PROCD-13-08-05-Moacir Micheletto


208.3.52.O Sessão Ordinária - CD 12/08/2005-11:00

Publ.: DCD - 13/08/2005 - 38925 MOACIR MICHELETTO-PMDB -PR

CÂMARA DOS DEPUTADOS GRANDE EXPEDIENTE GRANDE EXPEDIENTE

DISCURSO

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Sumário

Crise financeira enfrentada pelo setor agrícola brasileiro. Reivindicações da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, encaminhadas ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o enfrentamento da crise.

 

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O SR. MOACIR MICHELETTO (PMDB-PR. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, hoje venho à tribuna fazer profunda reflexão a respeito da crise que enfrenta a agricultura brasileira.

Perda de produção e de renda, queda no faturamento bruto, preços em queda, custos em alta e defasagem cambial. Essa explosiva combinação de fatores está levando o setor agropecuário brasileiro a enfrentar o que as lideranças agrícolas chamam de "a pior crise de todos os tempos".

O pedido de socorro dos produtores rurais chegou a Brasília entre os dias 28 e 30 de junho, numa manifestação na Esplanada dos Ministérios que contou com a presença de mais de 25 mil produtores rurais de 12 Estados. Para o "tratoraço", como ficou denominada a manifestação dos produtores rurais, também foram trazidas mais de 2 mil máquinas e tratores.

O aumento do custo de produção; a queda dos preços agrícolas; a perda da produção por problemas climáticos; a ausência de seguro rural que indenize os produtores afetados pela seca; a valorização do câmbio, que reduz o preço recebido pelo produtor; a dificuldade de prorrogação dos financiamentos rurais junto aos bancos na negociação caso a caso; a falta de instrumentos que possibilitem o alongamento dos prazos de pagamento das aquisições de defensivos, fertilizantes e outros insumos agropecuários junto aos fornecedores privados; a deficiência de logística e de infra-estrutura para o armazenamento e o escoamento da safra; a facilitação para a importação de produtos agrícolas do MERCOSUL, sobretudo de arroz e trigo; e a proibição aos produtores de importar defensivos mais baratos do MERCOSUL são as causas que motivam a mobilização do setor.

Os produtores não querem perdão de dívidas, mas compatibilizar a receita desta safra, afetada negativamente pelos motivos citados anteriormente, com o vencimento dos financiamentos contraídos junto a bancos e a fornecedores de insumos. Essa é a postura propositiva do setor rural, que pretende evitar novo ciclo de endividamento mediante a apresentação de propostas de solução para o enfrentamento das dificuldades vivenciadas.

Os agricultores investiram na safra 2004/2005 o suficiente para obter produção de 132 milhões de toneladas. Essa era a estimativa inicial do Governo para a produção de grãos e fibras. A área plantada foi aumentada em 1 milhão de hectares, passando de 47,4 milhões de hectares, na safra 2003/2004, para 48,4 milhões de hectares na safra atual.

Infelizmente, por problemas climáticos - seca no Sul e irregularidades de chuva na Região Centro-Oeste -, a produção, que seria de 132 milhões de toneladas, caiu para 112,4 milhões de toneladas.

A perda de produção para o conjunto das culturas de feijão, milho, soja e trigo totalizou 19 milhões e 600 mil toneladas, o que representa prejuízo de 10 bilhões de reais, de acordo com informações da Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB. Essa seria a receita, caso a produção perdida fosse comercializada mesmo com os preços baixos que, em muitos casos, não cobrem o custo total.

Embora tenha sido aprovada a lei do Seguro Rural, infelizmente, por deficiências operacionais e falta de recursos do Governo, o plantio ficou descoberto, ou seja, sem o seguro. Isso significa, na prática, que os produtores terão de arcar sozinhos com os prejuízos.

É importante informar que o Seguro Rural é amplamente subsidiado nos países que competem com o Brasil no comércio internacional de produtos agrícolas. Caso tal perda tivesse ocorrido nesses países, os produtores seriam indenizados. É o que ocorre nos Estados Unidos. Quando algum fato que não está previsto na sua legislação ocorre, é automaticamente aprovada no Congresso lei emergencial para cobrir os prejuízos agrícolas. A falta de cobertura do seguro é uma das principais causas do endividamento rural brasileiro.

No Brasil, a única política disponível é a da prorrogação dos financiamentos contraídos no sistema bancário e, mesmo assim, mediante exame caso a caso. Quando é autorizada, o prazo é extremamente exíguo em relação à capacidade de pagamento dos produtores e ao retorno econômico da atividade agrícola.

Estima-se que os bancos financiem apenas um terço da necessidade de recursos do setor. Dessa forma, dois terços são gastos em compras realizadas a prazo junto a fornecedores de insumos, e com recursos próprios. Em situação de perda da produção, os produtores, na maioria das situações, perdem parte substantiva do patrimônio formado por gerações.

É muito importante enfatizar que o faturamento bruto da agropecuária caiu 28,7 bilhões de reais em 2005. Essa é a previsão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, com base nos 25 principais produtos da agropecuária brasileira. A queda de preços agrícolas e a perda de produção são os principais fatores dessa redução de faturamento bruto para 2005.

No curto prazo, a queda de preços dos alimentos favorece os consumidores. Porém, no próximo ano a redução da produção terá impacto altista. A grande redução de preços, em termos reais, para a maioria dos produtos agrícolas chegou à cesta de alimentos da população. Os preços dos alimentos mensurados pelos diversos índices de custo de vida e de inflação apresentam deflação. Consumidor e agentes intermediários são os beneficiados pela queda dos preços dos produtos agropecuários. O grande prejudicado continua sendo o produtor rural. Vale lembrar que o benefício a curto prazo aos consumidores será revertido com a queda da produção na nova safra e o aumento dos preços dos alimentos, em decorrência da redução da oferta.

Com base no IGP-DI - Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a queda dos preços, conhecida como deflação, ocorreu em maio (-0,25%) e em junho (-0,45%). O Índice de Preços ao Consumidor - IPC, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, apresentou redução de 1,38% em junho, seguida por deflação de menos 1,43% na primeira quadrissemana de julho, no grupo alimentação, provocando nova queda no índice geral, de 0,13%.

A queda dos índices de preços da economia decorre da redução dos preços dos alimentos. Existe, no entanto, defasagem percentual entre a redução de preços ao produtor rural e a queda de preços ao consumidor final. Isso decorre das estruturas de comercialização entre atacado e varejo, que absorvem a maior parcela da redução dos preços, aumentando a margem bruta de comercialização, como ocorreu com o arroz.

Os produtos agrícolas são os que apresentam maiores retrações de faturamento. A queda de 19,5 milhões de toneladas na produção, combinada com a redução dos preços para a maioria dos produtos, reduziu o faturamento das lavouras. O Valor Bruto da Produção da soja caiu R$16,3 bilhões, em 2005, passando de R$41,2 bilhões, em 2004, para apenas R$24,9 bilhões, em 2005. Assim, os sojicultores dificilmente fecharão suas contas, ao combinarem o aumento do custo de produção e a queda da receita com a venda da produção.

Algodão, milho, soja, arroz e trigo também tiveram redução do valor bruto de produção, com prejuízos na comercialização. O valor bruto do milho passou de R$14,3 bilhões, em 2004, para R$9,9 bilhões, em 2005, com redução de 30,7% no faturamento. O setor enfrenta crise de renda devido à associação entre queda de 16% dos preços recebidos em relação ao mesmo período de 2004 e redução em 17,5% da produção, por problemas climáticos na Região Sul do País.

O faturamento bruto da orizicultura caiu 32%, passando de R$9,5 bilhões, em 2004, para R$6,4 bilhões, em 2005. O consumo estabilizado, a maior produção deste ano e os elevados estoques finais pelas importações do produto em anos anteriores contribuíram para a queda de 34% do preço recebido pelo produtor. O Valor Bruto de Produção do algodão diminuiu 32,3%, passando de R$5,1 bilhões, em 2004, para R$3,5 bilhões, em 2005, devido à queda de 33% nos preços recebidos pelo produtor. Os preços estão abaixo do preço mínimo de R$45,00 a arroba (algodão em pluma) desde outubro de 2004.

O faturamento bruto da pecuária teve queda de 1,4%, passando de R$70,8 bilhões, em 2004, para R$69,8 bilhões, em 2005. Com exceção do leite e da carne suína, todos os produtos pecuários tiveram queda de faturamento. O Valor Bruto de Produção da carne bovina foi reduzido em 8,4%, passando de R$33 bilhões, em 2004, para R$ 30,2 bilhões, em 2005.

A avicultura de corte teve 2,4% de redução no faturamento, passando de R$16,5 bilhões, em 2004, para R$16,1 bilhões, em 2005. Apesar do aumento de produção, houve redução de 7% nos preços recebidos. O VBP da avicultura de postura caiu 0,7%, passando de R$3,5 bilhões, em 2004, para R$3,4 bilhões, em 2005.

Os preços dos produtos agrícolas caíram drasticamente no ano de 2005, se comparados com os preços médios da comercialização do ano passado. Além disso, os preços de mercado de algodão, arroz, trigo, milho e soja não cobrem os custos de produção, causando prejuízo aos produtores rurais.

Nos últimos 12 meses, o preço recebido pelos produtores de arroz caiu 31,9% no Rio Grande do Sul, uma das maiores crises dos últimos 40 anos na produção desse produto naquele Estado. Os preços médios de comercialização, em torno de R$20,00/50 quilos, situam-se abaixo do custo de produção, de R$30,68/50 quilos, conforme informações do Instituto Rio-Grandense do Arroz (IRGA). Os produtores brasileiros, em especial os gaúchos, sofrem a competição do arroz importado do Uruguai e da Argentina, que não pagam imposto de importação e têm custo de produção menor, pois utilizam insumos mais baratos, em especial os defensivos, que os produtores brasileiros são proibidos, pela legislação nacional, de importar, embora pelo acordo do MERCOSUL exista autorização para a livre comercialização entre os países de 27 substâncias ativas e de suas formulações.

O preço do algodão caiu 35,7% nos últimos 12 meses, e os preços de comercialização não cobrem o custo de produção. Para cada arroba de algodão em pluma comercializada, os produtores têm prejuízo de R$24,86.

Os produtores de soja tiveram redução nos preços, nos últimos 12 meses, de 47,13%. O aumento da produção mundial e a valorização do real frente ao dólar norte-americano reduziu o preço de mercado, que atualmente não cobre o custo total de produção nos principais Estados produtores. O preço de mercado em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, de R$25,50 a saca de 60 quilos, fica abaixo do custo total de produção no plantio diretor calculado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso - FAMATO. Em Goiás, o custo de produção está na mesma situação.

O preço de mercado do milho, na Região Centro-Oeste, não cobre o custo de produção. Para cada saca comercializada de milho, o produtor têm prejuízo de R$1,33. A situação é de calamidade. Trata-se de produto cuja demanda é de 10 milhões de toneladas, e o Brasil não consegue financiar e manter política específica. Por isso, a produção é de 5 milhões de toneladas atualmente.

No caso do trigo, o prejuízo por cada saca comercializada é de R$21,31, pois o custo total de produção é R$39,31 a saca de 60 quilos, e o preço de mercado é de apenas R$18,00 a saca.

E o Governo continua imobilizado: não tenta ajustar à realidade os preços de produto de suma importância para o País.

Enquanto os preços dos produtos tiveram queda acentuada, o custo de produção mensurado pelo Índice de Preços Pagos - IPP, que reflete o custo médio de produção dos produtos agropecuários, aumentou 12% nos últimos 12 meses. Essa situação cria desequilíbrio entre receita e despesa, o que implica falta de capacidade financeira do produtor em honrar todos os compromissos de compra de insumos a prazo e de financiamento bancários contraídos para investir na produção da safra. Isso porque o montante de dinheiro investido no plantio supera a receita com as vendas, deteriorando o poder de compra com a venda dos produtos agropecuários e a compra de insumos e máquinas utilizados na produção.

A quantidade de produtos necessários para comprar a mesma quantidade de adubo ou uma máquina aumenta com a deterioração do poder de compra do setor rural. Em 2003, o produtor de algodão precisava vender 39,2 arrobas para comprar 1 tonelada de adubo. Em 2004, essa quantidade aumentou para 48,3 arrobas; e, em 2005, são necessárias 57,8 arrobas de algodão para comprar uma tonelada de adubo.

O mesmo aconteceu com o arroz, com o milho, com a soja e com o trigo.

A relação de troca também se deteriorou na compra de máquinas agrícolas. Por exemplo: em 2003, o produtor rural precisava vender 3.949 sacas de milho para adquirir um trator de 75 cavalos. Em 2004, aumentou para 4.509 sacas; e, em 2005, são necessárias 5.026 sacas de milho para comprar o mesmo trator.

A redução do poder de compra dos produtores rurais tem conseqüência direta na perda da capacidade financeira para aquisição de novas máquinas para aumentar a produtividade no campo. O reflexo é direto na queda da demanda por insumos e máquinas, com efeito negativo sobre esses setores que também têm de desempregar mão-de-obra, como a agricultura está fazendo neste momento de crise.

A deficiência de logística, de infra-estrutura, de transportes e dos portos também motiva a perda de competitividade do setor rural. No Brasil, a distância média da produção agropecuária ao porto para exportação é de mil quilômetros, o que redunda em custo médio de transporte de US$28,00 por tonelada. Nos Estados Unidos, o custo médio é de US$15,00 por tonelada; e na Argentina esse custo é de apenas US$14,00 por tonelada.

Sr. Presidente, essa é a realidade da agricultura brasileira. O superávit da balança comercial depende do agronegócio, visto que quase 30% do PIB nacional têm origem no setor agropecuário.

Lamentavelmente, falo desta tribuna de uma crise que, tenho certeza absoluta, vai refletir enormemente na economia brasileiro do ano que vem. Faço esse alerta porque tive acesso a dados importantes sobre a crise da agricultura brasileira.

O custo operacional nos portos brasileiros, para exportar 1 tonelada de produtos, é de 7 dólares, enquanto na Argentina é de apenas 3 dólares. Todas essas deficiências são arcadas pelos produtores mediante a redução do preço recebido, vez que a maioria dos preços dos produtos agrícolas é formada nas Bolsas de Mercadorias internacionais.

Por conta das deficiências das estradas e dos portos, o produtor de Mato Grosso, por exemplo, recebe US$33,82 a menos por tonelada vendida do que o produtor argentino. Esse valor equivale, em síntese, à eficiência do produtor brasileiro em relação ao seu competidor internacional.

Quem perde com a crise no setor rural não são apenas os produtores. A sociedade perde, e mais que os próprios produtores. Isso decorre do grande efeito multiplicador da renda gerada dentro da porteira para os demais setores da economia. Enquanto a renda dentro da porteira é estimada para este ano em R$148,94 bilhões, a dos outros setores da economia que vendem insumos e serviços para a agropecuária, que processam os alimentos, disponibilizam o transporte e congregam o conceito de PIB do agronegócio é estimada em R$535,09 bilhões.

A crise da agricultura, portanto, tem efeito negativo principalmente sobre: 1) queda do PIB nacional; 2) queda do emprego; 3) aumento dos preços dos alimentos, pois a produção será reduzida; 4) redução das exportações agropecuárias com conseqüências danosas para o Risco Brasil; 5) redução da arrecadação tributária.

A crise do agronegócio não atinge apenas o produtor rural. As dificuldades enfrentadas no campo já prejudicaram a capacidade do País de gerar empregos, não apenas dentro dos limites da atividade primária da agropecuária, mas também em outros setores.

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED, do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que, entre janeiro e junho deste ano, o Brasil apresentou saldo de 966,3 mil empregos formais (o que representa novos postos de trabalho, calculados a partir do total de admissões menos o total de desligamentos), 7,1% a menos do que o saldo de igual período do ano passado, que foi de 1.034.656 empregos formais. Essa queda foi provocada principalmente pela baixa capacidade da agropecuária em gerar novos postos de trabalho, assim como ocorreu em segmentos da indústria de transformação, vinculados ao setor rural.

Sozinha, a atividade agropecuária apresentou saldo de 187.494 empregos no primeiro semestre, o pior resultado registrado nos últimos 4 anos. O saldo deste ano é 15,4% menor do que o de 216.430 empregos do primeiro semestre de 2004, ou seja, representa menos 29 mil empregos.

Também a indústria de transformação perdeu fôlego na capacidade de gerar postos de trabalho, encerrando os 6 primeiros meses deste ano com saldo de 194.039 empregos; 68,2% a menos do que o saldo de 326.360 empregos do final do primeiro semestre do ano passado. Dois segmentos da indústria de transformação diretamente ligados à agropecuária terminaram os primeiros 6 meses de 2005 oferecendo menos oportunidades de trabalho do que no início do ano.

Os dados referentes aos empregos do agronegócio demonstram a profundidade da crise do setor. Se os somarmos à queda da renda do produtor, aos preços de venda dos commodities abaixo do custo de produção, o resultado será uma próxima safra com baixíssima tecnologia e altos riscos, podendo levar à necessidade de importação de alimentos. Para reverter essa perspectiva negativa, a solução é tornar reais, e com agilidade, medidas de apoio à agropecuária, prometidas pelo Governo ao setor rural durante a realização do movimento Tratoraço - O Alerta do Campo, no final de junho, até agora não implementadas.

A crise da agropecuária afeta diretamente a geração de empregos não apenas no campo, mas também nos setores da economia que fornecem insumos, máquinas e que industrializam os produtos da agropecuária. Dessa forma, é de se esperar que a forte retração de demanda por insumos modernos e máquinas também afetem negativamente a geração de empregos nos demais setores da economia nacional. Significa dizer que resolver a crise da agropecuária é também incentivar a geração de empregos no País. Resolver a crise da agricultura é portanto cuidar da saúde econômica do País.

Faço agora o balanço da situação dos pleitos encaminhados ao Sr. Presidente da República, em audiência realizada no dia 28 de junho de 2005, pela CNA e com o apoio desta Casa.

1) Medidas de emergência para a Safra 2004/2005

2) 2) 2) 2) 1.1 - Compras a prazo de insumos, máquinas e equipamentos:

 

alocar, inicialmente, do FAT/BNDES, R$3 bilhões para aquisição de Cédula de Produto Rural Financeira (CPRF) e outros recebíveis emitidos pelos produtores junto aos fornecedores/fabricantes de insumos, máquinas e equipamentos, com taxas adequadas, para os produtos com dificuldade de comercialização. Instrumento: Resolução do Banco Central do Brasil.

Situação: editada a Resolução do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo do Trabalhador n° 444, de 20 de julho de 2005, alocando R$3 bilhões.

Problema: baixa adesão dos fornecedores de insumos.

1.2 - Custeio da safra 2004/2005:

prorrogar as parcelas vencidas e vincendas até agosto de 2005. Instrumento: Resolução do Banco Central do Brasil.

Situação: ainda sem solução. Promessa de edição de Resolução do Conselho Monetário Nacional para prorrogar o vencimento das parcelas de junho, julho e agosto dos custeios de milho, arroz, algodão, soja, trigo e sorgo, para pagamento em março e abril de 2006, para a Região Centro-Oeste e sul da Bahia.

Problema: a regionalização exclui produtores da Região Sul (arroz, trigo e soja), de Minas Gerais (soja e milho), do Tocantins, do sul do Maranhão e do sul do Piauí (soja e arroz).

1.3 - Liberação de garantias das dívidas securitizadas, do PESA e outras.

reavaliar os bens e títulos oferecidos como garantias das dívidas e liberar as excedentes. Instrumento: Resolução do Conselho Monetário Nacional.

Situação: solução ainda não implementada. Representante do Ministério da Fazenda apresenta restrições para a implementação da proposta.

1.4 - Renegociação de dívidas antigas:

readequar nos contratos de crédito, securitização, PESA, RECOOP, Fundos Constitucionais e outros, o cronograma das prestações, de acordo com a capacidade de pagamento para os produtores afetados pela seca e por problemas de comercialização. Instrumento: Resolução do Conselho Monetário Nacional.

Situação: o Ministério da Agricultura manifestou-se favorável para os adimplentes até 31 de dezembro de 2004. O Ministério da Fazenda é contra a proposta.

1.5 - Medidas de apoio à comercialização e à competitividade da agricultura:

fixar o preço de exercício do contrato de opção do arroz irrigado em R$25,00/50 quilos, para assegurar a comercialização de 1,5 milhão de toneladas. Instrumento: Edital de contrato da CONAB.

Situação: o preço de exercício do contrato de opção foi fixado em R$24,00/50 quilos. Foram realizados 2 leilões, mas não houve recuperação dos preços.

2) Medidas para a Safra 2005/06

2.1 - Elevação dos limites de crédito de custeio e de comercialização

Corrigir os limites de financiamento de custeio e de comercialização, considerando os aumentos nos custos de produção verificados nas diversas regiões. Situação: o Ministério da Fazenda é contra.

2.2 - Seguro rural

Alocar volume de recursos suficientes para subvenção de um terço do prêmio do Seguro Rural e criação do Fundo de Catástrofe.Situação: promessa de alocar R$10 milhões para subvencionar um terço do prêmio do seguro. Caso o prêmio seja de 7%, a importância segurada será de R$428,6 milhões, o que significa que 99,5% da safra de grãos continuarão descobertas.

2.3 - Importação de agroquímicos do MERCOSUL

Modificar a Lei de registro de agroquímicos para possibilitar a importação direta pelos produtores dos agroquímicos genéricos, em atendimento à decisão do painel de arbitragem do MERCOSUL. Instrumento: medida provisória.

Situação: ainda sem solução. Discute-se a modificação do Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, na Câmara Setorial de Insumos do Ministério da Agricultura, sem alteração da lei.

2.4 - Drawback agropecuário

Autorizar o regime de drawback para todos os produtos agropecuários destinados à exportação, mesmo para as pessoas físicas que realizam operações com tradings e cooperativas, mediante a importação de fertilizantes, agroquímicos, outros insumos, máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária. Instrumento: Resolução da CAMEX.

Situação: ainda sem edição de resolução da CAMEX.

2.5 - Proposta verbal apresentada pelo Deputado Ronaldo Caiado

Suspensão das execuções judiciais das dívidas renegociadas.Situação: os produtores estão sendo inscritos na dívida ativa da União, conforme publicado no jornal Diário do Nordeste do dia 4 de agosto de 2005. Foi feita também reivindicação quanto ao custeio da Safra 2004/2005: prorrogar as parcelas vencidas e vincendas até agosto de 2005, assunto este que será tratado com o Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, na próxima semana, e com o setor produtivo brasileiro.

Sr. Presidente, a crise do arroz no Rio Grande do Sul está sendo solucionada pelo Governo Federal e pelos próprios produtores rurais. Tenho certeza absoluta de que esse segmento, que gera renda e emprego, obterá a solução para o impasse em curto prazo, e a atividade produtora daquele Estado voltará à normalidade.

Quanto à renegociação de dívidas antigas, há pouco o Deputado Valdir Colatto me dizia que, em Santa Catarina, o Banco Brasil tem acionado intempestivamente os produtores rurais, através da Justiça, por falta de pagamento do custeio agrícola. Apelamos para a direção do banco no sentido de que busque junto a sindicados e federações solução plausível para o pagamento das dívidas dos produtores rurais daquele Estado e do Paraná.

Sr. Presidente, o nosso objetivo, ao final deste breve histórico da crise da agricultura brasileira, é promover profunda reflexão sobre a necessidade de geração de renda e empregos no setor; sobre o equilíbrio financeiro de quem produz e se prejudica com a falta do seguro agrícola. Apesar de a lei do Seguro Rural ter sido aprovada no Congresso Nacional, sancionada pelo Presidente da República e regulamentada pelo Ministério da Agricultura, ainda não dispomos do Fundo de Catástrofe, que daria tranqüilidade aos agricultores brasileiros.

Com este relato, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, solicito o apoio desta Casa e do Governo, a fim de que implemente as medidas solicitadas pelos produtores rurais do País.

Vim à tribuna falar da crise da agricultura quando o Poder Público vive crise política. Mas tenho certeza de que o Brasil é maior do que a crise e que o setor agrícola pode torná-lo ainda maior.

Precisamos fortalecer os nossos partidos, bem como a democracia, para resgatar a esperança do povo brasileiro. Porém, temos de fazer mudanças. Esta Casa tem o dever de fazê-las, em benefício do povo brasileiro.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.