da Argentina abertamente fazendo um apelo à compreensão do Lula. Espero eu que se encontrem e se acertem. O Brasil, repito, poderá desempenhar papel importante neste momento de transição cubana.
Talvez até como uma reparação histórica. Foi o nosso País um dos principais mentores - triste memória - à época da expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos. Nós também não tínhamos democracia. O nosso regime era muito triste.
Agora o Brasil tem todas as condições de contribuir nesse processo de distensão das relações cubano-americanas. Essa idéia é também bastante difundida na imprensa norte-americana. Para os articulistas dos principais jornais daquele país, o Brasil tem condições de ocupar o espaço hoje cobiçado por Hugo Chávez da Venezuela, não com o mesmo objetivo, mas com a competência, com a capacidade, com aquilo que quer o Brasil, a total integração americana.
Há também diversos segmentos da realidade cubana que estão exigindo cooperação. A infra-estrutura cubana está sucateada: as estradas são precárias, não há rede ferroviária, os portos estão no limite da capacidade, o serviço de telefonia é de má qualidade.
Em alguns campos, já há conversações entre os dois governos. Já está havendo conversações entre Cuba e o Brasil, reforçadas no encontro recente entre o Presidente Lula e Raúl Castro.
No campo do petróleo, já há até entendimentos. Os maiores especialistas de relações internacionais dão conta de que essa cooperação entre Brasil e Cuba não se restringe a aspectos econômicos, mas principalmente a aspectos políticos. Segundo eles, o Brasil pode contribuir com Cuba para avançar nos aspectos políticos, nos aspectos econômicos, mantendo os ganhos no campo social. Isto que é importante: Cuba avançar no aspecto político, mas manter os ganhos no campo social.
Muito se falou, durante muito tempo, sobre um tal de sonho americano. A história recente parece indicar que quem sonhou acordou. Muitos atribuem também à história cubana nos últimos 50 anos um pesadelo, mas foi igualmente em outros moldes um sonho. Quem sabe tenhamos todos acordado. E agora, tenham de enfrentar uma nova realidade que se impõe, corrigindo os erros em ambas as partes.
Não se cultiva a liberdade entre os cubanos retirando-lhes a liberdade. Repito, não se cultiva a liberdade entre os cubanos retirando-lhes a liberdade. Não se pode apagar os sonhos, nem o americano nem o cubano, mas é preciso acordar para uma nova realidade.
Clóvis Rossi, na Folha de S.Paulo, conta uma história presenciada em Genebra, na comemoração, em 1997, dos 50 anos do GATT, hoje Organização Mundial do Comércio. Cenário mais do que perfeito para os líderes dos países maiores, comerciantes do mercado internacional. Não para uma pequena ilha, boicotada nas suas necessidades mais fundamentais. Os discursos dos grandes líderes das maiores economias do mundo seguiam sonolentos, sem nada a dizer e nada prometer, até que foi anunciada a chegada de Fidel Castro. Um grande alvoroço, seguido de um silêncio sepulcral. Fidel Castro foi aplaudido por todos, sem que nenhum alimentasse qualquer simpatia pelo regime cubano. Fidel Castro abria seu discurso citando Calderón de la Barca: "La vida es sueño, y los sueños, sueños son". A vida é um sonho, e os sonhos, sonhos são.
Há uma corrente de pensamento que defende a idéia de que nada mudará em Cuba com a saída de Fidel Castro. Há um pensamento contrário de que a saída de Fidel Castro, a sua renuncia, acarretará uma radical e eminente transformação.
Acho que, por coerência de quem defende a liberdade, essa decisão deve caber ao povo cubano, democraticamente. Não por imposição de quem quer que seja, de uma ditadura, por meio de um boicote. Se parcela expressiva do Congresso norte-americano, de diferentes partidos, já se posicionou contrária ao boicote a Cuba, não há razão para que fiquemos inertes neste momento histórico para o povo cubano. No mínimo, temos de nos posicionar contrários ao embargo que se mantém há tanto tempo contra aquele país. Muitas coisas têm de mudar? Têm de mudar.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª me permite um aparte?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei.
Mas se V. Exªs me perguntarem, hoje, na minha opinião, qual é o fato mais cruel, mais brutal, mais doloroso que existe no mundo inteiro, direi que é a penitenciária de Guantánamo, a penitenciária que os Estados Unidos mantêm no território cubano. É o maior absurdo, o maior escândalo, a maior estupidez. O país dono da liberdade, o país que tem o exemplo, a admiração do mundo inteiro mantém a penitenciária mais brutal lá, no próprio território cubano, cercada. Ali não tem justiça, não tem liberdade, não tem juiz, não tem promotor, não tem defesa, não tem nada. E os povos americanos vivem lutando para que não se use a tortura, como se está usando lá; para que se dê o direito de defesa, que lá não tem. Nessa escalada dos últimos anos, o Sr. Bush foi radicalizando, foi radicalizando e, naquela penitenciária, símbolo do que tem de pior na humanidade, nada chegou. Absolutamente nada chegou.
Quero que este discurso seja a justificação pura de uma moção, meu querido Presidente da minha Comissão, que, se houver entendimento - não serei radical de apresentar -, possamos encaminhar, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional desta Casa, presidida por V. Exª, Senador Heráclito Fortes, para pedirmos o fim do embargo, do bloqueio, e o apelo total para que Cuba retorne à plenitude democrática.
Volto a repetir, sou fã da política externa do Presidente Lula. Não aceito as críticas que fazem: "Mas no Brasil tem gente passando fome, e o Brasil perdoou uma dívida para Angola". Acho que está certo. Não é aquele dinheirinho que fará falta. Vamos resolver o problema da corrupção, do desgoverno, dos erros enormes que temos aqui. Mas, como vários jornais da imprensa mundial mostraram ontem, o Brasil ter uma política externa aberta, de diálogo, de entendimento é positivo.
Lutei na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional quando apareceu até um requerimento rompendo com o Presidente da Bolívia, considerando-o nosso inimigo. Eu achei que não. "Mas ele nacionalizou nossas empresas!" Sim, mas levamos a questão com tanta competência, que estamos lá hoje: Bolívia, Brasil e Argentina, continuando. Os caras estão-nos pagando, e nós resolvemos. Se isso tivesse acontecido no Governo Fernando Henrique e o velho PT estivesse na oposição, ele enlouqueceria. Iria para a rua exigindo rompimento. Hoje, o Lula é diferente. Se houvesse aquele rompimento, caminharíamos direitinho e de cabeça aberta para o que os Estados Unidos queriam. Os Estados Unidos não querem a organização americana. Os Estados Unidos odeiam o Mercosul e a ampliação dele. Os Estados Unidos querem fazer o que vêm fazendo: relação direta com o Chile, para nos esmagar. Temos de caminhar como a Europa. O maior exemplo do mundo, no final do século passado, foi o espetacular entendimento da Europa. Guerras milenares e seculares, uma guerra de 100 anos entre França e Inglaterra; Alemanha e Itália, ódios, e, hoje, está aí: o euro é figura estável. Quem quer aplicar com confiança aplica no euro, e não no dólar.
Queremos fazer isso na América; temos condições de fazer isso na América. Sarney, Presidente da República, e o Presidente argentino, Alfonsín, fizeram isso. Fizeram aquilo que se esperava entre Brasil e Argentina. Os americanos e muita gente diziam: "É inevitável uma guerra do Brasil com a Argentina, inevitável". Meu Estado pagou o preço. Até hoje, estamos querendo mudar. Cento e cinqüenta quilômetros na área da fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai e com a Argentina não podem aparecer. Não se pode construir nada. Ferrovia no Rio Grande do Sul tem bitola estreita, porque na Argentina a bitola é larga, e, no Brasil, a partir de Santa Catarina, é bitola larga. Metade do Exército brasileiro ficou na fronteira com a Argentina: Livramento, cinco quartéis, cinco batalhões diferentes; Uruguaiana, a mesma coisa; Alegrete, a mesma coisa; Santiago, a mesma coisa. A não ser no futebol, nunca houve nada. Hoje, existe um entendimento espetacular.
Quando Geisel construiu Itaipu, isso quase foi uma ameaça de guerra. Nunca passou pela cabeça do Brasil: "vamos construir Itaipu para fazer um reservatório, para, um dia, largar as águas em cima da Argentina, indo até Buenos Aires". Até porque, para se fazer isso, tinha de alagar o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Mas se chegou a um entendimento, e, hoje, estamos fazendo, juntos, o sistema hidrelétrico Brasil/Argentina.
Meu querido companheiro Heráclito, dar-lhe-ei o aparte, mas é que V. Exª tem o dom de ir para um lado e me tirar do meu raciocínio. Quero terminar meu discurso para, depois, responder o que V. Exª quiser.
Entenda, Senador Heráclito, estou numa posição fria. Agora não é o momento de se analisarem os 40 anos de Fidel Castro. Isso é história. Não é hora de analisar os 40 anos do boicote americano. É hora de vermos o que podemos fazer. É hora de tentar dar um passo positivo. Vamos, com isso, ensinar de forma espetacular a América toda: fim do boicote. E todos, claro, vamos caminhar no sentido da democracia. E vamos chegar lá, no final americano.
O Brasil viveu uma ditadura fascista, dolorosa, cruel. E, se dependesse do americano, estaríamos nela até agora. O povo brasileiro é que acabou com ela, porque os americanos deram apoio total à ditadura, desde a queda de Jango, quando os navios, com os mariners, estavam aqui para entrar, se Jango resistisse, até à queda de Pinochet, de onde eles emergiram até a Argentina e até o Uruguai. E esses países, o eixo do totalitarismo do mundo, o Cone Sul, transformaram-se num eixo de liberdade e de democracia por conta própria, não por causa dos americanos.
Então, agora, uma ilhazinha, que é simbólica ali, que no passado era o local de veraneio, principalmente sexual, de americanos... Que se dêem chances, mas Cuba nunca mais vai ser o que foi em termos de turismo. Poderá ser bom, mas, hoje, ali, na América Central, há tantos pontos, há tanta atração, há tantos lugares espetaculares, que Cuba poderá ser apenas mais um, e não como era há 50 anos: o grande centro de jogo, de turismo e de sexualidade.
O debate americano está nesse sentido. É interessante, Sr. Presidente, acompanhar como está o debate da campanha americana. O candidato americano do Partido Republicano - que já é ele - é um herói de guerra. Ele foi, durante cinco anos, prisioneiro no Vietnã. É um grande herói. Nos Estados Unidos, há algo interessante: lá, ninguém fala em ser comunista ou em não ser comunista. Esse problema não existe. Lá, fala-se em ser conservador, ultraconservador ou mais ou menos liberal. John McCain é considerado pelos ultraconservadores como liberal. Então, ele tem de ser duro na maneira de falar para conseguir apoio da ultradireita americana, que é muito dura, é muito exigente e muito radical. Então, a imprensa diz que ele está indo devagar para não perder o apoio dos reacionários da ultradireita do seu partido.
Obama deixou claro que o caminho é o de conseguir liberdade e paz na América.
O Lula, na minha opinião, com muita categoria, não respondeu, não falou ainda, a não ser coisas óbvias. Acho que ele está certo. Acho que ele tem de ir devagar. Acho que ele tem de ir sempre devagar, mas acredito que... Se este Congresso tivesse a categoria de fazer um documento de auto-estima sério, responsável, sem adjetivo, sem análise e sem querer tomar partidos: "Ah, mas Cuba, mas Fidel Castro, mas a ditadura, mas a violência..."; ou, então: "Mas os americanos e não sei o quê...", se conseguíssemos chegar a um entendimento - e esse lugar tem de ser aqui, bravo Presidente da Comissão, aqui, na Comissão de Relações Exteriores -, poderíamos fazer um documento da maior importância. E poderíamos levar a idéia para a reunião do Congresso do Mercosul, que se realizará nos primeiros dias de março, em Montevidéu. Podemos conversar antes com a Argentina, Venezuela, Paraguai, Uruguai, e a delegação brasileira, em conjunto com as outras, apresentar esta moção: Chega! Vamos terminar o boicote e buscar a plenitude democrática em Cuba.
Sr. Presidente, a vida reserva momentos e posições que temos de ter a coragem de encarar. O trem está passando, e esta é a oportunidade do Brasil.
Meu amigo Paim, que é o único do PT que está neste plenário - há dois, perdão -, e V. Exª, meu querido colega do Amazonas, eu pediria que telefonassem ao Lula. Neste momento, ele está na Argentina com a presidente da Argentina e com o presidente da Bolívia. Seria importante, seria manchete mundial se, já nessa reunião, o Lula falasse aos dois presidentes sobre a possibilidade de uma reunião, de uma convocação extraordinária da OEA, Organização dos Estados Americanos, para debaterem esta matéria: o futuro; não o passado, mas o futuro.
Presidente da minha Comissão, Senador Heráclito, estou aguardando V. Exª.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Agradeço a V. Exª, Senador Pedro Simon. V. Exª faz hoje, aqui, um discurso histórico: isento, tranqüilo, relatando a saga do povo cubano, que a minha geração e a de V. Exª acompanharam durante quase 50 anos. A real situação de Cuba é difícil de ser analisada, porque, geralmente, quem se submete a fazê-lo não o faz com isenção. Esse é o grande mal.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade, é verdade.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Fazem-no sempre com radicalismo, os contra e os a favor.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Exatamente.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Não dizem respeito ao essencial da questão, que é o povo cubano, que foi quem sofreu durante todo o período. Ninguém, por exemplo, se lembra que a revolução romântica comandada por Fidel, Che Guevara e tantos outros saiu da rua, feita por um povo insatisfeito com a orgia, com a corrupção, com a jogatina e com os desmandos cometidos por outra ditadura cruel.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Fulgêncio Batista.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Não é verdade? O povo não tinha acesso ao fausto e à riqueza dos turistas, na quase totalidade americanos, numa época em que o racismo estava arraigado e, muitas vezes, Cuba, por ser uma ilha sem nenhum preconceito racial, sabemos disso, pagava um preço maior. É evidente que, se não tivesse nascido do povo, aquela manifestação jamais teria existido.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É evidente.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Como também, Senador Pedro Simon, se houvesse uma insatisfação latente do povo cubano, ele teria acabado com o atual regime com manifestações de protestos, incêndio. V. Exª sabe o que acontece quando há insatisfação. Eu ouvi, nas três vezes em que estive em Cuba, declarações de cubanos: "Nós não temos outra saída. Nós temos que conviver com esse regime. Nós temos que aprender". Eles temiam o retorno aos desmandos e àquela velha época. Senador Pedro Simon, V. Exª falou de outra coisa fantástica: a burrice da política externa americana. A gente não consegue entender como, em um país com essa potência, produtor de cientistas, de artistas, de tudo, não se consiga encontrar um pensador estratégico, um pensador político para cuidar das questões externas do país. São truculentos ou omissos. Uma coisa me marcou muito: certa vez, o Sr. Henry Kissinger esteve no Brasil, um homem cantado e decantado como hábil negociador. Eu participei de um jantar com ele, num restaurante de Brasília, e um grupo seleto de parlamentares convidados. O Presidente da Câmara era Inocêncio Oliveira, que participou também. De repente, cobrei a questão de Cuba. Ele me disse: "Não, Cuba é uma questão interna".
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Interna dos Estados Unidos?
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Exatamente. Veja bem, V. Exª, de quem eu ouvi aquilo! Do Sr. Henry Kissinger. Passei, a partir daí, a ter uma profunda decepção com aquele homem. Em 1985 - e daí vem a minha admiração pela luta dos cubanos -, estive na União Soviética, em Moscou. Era o começo da perestroika, da abertura. Fomos recebidos pelo Gorbachev, em audiência. José Fragelli era o Presidente do Senado.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não tinham lançado a perestroika ainda.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Estavam lançando, estavam na lei seca, estavam no início e, naquele momento, ele tinha a atenção do mundo.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Figura mundial da maior importância na época.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Exatamente. Estava no auge, e o presidente era o Gromiko. Gorbachev nos disse uma coisa fantástica: "Felizmente, vocês são do Brasil. O Brasil é o país do futuro". Isso que nós estamos vendo um pouco hoje. "Nós cometemos um erro, mas não vamos continuar a fazê-lo. Nós não agüentamos mais subsidiar o açúcar de Cuba e, sendo assim, o regime está no chão." Isso foi em 1985. O Gorbachev caiu, saiu, entraram outros e o Fidel está aí.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Acabou a União Soviética.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pois é, acabou a União Soviética e o Fidel está aí.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E Cuba ficou.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - E Cuba ficou. São coisas, Senador Simon, que me deixam encantado. Evidentemente, dentro do espírito do seu pronunciamento, não estou aqui para fazer a defesa, nem para fazer o ataque a esta figura de Fidel Castro.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É olhar para frente.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Ele cumpriu o papel.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Isso aí.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Cuba é o espírito do Hemingway. Não do Hemingway depressivo, no final da vida, mas do Hemingway aventureiro, que percorreu o mundo. Quem vê, hoje, a preparação gradativa - isso eles devem muito ao espanhol - que Cuba está fazendo, por meio da infra-estrutura de hotelaria, da quantidade de hotéis de bandeira espanhola feitos na ilha, percebe que, há algum tempo, de maneira silenciosa, eles vêm-se preparando para essa dita e inevitável globalização. Por fim, V. Exª fala sobre uma mensagem. Acredito que devamos, sim, mandar essa mensagem, neste momento histórico.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª me permite, apenas para ajudar? Falei, aqui, em reunirmos a Comissão, sob a presidência de V. Exª.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Claro!
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Depois, pensei em convidarmos o Ministro das Relações Exteriores. Apenas como sugestão, penso que V. Exª poderia reunir alguns membros da Comissão para, numa reunião fechada com o Ministro das Relações Exteriores, fazermos as coisas...
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Concordo com V. Exª.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Em reunião aberta, vamos ter que falar oficialmente, não sei o quê. Se falarmos ali, vamos estudar uma fórmula e, depois, levá-la adiante.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª tem razão. Quero pegar, inclusive, a idéia, Senador Cristovam, que também é membro da Comissão. O nosso primeiro passo seria fazer um comunicado, demonstrando o posicionamento da nossa Comissão, dirigido a uma figura extraordinária chamada Ricardo Alarcón, que é, hoje, o Presidente da Assembléia Nacional. Conheço o Alarcón de debates e encontros por esse mundo velho sem porteira. Ele é uma figura extraordinária, foi embaixador de Cuba na ONU e é o presidente da Assembléia Nacional de Cuba e uma pessoa importantíssima nesse processo.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - No domingo, vão-se reunir para escolher o novo presidente.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Não é verdade? Seria uma demonstração nossa de apreço ao Parlamento neste momento de transição, porque a transição cubana vai depender deles, mas, principalmente, da tolerância e do comportamento do mundo. Ela não pode ser afrontada apenas porque o Fidel Castro resolveu sair de cena. Terá que ser respeitada. Eles terão o direito de definir o seu destino e devemos, concordo plenamente com V. Exª, estimulá-los e incentivá-los a escolher e a traçar esse destino.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Estou plenamente de acordo com V. Exª. Podemos até já iniciar. O Senador Cristovam falará comigo e tenho certeza de que concorda. Começaríamos com a mensagem da Comissão ao presidente da assembléia cubana. Se V. Exª concordar, na terça ou na quarta-feira, poderíamos pedir uma audiência fechada com o Ministro da Relações Exteriores e, depois disso, V. Exª e a Comissão poderemos ir adiante no que for possível fazer.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Poderíamos convidar. Eu o pediria de antemão, pois não consultei a Comissão mas vou tomar essa liberdade.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Até porque, nessa ida lá, podemos ir como cidadãos, como Senadores da República.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pediríamos, inclusive, ao Senador Cristovam que se encarregasse da elaboração desse documento destinado ao Ricardo Alarcón e o entregaríamos ao Embaixador de Cuba no Brasil.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Isso aí.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Presidente.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Certo? Agradeço a V. Exª pelo aparte nesse oportuno discurso. Quero dizer que, por três vezes, V. Exª usou a expressão "cuba libre", que foi, para o Cristovam e para toda uma geração, a bebida, o aperitivo, a mistura do rum cubano com a Coca-Cola americana.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Aquela foi a primeira mensagem ao mundo de que era preciso haver a paz entre os países. Infelizmente, os governantes não entenderam. Muito obrigado.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei o aparte.
A mensagem ao Presidente da Assembléia é altamente positiva. Ele deve ter acompanhado o Presidente Lula lá na Argentina. Então, devemos marcar para quarta-feira, na minha opinião, uma reunião fechada com o Ministro, para, em conversa, vermos em que podemos avançar, para a gente não ir para um lado e ele ir para outro. Isso em dois sentidos: tanto na manifestação do Congresso Nacional como em relação à nossa opinião sobre o que pensamos que o Governo brasileiro, o Presidente Lula e S. Exª devem fazer.
Com a maior alegria, concedo o aparte a V. Exª.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Neste aparte, falo ao senhor, Senador Pedro Simon, e ao mesmo tempo ao presidente da Comissão, meu querido amigo Heráclito. Entendo perfeitamente a intenção. Acho-a correta; acho até lógico tudo isso, mas penso que não funcionará. Porque uma mensagem ao presidente da assembléia, por menos que pareça que a gente esteja se oferecendo, já terá efeito contrário. Achei sábia a declaração, hoje, do Ministro Celso Amorim: "Nós não fomos chamados para intermediar nada". É capaz que esteja sendo, mas tem de ser feito de uma maneira discreta, sabem por quê?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Até por causa da ciumeira.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sabem por quê? Porque se se disser que vai-se iniciar uma participação, vai-se imaginar intervenção. Se se falar em transição, vai-se imaginar que Cuba é desse jeito por causa de Fidel Castro sozinho. Não é. Tem-se de analisar que lá existem debates, apesar de um partido único. O Partido Comunista Cubano, como disse Fidel Castro uma vez, é mais dividido em posições diferentes do que os Partidos americanos Republicano e Democrata. Os Partidos americanos Republicano e Democrata são mais parecidos do que as tendências dentro do Partido Comunista. Hoje, reconhecer que vai haver uma transição é reconhecer que havia um ditador, que Fidel Castro impunha tudo. Fidel Castro canalizava o que estava no conjunto do Partido. Aliás, nesse sentido - e só nesse sentido -, eu o acho muito parecido com o Presidente Lula, que canaliza todas as divergências que têm dentro do PT; e, hoje, não só as do PT, mas de uma quantidade de partidos que aglutinam. A ponto até - eu não sou do PT, desculpe-me, Senador João Pedro, estou me metendo - de ninguém falar no Senador Suplicy como possível candidato a presidente, o que, certamente, as direções do PT não querem, embora, na opinião pública, ele teria mais votos do que todos os outros membros do PT.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador,...
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Só para fechar. Então, eu acho bom que a gente faça a reunião, mas não no sentido de querer influir em transição, não no sentido de se oferecer na intermediação. Vamos dizer que a gente vai ter uma conversa sobre o que está acontecendo na América Latina - no Paraguai, na Bolívia, nos demais países -; aliás, nós temos um documento sobre os países fronteiriços e poderíamos ampliá-lo, e aí entraria Cuba também. Mas nada - a meu ver - que hoje pareça que "Cuba está mudando". Eu acho que nada que a gente fizer nesse sentido vai ser bem recibo dentro de Cuba.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Cristovam Buarque, com sua permissão, Senador Pedro Simon. Talvez V. Exª não tenha entendido. V. Exª estava muito absorvido em preparar o seu discurso, na qualidade de próximo orador.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Aliás, respondendo ao jornalista que não entendeu também o que eu disse recentemente em um discurso.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Talvez! Mais uma vez: o espírito do Senador Simon é o mesmo que o meu, ou seja, de não-intervenção nas questões internas, mas, sim, de confiança.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sei.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Na realidade, Cuba passa por um processo de mudança com eleição agora no final de semana.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas eu quis dizer...
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Nós queremos demonstrar a nossa confiança na maturidade do povo cubano em definir o seu futuro e o seu destino. É o registro que estamos fazendo sem nenhuma interferência.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas vai parecer. Comecei o meu aparte, aqui, dizendo que entendia o sentimento, entendia a lógica. Mas o que vale nisso é o que parece, não é o que está por trás. Hoje, dar-se-ia a entender que, saindo Fidel Castro, Cuba vai mudar; que não só é uma intervenção, como também um oferecimento de intervenção. Eles seriam obrigados, diplomaticamente, a recusar. Hoje, se se quer fazer alguma coisa por Cuba...
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Recusar o quê, Senador?
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Recusar qualquer oferta, qualquer sugestão. Hoje, se a gente quiser fazer uma coisa por Cuba, só tem uma coisa...
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Cristovam, V. Exª continua sem entender. Só um minuto. Espera aí.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Propor o quê, que eu não entendi? Propor o quê?
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Propor ser intermediário entre os Estados Unidos e Cuba.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Ninguém está oferecendo isso, Senador Cristovam! Está havendo um erro.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª é muito inteligente, eu sei. Mas não me ache tão bobo assim. Em nenhum momento eu iria entender isso! Pelo amor de Deus!
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - O Senador não entendeu.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Tudo o que V. Exª está dizendo está correto. Só que V. Exª parte do princípio de que nós somos meio bobos em propor que o Brasil faça a mediação. Seria uma estupidez! Cairia no ridículo!
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas o seu discurso está por trás disso. É público já. A essa altura, é público. Esse discurso está sendo assistido, provavelmente, na Embaixada de Cuba.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Cristovam, V. Exª não entendeu.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Solicito aos Srs. Senadores que coordenemos o debate.
Com a palavra o orador que está na tribuna. S. Exª está livre para conceder apartes a V. Exªs.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Desculpe-me, estou extrapolando o meu tempo, mas V. Exª, na sua grandeza, na sua competência...
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - V. Exª completou exatamente uma hora na tribuna, que parecem seis minutos, pela importância e, acima de tudo, pelo debate.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Digo a V. Exª que, na sua grandeza, na sua competência, V. Exª está entendendo que eu estou defendendo a posição do Senado Federal numa situação importante.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Perfeitamente.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Quero dizer que acho que foi boa a intervenção do Senador Cristovam. Ele está certo num sentido: nós temos de ter cuidado para que não saia daqui que estamos querendo aparecer em como será feita a interferência, em como será a ligação de Cuba com o mundo, a ligação de Cuba com o americano. Se fizermos isso, cairemos no ridículo. Aí eu concordo contigo. E é até bom a gente já parar por aí para pensar nisso. Então, vou esclarecer a V. Exª: eu acho que a nossa posição deve caminhar no seguinte sentido. Não me passa pela cabeça que o Lula... Tanto que disse a V. Exª que, por exemplo, o Lula pode falar lá na Argentina, hoje, com a Presidente da República Argentina, com o Presidente da Bolívia, para iniciar um entendimento. Não temos de assumir o comando desse entendimento, porque senão vamos cair no ridículo. A ciumeira já toma conta. Agora, que nós podemos caminhar nesse sentido, podemos. Por isso sequer falo - repare, V. Exª - de fazermos uma reunião na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e tampouco de convocarmos o Ministro das Relações Exteriores para vir à Comissão, mas, sim, de irmos falar até ele, para conversarmos sobre qual é o caminho. Repare: não estou falando em negociação; estou falando em irmos ao Ministro das Relações Exteriores saber qual é o caminho. Agora, o que eu, Pedro Simon, Senador da República, estou dizendo desta tribuna, o que eu penso - eu - é que, neste momento, não é hora de olhar para trás, não é hora de analisarmos as coisas erradas ou as coisas certas de Cuba; não é hora de analisarmos se tudo começou com a Baía dos Porcos, com a invasão errada e fracassada dos Estados Unidos; ou que tudo começou com os russos, aprontando mísseis para os Estados Unidos. Isso é outra coisa.
Acho que, agora, temos de olhar para a frente. Quando V. Exª disse que Fidel Castro saiu, mas o regime continuou, o povo está nisso, V. Exª tem razão. Mas V. Exª também há de concordar que o próprio Raúl Castro - o irmão dele - está dizendo que está querendo dialogar. E ele já falando, com todas as letras, que, no exercício da presidência da república, as coisas têm de começar e que ele está pronto para discutir o levantamento do boicote. E ele sabe que, quando se fala em levantamento do boicote, tem de ter condições internas. Então, Cuba está caminhando nesse sentido. E o que eu estou dizendo é que temos de fazer um trabalho, a começar pelo Parlamento. Estou dizendo a V. Exª que devemos falar primeiramente com a delegação, com o nosso Líder, o nosso querido Senador do Acre, que é presidente da delegação brasileira, para falar com a Argentina, com o Uruguai, com a Venezuela e com o Paraguai antes de nos reunirmos para uma mensagem de todos, se aprovada no congresso latino-americano.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Cristovam, queria deixar a coisa bem clara: V. Exª, repito, não prestou atenção ao espírito do pronunciamento, tanto é que o Senador Simon elogiou a posição do Ministro das Relações Exteriores ao fazer a sua declaração.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Eu ouvi.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - A questão não é essa, Senador Cristovam. A questão é que, como Parlamento soberano, até porque não temos o que oferecer a não ser solidariedade, a não ser o acompanhamento, o nosso otimismo para com o futuro da ilha, senão apenas um gesto político desta Casa, que tem ligações sabidas com o regime da ilha. É apenas um gesto de boa vizinhança e de simpatia com a atual situação de transição que ocorre em Cuba, por desejo do Sr. Fidel Castro que, sem ninguém pedir, foi lá e disse: "Olha, eu não estou mais em condições físicas, vou entregar". Ele não aceitou a recondução, e a Assembléia, no domingo, vai eleger. Vamos nos manifestar diante do novo quadro institucional em apoio, em confiança e no desejo de que a ilha encontre o destino melhor que o seu povo pleiteia. Não vamos sair disso. Pelo menos, acho que é a intenção do Senador Simon, até porque sabemos de uma coisa muito importante: o desentendimento dos Estados Unidos com Cuba não foi pelo paredão, não. No período do paredão, os Estados Unidos continuaram apoiando Cuba. Desentenderam-se depois. Vamos deixar essa coisa bem lógica. Tenho horror a ser envolvido em questões infantis, muitas vezes de condimentação ideológica, que não cabem no caso. Tenho pelo povo cubano o maior apreço, tenho pelo povo cubano um respeito muito grande, até pela identificação que ele tem com o Brasil: a musicalidade, o espírito alegre, aquela coisa toda. E, no momento, o discurso do Senador Pedro Simon, quando evoca o futuro e quer que se deixe de lado o passado, é exatamente nesse sentido. Muito obrigado.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Permita- me, Senador?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não. Claro que sim.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Comecei dizendo que entendo o sentimento, entendo a lógica, mas a oportunidade é a maneira de fazer. Hoje, pelo que eu imagino que está-se passando em Cuba, a única mensagem correta, do ponto de vista deles, que eles poderiam aceitar, sabe qual é? "Lamentamos muito que por razões de saúde o Presidente Fidel Castro teve que se afastar". Qualquer coisa além disso,...
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Então é melhor não fazer nada, por enquanto.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Essa é a minha posição. Por isso não tenho como escrever, senão comentar.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Vamos resumir, dizendo: "Então volta, Fidel".
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não, não estou dizendo isso. Estou dizendo que, na ótica...
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Por enquanto, não vamos fazer nada.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Eu não estou dizendo que é isso o certo. Eu estou dizendo como é que eu receberia se estivesse no lugar do substituto dele. Diplomacia se faz colocando-se no lugar do outro. Quem está no lugar do Fidel Castro hoje? Neste momento? Daqui a um mês, pode mudar tudo. Hoje, ele tem que dizer que não há transição nenhuma, que é uma substituição de cara, nem de sobrenome vai ser.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas o próprio Raúl está dizendo, com todas as letras.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas quando a gente mandar isso, ele vai parar de dizer. Se é que ele vai dar importância. Ou não vai dar importância. Isso tem que partir de dentro primeiro, e depois se entra. Tenho a impressão de que o Ministro Celso Amorim, como o senhor...
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Até concordo. Vamos esperar o pronunciamento. Vamos esperar o pronunciamento do presidente que vai ser eleito.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Isso, vamos esperar a posse, vamos esperar pelo discurso.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Pedro Simon, bem rápido.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Eu só queria que o Senador Cristovam me respondesse uma pergunta. Quando V. Exª tem um amigo que quer muito bem, e nasce um filho desse seu amigo, V. Exª se sente impedido de parabenizá-lo pelo nascimento?
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não. Mas não nasceu um filho.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Porque está nascendo em Cuba...
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas não dá para a gente reconhecer como filho.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Por que não dá para a gente, se o mundo todo está falando nisso?
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Porque não começou ainda. Não começou a nascer ainda.
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Como não começou? Começou, é claro que começou.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Mas eles não querem reconhecer. Não querem.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB. Fazendo soar a campainha.) - Srs. Senadores, vou pedir ao Senador Pedro Simon que conclua o brilhante pronunciamento.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Vou fazer isso.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Pedro Simon, trinta segundos.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Tenho certeza de que os Srs. Senadores terão tempo suficiente para o debate no decorrer não desta sessão, mas na próxima semana.
Senador Pedro Simon.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu encerro sim.
Apenas acho que foi muito interessante no seguinte aspecto: se nós três, que pensamos igual, que temos a mesma idéia, o mesmo propósito, já nos atrapalhamos, como é que vai ser lá fora? É bom ver como devemos agir. Repito: não estou propondo nenhuma ação externa nem pública. Eu, Pedro Simon, posso dizer o que penso. Acho que o Senador Cristovam não me impede de dizer isso; eu. É claro que outra coisa é o Congresso brasileiro, o Governo brasileiro. Estou falando como cidadão. Os 104 congressistas americanos - repare V. Exª, Senador Cristovam - não falaram o que vai acontecer em Cuba, não falaram nada. Dirigiram-se à Ministra Condoleezza, dizendo: "Suspenda o boicote". Cento e quatro congressistas americanos dirigiram uma mensagem. Não foram apenas os 104, e os demais contra. Em algumas horas, eles colheram a assinatura de quem estava ali e enviaram a mensagem. Talvez muitos mais assinem. Reparem como está criando um impacto nesse sentido.
O que estou propondo: vamos quarta-feira conversar com o Ministro das Relações Exteriores sobre a sua maneira de encaminhar. Vamos; isso eu acho importante. Agora, o que eu penso, o que eu digo nesta tribuna, o que eu vou dizer lá fora e o que eu vou dizer ao Ministro das Relações Exteriores, o que eu peço que o companheiro do PT leve ao Lula, é neste sentido: eu acho que o Brasil deve dirigir...
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador, só uma pergunta ao Senador Heráclito, como ele me fez: V. Exª estaria de acordo que a gente fosse lá e fizesse um documento à Embaixada Americana ou ao governo americano pedindo a suspensão do bloqueio? Aí estou de acordo. Plenamente. Se for isso, estou de acordo. O Senador Heráclito aceita isso?
O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - De maneira nenhuma. V. Exª não quer que avance o processo de um lado e quer...
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Espera aí. Agora falo eu. O Senador Cristovam propõe nós enviarmos uma mensagem a Cuba dizendo:...
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Não, a Cuba não.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - "Que pena que Fidel Castro saiu. Nós estamos de luto porque Fidel Castro saiu". Eu não concordo. Agora, o Cristovam propõe: "Eu concordo em ir aos Estados Unidos pedir que rompam com o bloqueio". Eu também não concordo. Eu acho que não é nem uma coisa nem outra. Nem uma nem outra.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Permita-me, tenho que esclarecer...
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Senador Pedro Simon, Senador Heráclito e Senador Cristovam, vou conceder três minutos ao orador, para que V. Exª conclua, Senador. O debate é importante, mas acredito que a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, presidida pelo Senador Heráclito Fortes, deverá dar continuidade a esse debate.
V. Exª tem a palavra.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concordo com V. Exª. Até porque V. Exª me permitiu o tempo todo, mas o debate agora não está tendo um bom caminho. Só se V. Exª me permitir, concederei a palavra ao Senador do PT, que ainda não se manifestou.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Claro, o tempo é de V. Exª.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Obrigado, Excelência.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Serei rápido. Primeiro, parabéns pelo discurso, pela analise. Segundo, para entrar nesse debate último, vamos atentar que há um clima favorável a esses encaminhamentos pela renúncia de Fidel, que penso que foi um gesto bonito, pela sua história. Esta discussão está havendo lá dentro de Cuba, com as suas principais lideranças. A conjuntura internacional também é favorável a esses encaminhamentos, Senador Pedro Simon. O próprio debate nas primárias dos Estados Unidos é sobre o mesmo tema. Portanto, há um clima favorável para duas questões ligadas à história do povo cubano: o fim do bloqueio, que não é só por parte dos Estados Unidos; muitos países amigos dos Estados Unidos não têm relação com Cuba por conta dos Estados Unidos. Precisamos acabar, até como gesto de solidariedade, com esse bloqueio. A outra é Cuba participar da OEA. É um absurdo um país com onze milhões de habitantes não participar dessa organização, que é a organização dos nossos países. A conjuntura interna de Cuba e a conjuntura internacional são favoráveis para atender, e nós encaminharmos a partir das preocupações de V. Exª. Muito obrigado.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª foi muito feliz, até porque na OEA estavam, várias vezes, vários regimes de países americanos com ditadura absoluta. Ninguém exigiu democracia para estar na OEA.
Mas encerro, Sr. Presidente. Acho que os irmãos brasileiros que vão tomar conhecimento deste pronunciamento haverão de entender nosso desejo.
Se o Brasil sentir isso, e se o Ministro...
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Os irmãos brasileiros e os irmãos cubanos, latinos.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Como?
O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - V. Exª disse que os irmãos brasileiros vão ter acesso a este debate. Os irmãos latinos, os irmãos cubanos, com certeza, vão conhecer esta discussão da manhã de hoje.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.
E creio, Sr. Presidente, que o ilustre Senador Cristovam, o nosso Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, eu e mais outros teremos condições, se isso for possível, de conversar com o Ministro das Relações Exteriores e ver o andamento das coisas. Mas que é um momento importante e que devemos fazer algo, creio que sim.
Muito obrigado pela gentileza de V. Exª.