Depoimentos dos servidores da Câmara - Contos da Câmara (Volume II)
Esses depoimentos "são relatos de servidores que vivenciaram, ao lado de ilustres parlamentares, marcantes acontecimentos da história do Parlamento Brasileiro a partir da segunda metade do século XX. Esses servidores contribuíram sobremaneira para o bom andamento dos trabalhos do nosso Parlamento. A preservação de suas memórias, enquanto observadores e participantes dos fatos históricos, é mais um instrumento que nos ajuda a resgatar a atuação da Câmara dos Deputados no cenário brasileiro das últimas décadas".
- "O funcionalismo ficou dividido. O que acontecia? Eles davam umas visitas; os funcionários vinham para cá em aviões de carreira. Passávamos o dia todo aqui, visitando residência; a pessoa escolhia... (...) Mas um grupo não quis, não aceitava vir para Brasília. (...) Do grupo que veio para cá, ninguém tentou retornar. (...) Chegamos aqui sem nenhum tipo de estrutura. (...) Foi, realmente, algo notável! Fico admirado de ver alguém hoje reclamar de Brasília. Porque não viu o que foi Brasília." (Paulo Affonso Martins de Oliveira)
- "Ninguém veio de muito boa vontade. Poucos vieram de boa vontade. Todos resistiram. Alguns conseguiram resistir e ficaram, mas foram poucos. A grande parte veio para cá. (...) Aqui em Brasília, na fase inicial, os deputados ficaram muito preocupados com as acomodações. Não havia essa preocupação no Rio de Janeiro. Lá todos moravam em hotel, mas aqui começou a preocupação com apartamentos, com isso e aquilo. (...) Depois o problema foi solucionado, mas a fase inicial preocupou muito o parlamentar. Depois o parlamentar foi-se entrosando, e a Câmara entrou na vida normal, que continua até hoje." (Jorge Odilon dos Anjos)
- "Fui o responsável pelo primeiro escalão de transferência do Palácio do Tiradentes para cá. (...) Evidentemente houve movimentos contrários, houve muitas aflições. Muita gente ficou afetada e até chegou a adoecer. (...) Agora, quando chegamos aqui, muita gente chorou de emoção com a vista que Brasília nos proporcionou. Foi realmente algo impressionante. (...) Porque Brasília nos acenou, nos abraçou, nos aceitou, nos amou e continua amando. (...) Quanto mais pessoas chegavam, mais coisas iam acontecendo. Fomos vivendo, fomos crescendo e assistimos a todo esse processo que eu considero maravilhoso". (Luiz Paulo Bastos Serejo)
- "O Clube do Congresso, nos fins de semana, estava sempre cheio de parlamentares. (...) Eles permaneciam aqui em Brasília. (...) O Clube do Congresso era o ponto de encontro de fim de semana. A integração dos funcionários com os deputados se solidificava lá. (...) Todos nós nos relacionávamos muito bem. (...) Além de colegas de trabalho, éramos também companheiros, amigos de frequentar a casa. Então, foi realmente uma época de ouro". (Luiz Roberto Bastos Serejo)
- "O destino é curioso. Ainda sem entender bem das coisas, quando ouvia falar em interiorização da capital, sentia uma vibração diferente. Vibrava com aquilo. (...) Então, quando mudou a capital e vim para cá... houve muito desconforto. Realmente, todos os que viemos para cá no começo comemos muita poeira, sofremos muita depressão, muita angústia. Sofremos muito. Mas compensou. Imagine o país de hoje com a capital ainda hoje no Rio de Janeiro! O país teria ficado anão, teria ficado capenga, sei lá!" (Mário Teles de Oliveira)
- "Vim para Brasília, mas não queria. A Câmara, inclusive, nos dava vinte dias para conhecer Brasília. (...) Eu recusei, porque sei como é duro entrar numa casa que está em construção. (...) Quando foi dia 20 de janeiro de 1961, um colega me perguntou: "Você já foi lá no quadro?" "Não!" – respondi. (...) Ele então me disse: "O seu nome está lá para ir para Brasília." Senhoras e senhores, eu chorei! (...) Era faxineiro. (...) No Rio era mármore e taco, mas era um taco sintecado, não precisava passar palha de aço, era só passar um pano e pronto. Aqui, não, aqui era na palha de aço. Sambei muito na palha de aço aqui. Fui um grande sambista na palha de aço aqui. Fui considerado o elemento mais ligeiro aqui na Câmara com a palha de aço." (Salvador Vicente)
- "A Câmara veio para Brasília e teve que começar a criar setores. A parte administrativa cresceu muito: transporte, atendimento ao parlamentar. Quando chegaram aqui, os parlamentares não tinham gabinete. Era uma luta muito grande, porque os deputados utilizavam os gabinetes dos membros da Mesa e dos presidentes de comissão. Era onde faziam todo seu trabalho quando estavam em Brasília. Não havia apartamentos para os deputados, muitos moravam em repúblicas, moravam quatro, cinco deputados numa república." (Sylvio Rômulo Guimarães de Andrade)
Veja a íntegra desses e de outros depoimentos em Contos da Câmara 2: depoimentos de servidores nos 180 anos do Legislativo