Geraldo Mesquita Junior SF 28-02-2008
O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Camata.
Srªs e Srs. Senadores, primeiramente, os meus sinceros agradecimentos ao Senador Gilvam Borges, querido companheiro que representa tão bem aqui o Estado do Amapá.
Tenho minhas divergências pontuais com o Presidente Lula, com o seu Governo, mas devo reconhecer a importância do seu papel no contexto do Mercosul. Por consideração dos meus pares, presido a representação brasileira no Parlamento do Mercosul e sou testemunha de que a atuação do Presidente Lula, a sua persistência em transformar aquele grande fórum no núcleo do processo de integração latino-americana tem sido motivo de observação e de aplauso, Senador Gilvam. O Presidente Lula dá mais um passo nesse sentido quando volta os olhos para a perspectiva e a possibilidade de integrarmos Cuba ao complexo do Mercosul.
O jornal Folha de S.Paulo, na edição de terça-feira, atribuiu ao Presidente Lula a consideração da possibilidade da entrada de Cuba no Mercosul. Segundo o jornal, em entrevista a um canal de televisão da Argentina, o Presidente afirmou que não seria politicamente correto interferir no processo de transição daquele país, mas que há uma disposição do Governo brasileiro de ajudar Cuba, sem interferência, mas como um parceiro regional.
Na mesma ocasião da visita do Presidente Lula à Argentina, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, apresentou ao governo daquele país a proposta de criação de um Conselho Sul-Americano de Defesa, que seria responsável pela formulação de uma estratégia conjunta na área. Segundo o Ministro Jobim, o objetivo do Conselho é promover o entendimento com todos os países sul-americanos para ter uma mesma palavra sobre defesa nos fóruns internacionais e resolver as eventuais questões intra-regionais.
A sinalização do Governo brasileiro e, particularmente, do Presidente Lula mais uma vez evidencia um movimento correto no sentido de construir uma nova geopolítica para a região e mesmo para as relações mundiais.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho afirmado, desta tribuna e também no Parlamento do Mercosul, que o mundo, a economia, os interesses políticos se articulam cada vez mais em blocos. O mundo, Senador Gilvam, se globaliza - é um processo que já vem de muitos anos -, mas, ao mesmo tempo, se "blocaliza", ou seja, vem se dividindo em grandes blocos. E não podemos ficar à margem desse processo. Nesse sentido, nada mais correto neste momento do que atuarmos para fortalecer as relações entre os países da nossa região, levando em conta - a exemplo da Europa - as diferenças, as assimetrias em todos os terrenos, sejam econômicos, sociais e até mesmo políticos.
É importante registrar, no caso da maior aproximação com Cuba, que recentemente o Ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, foi àquele país acompanhado de trinta empresários. Além disso, a Petrobras confirmou sua decisão de atuar na exploração de petróleo e gás no Golfo do México, em parceria com o Estado cubano.
A recente visita do Presidente Lula a Cuba ratificou essa política, que também inclui investimentos em infra-estrutura. Como contrapartida dessa relação, Cuba tem a oferecer, como é do conhecimento geral, seu enorme potencial no terreno da saúde e também novas possibilidades de negócios em conjunto, como já sinalizou a Petrobras.
É importante, neste momento, a sugestão do Brasil, que, sem que isso signifique nenhum tipo de ingerência ou disputa de liderança, abre nova perspectiva para o processo de transição e mudanças que, inevitavelmente, ocorrerão em Cuba.
Pela sua posição econômica e política e capacidade de interlocução, o Brasil, por exemplo, e o conjunto do Mercosul podem contribuir decisivamente para a superação de conflitos e situações históricas, como o famigerado bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, que já ultrapassa quatro décadas de existência. Com essa postura, tanto diante da transição cubana quanto dos conflitos regionais, o Brasil está dando uma contribuição fundamental, não apenas para o Continente Sul-Americano, mas para todo o mundo civilizado.
O processo de integração regional - que tem no Senador Zambiasi um dos seus mais fervorosos e ardorosos defensores -, além do terreno econômico, também precisa de gestos e de visão estratégica de futuro, que, ao natural, estimulam o conjunto do processo de aproximação dos povos.
É fato hoje que a posição de desprendimento e de grandeza diante dos conflitos, aparentemente insuperáveis, demonstrada pela diplomacia brasileira tem contribuído para o avanço da integração em todos os terrenos.
Acrescento, ao final, que a perspectiva do ingresso de Cuba no Mercosul, na sua estrutura, significa, talvez, a possibilidade de oferecermos ao povo cubano não só o discurso, mas a motivação para que o país inicie a caminhada rumo à consolidação de sua revolução pelo viés democrático, tendo em vista que o respeito ao estado de direito e ao processo democrático é o principal pilar da construção do processo de integração regional que se constrói em torno e a partir do Mercosul.
Portanto, venho aqui dar o meu testemunho. Em que pesem, como disse no início, as divergências pontuais que tenho com o Presidente Lula e seu Governo, nessa área e nesse campo sua atuação é de se tirar o chapéu. A atuação do Presidente Lula tem sido consistente, tem sido importante e, digo até, fundamental para a consolidação do processo de integração de nosso continente, através do núcleo que hoje temos, que é a própria estrutura do Mercosul, que hoje conta com o seu Parlamento. Esse é o rumo, essa é a perspectiva. Tenho certeza absoluta de que, acenando com a possibilidade do ingresso de Cuba, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo em que contribui para que superemos aquela coisa difícil de se assimilar até hoje, que é aquele embargo cruel em torno da ilha de Cuba, permite que o país ingresse fortemente no caminho definitivo do processo democrático.
Era o que eu queria, no momento, deixar expresso, agradecendo ao Presidente Camata pelo tempo concedido.