Brasília, 50 anos depois

 

Cinquenta anos depois de inaugurada a nova capital federal brasileira, a obra do ex-presidente Juscelino Kubitschek ainda provoca impacto na realidade e no imaginário do país. Cidade responsável por salto importante no desenvolvimento econômico integrado e na ocupação do restante do território nacional, Brasília ostenta vários títulos ao longo de sua existência. É Patrimônio Cultural da Humanidade, segundo a Unesco, mas também signo e símbolo da Nação.

Por um lado, é prova da capacidade do povo brasileiro de erguer obra admirável no meio do nada. Da terra vermelha e seca do cerrado, nasceu a cidade que hoje conta mais de 2,5 milhões de habitantes. Por essa razão, tornou-se símbolo da capacidade de trabalho, da vontade de progredir e desenvolver para se construir futuro melhor.

É também comum ouvir a classificação de "ilha da fantasia", como se não houvesse problemas e tudo se resumisse a um bucólico lugar onde os poderosos tomam as decisões sobre os rumos do Estado. Brasília é tida como signo da inação e da insensibilidade das elites nacionais.

Na verdade, o Distrito Federal, incluídas as cidades satélites, possui hoje qualidades e defeitos das várias metrópoles brasileiras. Os problemas surgem nas questões de segurança, trânsito, ocupação desordenada de área urbana, falta de escoladas adequadas, hospitais sem capacidade de atendimento à demanda crescente da população etc. Como os melhores cargos do serviço público estão localizados nos órgãos sediados no Distrito Federal, oferece altos salários a pessoas qualificadas, com nível de instrução acima da média nacional . Brasília é retrato do país, fiel às cicatrizes da injustiça social que separam nossa gente entre os muito ricos e os extremamente pobres.

Não é ilha, nem vive na fantasia distante da realidade do cotidiano de qualquer outra cidade do país. Observador que chegasse ao Congresso Nacional neste dias de atividade intensa dos primeiros meses do ano, notaria a vitalidade de nossa democracia, a presença marcante do povo nos corredores, nas galerias, a debater nas comissões temáticas da Casa, a reivindicar em passeatas pelas ruas largas da Esplanada dos Ministérios, a protestar diante dos prédios dos Três Poderes.

Essa vida democrática se incorporou ao cotidiano. Está entranhada na capital. Muitos ainda reclamam das longas distâncias a separar a capital federal do restante do país. Mas de que restante do país estamos falando? Brasília é central. Está mais medianamente próxima de todos Estados nacionais. Ou alguém imagina que o Rio de Janeiro é mais próximo do Pará, Amazonas, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso?

Houve o afastamento do litoral, é certo. Mas, por exemplo, ganhou-se proximidade com a maior área de expansão da agricultura e pecuária nos últimos 30 anos. O centro-oeste brasileiro é hoje o grande produtor e exportador nacional, fomentador da agroindústria e de novos caminhos para a riqueza e o desenvolvimento científico. E isso só foi possível pelas estradas construídas que permitiram a integração nacional entre as regiões do Brasil.

Desta integração, Brasília é o ponto central. Nascida sob o signo do afastamento, hoje é símbolo da integração. Acabou por aproximar. Há muito futuro para a capital. E muito futuro para o Brasil. Existem ainda distâncias reais a se encurtar, mas nós que trabalhamos na capital federal estamos cientes de que é preciso continuar esse caminho começado há 50 anos. Há muitas razões para celebrar este aniversário de Brasília.

 

 

Michel Temer

Presidente da Câmara dos Deputados