PROCD-14-12-2005 Maria Lúcia Cardoso

Sessão: 330.3.52.O Hora: 19:08 Fase: BC Orador: MARIA LÚCIA CARDOSO, PMDB-MG Data: 14/12/2005

A SRA. MARIA LÚCIA CARDOSO (PMDB-MG. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, presto neste momento homenagem ao Conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais Dr. Flávio Régis de Moura e Castro que foi eleito, no último dia 13 de novembro, Presidente da ASUL, a Associação de Entidades Oficiais de Controle Público do Mercosul. Essa entidade é composta por 57 associados, sendo que 33 são do Brasil e os demais, de países de toda a América Latina.
O objetivo dessa entidade é desenvolver relações internacionais com todos os Tribunais de Contas de países da América Latina.
Aqui fica, portanto, a minha homenagem ao ilustre Conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais, hoje Presidente da ASUL.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desejo ainda tratar de outro assunto. O motor da história para as mulheres sempre foi a luta. As mulheres nunca receberam, por direito social que lhe fosse devido ou por benevolência do poder, qualquer tipo de abertura de espaço político.
Esse é o resumo da história das relações humanas, seja antiga, seja moderna.
Tudo que a mulher conquistou foi com muita luta, com muita abnegação, até mesmo por necessidade de respirar após sentir na pele, durante séculos, milênios, suas conquistas e seus direitos lhe serem negados, usurpados.
Não venho ao Congresso repetir uma cantilena feminista. Mas não posso deixar, como representante das mulheres das Minas Gerais, de utilizar esta tribuna para cobrar direitos femininos.
Direito de trabalho. Direito de dignidade. Direito de ter uma renda compatível com as necessidades de sua família.
Direito de estudar seus filhos e vê-los em um emprego condigno.
Direito de sentir-se em segurança juntamente com todos os seus familiares.
Direito de ser representada nas instâncias de poder e, mais do que isso, de também poder representar os diversos segmentos da sociedade em todas as escalas de poder.
A despeito das conquistas históricas da mulher, hoje comandando países da expressão, do poderio da Alemanha, onde Angela Merkel assumiu a chefia de Governo, ainda há enormes percalços a serem vencidos.
A conquista de espaço pela mulher nunca deixou de ser árdua. Não me refiro apenas às mirabolantes epopéias históricas ou à travessia sofrida relativa a cargos importantes - a exemplo do que fez a chanceler alemã - que mulheres que ousaram tiveram de enfrentar. O cotidiano já escancara toda a desigualdade.
No lar, é comum se ver, depois de um dia estafante no trabalho, onde, estatisticamente, a mulher ganha bem menos do que os homens para o exercício de tarefas iguais, ela ser submetida à dupla jornada de serviço: tem de cuidar da casa, dos filhos, da alimentação e da higiene, da organização da família, senão será apontada como irresponsável ou omissa com seus presumíveis deveres.
São essas as inúmeras "Marias" que nós mulheres Parlamentares representamos no Congresso, com a obrigação de sermos condizentes com o resgate de seus direitos e de sua dignidade.
Bem lembrou a poeta mineira Adélia Prado, no poema As palavras e os Nomes:
"Meu nome agora é nenhum
diverso dos muitos nomes
que se incrustaram no meu".
Pois bem, nosso nome, de todas as Parlamentares, é nenhum, pois representamos todas aquelas que não têm voz, que não podem desentranhar o seu grito e dizer de uma vez por todas: basta!
Nós, as 45 Deputadas Federais e as 11 Senadoras, em exercício no Congresso, de diversos partidos, à direita, à esquerda, ao centro, somos representantes dessa história de luta, de abnegação, de suor e lágrimas, de renúncias pessoais, a favor de mudanças na sociedade.
Sabemos, nós todas, o preço pago pelas famílias em uma sociedade que nega a muitos os direitos mais elementares, como o trabalho, o alimento condigno, a educação, a segurança.
Sabemos, nós todas, em nossa pele, qual foi o preço pago para se chegar ao Congresso, qual é o preço que a mulher paga por desafiar o coro dos contentes da sociedade patriarcal.
Minha homenagem a todas essas mulheres que mostram espírito de luta e ética - acima de tudo ética - no trabalho parlamentar e social.
É necessário recordar que, no redemoinho de denúncias de corrupção que assola o País desde a época do impeachment do então Presidente Fernando Collor, passando pelo escândalo dos "anões" do Orçamento, até as escabrosas e escancaradas corrupções da atualidade, raríssimas mulheres foram denunciadas ou comprovadamente estiveram envolvidas na comercialização e no desfiguramento da política.
Não é por acaso que, ao lançar meu nome à convenção partidária que definirá o candidato do PMDB mineiro ao Senado, tenho de me acautelar contra o machismo, contra a imposição, a priori, de que essa candidatura terá de ser supostamente masculina.
Isso nas Minas Gerais, na terra libertária de Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, Marília de Dirceu, Juscelino Kubitschek e Carlos Drummond de Andrade.
Portanto, não se trata de feminismo ou de usar o tema como arma de conquista parlamentar.
É a luta contra a asfixia política, contra desmandos seculares, contra a imposição, de cima para baixo. Nada diferente do que sempre houve, historicamente, no cotidiano de todas as mulheres do mundo.
Muito obrigada.