Gerson Camata SF 04-03-2008

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Congratulo-me inicialmente, Sr. Presidente, com as palavras de V. Exª, nas quais exalta o belíssimo trabalho que representa uma parte, não tudo, daquilo que o Senado produziu durante o ano passado.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na quinta-feira próxima passada, falei aqui sobre o problema das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na América Latina, sobre os fatores de desestabilização da amizade que deveria existir entre os países latino-americanos, e propus, secundando requerimento que tramita na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que, além da Senadora colombiana que se interessa pela libertação dos quatro mil reféns - não são setecentos - das Farc, fosse convidada para vir à Comissão a Senadora Bittencourt, ex-candidata a Presidente da Colômbia, que, há seis anos, está em poder da guerrilha. Veríamos se as Farc permitiriam que ela viesse aqui. Se são as grandes forças democráticas, como dizem alguns elementos de Esquerda, por que não permitiriam que essa Senadora aqui viesse?
Então, no fim de semana, ocorreu o desfecho da desestabilização, mais uma vez, da América Latina.
O que temos de considerar? Quem está desestabilizando as relações entre a Colômbia e o Equador não é o governo da Colômbia, é a narcoguerrilha, são os terroristas das Farc. Com a permissão dos governos do Equador e da Venezuela, eles atacam na Colômbia e se refugiam em território de outros países.
O que ocorreu? Essa desestabilização provocou o seguinte: o Equador na fronteira; as Forças Armadas da Colômbia fustigaram; os terroristas refugiados em território do Equador, com o olho grande do governo do Equador, atingiram equipamentos militares das Forças da Colômbia. As Forças colombianas revidaram, e, em combate, pereceu um dos chefes dos terroristas, um tal de Reyes. As Forças Armadas da Colômbia entraram em território do Equador.
Aí houve o problema da entrada do Sr. Chávez na guerra. Pegaram o laptop do tal Reyes, que era o chefe, o representante dos terroristas na área internacional. E o que havia nesse laptop? O Chávez, coitado, antes de ser anunciado o conteúdo do laptop, já botou a cara na reta, dizendo que ia invadir, que era guerra, e mandou as Forças Armadas da Venezuela para a fronteira da Colômbia. Ele ficou irritado não por que ocorreu um choque entre os terroristas que ele protege - ele e o Sr. Fidel Castro são protetores do terrorismo internacional há muitos anos -, mas por que pegaram o laptop. No laptop, está inscrito: financiamento da Venezuela às Farc de US$300 milhões, além de 100 milhões de pesos colombianos enviados pela guerrilha a Chávez quando ele estava preso. Lembrem-se de que ele deu um golpe de Estado há alguns anos. Ele recebia dinheiro da guerrilha das Farc, dinheiro da cocaína que destrói o Brasil, dinheiro da cocaína que deixa o Brasil mal no mundo, como o grande mercado de onde sai a cocaína para a Europa, a cocaína que financiou o armamento das Farc.
Diz-se ainda na carta de Márquez da guerrilha que Chávez prometeu, por meio de seu Ministro Chacín, "que ia contribuir com uns estilingues velhinhos que tinha guardados por aí e que ele sabia que ainda funcionavam". Quer dizer, ele estava mandando armamento para a guerrilha das Farc na Colômbia.
O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - V. Exª me concede um aparte, Senador?
O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Infelizmente, não posso conceder aparte a V. Exª, porque estou fazendo uma comunicação inadiável, Senador Magno Malta. O Regimento Interno me impede, mas eu teria muito prazer de lhe conceder o aparte se pudesse. Com a anuência do Presidente, V. Exª pode tudo.
Mas, então, veja V. Exª que o grande problema de Chávez foi que ele ficou aborrecido com a apreensão do laptop, que continha documentos secretos - e todo mundo já sabia - dessa ligação umbilical, estreita, de patrocínio, de um chefe de estado com um grupo de terroristas narcotraficantes. Esse foi o grande problema que fez com que o Presidente da Venezuela se intrometesse, de modo cruel, ameaçando com guerra e com invasão, no conflito infelizmente provocado pelos desestabilizadores, que são as Farc. A Colômbia está sendo acusada, ela não é desestabilizadora; as Farc o são.
Tenho um certo temor, Senador Magno Malta, porque o Brasil, que deveria ficar neutro, já não está neutro, porque disse que a Colômbia tem de pedir desculpas - já tomou partido. O Brasil ficou ao lado das Farc, ao lado dos terroristas, ao lado do Fidel, ao lado do Chávez. Como vai agora mediar um conflito se já tomou partido de um lado?
O Brasil devia ter-se poupado. Era hora de pensar um pouco no que dizer. Era hora de deixar a paixão de lado e de ser mais neutro. Numa hora desta, o Brasil, uma nação líder, metade da América Latina, não poderia ter-se colocado numa posição tão infeliz como aquela em que nosso Ministro das Relações Exteriores se colocou.
Temos de solicitar à Comissão de Relações Exteriores da Câmara e à do Senado que o pedido de entrada da Venezuela no Mercosul tenha sua tramitação paralisada. Não pode um homem que ameaça fazer guerra e que ameaça invadir outro país, o que é um fator desestabilizante, fazer parte do Mercosul, porque, daqui a pouco, ele desestabilizará também o Mercosul. É o pedido que quero fazer ao Senador Heráclito Fortes, como bom Presidente que é da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
A melhor maneira, neste momento, de contribuirmos para a paz no continente latino-americano é termos a cabeça no lugar e vermos que a desestabilização não veio da Colômbia, mas, sim, da presença dos narcotraficantes e dos narcoguerrilheiros que infestam a América Latina.
Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.