Neuto de Conto SF 01-07-2008
O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, seguindo a mesma linha de raciocínio do eminente Senador Osmar Dias, quero dizer que estivemos presente, na última sexta-feira e no sábado, em Tucumán, na Argentina, no parlamento do Mercosul, onde discutimos dois temas de importância significativa para o Brasil e para o Mercosul.
Iniciamos com a visão equivocada de autoridades internacionais que justificam a alta dos preços dos alimentos com a produção de bioenergia, em particular do etanol. Certamente, a visão dessas autoridades está equivocada.
Equivocada porque o relato cita o Brasil e acaba conduzindo para a Amazônia as suas justificativas de que estamos desmatando para plantar cana. Mais uma vez se equivocam, quando na Amazônia, pelo seu clima úmido, pelas suas condições, a cana é improdutiva. Conseqüentemente, passamos a descartar essa possibilidade. Por outro lado, temos naquela região do Brasil vinte milhões de brasileiros que precisam viver, precisam se alimentar e lá estão a trabalhar e a exigir do próprio solo a extração dos seus alimentos.
O segundo ponto que também defendemos é que essas autoridades - não critico o uso dos subsídios tanto nos Estados Unidos, de 35% no milho, como no mercado da União Européia, que chega, para o açúcar, até a 75% -, em vez de estarem, no caso do milho, fazendo a transformação em alimentos, estão usando-o para extrair exatamente aquilo que se condena, que é o etanol.
O aumento do petróleo também tem uma influência muito grande nesse processo de produção de alimentos. Vejam que esse aumento acarreta, em todas as formas, o aumento na produção ou o no custo dos alimentos.
O incremento dos países emergentes, como a China e a Índia, foi tão significativo pela renda. Mas temos de considerar que lá vive um terço da população do mundo. Conseqüentemente, esse volume de pessoas e o consumo de alimentos também passaram a ajudar significativamente a alta dos preços dos produtos.
A queda dos estoques não está acontecendo este ano. Ela é histórica. Só nos últimos oito anos, caíram em 50% os estoques de alimento no mundo, em conseqüência da análise de vários fatos que têm ocorrido.
Por outro lado, a nossa produção nacional, Sr. Presidente, Srs. Senadores, nos últimos 30 anos, cresceu de tal forma, progressiva e continuamente, que produzíamos, em 1977/1978, 38 milhões de toneladas de cereais. Este ano, alcançamos nada mais, nada menos do que 144 milhões de toneladas. Conseqüentemente, houve um crescimento, em 30 anos, todos os anos. Houve um incremento e, todos os anos, participou o Brasil da elevação da produção de alimentos. E o mais importante foi o aumento do solo para a produção desses alimentos, que passou de 36 milhões de toneladas para 46 milhões de toneladas, tendo um crescimento geométrico.
E não é possível que se possa criticar quem produz na qualidade e na quantidade que o Brasil pratica.
Temos um outro estudo também significativo, Sr. Presidente, de que as nossas lavouras, principalmente as de cereais, até alcançando a lavoura de matas para a produção de pasta mecânica, só utilizam 7,3% do solo brasileiro. Conseqüentemente, poderemos ainda produzir quatro vezes mais do que estamos produzindo atualmente. E assim seremos - sem dúvida nenhuma já somos e continuaremos a ser - o maior produtor e exportador de alimentos do mundo. E vamos ser o maior produtor e o maior exportador de bioenergia, pois só usamos, Srs. Senadores, 2% do nosso solo com a cana-de-açúcar - 1% dele é usado para açúcar. E, desses 30 milhões de toneladas que produzimos de açúcar no último ano, só fica um terço para alimentar o Brasil. Dois terços (20 milhões de toneladas) são exportados, e o Brasil passa a ajudar mais uma vez, com a própria cana-de-açúcar, a alimentar o mundo.
Por outro lado, usamos 1% do nosso solo para produzir álcool. Abastecemos 25% da nossa frota e, além disso, participamos também da exportação do etanol.
Por essas razões todas, não tenho dúvida de que está reservado ao País um lugar de grande destaque. Um terço do nosso Produto Interno Bruto - e chegaremos na próxima década a 50% do Produto Interno Bruto - é da produção primária, da agroindústria com o agronegócio.
Conseqüentemente, essa primeira grande defesa serve não só para o Brasil. Ela serve para o Mercosul, pois temos o mesmo clima, o mesmo solo, a mesma chuva e a mesma tecnologia. E somos todos países habitados com o intuito, a vontade e o desejo de produzir alimentos para si e para suas gerações.
O segundo tema que lá discutimos, Sr. Presidente, Srs. Senadores, foi a abertura de 42 km de asfalto na Argentina - da divisa do Brasil até a cidade de São Pedro, na Rota 14. Pois com esses 42 Km asfaltados, sem dúvida, poderemos ter uma ligação bioceânica do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, já que no Brasil, desde Florianópolis até São Miguel do Oeste e Paraíso, na divisa com a Argentina, deverá ser concluída essa obra, através do PAC, ainda neste ano.
E certamente, com a abertura na Argentina, a rodovia bioceânica vai nos dar, além da integração do Mercosul e dos países latino-americanos, ainda a oportunidade de encurtar a distância entre o Mercosul e a Europa e, principalmente, com os países asiáticos.
Com muita alegria, concedo o aparte à Senadora conterrânea, Ideli Salvatti.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Neuto De Conto, eu não podia deixar de aparteá-lo, até porque compartilhamos a alegria quando o Ministro Nascimento esteve no Município de São Miguel do Oeste, dando a ordem de serviço para o início de uma obra pela qual Santa Catarina aguarda ansiosamente há muitas décadas. Como V. Exª mesmo relata, a obra está se desenvolvendo com muita rapidez, com grandes expectativas de a vermos concluída, senão este ano, o mais tardar no início do ano que vem. Li com muita satisfação o resultado da reunião do Mercosul, com a inclusão do trecho na Argentina que vai, efetivamente, transformar a nossa 282 no primeiro corredor bioceânico, podendo dessa forma baratear e ampliar a competitividade dos produtos brasileiros que vão poder ser escoados e transportados através do porto chileno, economizando vários e vários meios de transporte marítimo. O benefício reverso para os produtos chilenos e argentinos é que eles vão poder sair pelos portos catarinenses e, dessa forma, também chegar muito mais rapidamente à Europa e aos diversos países pelo Oceano Atlântico. É uma obra alentadora e integradora da América Latina no verdadeiro espírito do Mercosul. Portanto, queria parabenizá-lo. Sei da atuação muito eficiente de V. Exª na reunião do Mercosul, para que isso pudesse se consolidar. E estamos todos parceiros, porque, efetivamente, estamos comemorando em Santa Catarina a 282, que agora, durante o Governo Lula, concretiza-se, sonho de tantas décadas de tantas décadas dos catarinenses como um todo.
O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC) - Obrigado, Senadora Ideli Salvatti. Somamo-nos nesta grande defesa dos interesses de Santa Catarina e do Brasil.
No dia de amanhã, deveremos estar presentes no Estado do Paraná, quando será lançado o Plano Safra para incrementar essa agricultura da qual o Brasil tanto precisa e que tanto quer.
Assim, Sr. Presidente, encerro, agradecendo a oportunidade e o tempo que V. Exª me concede.