Marcondes Gadelha-CD 03-12-2007

O SR. MARCONDES GADELHA (Bloco/PSB-PB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, recebemos, com certo alívio, a manifestação do povo venezuelano nas urnas do referendo realizado neste domingo, dia 2 de dezembro.
Não é o caso de tripudiar sobre o governo vencido, que de resto teve a grandeza de reconhecer o resultado de imediato; mas de enfatizar que a vitória do "não" contribui decisivamente para a estabilidade democrática na América Latina. E esse é o ponto que nos diz respeito.
O chamado socialismo bolivariano fazia proselitismo, ameaçava se alastrar pela Cordilheira dos Andes e incomodava, Sr. Presidente, nem tanto pelo seu conteúdo ideológico meio arrevesado ou pelo seu background histórico, igualmente confuso, já que foi precisamente Karl Marx o autor do texto mais contundente e agressivo, diria até mais calunioso, contra a pessoa de Simón Bolívar, o seu estilo de liderar, a sua imagem histórica e o próprio legado de sua saga libertária.
O socialismo bolivariano preocupava mais pelas suas implicações políticas, já que propunha a instauração de um centralismo autoritário, com a derrogação do princípio fundamental da convivência democrática: a rotatividade do poder, ou seja, a possibilidade de uma oposição legal chegar ao poder por meios pacíficos. Tudo isso acompanhado dos adereços tradicionais: o populismo, o culto à personalidade, o constrangimento às liberdades cívicas e a mística do inimigo externo.
Por conta desse último dispositivo de marketing, diatribes e animosidades foram contraídas pela Venezuela com vizinhos e terceiros países, em diversos continentes, o que de resto acabava trazendo mais combustível para os que, no Brasil e em outros países do MERCOSUL, se opunham ao ingresso da Venezuela em nosso bloco geopolítico. O resultado, de certa forma, já era esperado.
Estive na Venezuela semana passada, e era visível a tendência da população em negar poderes excepcionais ao Presidente Hugo Chávez.
As pesquisas de opinião mostravam, flagrantemente, uma tendência para a vitória do "não". Uma eleição realizada na Federação dos Universitários da Venezuela, equivalente à UNE naquele país, deu acachapante vitória à oposição: 58 mil votos para o candidato da oposição contra apenas 13 mil votos ao candidato situacionista. A dúvida era se os resultados seriam homologados, ou seja, se a vitória do "não" teria força cogente para impedir as mudanças que propunha o Presidente da República venezuelana.
Mas agora tudo isso é passado. O dado importante a celebrar nesse momento é que a oposição venezuelana faz um apelo à reconciliação. E é isso que devemos buscar no Brasil também, assim como em outros países da América Latina. É hora de ensarilhar as armas. É hora de cessar essa desconfiança em relação à Venezuela, abrirmos, sim, os braços aos nossos irmãos andinos e acolher a Venezuela nos quadros do MERCOSUL, tendo naquele país um parceiro, doravante cada vez mais confiável na construção dessa pátria grande com a qual, aí sim, sonhou Símon Bolívar.
Obrigado.