Paulo Pimenta-CD 03-07-2007

O SR. PAULO PIMENTA (PT-RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quando ouvimos falar em economia, geralmente nos vêm à cabeça idéias de contenção de gastos, dificuldades, números e cálculos complexos. De fato, essas associações são pertinentes. Mas é importante ressaltar um outro aspecto da economia, que diz respeito à organização e à aglutinação dos cidadãos e cidadãs de forma solidária e cooperativa em atividades de trabalho e prestação de serviços.
O conceito de Economia Popular Solidária, nascido na década de 90 como atualização das idéias de John Stuart Mill (1803-1873), aponta para uma nova prática de combate à exclusão social e ao desemprego, e é uma alternativa para muitos que não vêem perspectivas de um futuro mais digno.
No Brasil, a extensão e a variedade da Economia Solidária são muito grandes, envolvendo mais de 2 milhões de pessoas. E tenho orgulho de dizer que na minha cidade natal, Santa Maria, no coração do Rio Grande do Sul, ela já é praticada com sucesso há muitos anos. Criado em agosto de 1987, na Diocese de Santa Maria, o Projeto Esperança/COOESPERANÇA foi idealizado pelo Bispo Dom Ivo Lorscheiter, e desde então vem mostrando o caminho da solidariedade e da dignidade a mais de 4 mil famílias, por meio de uma rede de 200 cooperativas populares. Indiretamente, são mais de 15 mil pessoas beneficiadas, incluindo consumidores, grupos de prestação de serviços e trabalhadores que lidam com resíduos sólidos. A Teia da Esperança abrange 40 pontos da rede de comercialização direta dos empreendimentos solidários.
O Projeto Esperança funciona por meio do Banco da Esperança e da Pastoral Social, integrado com a Cáritas Regional do Rio Grande do Sul, que desenvolve importante trabalho com projetos alternativos comunitários, de forma associativa.
Com organização, criatividade e resistência, essa associação representa uma reação da população - sobretudo da parte excluída - em busca não apenas de um futuro mais digno, mas também de um presente mais justo, onde se possa ao mesmo tempo ser trabalhador e empreendedor e assim crescer social e economicamente, melhorando a sua qualidade de vida e a de sua família.
A iniciativa da Diocese de Santa Maria presta, portanto, enorme serviço social, articulando e congregando as experiências de Economia Popular Solidária no meio urbano e rural e na área da prestação de serviços.
A COOESPERANÇA - Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores Rurais e Urbanos Vinculados ao Projeto Esperança foi fundada em 29 de setembro de 1989. É mais uma importante ferramenta da solidariedade que, atuando como uma central, juntamente com o Projeto Esperança, articula os empreendimentos solidários da região de Santa Maria.
Os principais eixos que o Projeto Esperança/COOESPERANÇA hoje trabalha são a importância da organização e da formação nas formas associativas de trabalho e as ações que induzam o fortalecimento da Economia Popular Solidária, sobretudo por meio da agricultura, da agroecologia e das agroindústrias familiares, do artesanato e da confecção, e dos catadores e trabalhadores de resíduos sólidos. Mas mais do que tentar garantir a sobrevivência, os integrantes do projeto resgatam a auto-estima e promovem o acesso à cidadania.
A Irmã Lourdes Dill, pessoa de enorme coração e com uma história de trabalho compromissado com o resgate da dignidade humana e com a inclusão dos mais pobres é a atual coordenadora do projeto. De maneira criativa, Irmã Lourdes reinventa a economia, ajudando a fomentar o cooperativismo alternativo no meio urbano e rural, fortalecendo novos empreendimentos, gerando trabalho e renda, e estimulando a organização, a solidariedade e a ética como valores fundamentais na formação e na educação das pessoas.
Pensando nisso, o Projeto Esperança/COOESPERANÇA realiza o maior evento do cooperativismo alternativo e da Economia Solidária não só do Rio Grande do Sul e do Brasil, mas também de toda a América Latina. Neste ano, a 3ª Feira da Economia Solidária do MERCOSUL acontece entre os dias 6 e 8 de julho, em Santa Maria, Rio Grande do Sul. A Feira, que teve a sua primeira edição em 1994, com 27 empreendimentos, 13 municípios participantes e público de 4 mil pessoas, hoje é um dos maiores eventos do gênero.
Gostaria também de registrar o trabalho e a parceria com o Governo Federal, que contribuiu com recursos no valor de 100 mil reais para o projeto. Agradeço antecipadamente a visita ao Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que irá a Santa Maria prestigiar ainda mais o evento.
Paralelamente à Feira, acontecem ainda uma multiplicidade de atividades como a 14ª Feira Estadual do Cooperativismo, a 6ª Feira Nacional de Economia Solidária, a 7ª Mostra da Biodiversidade e Feira da Economia da Agricultura Familiar e o 1º Seminário Latino-americano de Economia Solidária.
A Irmã Lourdes Dill afirma há 20 anos que "quando uma pessoa mostra convicção, testemunho e certeza, ela aglutina". Reafirmo aqui as suas palavras e, mais uma vez, ressalto a importância do trabalho de pessoas como ela e como Dom Ivo na formação da nossa sociedade, que não seria tão injusta se houvesse mais Lourdes e Ivos por aí.
Convido, então, todos para visitarem a Feira do Cooperativismo, em Santa Maria, que se inicia na próxima sexta-feira, 6 de julho.
Muito obrigado.