PJB na História - A Revolta dos Malês

Saiba o que torna esse movimento histórico diferente de outras revoltas que levaram ao fim da escravidão no Brasil - e garanta pontos na sua próxima prova de História!
27/01/2021 18h35

Foi durante a madrugada de 25 de janeiro de 1835 que ocorreu, na então cidade de São Salvador, a Revolta dos Malês.

Seu acontecimento comprova que negras e negros estavam mobilizados para libertação desde muito antes da Lei Áurea e da organização do Movimento Abolicionista. Em diferentes momentos e movimentos, os escravizados já enfrentavam a desumanidade imposta durante o período colonial e, na sequencia, pelo Império de Dom Pedro I e Dom Pedro II.

Os Malês - ou “muçulmanos”, na língua iorubá - opunham-se à proibição de outras práticas religiosa e consequente imposição do catolicismo. além de se revoltarem com a constante violência, discriminação e subjugação dos negros. Como o próprio nome dado ao acontecimento já explica, grande parte dos revoltosos era formada por negros hauçás, fulânis, nupês e outros islamizados que vieram de África.

Pouco se fala da presença dos muçulmanos entre os povos africanos, mas não era incomum a presença deles por todo o continente. Trazidos ao Brasil Colônia, formavam um grupo coeso em que muitos tinham escolaridade, consciência política e certa experiência militar. A forte conexão religiosa facilitava a transmissão de informações entre eles sobre o que se passava em África. Inspirados por movimentos anteriores e secretamente organizados, eles traçaram um plano para tomada do poder em Salvador.

A Revolta dos Malês contou ainda com a participação de inúmeras “ganhadeiras” - negras que trabalhavam nas ruas, ganhavam dinheiro e entregavam esse “ganho” aos seus senhores. Por estarem fora das senzalas e das casas grandes, possuíam certa distinção em relação aos outros escravizados e circulavam com maior facilidade no centro urbano, organizando a revolta sem chamar muita atenção. Muitos dos “escravos de ganho” eram alfabetizados e como grande parte dos brasileiros da época não sabia nem ler nem escrever, essa habilidade os tornavam aptos para trabalhos que nem mesmo os brancos pobres conseguiam exercer. Suas alforrias eram ainda mais caras que a dos outros escravizados.

Registros históricos dão conta de que naquela época somente 22% da população da cidade de São Salvador era de brancos livres. Os escravizados africanos (e seus descendentes) eram 40% da população total da cidade que, na época, beirava os 65 mil habitantes*.

Uma importante personagem dessa história foi a negra Luísa Mahin, ex-escrava que possivelmente trabalhava como ganhadeira e, entre as vendas de seus quitutes e charutos, recebia e repassava mensagens (em árabe) trocadas entre os revoltosos. Ao que tudo indica, anos depois ela teve participação em outra revolta: a Sabinada, também na Província da Bahia. Luísa entraria para a História também como a mãe de Luís Gama, outro ícone na luta liberdade dos negros em terras brasileiras.

A data escolhida para o levante malê não foi aleatória. Foi prevista para o “Ramadã” - mês sagrado para os muçulmanos - e estrategicamente coincidindo com as celebrações católicas do dia de Nossa Senhora da Guia, que tomavam a atenção de boa parte da população. Entretanto, a insurreição não foi bem sucedida pois uma denúncia fragilizou a rebelião. Aqueles que foram às ruas para o combate acabaram sendo pegos de surpresa por uma polícia que - já avisada da revolta - os aguardava com maior poder militar. Apesar do objetivo inicial não ter sido conquistado, a Revolta dos Malês influenciou outros movimentos insurgentes e permanece até hoje como símbolo de resistência.

Quem preferir estudar sobre a Revolta dos Malês de forma lúdica, pode acessar esses e outros conhecimentos nos jogos “Sociedade Nagô – O Início” e “Sociedade Nagô – O Resgate”, desenvolvidos com apoio da Secretaria de Cultura da Bahia.  

 

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*REIS, João José. In A Revolta dos Malês em 1835.