PROSF-11-05-05 Arthur Virgilio
Autor Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira /AM) Data 11/05/2005 Casa Senado Federal Tipo Discurso
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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 11 DE MAIO DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.
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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Cúpula América do Sul e Países Árabes é, sem dúvida, uma idéia relevante, que nasce em 2000 e que apresentou resultados que são, no mínimo, discutíveis, e que aqui serão, portanto, discutidos por mim como Líder do PSDB.
Para começar, Brasília não era, a meu ver, a cidade mais adequada para o evento. O Sr. Adalberto da Silva faleceu, porque não teve atendimento médico em função de todo o transtorno que se causou na infra-estrutura da cidade. Em São Paulo ou no Rio de Janeiro, seria mais adequado, sem dúvida alguma.
Segundo: o Brasil monta o projeto da reunião de Cúpula para crescer diplomaticamente, Senador Demóstenes Torres. Na verdade, terminou abrindo um contencioso com a Inglaterra em torno das Ilhas Falklands, das Ilhas Malvinas; terminou abrindo um contencioso com Israel - e o Brasil, ao longo da sua História, mesmo durante o período da ditadura, sempre se deu correta e diplomaticamente com Israel, tradição que vem desde Osvaldo Aranha, uma espécie de patrono da criação do Estado de Israel. E o Brasil jamais escondeu de Israel que tinha compromisso com o estabelecimento do Estado Palestino. O Brasil abriu um contencioso com Israel. O Brasil abriu mais um contencioso com os Estados Unidos da América, primeiro, pela indelicadeza de negar a presença de um observador norte-americano - que atitude brava, que atitude corajosa, que coisa mais altaneira! Sem dúvida alguma, permitiu-se, pelo descontrole da diplomacia brasileira, que aquilo virasse um palanque anti-Israel e anti-Estados Unidos.
O Brasil exibiu algo - percebemos nós - que vem se aprofundando: o cisma, a cisão, a fratura no seio do Mercosul. O Brasil - que não está bem com o Uruguai; que apóia de má vontade o Embaixador Rodríguez para a OMC - deixou evidente, até no enfado do Presidente argentino, Néstor Kirchner, deixou patente à Cúpula que havia algo de muito tenso ocorrendo, Senador Presidente José Sarney, na relação entre os dois países. O Brasil não consolida o Mercosul e ainda houve propostas esdrúxulas do Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, que fala que vai criar uma grande estatal, tripartite, multinacional...Aliás, eu não consigo concordar com nenhuma das idéias de S. Exª. De antemão, já não concordo com mais essa pela tradição; não concordo com as outras e, de antemão, repudio essa. O Presidente Hugo Chávez propôs substituirmos o Mercosul por uma tal Unasul, que, de início, deslocaria do centro de decisões o Uruguai e o Paraguai e partiria para um novo eixo em torno de Brasil, Venezuela e Argentina. Um absurdo!
As ausências. Muita gente importante, Sr. Presidente, deixou de comparecer a essa reunião de Cúpula. Muita gente: a Arábia Saudita e, portanto, o esvaziamento pelo Presidente da Colômbia. Presenças significativas não se fizeram sentir nessa reunião, que, sem dúvida alguma, é uma boa idéia, mas deixou de apresentar bom resultado quando o Brasil sai daquilo que no Governo passado era tentativa de ampliação do espectro de relações internacionais do País para uma reunião sul-sul, propondo, o que na verdade se viu na nota final, um confronto com os países do norte.
Mais ainda: o Presidente Lula dizia:"É uma reunião de negócios"; o Presidente Hugo Chávez replicava: "É uma reunião política, ideológica". Quero concordar com o Presidente Chávez, porque o Sr. José Alencar, Vice-Presidente da República, não recebeu os árabes que o procuraram para discutir acerca de compra e venda de produtos árabes e de produtos brasileiros.
Mais ainda: - e isso me chama a atenção, Sr. Presidente - terrorismo. O Senador José Agripino foi muito feliz em trazer à baila esse tema. Não foi suficientemente firme a condenação ao terrorismo. E mais ainda: os meios políticos internacionais haverão de interpretar como um certo "passar a mão na cabeça" do Hezbollah e do Hamaz. Teríamos que ter sido enfáticos em relação ao terrorismo e não ficarmos usando resoluções da ONU para justificar algo que tem que ser condenado em todo e qualquer Estado democrático.
Na hora em que saúdo um ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Deputado Antonio Carlos Pannunzio, lembro-me de um outro ponto, também muito ressaltado pela imprensa: a questão democrática. Segundo li, ia-se falar bastante em democracia. Mas alguns dos próceres, geralmente representando ditaduras sanguinárias por esse mundo que ali estavam reunidos, exigiram que se relativisasse o apoio à democracia, e pouco se falou de democracia. Virou um pouquinho de linha e, portanto, deixamos, nós, de apresentar em um foro - e é nossa obrigação fazê-lo em qualquer foro - o compromisso brasileiro inarredável com a democracia como valor universal, como valor inarredável, como valor irretocável.
Sr. Presidente, não quero ser um opositor mal-humorado. Pecaram quanto à diplomacia e pecaram quanto à ortografia. Um País que propõe um passaporte, Sr. Presidente, em espanhol, e que comete em poucas linhas três erros em espanhol - já não basta errar em português, agora estão errando em espanhol! Erraram ao escrever "a lo titular", quando o correto é "al titular"; erraram quando esqueceram o acento em proteción; e erraram quando colocaram dois "s" em necesidad - não há necessidade de dois "s" quando se trata da palavra necesidad em espanhol.
E do espanhol volto para o português. Recebi um convite, não pude atendê-lo, até porque não sabia onde seria a reunião. Supus que seria no Centro de Convenções, mas não era, era no Centro de "Conveções" (sem o "n") Ulysses Guimarães. Eu disse assim: fico perdido; era militar por tudo que é lado. Eu me senti de volta aos tempos de 64, militar para tudo que é lado. Quase houve um acidente fatal no primeiro dia. Aí pensei: se eu for ao Centro de Convenções e não for lá a reunião, porque deve ter um Centro de Conveções, sem o "n", que não encontrei.
Portanto, Sr. Presidente, devo dizer que essa boa idéia apresentou maus resultados. Essa boa idéia era para ampliar - já concluo a minha fala - o espectro das relações internacionais brasileiras e não para propor essa política terceiro-mundista, medíocre, canhestra, sul-sul, que visa a juntar pobres para enfrentarem os ricos, condenando os pobres à pobreza eterna, quando temos é que compreender a essência da economia globalizada, para, a partir daí, montarmos nosso arsenal de estratégias e de jogo tático político para inserirmos o Brasil, pela porta da frente, na globalização.
Este Governo causa os prejuízos de curto prazo, e este mesmo Governo será capaz de dar enormes prejuízos de longo e de médio prazos se não nos alertamos para erros que, no longo e no médio prazos, poderão significar muito atraso econômico, muito atraso social, muito atraso político e muito atraso conceitual para este País.
Era o que eu tinha a dizer.
Muito obrigado.