No momento em que o Parlamento brasileiro discute a PEC 27/2024, que propõe a criação do Fundo Nacional de Reparação Econômica e de Promoção da Igualdade Racial, a exposição amplia o debate sobre o sentido da reparação no país. Mais do que um tema legislativo, a proposta inspira uma reflexão mais ampla sobre as formas de reconstrução coletiva que surgem da luta por equidade racial — nas políticas públicas, nas ações afirmativas e nas atitudes individuais.

Inspirada no legado da Conferência de Durban e na luta dos movimentos negros por equidade, a exposição se constrói a partir de uma metáfora poderosa: os sapatos e os pés descalços. Historicamente — sobretudo no período do Brasil Colônia —, calçar sapatos significava poder, privilégio de circular, decidir e pertencer. Hoje, o gesto de “descalçar-se”, presente no conceito curatorial da mostra, convida o público a pisar o chão do racismo estrutural e, a partir dele, trilhar caminhos de reparação. Cada colagem e cada texto propõem esse ato simbólico de caminhar junto, reconhecendo as marcas do passado e afirmando a potência de quem transforma o presente.

Com curadoria de Ana Cláudia Lustosa, Deise Benedito, Maíra Brito e Samay Gomes a exposição apresenta sete eixos temáticos — moradia, saúde, educação, economia, acesso à justiça, poder e política, memória — cada um ilustrado por colagens que combinam pinturas e fotografias do passado com representações visuais de um futuro possível. A expografia incorpora espelhos ao longo do percurso, convocando o público a refletir sobre seu papel como agente de mudança. Assim, uma realidade de equidade racial será possível não apenas a partir da aplicação das políticas públicas, mas também dos pequenos gestos cotidianos de reconhecimento, empatia e responsabilidade.
As perguntas que se repetem em cada eixo — “Você já votou em uma pessoa negra?”, “Quantos médicos negros já te atenderam?”, “Quem escreve a história que você lê?” — funcionam como pontos de inflexão, transformando o visitante em participante ativo.

Mais do que denunciar desigualdades, a exposição celebra conquistas e reafirma que a reparação é também construção — de políticas, de territórios, de saberes e de futuros.
A mostra propõe que Repar(A)ções Já! dá continuidade à série de exposições promovidas anualmente pela Câmara dos Deputados no mês da Consciência Negra. Desde os anos 2000, o Centro Cultural tem realizado mostras que valorizam a história e a produção artística negra, como “Tecendo Histórias – A Trama Negra na Moda” Brasileira (2024) e “O Pensamento Negro no Brasil” (2023). O Corredor Tereza de Benguela, espaço simbólico que liga o Plenário Ulysses Guimarães às comissões, torna-se, assim, um território de memória e resistência.

Além de ocupar as paredes do Corredor Tereza de Benguela até próximo 26 de dezembro, a exposição também está disponível em versão online.


SERVIÇO
Exposição: Repar(A)ções Já! – Caminhos de reconstrução e igualdade racial
Período: 19 de novembro a 26 de dezembro, das 9h às 17h
Local: Corredor Tereza de Benguela – Câmara dos Deputados
Entrada franca