PROSF-27-05-05 Marco Maciel

<p>Autor Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal /PE) Data 27/05/2005 Casa Senado Federal Tipo Discurso <br /><br />O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revis&amp;atilde;o do orador.) - Sr&amp;ordf; Presidente desta sess&amp;atilde;o, Senadora Helo&amp;iacute;sa Helena, Sr&amp;ordf;s e Srs. Senadores, venho &amp;agrave; tribuna nesta sess&amp;atilde;o matutina para ferir um assunto que diz respeito a nossa pol&amp;iacute;tica externa. Refiro-me especificamente, Sr&amp;ordf;s e Srs. Senadores, &amp;agrave; quest&amp;atilde;o do nosso esfor&amp;ccedil;o de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o internacional.<br />Como &amp;eacute; de conhecimento p&amp;uacute;blico, nossa prioridade deve ser, pelo menos a meu ver, a consolida&amp;ccedil;&amp;atilde;o do Mercosul. O Mercosul n&amp;atilde;o &amp;eacute;, como disse Celso Lafer certa feita, uma op&amp;ccedil;&amp;atilde;o, mas o destino, mesmo porque, como sabemos, a geografia condiciona a hist&amp;oacute;ria de um pa&amp;iacute;s. Estarmos na Am&amp;eacute;rica do Sul e, de modo especial, sermos um pa&amp;iacute;s que se encontra no Cone Sul nos torna, naturalmente, parceiros dos pa&amp;iacute;ses que o integram.<br />Assim, nossa voca&amp;ccedil;&amp;atilde;o natural ser&amp;aacute;, certamente, a de fortalecer o Mercosul. Fortalecendo-o, adquiriremos musculatura para ter uma maior presen&amp;ccedil;a na pol&amp;iacute;tica internacional e, por que n&amp;atilde;o dizer, tamb&amp;eacute;m no com&amp;eacute;rcio exterior. Esta &amp;eacute;, certamente, a primeira e grande op&amp;ccedil;&amp;atilde;o do Brasil.<br />A segunda, obviamente, como eu n&amp;atilde;o poderia deixar de observar, diz respeito &amp;agrave; necessidade de ampliarmos o Mercosul, convertendo-o naquilo que hoje se chama Associa&amp;ccedil;&amp;atilde;o de Livre Com&amp;eacute;rcio Sul-Americana, Alcsa, compreendendo, assim, todos os pa&amp;iacute;ses da Am&amp;eacute;rica Meridional. De alguma forma, ao assim procedermos, estaremos criando condi&amp;ccedil;&amp;otilde;es para termos parcerias, para estabelecermos um bloco que compreenda os doze pa&amp;iacute;ses. Isso &amp;eacute; algo muito importante, porque nos ajudar&amp;aacute; a melhorar a nossa interlocu&amp;ccedil;&amp;atilde;o com duas outras grandes alian&amp;ccedil;as que tamb&amp;eacute;m precisamos estabelecer: com a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia - cujo acordo-quadro foi firmado em Madri, em 1995 - e com a Alca - proposta americana de 1994.<br />&amp;Eacute; bom lembrar que, quando a Alca foi proposta pelo Governo dos Estados Unidos, o Presidente daquele pa&amp;iacute;s era George Bush, pai do atual Presidente, e o Presidente eleito era Bill Clinton. O Brasil compareceu ao lan&amp;ccedil;amento da proposta, em reuni&amp;atilde;o realizada em Miami, por meio do Presidente da Rep&amp;uacute;blica &amp;agrave; &amp;eacute;poca, Itamar Franco, e do Presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso.<br />A partir dessas tratativas com rela&amp;ccedil;&amp;atilde;o &amp;agrave; Alca, surgiu a proposta de que houvesse uma bipresid&amp;ecirc;ncia, ou seja, um presidente de um pa&amp;iacute;s da Am&amp;eacute;rica do Norte, no caso os Estados Unidos, e um da Am&amp;eacute;rica do Sul, no caso o Brasil. Ent&amp;atilde;o, de alguma forma, podemos dizer que o Brasil &amp;eacute; co-presidente dessa proposta de cria&amp;ccedil;&amp;atilde;o de uma associa&amp;ccedil;&amp;atilde;o de livre com&amp;eacute;rcio que viesse a promover uma integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o hemisf&amp;eacute;rica, abrangendo a Am&amp;eacute;rica do Norte, a Am&amp;eacute;rica Central, o Caribe e a Am&amp;eacute;rica do Sul. <br />Sr. Presidente, o Mercosul tem avan&amp;ccedil;ado, mas muito aqu&amp;eacute;m do que desej&amp;aacute;vamos.<br />Se olharmos bem para essa quest&amp;atilde;o, vamos verificar que estamos perdendo tempo na consolida&amp;ccedil;&amp;atilde;o do Mercosul. <br />J&amp;aacute; Rio Branco, reputado como patrono da diplomacia brasileira, pela sua vis&amp;atilde;o, pelo seu descortino, pela maneira como negociou a defini&amp;ccedil;&amp;atilde;o das nossas fronteiras, tinha uma preocupa&amp;ccedil;&amp;atilde;o enorme com a quest&amp;atilde;o do Prata. Ele considerava ser esse talvez o ponto mais delicado da nossa pol&amp;iacute;tica externa.<br />Rio Branco exerceu o Minist&amp;eacute;rio das Rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es Exteriores durante dez anos. Acredito que os seus paradigmas, as suas propostas, os seus princ&amp;iacute;pios se consolidaram. Ele mudou um pouco o eixo da pol&amp;iacute;tica externa brasileira, e houve um acolhimento, ao longo da hist&amp;oacute;ria da pol&amp;iacute;tica externa brasileira, daquilo que anunciara.<br />Ao afastar-se do Minist&amp;eacute;rio das Rela&amp;ccedil;&amp;otilde;es Exteriores, se n&amp;atilde;o me engano em 1912, ele deixara j&amp;aacute; os nossos problemas de fronteira totalmente resolvidos. O Brasil tem muitos pa&amp;iacute;ses lindeiros, mas n&amp;atilde;o tem conflito nem aberto e nem latente com nenhum deles, gra&amp;ccedil;as em grande parte a Rio Branco, pela sua capacidade de interlocu&amp;ccedil;&amp;atilde;o pol&amp;iacute;tica, de recorrer muitas vezes &amp;agrave; arbitragem na solu&amp;ccedil;&amp;atilde;o dos problemas. Mas a sua obra tamb&amp;eacute;m passou pela preocupa&amp;ccedil;&amp;atilde;o com o Prata.<br />Volto a dizer que o Mercosul avan&amp;ccedil;ou, mas avan&amp;ccedil;ou pouco. Lamentavelmente, a sensa&amp;ccedil;&amp;atilde;o que temos hoje &amp;eacute; de que o Mercosul est&amp;aacute; ficando uma institui&amp;ccedil;&amp;atilde;o que, nos &amp;uacute;ltimos anos, tem tido mais reveses do que conquistas. Cabe &amp;agrave; nossa chancelaria e, mais do que isso, ao Governo Federal dar uma maior prioridade ao Mercosul.<br />&amp;Eacute; l&amp;oacute;gico que o Mercosul n&amp;atilde;o &amp;eacute; s&amp;oacute; o Brasil. O Mercosul, al&amp;eacute;m dos quatro pa&amp;iacute;ses do Cone Sul, tem outros membros que, posteriormente, a ele se associaram, mas ningu&amp;eacute;m pode deixar de reconhecer que o Brasil exerce uma posi&amp;ccedil;&amp;atilde;o de certa - eu n&amp;atilde;o diria de lideran&amp;ccedil;a - ascend&amp;ecirc;ncia no desenvolvimento do Mercosul, j&amp;aacute; porque &amp;eacute;, sob o ponto de vista econ&amp;ocirc;mico, o parceiro de maior porte.<br />Isso &amp;eacute;, talvez, uma marca singular do nosso Pa&amp;iacute;s. Poucos pa&amp;iacute;ses t&amp;ecirc;m tantos vizinhos - temos dez Estados vizinhos -, e n&amp;atilde;o temos problema com nenhum deles, a n&amp;atilde;o ser no futebol. Conhe&amp;ccedil;o pa&amp;iacute;ses no mundo que t&amp;ecirc;m menor n&amp;uacute;mero de Estados lindeiros e t&amp;ecirc;m enormes problemas externos, inclusive com seus vizinhos. Precisamos dar um pouco mais de &amp;ecirc;nfase ao Mercosul. Essa &amp;eacute;, talvez, a nossa quest&amp;atilde;o central.<br />Fico muito preocupado quando observo que as negocia&amp;ccedil;&amp;otilde;es n&amp;atilde;o se desenvolvem. A sensa&amp;ccedil;&amp;atilde;o que se passa para a sociedade e para o empresariado &amp;eacute; que estamos vivendo momentos de retrocesso de conquistas feitas. O Mercosul poderia estar seguindo o exemplo da Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia, que, a partir de 2007, possivelmente, se converter&amp;aacute; numa verdadeira confedera&amp;ccedil;&amp;atilde;o de estados.<br />&amp;Eacute; certo que algu&amp;eacute;m poder&amp;aacute; dizer que a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia come&amp;ccedil;ou h&amp;aacute; 50 anos, no p&amp;oacute;s-guerra, com o Tratado de Roma, que &amp;eacute; de 1957. Mas a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia adquiriu grande musculatura e, al&amp;eacute;m dos 15 pa&amp;iacute;ses que a integram, est&amp;aacute; incorporando mais 10 pa&amp;iacute;ses, o que a converter&amp;aacute; talvez na mais bem tecida pol&amp;iacute;tica de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o regional. Se quisermos tomar como modelo um tipo de associa&amp;ccedil;&amp;atilde;o de na&amp;ccedil;&amp;otilde;es, a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia &amp;eacute; hoje o nosso modelo.<br />&amp;Eacute; poss&amp;iacute;vel que, em 2007 - se tudo continuar caminhando como est&amp;aacute; -, a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia se converta numa federa&amp;ccedil;&amp;atilde;o, num estado confederado. Pela nova constitui&amp;ccedil;&amp;atilde;o, haver&amp;aacute; uma pol&amp;iacute;tica externa comum, uma moeda e que, por fim, haver&amp;aacute;, no que diz respeito &amp;agrave; defesa e &amp;agrave; seguran&amp;ccedil;a, uma a&amp;ccedil;&amp;atilde;o coordenada. Isso significa dizer que os estados membros da Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia abrem m&amp;atilde;o de parte de sua soberania em torno de um &amp;oacute;rg&amp;atilde;o central que exerceria esses pap&amp;eacute;is. <br />Isso est&amp;aacute; fazendo com que a Europa, sobretudo essa dos 25, tenha hoje uma moeda que desempenha um papel t&amp;atilde;o importante quanto o d&amp;oacute;lar americano. &amp;Eacute; talvez a segunda moeda de reserva e tende a se estabilizar como tal. Quando o euro foi lan&amp;ccedil;ado, havia muita d&amp;uacute;vida sobre seu &amp;ecirc;xito, mas hoje vemos um euro consolidado, inclusive com excelente cota&amp;ccedil;&amp;atilde;o no mercado financeiro internacional.<br />Sr. Presidente, volto &amp;agrave; quest&amp;atilde;o do Mercosul. O Governo Federal precisa dar uma maior &amp;ecirc;nfase ao Mercosul, porque esse &amp;eacute; o nosso destino. Mas n&amp;atilde;o podemos tamb&amp;eacute;m descartar as nossas op&amp;ccedil;&amp;otilde;es. O Mercosul &amp;eacute; um destino que decorre da geografia. Napole&amp;atilde;o dizia que a hist&amp;oacute;ria de um pa&amp;iacute;s &amp;eacute; a hist&amp;oacute;ria da sua geografia. &amp;Eacute; evidente que a geografia condiciona a hist&amp;oacute;ria de um povo, de um pa&amp;iacute;s.<br />Se o Mercosul &amp;eacute; um destino manifesto, se assim posso dizer, temos nossas op&amp;ccedil;&amp;otilde;es de curto prazo. Quais s&amp;atilde;o? Uma &amp;eacute; um acordo com a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia, que caminha, mas n&amp;atilde;o com a velocidade desejada. H&amp;aacute; outra: o entendimento para a cria&amp;ccedil;&amp;atilde;o da Alca.<br />Verifico, pelas &amp;uacute;ltimas palavras do Presidente da Rep&amp;uacute;blica, que Sua Excel&amp;ecirc;ncia descartou a Alca entre suas prioridades. N&amp;atilde;o entendo, n&amp;atilde;o sei as raz&amp;otilde;es dessa decis&amp;atilde;o, porque, de toda maneira, em tese, a id&amp;eacute;ia de uma integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o hemisf&amp;eacute;rica &amp;eacute; uma id&amp;eacute;ia positiva. &amp;Eacute; l&amp;oacute;gico que promover um processo de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o significa que haja um acerto para que esse bloco que surge, esse bloco que seria fort&amp;iacute;ssimo, a chamada Alca, n&amp;atilde;o traga preju&amp;iacute;zos sen&amp;atilde;o traga vantagens para nosso Pa&amp;iacute;s.<br />O fato de descartarmos, pura e simplesmente, a Alca, a meu ver &amp;eacute; um erro, sobretudo porque ningu&amp;eacute;m pode deixar de reconhecer que, na medida em que estabelecemos essa associa&amp;ccedil;&amp;atilde;o hemisf&amp;eacute;rica, se alavanca muito nosso com&amp;eacute;rcio exterior. Entendo que n&amp;atilde;o custa nada discutir essa quest&amp;atilde;o.<br />Ali&amp;aacute;s, recorro &amp;agrave; cita&amp;ccedil;&amp;atilde;o de um ex-Presidente americano, Kennedy, que, quando tomou posse, em janeiro de 1961, na Presid&amp;ecirc;ncia dos Estados Unidos da Am&amp;eacute;rica do Norte, em seu discurso disse uma frase que ainda ressoa em meus ouvidos: &quot;Nunca negocie por medo, mas nunca tenha medo de negociar.&quot;<br />A Alca &amp;eacute; uma op&amp;ccedil;&amp;atilde;o que est&amp;aacute; a&amp;iacute;. N&amp;atilde;o devemos ter medo de negociar. Pode ser que n&amp;atilde;o nos convenha, mas, em tese, por que n&amp;atilde;o discutir? Sobretudo, Sr. Presidente, se observarmos que se um acordo vier a ser constru&amp;iacute;do isso nos daria condi&amp;ccedil;&amp;otilde;es mais privilegiadas inclusive de com&amp;eacute;rcio internacional.<br />Fa&amp;ccedil;o tais considera&amp;ccedil;&amp;otilde;es porque os Estados Unidos est&amp;atilde;o concluindo agora, j&amp;aacute; que n&amp;atilde;o houve, pelo que leio nos jornais, interesse do Governo brasileiro em continuar as negocia&amp;ccedil;&amp;otilde;es da Alca - e os americanos s&amp;atilde;o pragm&amp;aacute;ticos inclusive em neg&amp;oacute;cios -, um acordo com a Am&amp;eacute;rica Central, envolvendo tamb&amp;eacute;m a Rep&amp;uacute;blica Dominicana, o chamado Cafta-DR. Com isso, naturalmente o Governo dos Estados Unidos come&amp;ccedil;a a expandir seu processo de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o. O acordo foi assinado, mas n&amp;atilde;o ratificado pelo Congresso dos Estados Unidos e, se vier a ser ratificado, certamente vai afetar o com&amp;eacute;rcio exterior brasileiro.<br />Ali&amp;aacute;s, o jornal O Estado de S. Paulo, no dia 19 de maio, observa, em editorial intitulado &quot;O Cafta e o Brasil&quot;:<br />&quot;Mais seis pa&amp;iacute;ses ganhar&amp;atilde;o acesso ampliado ao mercado americano, o maior do mundo, se o Congresso dos Estados Unidos aprovar o acordo de livre com&amp;eacute;rcio com a Am&amp;eacute;rica Central e a Rep&amp;uacute;blica Dominicana (Cafta-DR, abrevia&amp;ccedil;&amp;atilde;o em l&amp;iacute;ngua inglesa)&quot;<br />E observa, mais adiante, o editorial de O Estado de S. Paulo: &quot;Perder oportunidades comerciais, que outros governos mais prosaicos n&amp;atilde;o enjeitam, &amp;eacute; a maneira escolhida pelas autoridades brasileiras para mostrar que n&amp;atilde;o se submetem ao jugo e ao jogo das pot&amp;ecirc;ncias imperialistas.&quot;<br />O O Estado de S. Paulo, dissentindo dessa opini&amp;atilde;o, observa que tal medida certamente demonstra que os Estados Unidos procuram - pelo que ouvi das declara&amp;ccedil;&amp;otilde;es do Presidente Lula -, j&amp;aacute; que outros pa&amp;iacute;ses, sobretudo o Brasil, n&amp;atilde;o desejam discutir esta quest&amp;atilde;o, expandir suas alian&amp;ccedil;as, come&amp;ccedil;ando, notadamente, pelos pa&amp;iacute;ses mais pr&amp;oacute;ximos, os pa&amp;iacute;ses da Am&amp;eacute;rica Central, incluindo a Rep&amp;uacute;blica Dominicana, que s&amp;atilde;o pa&amp;iacute;ses com os quais, at&amp;eacute; por proximidade geogr&amp;aacute;fica, mant&amp;ecirc;m interc&amp;acirc;mbio maior.<br />Mas, Sr. Presidente, n&amp;atilde;o gostaria de encerrar minhas palavras sem dizer que espero que possamos continuar avan&amp;ccedil;ando no processo de integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o internacional. O mundo vive um acentuado processo de globaliza&amp;ccedil;&amp;atilde;o, isso &amp;eacute; reconhecido. Se desejamos ampliar a inser&amp;ccedil;&amp;atilde;o do Brasil, precisaremos recorrer a alian&amp;ccedil;as. Ou seja, em primeiro lugar, dando &amp;ecirc;nfase ao Mercosul, que &amp;eacute; nosso destino, e trabalhando as op&amp;ccedil;&amp;otilde;es: o acordo com a Uni&amp;atilde;o Europ&amp;eacute;ia, a viabiliza&amp;ccedil;&amp;atilde;o ou n&amp;atilde;o da Alca, que n&amp;atilde;o pode ser descartada sem uma an&amp;aacute;lise aprofundada de nossos interesses e enlaces com outros blocos. Agindo dessa forma, certamente criaremos condi&amp;ccedil;&amp;otilde;es para sermos um pa&amp;iacute;s que venha a ter, neste s&amp;eacute;culo XXI, um certo, n&amp;atilde;o diria protagonismo, mas, pelo menos, uma presen&amp;ccedil;a forte na sociedade internacional.<br />Eu era estudante universit&amp;aacute;rio, quando surgiu o livro Brasil, Pa&amp;iacute;s do Futuro, de Stefan Zweig, um alem&amp;atilde;o que para c&amp;aacute; veio com a esposa, fugindo do regime nazista. Aqui viveu, escreveu e morreu de forma dram&amp;aacute;tica - ele e a mulher se suicidaram -, mas deixou esse livro que marcou a minha gera&amp;ccedil;&amp;atilde;o e as gera&amp;ccedil;&amp;otilde;es subseq&amp;uuml;entes.<br />A pergunta que sempre se faz &amp;eacute;: quando o Brasil se converter&amp;aacute; em uma na&amp;ccedil;&amp;atilde;o do presente? Quando deixar&amp;aacute; de ser sempre o pa&amp;iacute;s do futuro a que aspiramos, futuro que nunca se materializa? Quando o futuro come&amp;ccedil;ar&amp;aacute; a habitar em n&amp;oacute;s antes de ocorrer? Essa &amp;eacute; a grande quest&amp;atilde;o. A meu ver, para que isso ocorra, muito j&amp;aacute; foi feito. Consolidamos a democracia no Pa&amp;iacute;s, e alcan&amp;ccedil;amos estabilidade pol&amp;iacute;tica. &amp;Eacute; uma democracia que considero robusta. O Brasil vive, portanto, numa democracia plena. Ningu&amp;eacute;m desconhece que h&amp;aacute; estabilidade institucional no Pa&amp;iacute;s. O Brasil avan&amp;ccedil;ou na estabilidade econ&amp;ocirc;mica. O real &amp;eacute; o &amp;iacute;cone - para usar uma express&amp;atilde;o da moda - da estabilidade econ&amp;ocirc;mica.<br />Estamos avan&amp;ccedil;ando, tamb&amp;eacute;m, em que pesem as dificuldades, no campo social. N&amp;atilde;o podemos deixar de dizer que alguns &amp;iacute;ndices, na &amp;aacute;rea de educa&amp;ccedil;&amp;atilde;o e de sa&amp;uacute;de, melhoraram consideravelmente. Precisamos, todavia, avan&amp;ccedil;ar em dois setores em que ainda, lamentavelmente, pouco progredimos. O primeiro, naturalmente, &amp;eacute; o campo das reformas institucionais, tamb&amp;eacute;m chamadas reformas pol&amp;iacute;ticas, que pouco progresso tiveram. Na medida em que avan&amp;ccedil;arem, certamente testemunharemos maior robustez institucional e teremos melhorado a nossa governabilidade. Precisamos avan&amp;ccedil;ar tamb&amp;eacute;m na integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o internacional. O Brasil pela sua express&amp;atilde;o demogr&amp;aacute;fica, pela sua extens&amp;atilde;o territorial, tem tudo para ser n&amp;atilde;o o pa&amp;iacute;s do futuro, mas do presente, neste s&amp;eacute;culo que se inicia, isto &amp;eacute;, neste mil&amp;ecirc;nio que nasce, sob as esperan&amp;ccedil;as de que possamos construir uma sociedade internacional democr&amp;aacute;tica, justa e desenvolvida, que seja s&amp;iacute;mbolo daquilo que &amp;eacute; o Brasil, que cultua os valores da integra&amp;ccedil;&amp;atilde;o &amp;eacute;tnica, da liberdade, da solidariedade e da conviv&amp;ecirc;ncia pac&amp;iacute;fica.<br />Muito obrigado.</p>