PROSF-03-06-05 Marco Maciel

<p>Autor Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal /PE) Data 03/06/2005 Casa Senado Federal Tipo Discurso <br /><br />O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revis&amp;atilde;o do orador.) - Sr. Presidente, Sr&amp;ordf;s e Srs. Senadores, a Argentina sempre teve destacada import&amp;acirc;ncia nas rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es externas do Brasil. E as recentes manifesta&amp;ccedil;&amp;otilde;es dos respectivos governos, ainda que muitas vezes desencontradas, apenas deixam evidente que essa import&amp;acirc;ncia continua grande e atual.<br />Ao longo de nossa hist&amp;oacute;ria comum, entre Brasil e Argentina, pol&amp;iacute;ticos, jornalistas, empres&amp;aacute;rios e estudiosos, em variadas circunst&amp;acirc;ncias e ocasi&amp;otilde;es, embora reconhecendo a exist&amp;ecirc;ncia de rivalidades, manifestaram-se real&amp;ccedil;ando a amizade que une as duas na&amp;ccedil;&amp;otilde;es no campo social, cultural, pol&amp;iacute;tico e econ&amp;ocirc;mico.<br />Limitar-me-ei agora a fazer uma breve an&amp;aacute;lise apenas no plano econ&amp;ocirc;mico e logo se ver&amp;aacute; que &amp;eacute; muito intenso o interc&amp;acirc;mbio entre as duas na&amp;ccedil;&amp;otilde;es.<br />&amp;Eacute; poss&amp;iacute;vel que nem mesmo o pr&amp;oacute;prio Presidente Roque S&amp;aacute;enz Pe&amp;ntilde;a, ao enunciar a c&amp;eacute;lebre frase, no come&amp;ccedil;o do s&amp;eacute;culo passado, &quot;tudo nos une, nada nos separa&quot;, poderia imaginar o quanto essa afirma&amp;ccedil;&amp;atilde;o iria retratar a profundidade do significado dessa rela&amp;ccedil;&amp;atilde;o. Na verdade, desde que S&amp;aacute;enz Pe&amp;ntilde;a, ali&amp;aacute;s, a convite de Rio Branco, visitou o Brasil em 1910, cada pa&amp;iacute;s viveu - cada um a seu modo - as transforma&amp;ccedil;&amp;otilde;es que passaram a ocorrer na sociedade internacional.<br />Aparentemente, &amp;agrave; &amp;eacute;poca de S&amp;aacute;enz Pe&amp;ntilde;a e de Rio Branco, al&amp;eacute;m da geografia e das quest&amp;otilde;es dela decorrentes, pouco poderia ser lembrado como fatores de coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o efetiva entre as duas na&amp;ccedil;&amp;otilde;es. A capacidade de antevis&amp;atilde;o desses dois not&amp;aacute;veis estadistas permitiu perceber o verdadeiro alcance dessa coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o. Entretanto, como observa o professor Daniel Larriqueta, da Universidade de Buenos Aires, a passagem da gera&amp;ccedil;&amp;atilde;o de Rio Branco e S&amp;aacute;enz Pe&amp;ntilde;a marcou o fim de uma &amp;eacute;poca, tanto na Argentina quanto no Brasil, chamada &quot;a era dos governos das minorias esclarecidas&quot;. No Brasil, o escritor &amp;Aacute;lvaro Lins denominou essa fase como a &amp;eacute;poca da &quot;Rep&amp;uacute;blica dos Conselheiros... a &amp;eacute;poca&quot;, segundo ele, &quot;mais feliz da Rep&amp;uacute;blica&quot;.<br />Com efeito, desde ent&amp;atilde;o as grandes transforma&amp;ccedil;&amp;otilde;es sociais, econ&amp;ocirc;micas e pol&amp;iacute;ticas afastaram as duas na&amp;ccedil;&amp;otilde;es por muitas raz&amp;otilde;es. No plano geral, as circunst&amp;acirc;ncias econ&amp;ocirc;micas e pol&amp;iacute;ticas vividas pela Argentina na Primeira Grande Guerra Mundial, da Grande Depress&amp;atilde;o que se seguiu e da Segunda Grande Guerra eram substancialmente diferentes daquelas vividas pelo Brasil. Havia poucos elementos que seriam ind&amp;iacute;cios de que a coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o econ&amp;ocirc;mica se poderia constituir em fator essencial para o progresso das duas na&amp;ccedil;&amp;otilde;es.<br />Por outro lado, a evolu&amp;ccedil;&amp;atilde;o do com&amp;eacute;rcio internacional indicava que pa&amp;iacute;ses como o Brasil e a Argentina deveriam reorientar suas economias no sentido da industrializa&amp;ccedil;&amp;atilde;o. Enfim, ficava evidente, j&amp;aacute; &amp;agrave;quela &amp;eacute;poca, que o crescimento demogr&amp;aacute;fico e a urbaniza&amp;ccedil;&amp;atilde;o indicavam a necessidade de aumentar a capacidade de gera&amp;ccedil;&amp;atilde;o de empregos, e a agricultura e as atividades extrativas revelavam-se, por si s&amp;oacute;s, incapazes de promover o atendimento desses objetivos. <br />Ademais, na d&amp;eacute;cada de 50, come&amp;ccedil;ou a se observar uma redu&amp;ccedil;&amp;atilde;o da participa&amp;ccedil;&amp;atilde;o da agricultura no com&amp;eacute;rcio internacional. N&amp;atilde;o vou descer a muitos dados, mas, em 1970, representava apenas 20% do com&amp;eacute;rcio mundial. Assim, economias como a argentina e a brasileira, basicamente produtoras de bens prim&amp;aacute;rios, n&amp;atilde;o poderiam por em pr&amp;aacute;tica outra estrat&amp;eacute;gia que n&amp;atilde;o fosse a da industrializa&amp;ccedil;&amp;atilde;o.<br />Outro fato que contribuiu para tornar pouco atraente a coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o entre os pa&amp;iacute;ses em desenvolvimento e, em especial, entre o Brasil e a Argentina, era a percep&amp;ccedil;&amp;atilde;o de que os fluxos de com&amp;eacute;rcio em rela&amp;ccedil;&amp;atilde;o ao destes pa&amp;iacute;ses referiam-se essencialmente aos Estados Unidos e &amp;agrave; Europa. Esse fato decorria tanto da guerra fria quanto da postura das Am&amp;eacute;ricas lusitana e espanhola: de costas uma para a outra. O fato &amp;eacute; que n&amp;atilde;o apenas o com&amp;eacute;rcio, mas tamb&amp;eacute;m a cultura e as rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es pol&amp;iacute;ticas tinham muito pouco est&amp;iacute;mulo para a coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o subcontinental, isto &amp;eacute;, a coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o no campo da Am&amp;eacute;rica do Sul e, de modo particular, no Prata. Com efeito, at&amp;eacute; meados da d&amp;eacute;cada de 1970, apesar de iniciativas como ALALC (hoje Aladi), o fluxo de com&amp;eacute;rcio entre os pa&amp;iacute;ses da regi&amp;atilde;o era reconhecidamente irris&amp;oacute;rio. <br />A d&amp;eacute;cada de 1980, no entanto, marcou uma substancial inflex&amp;atilde;o neste rumo. Na&amp;ccedil;&amp;otilde;es como o Brasil e Argentina haviam avan&amp;ccedil;ado bastante na industrializa&amp;ccedil;&amp;atilde;o, e a demanda pela abertura de mercados tornava-se crescente. Al&amp;eacute;m disso, outros fatores contribu&amp;iacute;am para que mudan&amp;ccedil;as fossem feitas nas atitudes dos governos em rela&amp;ccedil;&amp;atilde;o &amp;agrave; pol&amp;iacute;tica externa. A crise do petr&amp;oacute;leo da d&amp;eacute;cada anterior, o fim da guerra fria, o esgotamento do modelo do desenvolvimento baseado na pol&amp;iacute;tica de substitui&amp;ccedil;&amp;atilde;o de importa&amp;ccedil;&amp;otilde;es, que marcou tamb&amp;eacute;m largo per&amp;iacute;odo da pol&amp;iacute;tica econ&amp;ocirc;mica brasileira, e a crise da d&amp;iacute;vida externa que afetou o Terceiro Mundo foram fen&amp;ocirc;menos associados &amp;agrave;s profundas transforma&amp;ccedil;&amp;otilde;es ocorridas no plano internacional, cujos efeitos se fizeram sentir tanto no plano interno dos pa&amp;iacute;ses quanto especificamente na Am&amp;eacute;rica do Sul.<br />&amp;Eacute; nesse ambiente que Brasil e Argentina passaram a rever as suas prioridades e, ao definir novas estrat&amp;eacute;gias de a&amp;ccedil;&amp;atilde;o no campo externo, a coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o Brasil-Argentina foi emergindo como um fator chave para as respectivas na&amp;ccedil;&amp;otilde;es.<br />A partir de ent&amp;atilde;o, a hist&amp;oacute;ria &amp;eacute; conhecida, porque temos sido - todos n&amp;oacute;s de alguma forma e alguma medida - protagonistas e testemunhas das transforma&amp;ccedil;&amp;otilde;es em curso. A imprescindibilidade de modernizar a economia, especialmente a ind&amp;uacute;stria, implicava o investimento em &amp;aacute;reas sens&amp;iacute;veis como energia nuclear, inclusive. A exemplo do que ocorrera na Europa, a coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o nuclear entre Argentina e Brasil, iniciada nos fins da d&amp;eacute;cada de 1980, foi a sa&amp;iacute;da para que antigas rivalidades n&amp;atilde;o constitu&amp;iacute;ssem em fatores prejudiciais a ambos os pa&amp;iacute;ses. O entendimento no campo da energia el&amp;eacute;trica seguiu na mesma dire&amp;ccedil;&amp;atilde;o. As crescentes necessidades energ&amp;eacute;ticas geradas, ao fim e ao cabo, demandavam investimentos que pressupunham o aproveitamento dos melhores potenciais dispon&amp;iacute;veis em termos de recursos h&amp;iacute;dricos. <br />A&amp;iacute; se insere, obviamente, a constru&amp;ccedil;&amp;atilde;o de Itaipu, do lado brasileiro, e de Corpus, do lado da Argentina.<br />Repetia-se com rela&amp;ccedil;&amp;atilde;o &amp;agrave; hidroeletricidade o mesmo que es passara no uso da fonte nuclear. Em s&amp;iacute;ntese, Argentina e Brasil n&amp;atilde;o poderiam mais ignorar um ao outro e fazer escolhas fundamentais sem que, de algum modo, afetassem o seu vizinho. Assim brotaram os acordos de coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o econ&amp;ocirc;mica entre o Brasil e a Argentina, sementes germinadoras do Mercosul.<br />A hist&amp;oacute;ria - sabe-se - n&amp;atilde;o &amp;eacute; linear e, como acontece nas melhores fam&amp;iacute;lias das na&amp;ccedil;&amp;otilde;es, as rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es entre os dois pa&amp;iacute;ses s&amp;atilde;o marcadas por oscila&amp;ccedil;&amp;otilde;es, por desencontros em seus enlaces.<br />O Sr. Sib&amp;aacute; Machado (Bloco/PT - AC) - Permite-me um aparte, Senador Marco Maciel.<br />O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Ou&amp;ccedil;o o nobre Senador Sib&amp;aacute; Machado.<br />O Sr. Sib&amp;aacute; Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Marco Maciel, ou&amp;ccedil;o com muita aten&amp;ccedil;&amp;atilde;o o pronunciamento de V. Ex&amp;ordf;, que &amp;eacute; de uma profundidade muito importante neste momento, enfim, quando se faz essa reflex&amp;atilde;o sobre o relacionamento de dois importantes pa&amp;iacute;ses da Am&amp;eacute;rica do Sul. E enquanto vimos patinando ao longo desse tempo para constituir este bloco chamado Mercosul, fortalecer esse interc&amp;acirc;mbio comercial, fico imaginando esse paralelo com a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia que, h&amp;aacute; tanto tempo, avan&amp;ccedil;a naquilo que penso ser muito mais do que uma simples rela&amp;ccedil;&amp;atilde;o econ&amp;ocirc;mica. Chegaram a ponto de constituir um tribunal comum, uma moeda comum e, agora, at&amp;eacute; mesmo uma constitui&amp;ccedil;&amp;atilde;o comum. Claro que, ao propor uma constitui&amp;ccedil;&amp;atilde;o comum, v&amp;atilde;o se deparar com muitas realidades culturais milenares que, no meu entendimento, requerem um pouco mais de calma. E &amp;eacute; not&amp;oacute;rio, eu compreendo, que a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia est&amp;aacute; fazendo uma nova concep&amp;ccedil;&amp;atilde;o de organiza&amp;ccedil;&amp;atilde;o geopol&amp;iacute;tica. Acho que a Am&amp;eacute;rica do Sul est&amp;aacute; pecando muito em ficar se perdendo em quest&amp;otilde;es muito pequenas. O Brasil tem insistido em querer dizer que &amp;eacute; o l&amp;iacute;der da Am&amp;eacute;rica do Sul. E ouvi isso da reportagem de uma comentarista da CBN, que dizia que o Brasil n&amp;atilde;o precisa provar nada para ningu&amp;eacute;m. O Brasil s&amp;oacute; precisa estender a sua m&amp;atilde;o, fazer o que tem que ser feito: um bom e civilizado relacionamento com todos os pa&amp;iacute;ses componentes do Cone. E muito mais que isso, estender este promissor trabalho que o Pa&amp;iacute;s est&amp;aacute; realizando, principalmente nesta &amp;uacute;ltima d&amp;eacute;cada e que promete para as duas d&amp;eacute;cadas futuras, para que, no anivers&amp;aacute;rio do bicenten&amp;aacute;rio da Independ&amp;ecirc;ncia do Brasil, estejamos, em 2022, comemorando um novo momento do relacionamento entre Am&amp;eacute;rica do Sul e todos os blocos e pa&amp;iacute;ses do resto do mundo. Portanto, parabenizo V. Ex&amp;ordf; por esta profunda reflex&amp;atilde;o. Acho que &amp;eacute; muito s&amp;aacute;bio - e o momento &amp;eacute; oportuno - que todos possamos pensar a partir do racioc&amp;iacute;nio de V. Ex&amp;ordf;.<br />O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Agrade&amp;ccedil;o a V. Ex&amp;ordf;, nobre Senador Sib&amp;aacute; Machado, pelo aparte e devo fazer tr&amp;ecirc;s r&amp;aacute;pidas considera&amp;ccedil;&amp;otilde;es.<br />Em primeiro lugar, concordo integralmente que precisamos aprofundar o nosso relacionamento. E aprofundar o nosso relacionamento no Prata significa responder inclusive ao imperativo geogr&amp;aacute;fico. Enfim, a geografia determina a hist&amp;oacute;ria dos povos. E precisamos ter consci&amp;ecirc;ncia, como ali&amp;aacute;s j&amp;aacute; teve com muita propriedade Rio Branco, de que no Prata radica certamente o nosso primeiro p&amp;oacute;lo de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o.<br />Em segundo lugar, V. Ex&amp;ordf; lembra com propriedade o que se passa na Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia, em que pesem dificuldades eventuais, como essa relativa agora ao referendo da nova Constitui&amp;ccedil;&amp;atilde;o, que &amp;eacute;, sem d&amp;uacute;vida, o mais bem tecido modelo de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o. E vejam que, na Europa, as rivalidades eram muito maiores do aqui no Cone Sul, porque, como lembra V. Ex&amp;ordf;, eram culturas milenares e pa&amp;iacute;ses que, muitas vezes, estiveram divididos por guerras. Por exemplo, os dois principais pa&amp;iacute;ses promotores da integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o europ&amp;eacute;ia, a Fran&amp;ccedil;a e a Alemanha, guerrilharam entre si pelo menos em tr&amp;ecirc;s oportunidades no curso de dois s&amp;eacute;culos. Ent&amp;atilde;o, veja que eles foram capazes de esquecer o passado e construir o futuro.<br />E, finalmente, quando V. Ex&amp;ordf; reclama uma maior aproxima&amp;ccedil;&amp;atilde;o, de alguma forma, isso atende &amp;agrave; vis&amp;atilde;o de muitos que pensaram o futuro da integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o do Brasil com a Argentina. &amp;Eacute; oportuno lembrar uma frase de Per&amp;oacute;n - na d&amp;eacute;cada de 40 ou 50, do s&amp;eacute;culo passado, se n&amp;atilde;o estou equivocado - quando disse que o s&amp;eacute;culo XXI nos encontra unidos ou dominados, isto &amp;eacute;, nos integramos ou certamente vamos ter muitas dificuldades para nos integrar na sociedade internacional. O Cone Sul d&amp;aacute; ao Brasil, &amp;agrave; Argentina e aos pa&amp;iacute;ses que o integram uma certa vertebra&amp;ccedil;&amp;atilde;o, que vai permitir enfrentar esses tempos de globaliza&amp;ccedil;&amp;atilde;o. E esse, ao meu ver, &amp;eacute; o caminho do Brasil.<br />Mas, Sr. Presidente, Sr&amp;ordf;s e Srs. Senadores, os fatos, de forma veemente, t&amp;ecirc;m mostrado que a industrializa&amp;ccedil;&amp;atilde;o favorece a integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o. H&amp;aacute; muito foram deixadas de lado as tradicionais teorias do com&amp;eacute;rcio que partiam do pressuposto de que os fluxos de com&amp;eacute;rcio estariam baseados numa divis&amp;atilde;o internacional de trabalho. Nas &amp;uacute;ltimas d&amp;eacute;cadas o com&amp;eacute;rcio intensificou-se entre os pa&amp;iacute;ses desenvolvidos industrialmente enquanto, ao contr&amp;aacute;rio, o com&amp;eacute;rcio entre pa&amp;iacute;ses produtores de bens prim&amp;aacute;rios, de um lado, e pa&amp;iacute;ses industrializados de outro, perdeu a import&amp;acirc;ncia de forma continuada e consistente. A a&amp;ccedil;&amp;atilde;o integradora da Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia e de pa&amp;iacute;ses como os Estados Unidos e o Jap&amp;atilde;o, conquanto distantes geograficamente e, apesar de n&amp;atilde;o possu&amp;iacute;rem arranjos de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o formais entre si, passaram a ser, cada vez mais, economias altamente articuladas entre si. Na verdade, ao final do s&amp;eacute;culo XX o com&amp;eacute;rcio entre as na&amp;ccedil;&amp;otilde;es industrializadas respondia por mais de 70% de todo o com&amp;eacute;rcio mundial. Nesse quadro, o avan&amp;ccedil;o na industrializa&amp;ccedil;&amp;atilde;o ocorrido na Argentina e no Brasil nas &amp;uacute;ltimas d&amp;eacute;cadas s&amp;atilde;o um forte indicador de que o processo de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o entre as duas economias &amp;eacute; a &amp;uacute;nica via e n&amp;atilde;o pode ser percebida sen&amp;atilde;o como uma realidade imposta pela geografia e pela l&amp;oacute;gica da conviv&amp;ecirc;ncia na esfera internacional.<br />Alguns dados econ&amp;ocirc;micos servem para mostrar o que se afirma. Em 1985, per&amp;iacute;odo em que os primeiros acordos estavam sendo gestados, a Argentina n&amp;atilde;o chegava a representar 3% do com&amp;eacute;rcio exterior brasileiro. Em 1998, j&amp;aacute; constitu&amp;iacute;do o Mercosul, esse com&amp;eacute;rcio atingiu cerca de 14%, tendo a Argentina se tornado o segundo pa&amp;iacute;s de maior participa&amp;ccedil;&amp;atilde;o no com&amp;eacute;rcio exterior brasileiro. &amp;Eacute; verdade que, com as crises que se abateram primeiro sobre o Brasil e depois sobre a Argentina, o com&amp;eacute;rcio se reduziu a 7%, em 2002. Entretanto, tendo em vista a recupera&amp;ccedil;&amp;atilde;o da Argentina e do Brasil, o com&amp;eacute;rcio voltou a crescer e se estima que esteja em torno de 8%. <br />Outro dado relevante a ser considerado diz respeito &amp;agrave; qualidade do interc&amp;acirc;mbio. Apesar das preocupa&amp;ccedil;&amp;otilde;es recentemente manifestadas especialmente pela diplomacia argentina, na pauta de com&amp;eacute;rcio nas duas dire&amp;ccedil;&amp;otilde;es a participa&amp;ccedil;&amp;atilde;o dos manufaturados e semi-manufaturados predomina sobre os bens prim&amp;aacute;rios. Al&amp;eacute;m disso, o fluxo de investimento e de pessoas entre os dois pa&amp;iacute;ses tem aumentado de forma crescente. No campo das aplica&amp;ccedil;&amp;otilde;es financeiras, os fundos de investimentos t&amp;ecirc;m se dirigido tanto para os mercados de capitais quanto para as muitas oportunidades que t&amp;ecirc;m se direcionado no sistema produtivo. Por outro lado, o turismo, apenas para dar um exemplo, tanto do Brasil quanto da Argentina tem promovido fluxos cada vez mais intensos de pessoas nas duas dire&amp;ccedil;&amp;otilde;es. <br />Em suma, h&amp;aacute; motivos para entender que as rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es entre o Brasil e a Argentina atingiram um n&amp;iacute;vel tal que requer a consolida&amp;ccedil;&amp;atilde;o de arranjos mais institucionalizados e est&amp;aacute;veis. <br />(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)<br />O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Tanto o Brasil quanto a Argentina s&amp;atilde;o na&amp;ccedil;&amp;otilde;es que desfrutam hoje das mesmas aspira&amp;ccedil;&amp;otilde;es quanto &amp;agrave; melhoria das condi&amp;ccedil;&amp;otilde;es de vida de suas popula&amp;ccedil;&amp;otilde;es e quanto ao desempenho no papel mais decisivo nas rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es internacionais, especialmente na ordem regional. Um papel que pode ter forte sentido construtivo e unificador ser&amp;aacute; aquele que se basear na coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o que permita superar limites e restri&amp;ccedil;&amp;otilde;es m&amp;uacute;tuas. Essa &amp;eacute; a leitura que hoje se pode fazer. Na ess&amp;ecirc;ncia, apontam para a necessidade de um estreitamento de rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es entre Argentina e Brasil e tamb&amp;eacute;m para o fato de que esse esfor&amp;ccedil;o n&amp;atilde;o pode nem deve se restringir &amp;agrave; esfera governamental. <br />&amp;Eacute; preciso, portanto, estimular ainda mais a participa&amp;ccedil;&amp;atilde;o da comunidade dos dois pa&amp;iacute;ses nas discuss&amp;otilde;es sobre projetos comuns. <br />Em face do exposto, Sr. Presidente, desejo propor a constitui&amp;ccedil;&amp;atilde;o de instrumento de permanente interlocu&amp;ccedil;&amp;atilde;o entre os dois pa&amp;iacute;ses, atrav&amp;eacute;s do Congresso Nacional, nomeadamente pelas Comiss&amp;otilde;es de Rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es Exteriores do Senado Federal e da C&amp;acirc;mara dos Deputados.<br />Norberto Bobbio no seu livro &quot;Tr&amp;ecirc;s Ensaios sobre a Democracia&quot;, j&amp;aacute; observara, com propriedade, que geralmente a pol&amp;iacute;tica externa transcorria sem engajamento da sociedade e dos &amp;oacute;rg&amp;atilde;os representativos. Mais: era algo privativo do Poder Executivo. Hoje, contudo, os parlamentos se afirmam, cada vez mais, como palavra da Na&amp;ccedil;&amp;atilde;o, tamb&amp;eacute;m na formula&amp;ccedil;&amp;atilde;o da pol&amp;iacute;tica internacional. A iniciativa, n&amp;atilde;o tenho d&amp;uacute;vida, ensejar&amp;aacute; flu&amp;iacute;do e constante di&amp;aacute;logo, antecipando-se &amp;agrave; exacerba&amp;ccedil;&amp;atilde;o de tens&amp;otilde;es e conflitos e, igualmente, estabelecendo condi&amp;ccedil;&amp;otilde;es de melhor explorar a&amp;ccedil;&amp;otilde;es conjuntas tamb&amp;eacute;m de m&amp;eacute;dio e longo prazos no plano bilateral e no regional, leia-se Mercosul.<br />Esta proposta, a levarei ao exame da Comiss&amp;atilde;o de Rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es Exteriores do Senado Federal, presidida de forma competente pelo Senador Cristovam Buarque, e propiciar&amp;aacute; ambiente de crescimento da coopera&amp;ccedil;&amp;atilde;o em todos os n&amp;iacute;veis - econ&amp;ocirc;mico, social, cultural e, sobretudo, pol&amp;iacute;tico -, em cujo territ&amp;oacute;rio se aloja n&amp;atilde;o s&amp;oacute; o arsenal de instrumentos de dissuas&amp;atilde;o de crises, mas igualmente de formula&amp;ccedil;&amp;atilde;o de medidas que instaurem exitosos projetos de interc&amp;acirc;mbio.<br />Era o que eu tinha a dizer.</p>