Beto Albuquerque-CD 02-07-20007
BETO ALBUQUERQUE (Bloco/PSB-RS. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, caro amigo Deputado Germano Bonow, que preside esta sessão, Srs. Parlamentares, distintos telespectadores da nossa TV Câmara, radiouvintes da Rádio Câmara, antes de iniciar meu pronunciamento, quero manifestar minha satisfação por participar desta sessão. Para minha honra, somos 2 dos 9 Deputados que, além das nossas atividades nesta Casa, temos tarefas no Parlamento do MERCOSUL, que, semana passada, em Montevidéu, realizou sua terceira sessão.
Quero externar aqui uma preocupação, a qual inclusive compartilho com V.Exa., quanto ao debate que se trava sobre o ingresso da Venezuela no MERCOSUL. Assisti na reunião do MERCOSUL algumas manifestações - a meu juízo - de certa forma um pouco destemperadas em relação à adesão ou não, à aceitação ou não do ingresso da Venezuela no MERCOSUL.
Isto posto, evidentemente, como cidadão brasileiro que sou, tenho senões e restrições a bravatas ou a palavras desrespeitosas que possam ter sido desferidas pelo Presidente Chávez contra o Senado e a Câmara.
Entretanto, o MERCOSUL só terá sentido se for um mercado de muitos países. O MERCOSUL composto apenas do Brasil, do Uruguai, do Paraguai e da Argentina é muito pequeno para quem precisa quebrar barreiras alfandegárias nos Estados Unidos para sua agricultura, para quem precisa abrir as portas do mercado americano para o etanol, para o biodiesel, para quem precisa aumentar a capacidade competitiva no mercado com a comunidade européia. Se não fortalecermos o MERCOSUL com a Venezuela, com o Chile e com todos os países da América, continuaremos frágeis nesse mundo globalizado que opera por meio de mercados.
Vejam, o Presidente Hugo Chávez foi desrespeitoso com o Congresso Nacional, mas o critério para um país aderir ou não ao MERCOSUL não pode ser esse. Lembro-me dos países que formaram o Mercado Comum Europeu, Deputado Rossi, que registraram diversas guerras na história, mataram-se uns aos outros, mas na hora de formar um mercado comum superaram toda sorte de discordâncias. Uniram-se em um mundo só: o Mercado Comum Europeu àquela época, hoje União Européia. Uniram-se em torno de único Parlamento, o Parlamento Europeu, e hoje todos são cidadãos europeus - um mercado forte, com moeda forte, capaz de negociar com todos os cantos do mundo.
Nós recém começamos a dar os primeiros passos para a formação do Parlamento do MERCOSUL, no qual me sinto honrado de representar esta Casa e o País. Vejo porém que a renovação ou não de uma concessão de TV na Venezuela, as palavras ditas por Chávez, com as quais não preciso concordar, passam a ser elemento crucial para o ingresso da Venezuela no MERCOSUL. Errado. O Brasil só será forte e líder de um mercado forte se tiver ao seu lado muitas nações, muitas economias, com PIB fortalecido, superando inclusive divergências. Aí, sim, o MERCOSUL será importante para todos nós.
Na semana passada, o PSDB, se não estou enganado, impediu a votação de 2 acordos assinados há 3 ou 4 anos com a Venezuela em represália às palavras do Presidente Hugo Chávez. Errado. Isso não construirá absolutamente nada. Às vezes, nós, brasileiros, no MERCOSUL - como ouvimos lá, Deputado Germano Bonow, de uruguaios, de paraguaios -, somos considerados imperialistas. Quando queremos impor condições para um país ingressar no MERCOSUL, fica parecendo que somos donos do MERCOSUL. Mas nós não somos donos do MERCOSUL. O Brasil não é dono do MERCOSUL, somos um Estado que faz parte do MERCOSUL e, se for inteligente, fará de tudo, envidará todos os esforços para superar diferenças. Um MERCOSUL forte, com muitos membros, interessará ao grande mercado que é a economia brasileira. Do contrário, ficaremos chovendo no molhado, discutindo se o arroz uruguaio é melhor do que o nosso, se a geladeira argentina é melhor do que a brasileira.
Em vez de investirmos em novo mercado, para que possamos da América negociar com a Europa, a Ásia e os Estados Unidos, ficamos com as nossas intrínsecas peculiaridades e nossos problemas, sem crescer em termos de MERCOSUL.
O Presidente Hugo Chávez, em suas manifestações, evidentemente, faz o jogo que lhe interessa, como nós também temos de fazer o jogo que nos interessa.
A polêmica com a Venezuela, em cima de questões menores ou muitas delas que dizem respeito apenas aos interesses internos venezuelanos, não interessa ao êxito do MERCOSUL, que será o êxito da nossa economia como grande país condutor e líder desse processo.
Preocupo-me quando vejo Hugo Chávez, lá de Teerã, dizendo que não vai mais integrar o MERCOSUL. Ele faz esse jogo, e alguns podem dizer: "Mas o que importa a Venezuela?" Importa muito. É um país a mais, uma economia a mais, um PIB recheado de petróleo. Interessam também o Chile, a Colômbia e todos os países da América. Quero pertencer ao MERCOSUL da América, não ao MERCOSUL de 4 países - e ainda divididos em propósitos muitas vezes distintos ou diferenciados.
Faço este registro porque, em que pesem as condutas desses ou daqueles governos, o MERCOSUL não é uma aliança de governos; o MERCOSUL é uma aliança de nações, de economias, de mercados, para que, juntos, possam fortalecer suas ações perante outros mercados.
Os governos passam. O nosso Governo e o de Chávez passarão. Outros governos virão e passarão. Mas as nações, sua gente, sua economia, sua pujança e seu desenvolvimento permanecerão. E é de olho nesse horizonte de médio e longo prazos que precisamos ser mais tolerantes, mais flexíveis e colocar, acima de qualquer interesse, o interesse nacional e o dos países latino-americanos. Se estivermos juntos, poderemos ficar muito mais fortes.
É o recado e a preocupação que desejava deixar registrados, agradecendo a V.Exa., Sr. Presidente.