PROCD-03-09-04 Dr. Rosinha

182.2.52.O Sessão Ordinária - CD 02/09/2004-14:18
Publ.: DCD - 03/09/2004 - 37593 DR. ROSINHA-PT -PR
CÂMARA DOS DEPUTADOS PEQUENO EXPEDIENTE PEQUENO EXPEDIENTE
DISCURSO

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Sumário
Realização, pela Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL, do Seminário sobre Internalização de Normas do MERCOSUL. Matéria Estados Unidos vêem descontrole na Tríplice Fronteira, de Fernando Canzian, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. Entrevista concedida ao periódico pelo Sr. Magnus Ranstorp sobre existência de atividades terroristas na região. Repúdio à política externa norte-americana.


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O SR. DR. ROSINHA (PT-PR. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL realiza hoje o primeiro seminário Internalização de Normas do MERCOSUL, necessária para que todos os tratados aprovados pelos 4 países membros sejam executados. E muitos dependem da aprovação deste Parlamento ou de processo burocrático administrativo a realizar-se no âmbito do Poder Executivo. O seminário tem por objetivo viabilizar a internalização no prazo mais rápido possível.
Sr. Presidente, abordo também matéria divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, edição do dia 25 de agosto, com a seguinte manchete: Estados Unidos vêem descontrole na Tríplice Fronteira, e assinado por Fernando Canzian. O jornalista reproduz uma frase do Sr. Juan Carlos Zarate, Secretário-Assistente do Tesouro dos Estados Unidos, segundo o qual a região da Tríplice Fronteira tem sido área de preocupação para aquele país por causa da tradição de descontrole na movimentação de dinheiro, mercadorias e pessoas.
Ora, considero irresponsável essa afirmação. Provavelmente, o Sr. Secretário nunca pôs o pé na Tríplice Fronteira e não sabe como ela funciona. Qualquer um que conhece o lugar sabe que os problemas ali existentes são normais e comuns a qualquer fronteira internacional. Ou será que ele pensa que os problemas da Tríplice Fronteira são maiores do que os existentes na fronteira dos Estados Unidos com o México? Fez essa declaração de má-fé, pois deve saber que na região não existe terrorismo. O que existia era movimentação de dinheiro através de bancos e de doleiros, crime que já está sendo investigado pela CPI do BANESTADO, pelo Ministério Público do Brasil e pela Polícia Federal. Não existe nenhuma célula de terrorismo na Tríplice Fronteira, porque lá as pessoas vivem cotidianamente comprometidas com o crescimento do País.
Conversei recentemente com o Sr. Carlos Costa, ex-diretor do FBI no Brasil, que dirigiu aquele órgão durante 4 anos. Mais de uma vez ele reconheceu que na Tríplice Fronteira não existe terrorismo. Ou seja, investigação feita pelo Governo norte-americano demonstra isso.
No mesmo dia, a Folha de S.Paulo divulgou entrevista com o Sr. Magnus Ranstorp, especialista em terrorismo da Universidade de St. Andrews, na Escócia. Diz ele que a Tríplice Fronteira é um ponto cego, um ambiente financeiro que funciona como usina de geração de fundos para atividades terroristas. Mas ele desmente a afirmação logo em seguida, quando o jornalista lhe pergunta: "O senhor tem evidências da existência de terroristas vivendo na região?" Ele respondeu: "Não, não há nenhuma evidência de planejamento de ações terroristas na região". Depois, acrescenta que foram encontradas fotos de Foz do Iguaçu no Afeganistão. Ora, fotos de Foz de Iguaçu deve haver em quase todos os países do mundo. A natureza do lugar é maravilhosa. Trata-se de uma das maiores quedas d'água e de uma das mais belas cataratas do planeta. Turistas do mundo inteiro visitam a cidade, ficam encantados com sua beleza e registram tudo por meio de fotos.
É melhor os Srs. Magnus Ranstorp e Juan Carlos Zarate procurarem suspeitos de terrorismo nos Estados Unidos, local em que periodicamente há ações terroristas, e não no Brasil. A de integrantes do MERCOSUL ocorreu muitos anos atrás, na Argentina, ainda na metade da década de 90. Afirmar que aqui existe terrorismo é alegar a necessidade de intervenção na América do Sul. É o que faz o Sr. Magnus Ranstorp, quando menciona que os terroristas saem de Foz de Iguaçu e vão para a Ilha Margarita, na Venezuela, onde a política norte-americana acabou de ser derrotada num referendo popular sobre a continuidade ou não do Presidente condicionalmente eleito, Hugo Chávez. Os Estados Unidos queriam intervir para depô-lo, mas o povo disse "não", e Chávez continua no poder.
Os Governo norte-americano tenta encontrar terrorismo em todo o mundo, porque somente ele sobrevive dessa política. Mais do que nunca Bush precisa agora desse discurso, uma vez que é candidato à reeleição. Por que não procura terrorismo dentro do seu país e nos países aliados, se foram eles que construíram Osama Bin Laden e tantos outros terroristas? Financiaram e distribuíram armas químicas e biológicas para todo o mundo.
A Tríplice Fronteira é uma região com problemas de ordem policial, sim, mas que são investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Brasil. Nessa localidade vive um povo pacífico e ordeiro, cujo único desejo é vencer na vida e não ser perturbado pela política externa norte-americana. (Palmas.)