De volta aos trilhos

Ao participar da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, chamou-me a atenção, dentre os vários eventos com a participação de chefes de Estado de todo o mundo, o simples e simpático apito de uma locomotiva a vapor.

O "Apito do Rio", iniciativa do setor ferroviário capitaneada pela União Internacional das Ferrovias, teve como objetivo despertar as consciências para o uso dos trens e metrôs como forma de preservar o meio ambiente. Como parte do evento, locomotivas em vários países ecoaram o apito ao mesmo tempo.

Depois da rede ferroviária em tráfego ter atingido o ápice de 38.287 quilômetros de extensão, em 1960, com a paralisação dos investimentos no setor a malha foi reduzida para 29.778 quilômetros, em 1977.

Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a extensão atual permanece inalterada, com 28.575 quilômetros. Isso mostra o quanto ainda precisamos lutar para o Brasil reencontrar seu passado e avançar no transporte ferroviário.

Entre 2003 e 2004, tive a oportunidade de ocupar a presidência da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb).

Foi um despertar sobre as dificuldades e a vital importância das ferrovias. Na Trensurb, pude observar como os investimentos neste setor levam um longo tempo para maturar, em comparação com a necessidade imediata em que as cidades se encontram de mais linhas de metrô.

Os jogos olímpicos, somados à Copa de 2014, representam uma oportunidade histórica para colocar o transporte urbano de volta aos trilhos. O gesto mais ousado e simbólico foi a criação, na semana anterior à Rio+20, da Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade (Etav), estatal que vai supervisionar a execução das obras de infraestrutura e a implantação do trem bala, que ligará o Rio de Janeiro a São Paulo e a Campinas.

Em Porto Alegre, a Trensurb constrói um aeromóvel para ampliar o acesso ao aeroporto e está expandindo em 9km sua linha (até Novo Hamburgo/RS). As obras de mobilidade, encampadas pelo PAC 2, também incluem investimentos no metrô e trens urbanos em Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Salvador. O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é outra opção em Brasília, Cuiabá e Fortaleza, e o monotrilho, em Manaus.

As mesmas dificuldades para o transporte de passageiros se estendem – e até se ampliam – ao transporte de cargas. Os eventos esportivos de 2014 e 2016 e a iniciativa do governo federal também podem criar um atalho para essa expansão.