PROSF-28-04-05 Arthur Virgilio
Autor Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira /AM) Data 28/04/2005 Casa Senado Federal Tipo Discurso
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, proponho-me hoje a falar um pouco sobre política externa. Afinal de contas, tem sido montada uma máquina fabulosa de propaganda tentando dizer que seria competente a política externa do Presidente Lula.
Vamos ver então pormenores e esmiuçamentos disso que, com muito boa vontade, se pode chamar de política externa do atual Governo.
Em primeiro lugar, nasce uma Alca nas costas do Brasil, e o País, se quer contrariar os Estados Unidos, deve procurar a sério ingressar na Alca que está sendo montada nos acordos bilaterais dos Estados Unidos e todos os países da América do Sul, à revelia do Brasil.
Segundo, não avançou, em nenhum ponto, em nenhum milímetro nenhum acordo profundo entre Brasil e União Européia, e as contradições entre União Européia e Brasil, sobretudo por causa do protecionismo agrícola dos novos países que ingressaram na UE ultimamente, são muito maiores do que o contencioso entre Brasil e Estados Unidos no campo econômico.
Terceiro, o Mercosul se esfacelou; já não há Mercosul. A Argentina veta a presença do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
Quarto, o Uruguai, candidato, por intermédio do Embaixador Rodrigues, à Organização Mundial de Comércio, não obteve o voto do Brasil. O Brasil fez críticas públicas ao Sr. Rodrigues, dizendo, de maneira leviana, que seria ele um representante dos países ricos contra os emergentes. E o Brasil não conseguiu tampouco o apoio do Uruguai. Ou seja, o Brasil, pura e simplesmente, foi desclassificado, por absoluta incompetência política, ao tentar a candidatura do competente e sério Embaixador Seixas Corrêa para a Direção Geral da OMC.
O povo brasileiro começa a perceber que há mais marketing e há pouco de seriedade e de consistência nessa política externa que está sendo praticada aí.
O mais é visita a ditadores, visitas permanentes a Cuba, que virou uma espécie de Disneylândia disso que a gente ainda pode chamar de esquerda brasileira. Virou uma Disneylândia. Vão a Cuba a toda hora; passam as suas férias em Cuba e na hora da votação de sanções a Cuba por agressões terríveis aos direitos humanos, fuzilamentos sumários inclusive, o Brasil se abstém, como se não tivesse nada a ver, como se fosse Pôncio Pilatos diante da execução sumária de seres humanos, que nem estavam querendo desestabilizar o regime de Castro; queriam, isto sim, fugir do regime de Castro na direção de um outro País.
Eu poderia, e posso, arrolar mais pontos no tempo de que disponho.
A aliança, que me parece emocional, com o Sr. Chávez. O Sr. Chávez deve ser visto como aliado brasileiro, sim, até porque, das grandes lideranças venezuelanas, ele é o único que tem efetivamente um certo apego ao Brasil. Dos grandes líderes venezuelanos, os demais todos são completamente pró-Estados Unidos e praticamente nenhum é pró-Brasil. Mas daí a essa relação sindical: "companheiro meu não pode ser desmoralizado", essa coisa sindical, e não presidencial, que hoje une o Presidente Lula ao Presidente Chávez, que hoje está exorbitando, com uma milícia de 30 mil venezuelanos armados, a promover uma luta de classes canhestra e medíocre, que não avança na direção da consolidação da democracia na Venezuela, vai uma distância muito grande, entre uma necessidade e uma verdade.
Eu poderia dizer mais coisas ainda. O Presidente vai, sob aplausos gerais - as pessoas dizendo que ele fazia diplomacia presidencial muito bem, enquanto durou aquela mágica do operário que chegou à Presidência, só não se explica porque o operário, entre o fim do seu trabalho em fábricas e a sua ascensão à Presidência, não estudou, porque não se dedicou a entender os problemas brasileiros mais do que zanzar, viajando por aí sempre em busca de votos.
A verdade, Sr Presidente, é que dou apenas um exemplo. O Brasil faz só uma viagem ao Oriente Médio, uma viagem de negócios, segundo proclamavam os assessores da equipe presidencial. Muito bem, não visita, indo ao Oriente Médio, a Arábia Saudita nem Israel; logo, não fez negócios de monta com ninguém, essa é a verdade.
O Brasil insiste nessa coisa louca de ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU a qualquer preço. Anistia dívidas, assume posições contrárias à defesa dos direitos humanos, tudo isso se esquecendo de um detalhe só: depois dos tiros, do bombardeio unilateral do Presidente Bush contra o Iraque, acabou a ONU. A bandeira vanguardista, a bandeira progressista agora seria lutar pela restauração do esquema multilateral no cenário das nações e não entrar para o Conselho de Segurança, como membro permanente ou não, de uma ONU que não existe, que depende hoje do alvitre do Senhor Presidente dos Estados Unidos.
E mais ainda, a última, o Ministro, que considero um atrasado, o Sr. Samuel Pinheiro Guimarães; considero que não está no seu melhor momento o Sr. Celso Amorim, e considero grave, muito grave, que o Sr. Marco Aurélio Garcia fique exercitando essa sua sabedoria teórica, sem nenhuma experiência prática em matéria de política externa. E, mais ainda, ultimamente o Ministro José Dirceu virou chanceler plenipotenciário. Viaja pelo mundo inteiro, dando palpite sobre algo que ele não entende, que é política externa. E não sei se, na verdade, toda essa pantomima não vai resultar em prejuízo econômico de médio prazo para o Brasil. Porque, hoje em dia, na economia mundial de mercados globalizados, quem não tiver uma política externa para valer, efetiva e que não seja marqueteira - não precisa se vestir de Rei Zulu coisa alguma na África. Traje de Presidente da República ou é o esporte normal ou é paletó e gravata. Esse é o traje de Presidente da República. O resto é fantasia.
O Presidente Lula precisa atentar para o fato de que seus sucessores poderão amargar graves problemas se não for encarado agora, para valer, com inteligência, com coragem, com seriedade, uma política externa realista, Sr. Presidente.
Muito obrigado.
Era o que eu tinha a dizer.