PROCD-16-11-2005 Francisco Turra

Sessão: 305.3.52.O Hora: 15:00 Fase: GE Orador: FRANCISCO TURRA, PP-RS Data: 16/11/2005

O SR. FRANCISCO TURRA (PP-RS. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a agricultura brasileira vive hoje a maior crise dos últimos 30 anos. Como conseqüência dela, o País terá em poucos anos de conviver com inúmeros problemas. Toda a Nação sofrerá as conseqüências pelo tratamento absurdo que o agronegócio está recebendo da esfera governamental, especialmente em relação ao produtor. A crise, eu diria, é muito do produtor brasileiro.
O Governo enfiou a cabeça num buraco escuro, não enxerga a gravidade do problema e também não decide ouvir a voz daqueles que conhecem a realidade e sabem da importância do agronegócio para a economia brasileira. Não há ação que não enseje uma reação. Os fatos a que estamos assistindo hoje terão reações danosas para o País e, com absoluta certeza, isso representará um retrocesso imenso, difícil de ser recuperado.
Não teremos apenas safras menores. Aliás, estava vendo, Deputados Ivan Ranzolin e Zonta, que tínhamos em 2001 uma safra de 91 milhões de toneladas; em 2002, de 120 milhões de toneladas; caímos em 2003 para 119 milhões de toneladas; em 2004 para 113 milhões de toneladas; e vamos cair - tomara que não, mas é um prenúncio - novamente este ano. Estamos vivendo um momento muito difícil.
O sinal vermelho já foi aceso há muito tempo. Só que o sinal vermelho que vem do campo não é como o do semáforo, que se apaga rapidamente. Ele sinaliza claramente para o aumento da inflação, para alimentos mais caros, para a queda violenta das exportações, afetando gravemente a balança das exportações.
Esse quadro não é pessimista, muito menos pode ser visto como uma ameaça do setor que mais contribui com a economia deste País chamado Brasil. O quadro representa a mais fria, crua e matemática realidade, pois é no agronegócio que o Brasil sustenta e sempre sustentou sua economia.
É inquestionável que a situação macroeconômica brasileira vai-se deteriorando. Da mesma forma, é inquestionável que o PIB nacional será reduzido. Esses são os primeiros elementos que o Governo Federal está colocando no paiol de pólvora. A eles soma-se a vulnerabilidade do País, que irá aumentar de forma abrupta, fazendo a inflação reaparecer já em 2006.
Com a crise na agricultura, o crescimento econômico será reduzido em relação aos 3 últimos anos. Basta ver as estatísticas. A relação dívida/PIB voltará a subir, pois haverá redução das receitas com as exportações.
Portanto, Sr. Presidente, a tragédia da agricultura vai estender seus tentáculos a outros setores. É apenas uma questão de tempo para que tenhamos de amargar crises quando poderíamos colher abundância, fartura, riquezas, emprego e aumento na balança de exportação.
Realmente o tema é instigante.
Ouço, com prazer, o Deputado Zonta.
O Sr. Zonta - Deputado Francisco Turra, V.Exa. traz para o Grande Expediente de hoje tema de grande importância, em temos sociais e econômicos, para o nosso Brasil, tema esse que representa a vocação do nosso País. O agronegócio, a agricultura, a pecuária, as águas, tudo o que é produzido na terra e nas águas é a vocação histórica do passado, do presente e do futuro do Brasil. V.Exa. apresenta em números aquilo que representa o agronegócio. Certamente, há preocupações. Não se trata de um quadro desanimador, mas realista. Só os que vislumbram apenas números e entendem que os lucros dos bancos resolvem o problema do País não sabem compreender tal quadro. O momento é grave, de alerta geral, de socorro. E V.Exa. traz esse tema palpitante para ser discutido, no momento em que vemos o ressurgimento da febre aftosa no Mato Grosso do Sul; a indefinição - tomara que não seja confirmada - da febre aftosa no Mato Grosso; no momento em que paira no ar e voa sobre nós a gripe aviária - que aliás é um mal mundial, mas vamos trabalhar para evitá-lo; no instante em que os fiscais agropecuários estão em greve e sustando o abate de suínos e aves dos Estados do Sul e Centro do País. Repito: o momento é grave e se soma aos números já citados por V.Exa. no que se refere à redução do plantio e à falta de recursos adequados para o momento. Em vez de disponibilizarmos mais dinheiro para o setor - isso não é culpa apenas do Governo, mas dos Governos -, vemos o Banco do Brasil e o BRADESCO divulgarem a obtenção de lucros extraordinários. O Banco do Brasil teve um lucro superior ao do ano passado, aumentou em 51,3%. Nos primeiros 9 meses do ano passado, seu lucro foi de 3,4 bilhões de reais. Isso acontece com um banco oficial! Aonde queremos chegar? Ao cumprimentarmos V.Exa., deixamos esse alerta para sua reflexão e ação do povo brasileiro, porque a sociedade organizada vai mudar as coisas. Parabéns, Deputado Francisco Turra.
O SR. FRANCISCO TURRA - Deputado Zonta, agradeço seu aparte. V.Exa. foi Secretário de Estado, e muitas vezes peregrinamos o mundo em missões importantes para vender a imagem do Brasil. É óbvio que hoje estamos absolutamente sentidos ao ver que o agronegócio brasileiro, grande negócio no Brasil, sofre uma crise.
Ouço, com prazer, o aparte do Deputado Ivan Ranzolin.
O Sr. Ivan Ranzolin - Deputado Turra, não quero cortar o raciocínio de V.Exa., muito menos interromper a seqüência coerente de seu pronunciamento, mas, vendo V.Exa. na tribuna tratando do agronegócio e da pecuária, não posso deixar de fazer justiça mais uma vez e dizer que V.Exa., quando Ministro da Agricultura, foi pioneiro. V.Exa. foi o homem que começou a fazer a abertura rumo ao mercado internacional, que começou a dar amparo ao produtor agrícola. Depois de V.Exa. veio o Ministro Pratini de Moraes, que já pegou caminhando uma proposta e teve sucesso absoluto no mercado internacional. Levaram-se anos para que obtivéssemos resultados. E agora, Deputado Francisco Turra, em 1 ou 2 anos, vamos perder uma conquista de mercado e de produção de 10 ou 12 anos. É inadmissível que o Presidente da República ou o Governo diga que os produtores estão exportando uma barbaridade, que o Brasil está tendo superávit na mercancia internacional, quando na realidade levamos 10 anos para conquistar mercado, e 6 meses para perder. Por isso, quero cumprimentar V.Exa. e dizer que estamos perdendo grandes espaços no mercado internacional não só na agricultura, mas também na indústria. E por isso precisamos ter cuidado. Farei um pronunciamento amanhã mostrando os resultados do Brasil, o que vem acontecendo com a nossa indústria nos últimos meses. V.Exa. tem muita autoridade para falar nesse assunto, pois o conhece muito bem. Parabéns.
O SR. FRANCISCO TURRA - Obrigado, Deputado Ivan Ranzolin, pelo aparte que me estimula, porque V.Exa. é de um Estado produtor e amigo do produtor brasileiro.
Ouço, com prazer, o nobre Deputado Mauro Benevides.
O Sr. Mauro Benevides - Nobre Deputado Turra, a exemplo dos nossos eminentes colegas Zonta e Ivan Ranzolin, cumprimento V.Exa. pela abordagem profunda e com pleno conhecimento de causa dessa temática, em torno da qual sua autoridade é inquestionável. E me permito aditar a esses dados que V.Exa. começa alinhar a realidade do meu Estado. Não temos tradição de grande exportador. A nossa previsão esse ano era de 1 bilhão de dólares, mas a julgar pela informação de um dos líderes empresariais mais categorizados, Jorge Parente, talvez cheguemos apenas a 800 milhões, o que se situa rigorosamente nesse quadro que V.Exa. apresenta para advertir o Governo de uma realidade que é indiscutivelmente adversa.
O SR. FRANCISCO TURRA - Muito obrigado, Deputado Mauro Benevides, V.Exa. que foi Presidente do Congresso Nacional, dignifica nosso alerta e o corrobora para que efetivamente possamos também contribuir para que o País entenda que o agronegócio é para todos nós algo muito especial e sagrado.
No meio rural brasileiro o Governo conseguiu a opinião unânime dos produtores brasileiros: é o Governo que menos investiu e freou o progresso que era visível. Opinião compartilhada até pelos mais idosos, o que deixa claro que a comparação com outros Governos vai bem mais longe do que se pensa. A agricultura está no limite do suportável, enquanto os bancos estão com os cofres no limite da possibilidade de lucro. E o pior é que o Governo está no limite da irresponsabilidade com a Nação, apesar do esforço heróico do nosso bravo Ministro da Agricultura.
O Presidente parece desconhecer a crise. Não lê, não assiste TV, não escuta rádio, não conversa com assessores e Ministros e usa a desculpa de uma nota só: não sabia. Só que nada fez quando o Ministro da Agricultura cansou de avisar que problemas sanitários, como o da febre aftosa, poderiam ocorrer no País.
Sempre o advertimos.
O Presidente também não sabia que o orçamento de R$ 169 milhões para a defesa sanitária foi cortado, em nome do superávit primário, e ficou reduzido a R$ 37 milhões. O Presidente não sabia, lamentavelmente. Mais lamentável ainda é assistir ao desastre em setor que exporta só de carne bovina 6 bilhões de dólares ao ano e poderia exportar 14 bilhões. De toda essa receita não se consegue tirar mais do que 37 milhões para defesa agropecuária, animal e vegetal. Tudo por causa de corte orçamentário que o Presidente diz que não sabia.
Somos o maior exportador de carne do mundo e mesmo assim descuidamos da nossa sanidade animal e vegetal, que é a qualidade. É algo que nos estarrece, sinceramente, e estamos tristes ao fazer este pronunciamento.
Só que o Presidente diz que sabe que o culpado pela febre aftosa é o pecuarista. Não é de hoje que o Ministério da Agricultura trabalha com recursos escassos na política de vigilância sanitária. Embora não seja um privilégio deste Governo, nunca se investiu tão pouco neste importantíssimo programa. Uma economia de R$ 162 milhões que custam e custarão muitos bilhões ao Brasil. Pais que exportava 22 milhões de dólares por dia só em carnes.
O Governo até pode tirar proveito político da atual situação com a redução de preços de vários produtos. O consumidor, é lógico, está gostando. Só que haverá redução da produção e, é claro, queda de oferta de produtos. O preço vai aumentar e até mesmo superar os valores anteriores à crise. Aí, o consumidor - é mais do que lógico - não vai gostar. Mas, infelizmente, é o que já está acontecendo e será consumado em 2006. E tem um detalhe: se os preços subirem em plena campanha eleitoral, o Presidente voltará a jogar a culpa nas costas dos produtores rurais.
Ouço, com prazer, o nobre Deputado Darcísio Perondi.
O Sr. Darcísio Perondi - Deputado Francisco Turra, parabéns pelo pronunciamento. V.Exa. conhece mais do que ninguém a agricultura brasileira, uma vez que foi Ministro do Governo Fernando Henrique Cardoso, que lhe dava força. V.Exa. sofria um pouco com o Ministro da Fazenda, eu me lembro, mas não como o Ministro Roberto Rodrigues está sofrendo nas mãos do Presidente Lula, do Ministro Palocci e do Ministro Paulo Bernardo. Roosevelt, o grande presidente da recuperação dos Estados Unidos na década de 1930, dizia que quando as cidades forem destruídas, os campos irão reconstruí-las, mas quando os campos forem destruídos, serão destruídas as cidades e os campos. Os Ministros Palocci e Paulo Bernardo têm de ir embora, e o Presidente Lula ainda está em tempo de acordar para isso. Parece que não existe lavoura no Brasil. E agora não é só de cultura de exportação e extensão. O PRONAF não chega na ponta para o pequeno agricultor. O que está acontecendo? Vamos ter de fazer romaria? Vamos ter de rezar? Muito obrigado, Deputado Francisco Turra.
O SR. FRANCISCO TURRA - Obrigado a V.Exa., Deputado Darcísio Perondi.
Concederei a palavra aos Deputados Costa Ferreira e José Thomaz Nonô, nosso Vice-Presidente, que vai honrar muito este Parlamentar que trata de um tema realmente apaixonante para todos nós, porque é a nossa grande vocação.
Digo até o seguinte: o Governo, neste momento, pode estar até feliz e afirmar: os produtos nos supermercados estão sendo vendidos a preço barato. Temos permitido que o consumidor festeje.
Os preços têm caído, mas vão aumentar e até mesmo superar os valores anteriores logo depois da eclosão dessa crise. Diante disso, o consumidor, é mais do que lógico, não vai gostar, nem o Governo. Infelizmente é o que tem acontecido e será consumado em 2006.
E tem um detalhe: caso os preços subam em plena campanha eleitoral, pagará o produtor, que será o grande e único culpado, o vilão, e não o Governo. Neste ano, preços baixos. Sábio e inteligente é o programa de Governo.
Ouço, com prazer, o Deputado José Thomaz Nonô.
O Sr. José Thomaz Nonô - Nobre Deputado Francisco Turra, assistia do gabinete ao oportuno, lúcido e positivo pronunciamento de V.Exa. e me apressei para solicitar-lhe pequeno aparte. Em primeiro lugar, minha solidariedade total ao Ministro Roberto Rodrigues. Aliás, S.Exa., que é homem brilhante, um ícone, um paradigma na agricultura brasileira, na realidade é também o grande perdedor nesse processo, como aliás S.Exa. reconhece. Emprestou o seu talento, o seu currículo, toda a sua habilidade e capacidade de negociar exercida durante décadas ao Governo Lula. Faço neste instante um pequeno reparo ao que disse o amigo Darcísio Perondi, que me antecedeu, em seu aparte. Na realidade quem tem de sair não é o Ministro "a" ou o Ministro "b". Quem tem de sair é Lula. É este Governo que não é voltado para ninguém, além do seu próprio e doentio umbigo. Esse é o problema, Deputado Francisco Turra. Há 15 dias cheguei da Europa e lá vi a febre aftosa na ponta, no terminal. Refiro-me a um quadro-negro de um bistrô onde se lia: "Nossa carne vem do Brasil". Fazem, então, um X, de giz, e escrevem: "da Alemanha". Esse mercado está irremediavelmente perdido. Só um idiota monumental pode presumir que mercado que se perde se reconquista do dia para a noite. Vou dar a V.Exa. apenas duas colaborações com coisas do Nordeste, porque os discursos nesta Casa são feitos com viés do Sul. Assistimos à importação de coco ralado em proporções abismais, o que desemprega 600 mil pessoas no Nordeste. Sabe como isso está sendo feito? Com fraude na guia de importação na Receita Federal. O Secretário da Receita Federal foi notificado, mas depois da notificação já importaram uma barbaridade de coco ralado, desempregando nosso agricultor. É isso que acontece neste Governo. Cana-de-açúcar: dizem que vai bem, por uma perspectiva. No Nordeste, a seca arrasou a safra passada e compromete a do futuro. E o que faz o Governo Lula? Absolutamente nada. Coisa nenhuma. Felicito V.Exa. porque traz, com a voz abalizada de quem é ex-Ministro do setor, depoimento importante nessa fase crítica que vive a agricultura. E, por último, Deputado Francisco Turra, é inconcebível que alguém trabalhe contra si próprio. Lula, ao colocar obstáculo à agricultura brasileira, trabalha contra seu próprio Governo e contra o País.
O SR. FRANCISCO TURRA - Obrigado, Deputado José Thomaz Nonô. V.Exa., sensível a esse apelo do País, está conosco fazendo coro a tantos que ainda esperam, no restante de tempo que ainda tem este Governo, que seja corrigido o mal que ele mesmo faz ao nosso País.
Sras. e Srs. Deputados, a crise na agricultura tem reflexos diretos na inflação. O IPC, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômica - FIPE da primeira quadrissemana de julho deste ano, apresentou deflação de 0,13%. Tudo se explica pela queda nos preços dos alimentos, que influenciou decisivamente na inflação negativa. Da mesma forma que assistimos a essa deflação, podemos esperar para julho de 2006, quando faltar alimentos no mercado e os preços subirem, aumento da inflação e desestruturação da nossa economia.
Sei que há forte tom de pessimismo em meu pronunciamento. Mas, Sr. Presidente, não há como falar com otimismo diante de quadro tão desalentador como o atual. Um estudo da CNA e do CEPEA/USP mostra que o PIB da agropecuária em 2005 será de R$ 148 bilhões e 940 milhões, valor 7,3% menos que os R$ 160 bilhões e 650 milhões do ano passado. A agricultura tem os piores resultados e deve fechar 2005 com PIB de R$ 83 bilhões e 650 milhões, valor 12,3% menor que no ano passado. A pecuária deveria fechar o ano com R$ 65 bilhões e 290 milhões, ou seja, quase ficou estagnada mesmo com tanta exportação, mas perderá e se retrairá ainda mais com a crise da febre aftosa. Há - isto é grave - 600 mil produtores inadimplentes por falta de renda no campo.
O Sr. Pauderney Avelino - Permite-me V.Exa. um aparte?
O SR. FRANCISCO TURRA - Com prazer, Deputado Pauderney Avelino.
O Sr. Pauderney Avelino - Parabenizo V.Exa., Deputado Francisco Turra, que foi Ministro da Agricultura do Governo passado e desempenhou belíssimo e eficiente trabalho à época, pelo pronunciamento de cátedra que faz sobre a crise na agricultura brasileira. Esperávamos que o atual Ministro da Agricultura também desse prosseguimento ao trabalho iniciado por V.Exa., que colocou o Brasil em primeiro lugar na exportação de bovinos, de aves, e de grãos. Mas, infelizmente, hoje constatamos que houve outras priorizações e perdemos a liderança desses mercados. Lamentavelmente, o Governo marqueteiro privilegia o marketing em vez da ação. Congratulo-me, portanto, com V.Exa. por expressar em seu discurso a realidade da economia brasileira.
O SR. FRANCISCO TURRA - Agradeço ao Deputado Pauderney Avelino o aparte.
São vários fatores juntos que empurraram a agricultura para a crise atual. Perdas na produção, sem dúvida, é uma delas. Estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB mostra que a agricultura deixou de colher 19,5 milhões de toneladas de grãos este ano, em relação a estimativas iniciais. Vieram as quedas de preços pagos às principais commodities. O produtor brasileiro viveu um ano com caneta vermelha na mão, contabilizando perdas na colheita e na comercialização. Os insumos e as máquinas subiram 60% ao ano e os produtos colhidos foram vendidos com redução de preço 40% em relação ao ano passado. O dólar, no plantio, R$ 3,40; o dólar na colheita, R$ 2,30, casamento impossível que está devastando a capacidade da nossa agricultura.
E a crise não escolhe produtos nem produtores. Ela se instala caprichosamente no campo do algodão, do arroz, do trigo, da soja, do milho - não importa, até o trigo está sem preço, embora sejamos dependentes.
Dados do faturamento da agropecuária, medidos por meio do conceito de Valor Bruto de Produção - VBP também confirmam que a crise é geral e quase irrestrita. O Valor Bruto da Produção dos 25 produtos do setor é estimado em R$ 167 bilhões, em 2005, com queda de 14,6% em relação ao ano passado. Não é possível. O Valor Bruto da Produção da soja, principal cultura das lavouras brasileiras, deverá ser de R$ 24 bilhões e 900 milhões; foi no ano passado de R$ 41 bilhões. Efeito trágico da queda dos preços médios de comercialização. Em junho do ano passado, o produtor recebia R$ 830,00 pela tonelada da soja, e, em junho deste ano, recebeu apenas R$ 500,00.
Os agricultores estavam confiantes e produziram 121,9 milhões de toneladas de grãos na safra 2004/2005. Este ano ela cai, aumentaram em 1 milhão de hectares a área plantada, quando poderíamos lutar pela produtividade sem agredir a natureza - País pródigo. Aí vieram os problemas climáticos, seca no Sul, irregularidades de chuva no Centro-Oeste, queda da produção. Momento, portanto, extremamente difícil. A produção apresentou uma perda de 18,2 mil toneladas de grãos. Ou - para ser melhor entendido pelos técnicos do Governo - exatos R$ 10 bilhões. Do alto de sua sabedoria, o Presidente bem que poderia dizer que também é culpa dos produtores. Mas também não é. Ele não tem culpa por não ter um seguro rural eficiente. A culpa maior é do Governo que não colocou em prática a Lei nº 10.823 de 2003, por não disponibilizar recursos para sua implementação.
O resultado foi um só. O produtor rural - que já trabalha faça chuva ou faça sol - ficou literalmente a descoberto. Ficou com a enxada na mão e o prejuízo no bolso. Situação bem diferente de outras nações. Na Argentina ou nos Estados Unidos, por exemplo, o produtor seria indenizado. Aqui, não! No Brasil ele tem de pagar, tem de tirar dinheiro de seu bolso, o mesmo bolso que não recebeu nenhum centavo pelo seu trabalho. No Brasil não existe seguro rural e só resta ao produtor a política da renegociação da dívida. Esta, além de humilhante, sempre cai na cabeça do produtor.
Sr. Presidente, esse tema deve ser abordado todos os dias por todos aqueles que pensam no País, que pretendem ajudar o Governo Lula a sair deste difícil momento e a retomar o caminho do desenvolvimento, com a geração de emprego e de renda. Nunca se viu crise como a atual. Não é possível continuar com a cabeça escondida no buraco.
Repito, 600 mil produtores brasileiros estão no CADIN, não têm crédito oficial ou rural. É lamentável. Nós, da Comissão de Agricultura - estão aqui os Deputados Moacir Micheletto e Waldemir Moka -, ouvimos o dia inteiro os lamentos dos produtores e ficamos aflitos com o sofrimento deles. Na cadeia do agronegócio estamos matando o essencial: o produtor. É a crise do produtor brasileiro!
Produto por produto, todos foram nocauteados por lutadores de grande envergadura. O algodão teve redução no faturamento bruto de R$ 1,5 bilhão, em decorrência da queda de 35% nos preços médios. O produtor pode vender tudo o que tem e ainda assim terá prejuízo. No arroz, além dos preços baixos a competição com o arroz produzido nos países do MERCOSUL só deixou uma certeza para o produtor: ter plantado prejuízo. No milho, a queda no faturamento foi de R$ 3,9 bilhões. Foi só prejuízo. Com a soja, os preços de venda nem cobrem os da produção.
O produtor perdeu a esperança. Logo a esperança, que sempre foi a alma e o coração a mover braços e pernas deste bravo cidadão brasileiro. A esperança começou a morrer quando a outra "esperança" assumiu o Palácio do Planalto. E não sobram motivos para o óbito da esperança do agricultor. Esperavam a liberação de recursos, operação com as linhas de R$ 3 bilhões do BNDES e Banco do Brasil. Esperaram, e nada! Veio o tratoraço de junho. Pressionado, o Governo aceitou limitar em 8,75% os juros pagos na linha do BNDES, e mais nada.
O dono da bola é o Ministro da Fazenda e ele está decidido a continuar assentado na bola e não permitir que ninguém jogue. Ele ainda tem o apito e manda e desmanda na partida. Se o produtor cobrar promessas de autorizar a reavaliação dos ativos dados pelos produtores como garantia dos empréstimos renegociados, o Ministro sopra o apito e marca pênalti. Se o produtor pedir a prorrogação das dívidas securitizadas, ele apita e expulsa o "infrator". E quando se fala em verbas de custeio da safra 2005/2006 ele sai de fininho, escoltado pela sua tropa de choque.
E assim vive o produtor brasileiro. O bravo produtor rural brasileiro. Enquanto produtos agrícolas são importados dos países do MERCOSUL, os produtores são proibidos de comprar defensivos agrícolas mais baratos dos países do MERCOSUL. Como se vê, a deficiência de logística que atinge o setor rural tem origem na ótica do Governo atual. Se a distância média entre área de produção e o porto para exportação é de mil quilômetros, resultando um custo alto para o produtor, o custo é ínfimo e insignificante perto da distância que o Governo está do agronegócio brasileiro. A distância é incomensurável, mas tenho certeza que o agronegócio está no Brasil e o Governo no mundo da lua.
Ouço, com prazer o nobre Deputado Waldemir Moka, que fará a síntese do pensamento dos membros da Comissão de Agricultura.
O Sr. Waldemir Moka - Parabenizo V.Exa., nobre Deputado Francisco Turra, que já foi Ministro da Agricultura e, sem dúvida alguma, é um dos Parlamentares mais representativos e respeitados da nossa Comissão, pelo pronunciamento. Infelizmente, V.Exa. está retratando o que acontece no País. Mas, desta vez, o Governo não poderá dizer que não sabia de nada. Tivemos o cuidado, nos vários pronunciamentos que fizemos da tribuna desta Casa, de alertar a Nação sobre a reincidência da febre aftosa. E agora temos novo foco da doença, que deverá acontecer também no próximo ano. Que o Governo não alegue novamente que não foi alertado.
O SR. FRANCISCO TURRA - Sr. Presidente, encerro com uma frase emblemática para mim: os países ricos não apóiam o produtor porque são ricos, eles são ricos porque um dia souberam apoiar e acreditar no produtor. Faço esse desabafo em nome de milhões de brasileiros e brasileiras que não podem falar e mesmo falando não são ouvidos. Faço-o acreditando que o Presidente Lula, como eu, é um brasileiro que quer o bem do Brasil, mas que sofre as amarras de uma equipe econômica que não viu o milagre da multiplicação das sementes, que acontece nos campos e não nos gabinetes da burocracia.
Muito obrigado. (Palmas nas galerias.)