20 de julho de 2005


DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

CONSELHO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR
EVENTO: Audiência Pública
N°: 1046/05
DATA: 20/7/2005
INÍCIO: 15h47min
TÉRMINO: 19h00min
DURAÇÃO: 03h13min
TEMPO DE GRAVAÇÃO: 04h08min
PÁGINAS: 133
QUARTOS: 50


DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA — Testemunha.


SUMÁRIO: Tomada de depoimento.


OBSERVAÇÕES

Há termos ininteligíveis.
Há oradores não identificados.
Há intervenções inaudíveis e ininteligíveis.


O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Está aberta a sessão.
Solicito à Secretária que proceda à leitura da ata da sessão anterior.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Pela ordem, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Concedo a palavra a V.Exa. pela ordem.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sr. Presidente, como todos nós, membros do Conselho, já estamos de posse da ata da sessão anterior, solicito a dispensa de sua leitura.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Em votação a dispensa da leitura da ata.
Os que foram favoráveis permaneçam como se encontram.
Aprovada.
Expediente.
Ofício do delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zambronha de Oliveira, encaminhando a cópia dos depoimentos à Sra. Simone Reis Lôbo de Vasconcelos e Geiza Dias dos Santos.
Correspondência datada de 15/07, do Sr. João Cláudio de Carvalho Genu, comunicando o recebimento da notificação e solicitando  que sejam encaminhadas perguntas escritas, para que preste seus esclarecimentos aos membros deste Conselho.
Gostaria de ouvir a palavra do Relator a respeito dessa correspondência.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, a Relatoria se manifesta contrariamente a essa pretensão. Este Conselho, por unanimidade, aprovou excepcionalmente apenas para o Governador do Estado de Goiás e para o Ministro Walfrido Mares Guia. Eu me manifesto contrariamente seja a essa pretensão, seja de qualquer outro dos arrolados como testemunhas da defesa ou testemunhas acolhidas pelo Plenário deste Conselho.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Da mesma forma, recebemos o encaminhamento de um ofício do ex-Deputado Benedito Domingos. E nós ouvimos o nosso Relator, o que ele acha a respeito, e ele é contrário.
Coloco em votação essas duas correspondências.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E peço a V.Exa. licença, inclusive, para fazer referência ao nobre ex-Deputado, ex-Vice-Governador, que compareceu à imprensa, a mais de um programa televisivo, para falar para o País. E ele, que foi membro desta Casa, sabe da grave responsabilidade que pesa sobre os seus ombros, para contribuir com a apuração da verdade e para, inclusive, aqui vir fazer a sua defesa, diante de acusações que foram arroladas ou apostas contra ele.
O SR. DEPUTADO BENEDITO DE LIRA - Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pela ordem, Deputado Benedito de Lira.
O SR. DEPUTADO BENEDITO DE LIRA - Sr. Presidente, na verdade, ocorreu esse fato de excepcionalidade: o Governador de Goiás e o Ministro do Turismo. O Conselho abriu essa excepcionalidade, que considero que tem um precedente. Após a decisão do Conselho, lógico...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Peço desculpas a V.Exa., nobre Deputado, e ao nobre Presidente: fiz questão de apontar que isso não deveria constituir precedente, e foi acolhido pela unanimidade deste Plenário.
O SR. DEPUTADO BENEDITO DE LIRA - V.Exa., nobre Relator, realmente, assim declinou, mas o Conselho, por sua decisão plenária, acolheu a excepcionalidade e, conseqüentemente, há precedência. Sim, houve a precedência, mesmo em caráter excepcional. Se é assim, com isso abriu espaço...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não quero interrompê-lo, mas sabe V.Exa., que é um Parlamentar experiente, que, nesta Casa, situações dessas acontecem no Plenário da Casa e, desde que não constituam precedentes com a deliberação soberana do Plenário da Casa, têm acontecido situações iguais.
O SR. DEPUTADO BENEDITO DE LIRA - Nobre Relator, não estou contrariando a palavra de V.Exa. Estou apenas dizendo o seguinte: que, mesmo em caráter excepcional, o Conselho abriu precedente. Por isso é que está dando espaço e caminho para que outras pessoas que estejam sendo convidadas para prestar informações ao Conselho entrem com o requerimento pedindo o mesmo tratamento que fora dado ao Ministro e ao Governador. Para esses que estão requerendo, é evidente que eles não levaram em consideração nem tampouco estavam sabendo que houve uma excepcionalidade. O Conselho abriu uma excepcionalidade para o Governador e o Ministro. Como diz a Constituição que todos são iguais perante a lei, eles se encontram na mesma condição de pedir ao Conselho esse mesmo tratamento que fora dado à S.Exa. o Sr. Ministro e à S.Exa. o Sr. Governador do Estado. Por isso é que chegaram os requerimentos. E poderão chegar outros, Sr. Presidente.
Essa é a observação que eu desejava fazer e acho que o Conselho, na verdade, pode decidir, mas, excepcionalmente, abrimos um precedente aqui.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Quer fazer uso da palavra?
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, nós insistimos no depoimento da testemunha de defesa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Deputado Orlando Fantazzini, por favor.
O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Sr. Presidente, só queria consultar V.Exa. se submeterá a matéria à votação. O entendimento de que me recordo — praticamente foi um acordo — é de que o Relator só concordaria nesses 2 casos e, portanto, os demais não gozariam dessa excepcionalidade. E foi um acordo em relação ao qual todos nós aqui fomos unânimes.

 Portanto, acho que nem à votação temos de submeter a matéria, porque já foi apreciada e votada. E a excepcionalidade, segundo o acordo, seria dada única e exclusivamente ao Governador e ao Ministro. Mas, se V.Exa., ainda assim, achar de bom alvitre submeter...
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Nós devemos colocar em votação.
Aqueles que forem favoráveis permaneçam como se encontram.
 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Pela ordem, antes da votação.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pela ordem, tem V.Exa. a palavra.
 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Com certeza, vou me submeter à decisão da Mesa, mas vamos criar um precedente do precedente, porque se trata de matéria vencida. Desculpe-me. Eu não participarei dessa segunda votação. Com todo o respeito, eu me abstenho de votar, porque se trata de matéria vencida.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Creio que é muito sensata a manifestação tanto do nobre Deputado Edmar quanto do Deputado Fantazzini.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Então, isso já foi aprovado.
Recebemos, no início desta tarde, uma representação do Deputado Jackson Barreto, do PTB de Sergipe, contra o Deputado João Fontes, em razão da entrevista publicada no Jornal da Cidade. S.Exa. inclusive enviou uma cópia do jornal que estou encaminhando a todos os membros do Conselho. Essa representação nós vamos mandar à Mesa da Câmara, ao Presidente Severino Cavalcanti, que deverá encaminhá-la à Corregedoria e, posteriormente, ela virá para cá.
 Hoje o Deputado José Dirceu entrou em contato comigo para marcar o depoimento para dia 2 de agosto, às 14h30min. O Deputado Valdemar Costa Neto também entrou em contato comigo para colocar-se à disposição para marcarmos o dia e a hora, assim como o Deputado Pedro Corrêa. São esses os 3 Deputados que se colocaram à disposição para serem ouvidos aqui no Conselho.
Srs. Deputados, a presente reunião tem por finalidade a produção de prova testemunhal, com a oitiva da Sra. Maria Christina Mendes Caldeira. A respeito do depoimento da testemunha, há alguns esclarecimentos a fazer ao Plenário, de acordo com o dispõe o art. 12 do Regulamento deste Conselho de Ética. A testemunha prestará compromisso e falará somente sobre o que lhe for perguntado, sendo-lhe defesa qualquer explanação ou consideração inicial. Logo após, será dada a palavra ao Relator, Deputado Jairo Carneiro, para as perguntas, que poderão ser feitas neste momento e a qualquer momento que entender necessário após a inquirição inicial. Após o Relator, será dada a palavra ao representado ou ao seu procurador. A chamada para que os Parlamentares inquiram a testemunha será feita de acordo com a lista de inscrição.
 Eu gostaria de repetir o que eu faço em todas as reuniões: só poderão usar da palavra os membros do Conselho de Ética e, posteriormente, os suplentes. Os Líderes poderão fazer uso da palavra por 5 minutos, mas não poderão fazer qualquer pergunta. Os Vice-Líderes poderão falar se trouxerem a esta Mesa uma autorização, por escrito, dos Líderes.
 Acompanham a testemunha o Dr. Paulo José da Costa Júnior e o Dr. Fernando José da Costa, que estão aqui presentes. Estão presentes os advogados do representado, o Dr. Itapuã e o Dr. Luiz Francisco, figuras permanentes neste Conselho.
Antes de ouvirmos o Relator, eu gostaria de ler um termo de compromisso.
"Termo de compromisso.
Nos termos do art. 12, inciso I, do Regulamento do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, presto o compromisso de falar somente a verdade sobre o que me for perguntado acerca dos fatos relativos ao Processo nº 1, de 2005, Representação nº 28 de 2005, do Partido Liberal, movido contra o Deputado Roberto Jefferson.
 Sala das Reuniões, 20 de julho de 2005.

 Maria Christina Mendes Caldeira."
Com a palavra, inicialmente, o Relator Jairo Carneiro.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nobre Presidente, Deputado Ricardo Izar, nobres colegas, Sra. Maria Christina Mendes Caldeira, senhores advogados que a acompanham, senhores advogados do representado, senhor advogado do representante, quero fazer uma breve consideração sobre as testemunhas que estão sendo convidadas.
Sei do empenho de V.Exa. e da Secretaria deste Conselho para poder agendar datas para comparecimento. Tenho conhecimento de algumas dificuldades que, creio, devem ser superadas por aqueles cidadãos, Deputados ou não, que devem ter compromisso com a Nação nesta hora tão grave e difícil em que vivemos. Por isso mesmo será importante reiterar os convites. Inclusive, que os nobres colegas membros deste Conselho, titulares ou suplentes, que sejam do mesmo partido, no caso de Parlamentares, possam interceder junto a esses nobres colegas para que venham colaborar com os trabalhos de apuração e investigação.
 Essa uma breve referência que queria fazer e que julgo de todo oportuna e necessária.
Sra. Maria Christina, devo fazer indagações preliminares à senhora e peço que não considere como ofensivas à sua privacidade. Considere que são importantes para nos situarmos nesse contexto do trabalho.
 A senhora aqui comparece para contribuir com os trabalhos deste Conselho e sua presença aqui tem de ser enaltecida por todos nós. E a todos que compareçam também temos que prestar as homenagens.
A senhora foi casada com o nobre Deputado Valdemar Costa Neto? (Pausa.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Vivi com o Deputado Valdemar Costa Neto durante um ano e meio.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Em matéria jornalística, temos aqui que houve um período de 2 anos, e depois de 2 anos e meio. Então, essa informação não é verdadeira?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Comecei a viver com o Deputado do começo de 2003 até julho de 2004. Foi um ano e meio.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sob o mesmo teto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Sob o mesmo teto, como marido e mulher.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Pela ordem. Eu pediria ao Presidente a troca de lugar da Sra. Maria Christina com o advogado, para ela poder ficar de frente para o Relator. Ela quer olhar para o Relator, foge do microfone, e não ouvimos aqui. Se pudesse fazer a troca, seria melhor. Ou então, mais para cá. Aí, ela fica de frente para o Relator.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas, se ficar de frente para V.Exa., é a mesma coisa.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não tenho o poder da caneta, V.Exa. sabe disso.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Continuando. Um ano e meio de convivência sob o mesmo teto. E o motivo da separação? Se a senhora puder dizer, se não houver algo que a deixe em constrangimento.

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O motivo da separação ficou muito mais claro para mim depois do que o País está vivendo, porque nos últimos 4, 5 meses de casamento... Eu não venho de uma família de políticos, eu não tenho know-how político. Então, muitas coisas que para pessoas da iniciativa privada podem ser normais não são normais na política. Então, algumas vezes, durante meu primeiro ano de casamento, vi muitos fatos esquisitos. Só que fatos esquisitos não são situações, principalmente se você não tem o conhecimento e  expertise no assunto. Chega um momento — não sou uma mulher burra nem alienada, sempre trabalhei, tenho noção de algumas coisas — em que muitos fatos esquisitos passam a ser mais do que fatos esquisitos. Nesse momento, comecei a questionar, vamos dizer, mais insistentemente algumas situações pelas quais eu tinha passado e ouvido. Queria deixar claro que sou uma ex-mulher. Então, é natural — não sou araponga e não tenho pretensão política nenhuma —, os meus relatos são de cenas que talvez façam muito mais sentido para os senhores do que para mim. Hoje, essas cenas para mim fazem algum sentido maior, mas tenho quase certeza de que para os senhores vão fazer muito mais. Quando comecei a questionar mais insistentemente o meu ex-marido em relação a algumas situações as quais presenciei, ele passou a ser extremamente violento comigo. Ele nunca encostou a mão em mim diretamente, só que ele foi extremamente violento, e eu não entendia muito o porquê. A sensação que eu tive, na realidade, é que virou de Dr. Jekyll para Mr. Hyde, ou sei lá, um dos dois, de repente, uma coisa assim. Aí, chegou a um limite que não tinha como continuar casada. Ele tem várias opções de vida — acho que não vem ao caso aqui — que também não condizem com as minhas opções de vida. E eu falei para ele que eu não queria mais ficar casada com ele, que eu não queria isso. Porque existe um momento em que você tem que fazer uma opção: ou você é conivente e participa... Enquanto você é inocente ou enquanto você não sabe o que está acontecendo, é uma coisa. A partir do momento em que você começa a ter indícios e começa a ter alguma... Morei um ano em Brasília, e nesse ano em Brasília comecei a entender um pouquinho mais de política e um pouquinho mais do que se pode e o que não pode. Então, eu não queria mais participar da vida dele, eu não queria mais ser mulher dele. Essa decisão eu digo até quando foi. Levei alguns empresários amigos meus... Eu queria deixar bem claro o seguinte: eu acredito no Presidente Lula. Sei que isso não vem ao caso, mas eu acredito no Presidente Lula, porque acho que, se fiz um mau casamento e fui inocente, ele também pode ter feito um mau casamento, mas político, e também foi inocente. Porque convivi 24 horas com um homem durante um ano, e demorei um ano para perceber certas coisas, e mesmo assim há muitas de que não tenho certeza. Então, acho que ele também pode ter passado por isso. E eu votaria no Presidente Lula de novo. Eu fui levar alguns empresários... Houve um seminário em Nova Iorque. Eu sou uma pessoa que morei muito tempo em muitos países, tive uma educação...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Desculpe a senhora. Talvez essa parte do relato pudesse ser deixada para mais um pouco adiante.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Sim.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Eu ainda indagaria da senhora o seguinte: a senhora estabeleceu um pacto, um contrato, alguma coisa estabelecendo regras da relação de convivência conjugal com ele? Regras que pudessem ser de natureza econômica ou financeira?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu me apaixonei. Eu me apaixonei, casei com um homem que, durante 7 anos, falou que era completamente apaixonado por mim. Eu me apaixonei por uma pessoa, mas ele era outra pessoa.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Durante 7 anos?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - De 1995 até o dia que resolvi me casar com o Valdemar, ele insistentemente me procurava e dizia que eu era a mulher da vida dele, que ele queria namorar comigo, que ele queria casar comigo, que, se eu desse uma chance para ele, ele ia me provar que poderia me fazer feliz. Eu sou mulher. Então, mulher às vezes pensa com o coração mais do que com a razão.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Muito bem. Então, se conheceram 7 anos atrás, mas a convivência foi de 1 ano e meio?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Nós nos conhecemos em 1995. Eu comecei a namorar ele em 2002, nós namoramos por 2 meses, nós terminamos o namoro, nós voltamos. Mas, durante esses 7 anos, eu várias vezes saí para jantar com ele. Em geral, eu levava amigas minhas, porque eu não queria ir sozinha com ele, enfim, foram...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Muito bem. Existe algum processo judicial relativo à separação?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, isso foi uma coisa absoluta que eu não quis.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Muito bem, mas algum outro tipo de processo judicial entre a senhora e ele?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, existe, existem. Existem 6 queixas-crime que o Deputado pôs contra mim, existe um processo de busca e apreensão do Partido Liberal contra mim. Ah, eu gostaria de deixar claro também que as 6 queixas-crime que o Deputado Valdemar pôs contra mim ele não pôs com uma advogada privada. A advogada que assina as queixas-crime é a advogada do Partido Liberal.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E essas queixas foram feitas posteriormente à separação?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Essas queixas foram feitas posteriormente à separação. Existe uma ação que o Demarest, quando foi meu advogado, colocou, que se chama interdito proibitório, pela forma como ele mandou cortar a luz da casa no poste, ele mandou... E o resto, que eu acho que a maioria das pessoas que moram em Brasília sabem.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E as queixas-crime foram por que motivação?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Todas baseadas em crime de imprensa e, se o senhor quiser, o Dr. Paulo pode juntar tudo isso e entregar para o Conselho de Ética sem o menor problema, sendo que uma delas o Ministério Público já não aceitou.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Muito bem. Eu vou agora entrar nos quesitos objetivos.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Posso só dizer mais uma coisinha?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, senhora.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Já que a gente entrou nesse assunto e que eu não gostaria... O Deputado Valdemar foi casado antes com uma moça que chama Nara Aparecida da Costa e existem várias queixas no Supremo Tribunal Federal em relação a esse relacionamento, e ele já se separou há 15 anos.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Da iniciativa de quem as queixas?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Dele contra ela.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Então, agora vou prosseguir com as questões objetivas. O que a senhora sabe sobre o fato de o Deputado Valdemar Costa Neto utilizar verbas partidárias em proveito pessoal?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Bom, como eu já disse, ele utiliza toda a estrutura do partido em proveito pessoal, porque eu não era casada com o PL, que eu saiba, e a advogada que assina as queixas-crime contra mim e a busca e apreensão é do Partido Liberal contra mim. Eu, quando casei e quando fui morar com alguém, eu fui morar com um homem, não com uma entidade, e, de repente, eu sou uma mulher sozinha e estava me separando de, na época, acho que eram 45, hoje são 50 e não sei quantos. Então, tudo, a casa que eu vivia foi toda paga pelo partido, as contas da casa eram pagas pelo partido. Coincidentemente, a casa foi montada no momento que eu passei a viver com o Deputado Valdemar. Antes disso não existia a sede social do Partido Liberal.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A sede do partido era na residência?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu diria o contrário. Eu diria que a minha residência era chamada de sede social.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO -  Mas o aluguel... Era aluguel, no caso? Era pago pelo partido?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O aluguel era pago pelo partido, alguns móveis foram pagos pelo partido, algumas coisas eu trouxe de São Paulo e eram minhas, coisas pessoais minhas.
 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Sr. Presidente, pela ordem.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pela ordem, nobre Deputado.

 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Desculpe-me, Sr. Relator, eu queria fazer uma ponderação. O objeto do Conselho de Ética, em que este Conselho tem se pautado até então... Acho que não é justo nós estarmos expondo indevidamente a vida administrativa do PL, que foge ao objeto desta reunião. Eu queria fazer essa ponderação a V.Exa. Ainda mais que não temos aqui nenhum dado que possa de repente até se opor a essas afirmações que estão sendo feitas, que tais de aluguel, vão surgir compras de butiques e talvez de licores, etc. Eu faria essa ponderação a V.Exa.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pois não.
Com a palavra o nobre Relator, por favor.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nobre Deputado Edmar, recebo com a devida cautela essas informações, porque nós temos também uma nota, creio que oficial, do partido, posteriormente a essas declarações da Sra. Maria Christina, repelindo essas declarações, contestando a veracidade dessas informações. Por isso que eu me aproveito da sua contribuição para levantar para V.Sa., Sra. Maria Christina, esses questionamentos feitos pelo PL, não diria nem pelo próprio Deputado, pelo PL, contestando a veracidade dessas notícias, de que ele estaria usando em proveito pessoal. A senhora, querendo acrescentar alguma coisa, por favor. 
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, essas notas fiscais e toda essa documentação, na realidade, foi o próprio PL. Os Srs. Deputados podem entrar na 16ª Vara, pedir o processo de busca e apreensão que o Partido Liberal fez contra a minha pessoa e ali estão todas as notas fiscais. Foi uma surpresa para mim quando recebi isso também. Então, todas as notas fiscais, inclusive como o nobre Deputado disse, de chinelos, cabides e etc., mas isso foi o material que o PL entregou ao Judiciário, numa ação de busca e apreensão que está na 16ª Vara. O que eu posso dar aos senhores, e isso é meu, é que algumas coisas ali são de minha família, a foto e a nota fiscal são do PL. Eu posso dar também microfilmagens de cheques meus de coisas que foram compradas por mim e a nota fiscal é do PL. Agora, essas notas fiscais e essas fotografias é só os Deputados pedirem na 16ª Vara, busca e apreensão do Partido Liberal contra a minha pessoa, estão todas ali. Foi assim que eu tive acesso a isso.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, pela ordem, Sr. Presidente.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pela ordem, nobre Deputado.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, está parecendo aqui que nós estamos numa audiência da vara de família, onde os senhores estão funcionando como juiz e nós, espectadores. Na verdade, o motivo da vinda de dona Maria Christina até aqui eu entendo que é especificamente sobre a representação feita pelo PL contra o Deputado Roberto Jefferson. Esse assunto nada tem a ver com o motivo da representação. Portanto,...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Eu ingressarei no mérito, nobre colega, Deputado José Carlos Araújo. Não estou valorando essas declarações, apenas nós temos...
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Relator, só um pouco. Eu entendo, quem conhece V.Exa. tão bem quanto eu, com a competência, a seriedade, entende, mas acontece que nós todos estamos sendo envolvidos por esse relato e estamos perdendo um tempo com uma coisa que nada tem a ver com o motivo da representação.
Portanto, Sr. Presidente, o que gostaria é que nós nos ativéssemos exatamente ao motivo da representação e das questões correlatas a ela.
 Muito obrigado.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pois não. Vamos prosseguir. Com a palavra o Relator.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Apenas não poderia também deixar de fazer o registro.
 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Sr. Relator, para colaborar, eu gostaria de passar às vossas mãos notas fiscais do PL que dizem de todo o acervo dos móveis e utensílios da casa que — absolutamente não é o momento propício para dizê-lo — (ininteligível) o partido tem. Vou passar às mãos de V.Exa.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Está bom, Deputado Edmar. Tem a palavra o Relator, por favor.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Muito bem. Desde que V.Exa. possa trazer esses elementos, que, pelo que percebo, comprovam que esses bens são propriedade do partido, mesmo não utilizando recursos do fundo partidário, porque aí estariam em ilicitude e nós, de ofício,...
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Mesmo não, Sr. Relator, com certeza.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Muito bem. Se fossem recursos do fundo partidário, estaríamos diante de uma ilicitude e não nos poderíamos omitir, mesmo que também não seja esse o foco da investigação, mas nós teríamos a obrigação e a responsabilidade de anotar essas situações.

Sra. Maria Christina, a senhora, alguma vez, ouviu ou presenciou algo referente a doações que os Deputados da base do Governo estariam recebendo do PT, ou de qualquer enviado do Governo? Se afirmativamente, essas doações seriam pecuniárias e teriam caráter periódico ou acompanhariam as votações dos grandes eventos políticos nacionais?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Do Governo, não.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO  - Eu não falei "Governo". Vou repetir para a senhora: alguma vez ouviu ou presenciou algo referente a doações que os Deputados da base do Governo — Deputados da base do Governo — estariam recebendo do PT ou de qualquer enviado do Governo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Repito: do Governo, não; do PT, não; do Delúbio, sim.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO  - Essas doações seriam em dinheiro, teriam caráter periódico, acompanhariam as votações dos grandes eventos políticos, das grandes votações?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso eu não sei.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E a senhora diz "sim" e como fundamenta o seu "sim"? Como a senhora afirma que tinha conhecimento, ou que viu, que presenciou a entrega de recursos para Deputados, pelo Sr. Delúbio, que a senhora declara agora.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não presenciei a entrega. Eu encontrei o Sr. Delúbio uma vez, na minha vida, em janeiro de dois mil e... Quando o avião caiu, acho que foi 4 de janeiro de 2003. Eu acompanhei o Valdemar a uma festa em Buriti Alegre, na Fazenda do pai do Delúbio — era alguma coisa do Divino, porque eu trouxe uma bandeirinha dessa festa —, e, na volta dessa festa, o avião caiu. Pousamos em Goiânia; um amigo intimo do Delúbio, que eu não conhecia, o Dr. Paulo Viana e a mulher Rosa Viana, nos buscaram no aeroporto de Goiânia; fomos até a festa em Buriti Alegre e decolamos de  um outro aeroporto, que não me lembro bem o nome — era um aeroporto bem menor. Neste momento, gostaria até de deixar claro o seguinte:  essa viagem foi feita somente para a festa do Delúbio. Não houve, em momento nenhum, encontro qualquer com qualquer político do Partido Liberal. Porque eu li na contestação que foi um encontro do PL, e eu estou aqui para falar a verdade. Então, a verdade é essa. Nessa festa do pai do Delúbio tinham pouquíssimos políticos, pouquíssimos. De pessoas que eu conheço, estavam o Duda Mendonça e a esposa, que também foram de avião, mas um avião que não era jato, e pousaram nesse outro aeroporto que a gente decolou, estavam ou o Luciano ou o Zezé — eu não entendo muito de música sertaneja —, mas era um desses, ou o Luciano ou o Zezé de Camargo, um dos 2 estava presente, a família inteira do  Delúbio. E eu não me lembro de nenhum Parlamentar do PT. Eu não me lembro. Pode até ter, porque tem muita gente que eu não conheço, mas eu não me lembro. Quer dizer, não era uma festa de caráter político. Acho que era aniversário do pai, era um negócio de... E o santo anda pelas fazendas, e estava tendo isso lá. Então, esse era o nível — o Deputado  Valdemar diz que não tinha intimidade com o Delúbio Soares —,  esse era o nível de intimidade dos 2.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, mas a senhora, e o dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O dinheiro... Depois disso, todas as... O Delúbio nunca foi à minha casa, aqui em Brasília, nunca pisou na minha casa. Os encontros do Delúbio com o Valdemar eram sempre feitos em hotéis, ou num hotel que eu acho que se chama Gran Mercury, em São Paulo, ou no Blue Tree, aqui em Brasília. Eu sei disso porque, às vezes, ele me ligava do lobby dizendo que ele estava esperando o Delúbio. E é só por isso que eu sei. Em relação ao dinheiro, eu sei que existia um dinheiro por uma conversa que eu ouvi.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Que conversa, com quem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O Deputado Valdemar com o Bispo Rodrigues.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Onde e quando?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O Deputado Valdemar estava na minha casa, e o Bispo Rodrigues eu não sei onde estava. E o Deputado Valdemar falou com o Bispo Rodrigues em relação a que ele ia ter um aumento do partido em relação a uma operação financeira que estava sendo feita por causa... Quem eu acho que estava ajudando a montar essa operação financeira era o Bispo Rodrigues. Inclusive, eu queria deixar... Eu só entendi isso pelo seguinte: houve uma situação na qual o Bispo Edir Macedo não queria mais o Bispo Rodrigues como Presidente do PL no Rio de Janeiro, logo depois da exoneração dele. E houve meio que uma medida de forças. Existiam muitos cafés da manhã na minha casa e algumas vezes eu ouvia algumas coisas. E um dia eu perguntei para o Valdemar por que não deixavam o Senador Crivela assumir a Presidência do PL do Rio de Janeiro, porque ele é uma pessoa, na opinião da maioria das pessoas, mais bem preparada e que tem uma imagem melhor. E o Valdemar me disse que não porque o Bispo Rodrigues estava montando uma operação que ia fazer do PL o maior partido do Brasil. Por isso que, quando eu ouvi essa conversa entre os 2 ao telefone, eu prestei mais atenção. E aquilo naquele momento não me fez sentido nenhum. Hoje, várias coisas que não me fizeram sentido nenhum podem fazer muito sentido para os senhores. É como se eu tivesse visto trailers de um filme e, de repente, hoje talvez eu tenha uma parte do roteiro no meu colo.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas em nenhum momento a senhora viu dinheiro? Ouviu ele falar em valor?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não. Eu vi dinheiro, sim, no cofre que ele tinha na casa. Isso eu vi.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Dinheiro de alto vulto, alta monta?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, muito dinheiro.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO  -  Mais ou menos quanto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sou uma pessoa que eu pago tudo com cartão de crédito e com cheque. Então assim, eu não sou uma pessoa que estou acostumada...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Quem levou esse dinheiro para casa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele provavelmente, não eu.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas a senhora vivia com ele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu vivia com ele.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas então? Provavelmente ele por quê?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Porque eu não sei, só ele que abria o cofre. Eu não tinha o segredo do cofre, eu não mexia no cofre. Tanto que, para o senhor ver o limite da minha boa-fé, esse cofre foi retirado da minha casa e eu estava presente e eu não me indispus a que o cofre fosse retirado. Se eu fosse uma pessoa um pouco mais maliciosa...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora só viu o Delúbio uma única vez?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Uma única vez.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nessa festa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Na festa.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Ele nunca foi à casa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Nunca.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nunca. Os outros dirigentes do PT já compareceram à sua casa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Já compareceram à minha casa.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Quem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Na festa do... Eu pessoalmente me dou, eu pessoalmente gosto muito de algumas pessoas do PT.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, mas a pergunta é se estiveram lá em sua casa.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Estiveram na minha casa em ocasiões, em festas.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Festas?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Em jantares, em ocasiões sociais. Nunca nenhum membro do PT esteve na minha casa para negociar qualquer coisa política, inclusive os almoços políticos que aconteciam na minha casa eu não me lembro de ter nenhum membro do PT nunca.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E de algum outro partido? Líderes ou Presidentes de outros partidos?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, já tive.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Quais que a senhora lembra?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O almoço do Deputado José Múcio, o Bispo Rodrigues, o Valdemar, e o outro eu acho que era Pedro Henry. É porque têm algumas pessoas que eu não conheço. Então, eu vejo uma vez, eu não sei. O José Múcio eu sei porque ele é muito... Eu cheguei à sala e cheguei a cumprimentá-los. E ele, eu falei que minha tia gostava muito dele. A minha tia tem casa em Natal e ele é de Recife. Ela tem grandes amigos em Recife. Então, eu falei: "minha tia gosta muito de você".
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora teve a oportunidade de participar de algum encontro, reunião, de ouvir conversa sobre dinheiro, sobre esquemas, desculpe a expressão, esquemas?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não almoçava com eles. Minha casa, essa casa tinha uma sala separada na qual inclusive a entrada era separada. Algumas coisas às vezes eu ouvi, e que é isso que eu digo a vocês que são esses flashes, que para vocês podem fazer muito mais sentido do que para mim. Eu não sou política, sou publicitária. Então, não é um assunto que me...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - É porque a senhora declarou, na abertura, que fatos que creio dessa natureza, que não dignificam a vida pública, foram os motivos determinantes da sua separação.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Exatamente.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Então por isso nós queremos explorar a sua informação. A senhora deve deter essa informação, mas precisa dizer a este Conselho, porque nós não estamos conseguindo obter esse relato dessa verdade que a senhora produza.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Então, vamos a situações que eu achei esquisitas e que os senhores podem achar que elas são mais do que esquisitas. Quando caiu o avião, teve uma situação, no mesmo dia à noite, que o Valdemar...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Desculpe aí. A senhora vai falar sobre isso logo. Mas, em sua casa, antes de a senhora falar do avião, em sua casa não se recorda de nenhum fato que lhe tenha trazido assim uma indignação, envolvendo dinheiro, propina, mensalão, corrupção?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, na minha casa não me recordo de nenhum...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Ou em qualquer outro ambiente em que a senhora estivesse presente?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não; aí então...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Fora o avião.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, o avião é...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Em alguma reunião social onde houvesse tratamento dessas questões?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não. O avião acho que é importante porque...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, a senhora vai falar sobre o avião; é que eu quero explorar se houve outros eventos. (Risos.)
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, é porque eu acho que comprar partido político não é lícito. É?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Pode continuar.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Partido político a gente pode comprar?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Pode falar.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Então é isso.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Diga as suas verdades.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Bom, o avião caiu e, à noite, o Deputado Valdemar virou para mim e falou que o Marcílio tinha quase tido um enfarte quando soube que o avião caiu.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Quem é Marcílio?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Marcílio é... Ele incorporou 2 partidos para ter uma verba partidária maior, que mudava realmente... Eu não sei números. Os senhores devem saber números. Mas mudava assim tipo... Eu não posso falar, mas assim mudava... Isso é chute que eu vou dar. Mas mudava tipo de 30 mil por mês para 500 mil por mês. Para isso, ele tinha que incorporar 2 partidos. Ele incorporou 2: um é do Canindé Pegado, que é uma pessoa seriíssima, honradíssima, não tem nada — nunca soube de nada errado dele — o outro é desse senhor, que é o Marcílio, que o Valdemar me disse que ele quase enfartou quando soube que o avião tinha caído. Aí eu falei: "mas por quê?" "Porque eu tenho que dar 5 milhões para ele e o filho dele falou que o avião caiu e ele falou: ‘bom, agora ele morreu, eu não vou receber nada’." (Risos.)
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E qual seria a origem desses 5 milhões? A senhora percebeu?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, eu não sei!
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não tem mais algum elemento consistente que a senhora possa oferecer ao Conselho sobre essa história desse dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que provavelmente com 5 milhões a vida do Seu Marcílio tenha mudado muito, não é?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas a senhora sabe se ele recebeu o dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele deve ter recebido, não é, porque ele incorporou.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora tem elementos que auxiliem a nós para dizer que deve, por que deve e como deve?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, porque ele assinou a incorporação.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas a senhora não tem nenhuma indicação, nenhuma pista para nos dar? Foi um cheque? Foi no banco tal? Foi ali no edifício onde funciona o Banco Rural? Não tem nenhum elemento para oferecer a nós?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não se usa cheque aqui, não é? (Risos.)
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora é quem vai-nos dar os elementos. (Risos.) Nós queremos saber o seu conhecimento dos fatos. Eu estou explorando um pouco a imaginação, mas a senhora tem de dizer as verdades que a senhora conhece.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas as verdades que eu conheço são limitadas. Os senhores têm muito mais experiência, não é? E quem tem que investigar não sou eu. Os senhores têm muito mais experiência do que eu nesse tipo de coisa.

 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Vou prosseguir.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Inclusive, eu não sabia que era ilícito comprar partidos. Só vim a saber depois.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Vou prosseguir. O jornal Estado de S.Paulo, em sua edição de 18 de junho de 2005, traz notícia dando conta de que a senhora teria conhecimento de um esquema de contribuição ilegal para a campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, doação que teria sido feita pelo Governo de Formosa, Taiwan, e que a triangulação envolveria o Deputado Valdemar Costa Neto e o então tesoureiro do PT, Sr. Delúbio Soares.
O que a senhora diz sobre essa nota do jornal?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Bom, minha relação com Taiwan. No fim de 2002 houve um jantar social no restaurante Piantella, onde estavam alguns taiwaneses, o Deputado Valdemar, eu, Jacinto Lamas, uma pessoa que trabalhava no Partido Liberal, que se chama Marco Antônio, que não trabalha mais, e mais alguém. Era uma mesa de umas 8 pessoas. Foi a primeira vez, foi um jantar extremamente social, no qual estavam presentes um empresário de Taiwan que se chama Fan — tenho até um cartão da mulher dele, que é editora de um jornal lá — , mais algumas pessoas do Governo de Taiwan e uma pessoa chamada Chuong, de Mogi das Cruzes. Até então era um jantar social. No carnaval de 2004...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Desculpe-me. O jantar se resumiu a ser apenas um encontro social?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - No Piantella.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não houve nada que interesse a este Conselho?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Em 2004 houve.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, falo de 2002.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas eu falo em 2002, porque, como os senhores vão ter de investigar, os senhores poderão ver quem são os taiwaneses que estavam aqui no fim de 2002, para se ter uma seqüência lógica, porque como eu não...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Pode prosseguir, tudo bem.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Em janeiro de 2004, o Deputado Valdemar me falou que precisávamos ir a Taiwan, porque ele estava sofrendo muita pressão e ele precisava ir no Carnaval, em viagem oficial. Nós fomos a Taiwan a convite do Governo de Taiwan. As passagens foram pagas pelo Governo de Taiwan. Eles pagaram em business class. O Deputado pagou a diferença para mim e para ele para voarmos em primeira classe, mas o Senador Aelton de Freitas viajou com o Chuong. Chegando lá, foi uma viagem basicamente oficial. Existia uma intérprete full-time que se chama Isabel. Acho que ela até ia ser transferida para o escritório comercial de Taiwan aqui, em Brasília.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, acho que deveríamos chamar a Comissão de Relações Exteriores, porque estamos saindo do mote, que é a representação, para nos envolver em questões internacionais. Já estamos em Taiwan.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Nobre Deputado, ela está respondendo à pergunta do Relator. É muito importante.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Mas nada tem a ver. O Relator não está perguntando coisas de Taiwan. Está perguntando de dinheiro do Governo, dinheiro de entidades públicas do Brasil.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pois não.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Sou da Comissão de Relações Exteriores e estamos muito interessados. Portanto, peço ao Relator que continue. (Risos.)
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Sr. Presidente, pela ordem. É muito válida a contribuição do Deputado Fernando Gabeira. Estou curioso quanto à data do Carnaval em Taiwan a que ela se referiu.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - O Carnaval é brasileiro.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Quando é o Carnaval lá?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra a depoente, por favor.

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu trouxe o meu passaporte. O meu passaporte tem a data da viagem. Durante 2 dias fizemos visitas oficiais, e num dos dias houve um almoço no Ministério, inclusive foi em homenagem ao Deputado Valdemar. Ministérios de Relações Exteriores em geral têm protocolado esse tipo de coisa, porque eles imprimem um menuzinho, põe homenagem ao fulano, não sei o quê — que eu até tinha, mas não tenho mais. Nesse momento a Isabel, que era intérprete... Nesses momentos oficiais, eles utilizavam um outro intérprete. Quando a gente estava dentro da Câmara dos Deputados de Taiwan, foi o intérprete da Câmara, oficial; quando a gente estava dentro desse que acho que é o Ministério — eu estou com os cartões das pessoas aqui — foi a intérprete do Ministério. E a composição da mesa era a seguinte: Michel, que é esse senhor que acho que é Ministro da Relações Exteriores, não sei qual é a posição dele, ele estava aqui; eu estava à direita dele; à esquerda dele estava a mulher do Fan, que é essa senhora que é editora de jornal; ao meu lado estava o Deputado Valdemar. Depois não me lembro quem mais estava, acho que estava o Senador Aelton, o Chuong... Bom, não me lembro. A certo momento, o Michel perguntou para mim se eu me incomodaria — eu falo inglês fluentemente, eu estudei nos Estados Unidos — de fazer uma tradução ao Deputado Valdemar, porque ele não gostaria de usar o intérprete oficial, e acho também pela situação na qual eu estava sentada ao lado dele — e o Valdemar não falava absolutamente nada de inglês. Então, ele perguntou para mim da contribuição que ele tinha entregue ao Valdemar para a campanha presidencial e por que até hoje nenhum membro do PT tinha se manifestado e tinha ido até Taiwan e tinha facilitado as relações comerciais entre Taiwan e Brasil, e que, aliás, muito pelo contrário, eles tinham uma relação muito mais próxima com a China. E o Valdemar respondeu para eles que não, que era um momento político complicado, mas que eles provavelmente fariam alguma coisa. E eu traduzi isso de volta. Quando eu cheguei no hotel, eu perguntei: "Mas que é isso?" Ele falou para mim que ele tinha intermediado com o Delúbio uma doação para a campanha presidencial, porque eles tinham feito um acordo, ele e o Delúbio, quando eles fizeram a coligação. Tem algumas coisas que eu não vou saber dizer o nome técnico que os senhores sabem, verticalização, e pela verticalização muitos políticos do PL tinham se prejudicado; então, que o Delúbio tinha combinado com ele que ia dar uma ajuda de custo para esses políticos, e que o PT não estava cumprindo com o dinheiro que ele tinha que dar — isso foi dito pelo Valdemar e eu não tenho prova alguma contra o PT — e que o PT não tinha dado o dinheiro no dia que tinha prometido, e que daí, então, ele fez essa intermediação para que esse dinheiro que ele tinha prometido ele ficasse com uma parte e ele pudesse entregar aos Parlamentares. Então, isso é a Operação Taiwan.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Bom, mas a senhora nunca também viu a concretização dessa ajuda ou o dinheiro, nada? A senhora nunca viu?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Deputado...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Só esse relato, não é?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Se eu tivesse visto, eu tinha separado mais rápido.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Bom, eu não posso investigar o foro íntimo de V.Sa. A senhora sabe se havia uma grande amizade entre o Deputado Valdemar Costa Neto e o Sr. Delúbio Soares?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A pessoa que mais constantemente o Valdemar falava no Partido dos Trabalhadores era com o Delúbio Soares. Eu me dou com algumas pessoas do PT e o Deputado Valdemar várias vezes perguntava para mim por que eu me dava com essa gente, porque eles não são gente que nem a gente.

 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Pelo noticiário da imprensa, consta que a senhora tem conhecimento de que diversas outras agências de publicidade, além das já apontadas pelo Deputado Roberto Jefferson, seriam usadas para repassar dinheiro de estatais a políticos e assim montar a base do Governo no Congresso. Se é verdade a notícia da imprensa, quais seriam essas agências?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não tenho conhecimento de nada disso.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora declarou ao O Estado de S.Paulo, edição de 24 de junho último, que vem recebendo ameaças. É verdade?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu já recebi. Ano passado eu tive que fazer um Boletim de Ocorrência.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E este ano?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu fui ameaçada novamente.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Por quem, de que modo, por quê?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não sei. Eu queria saber até o Boletim de Ocorrência que fiz no ano passado o que aconteceu com ele.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Explique melhor o que aconteceu com ele.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Se foi feita uma investigação, porque no ano passado bateram no meu carro, no ano passado me ameaçaram de me matar. Tenho o Boletim de Ocorrência e posso disponibilizar ele depois para os senhores, e acho que até hoje não foi feita nenhuma investigação em cima disso.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A imprensa também noticia que a senhora declara que presenciou diálogos nos quais se discutiam o chamado mensalão. É verdade?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Bom, eu já falei que foi esse diálogo que ouvi entre o Bispo Rodrigues e o Valdemar.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E foi onde mesmo que aconteceu isso?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O Valdemar estava em casa, ao telefone, e o Bispo Rodrigues, eu não sei onde estava.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora conhece o Sr. Canindé Pegado?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Conheço.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E ele tem alguma participação em qualquer tipo de reunião que tratasse dessas questões de dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Que eu saiba, absolutamente não. O Sr. Canindé Pegado é o do outro partido pequenininho.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora celebrou algum acordo financeiro com o seu ex-marido, Deputado Valdemar Costa Neto?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso, Excelência, eu gostaria de explicar bem. Na época da minha separação, o escritório que eu contratei foi o Demarest & Almeida, que é um escritório excelente, é um dos melhores escritórios do Brasil. E a advogada do Partido Liberal, Ana Daniela Leite, mais uma vez, pediu para que a advogada do Demarest, Carla Lobo, mandasse uma proposta de acordo para terminar a nossa separação, na realidade não tem Vara de Família. Os termos dessa proposta de acordo foram dados e sugeridos pela advogada do Partido Liberal. E a advogado do Demarest me ligou inclusive e falou: "Maria Christina, eles pediram para mandar um acordo". Eu falei: "Carla, eu, se fosse você, não faria isso". Ela falou para mim: "Não, Maria Christina, isso é normalíssimo, é de praxe entre advogados fazer esse tipo de coisa". Eu contratei o melhor escritório ou considerado um dos melhores escritórios de advocacia do País, eu tinha que confiar neles. Inclusive se os senhores precisarem depois, o Dr. Paulo está entrando com uma queixa-crime contra o Deputado — a primeira queixa-crime que estou entrando — amanhã, no Supremo, contra o Deputado Valdemar Costa Neto em cima dessa história de extorsão, que atrapalhou a minha vida, e muito, e eu não quis prejudicar a Carla Lobo. Eu tenho inclusive e-mails trocados com o Demarest que provam que eu não dei consentimento, não fiz absolutamente nada, e o Demarest fez isso na boa-fé.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Demarest é o seu advogado?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Demarest & Almeida.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - É o seu advogado?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Era, na época.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Esse acordo se completou?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Claro que não. O objetivo... Bom, eu tenho que me ater aos fatos, mas a sensação que eu tenho é que o objetivo do Partido Liberal nisso não era fazer um acordo, era denegrir a minha imagem, porque eles não tinham nada para falar contra mim.

 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora, em alguma situação, durante a sua convivência, seja na casa, seja em qualquer outro local ou ambiente, viu o Deputado Valdemar Costa Neto entregar alguma contribuição, algum valor a qualquer Deputado do partido dele ou de outro partido?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Ou a membro do Governo ou do PT?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Diante de tudo o que a senhora declarou, como a senhora avalia a sua contribuição, de modo muito sucinto e objetivo, para este Conselho, de como, a partir da sua contribuição, se poderia impingir ao Deputado Valdemar Costa Neto uma culpa ou responsabilidade por algo que ele tenha cometido de errado?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Os senhores que têm que investigar.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, mas eu gostaria que a senhora pudesse, de uma forma já conclusiva, do seu depoimento, dizer eu acho que ele cometeu isto por isto, aquilo por aquilo.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sinto muito, mas eu...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não sou advogado de defesa, sou o Relator. Minha obrigação é a imparcialidade...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas eu não sou...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - ... na apuração e nos questionamentos.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas eu não sou advogada, eu não sou Ministério Público, eu não sou política.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas a senhora pode dizer de tantas as coisas esquisitas que a senhora falou e que foram motivos detonadores da sua separação. A senhora falou sem detalhar; por isso, eu indago por último.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tem mais coisa esquisita. (Risos.)
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - São esquisitas e se envolvem em ilicitude ou imoralidade da vida do homem público, em particular do Deputado Valdemar Costa Neto, então, relate aqui perante todos nós.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu nunca tinha pisado num cassino na minha vida. A primeira vez que eu fui num cassino na minha vida foi com o Deputado Valdemar Costa Neto, em novembro de...
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Pela ordem, Sr. Presidente
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pela ordem.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, Sr. Relator, eu queria saber o seguinte: no cassino foi gasto dinheiro público? É isso que eu quero saber. Vamos ser objetivos. Vamos perder muito tempo.
  O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Muito bem.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Vamos ser objetivos.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Vamos ouvi-la.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quinhentos mil dólares, se a pessoa não tem origem, eu acho que é uma coisa a ser investigada. Ou não? Eu não sei.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra os advogados do representado.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Então, eu nunca...
 (Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Talvez para a senhora concluir o seu raciocínio sobre esse dinheiro, se a senhora sabe da origem desse dinheiro.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não, os senhores que têm que investigar.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - O cassino foi no exterior?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O cassino foi no exterior.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - No exterior. E ele passou com essa dinheirama?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu já passei uma vez com uma dinheirama que ele ganhou na bolsa sem saber. Então, posso contar? Tá. (Risos.) Eu nunca tinha ido num cassino na minha vida. A primeira vez que eu fui no cassino foi no show do Luís Miguel com o Deputado Valdemar, no qual ele recebeu do gerente do cassino, do Conrad, 35 mil dólares para jogar. São umas fichas diferentes, que ele ganhou para jogar. Nesse dia, ele ganhou 60 mil.
 A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Cassino onde?

 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Em Punta del Este. Nesse dia, ele ganhou 60 mil dólares no cassino. O Conrad, ele usa meio que vôos fretados: vai todo mundo junto e volta todo mundo junto. Ele ganhou os 60 mil dólares. Ele quis sair do hotel no mesmo dia que a gente chegou. Às 4 da manhã, nós pegamos uma limusine, fomos até Montevidéu, pegamos o avião e viemos para o Brasil. Ele pediu para mim pôr na minha bolsa, porque ele disse que não dava para guardar com ele. E eu pus e entrei no País. Aí, quando eu entrei no País com isso, ele falou: "Agora você me dá o dinheiro". (Risos.) Essa foi a primeira vez. A segunda vez que fui a um cassino foi quando me casei. Eu me casei no... Eu já morava junto, ele quis se casar num cassino. Foi a primeira vez que fui a Las Vegas. Casei no Caesars Palace. A minha testemunha é um grande amigo do Valdemar, é o gerente de jogo do cassino, que se chama Alejandro Pariente. E o Valdemar transferiu 100 mil dólares para o cassino. Quando a gente chega lá, eles te dão um cartãozinho, e você tem um crédito a sacar, 100 mil dólares. Nesse momento, ele não perdeu. Daí, fomos embora do cassino e, do mesmo jeito que ele mandou o dinheiro para lá, ele mandou de volta para cá. Não sei como. Mas isso é só pedir documentação para o cassino. Inclusive, os senhores sabem que em cassino é tudo filmado. Então, eles são obrigados, não sei, a abrir, eu acho.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pois não.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sra. Maria Christina, a senhora falou que transferiu.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Transferiu de onde para onde? Transferiu 100 mil dólares para o cassino. De onde transferiu esse dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - De São Paulo.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - São Paulo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele falou para mim que ia ao escritório de alguém, não sei de quem. Ele falou: "Vou ao escritório transferir o dinheiro para o cassino".
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Antes de vocês viajarem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, um pouco antes de a gente viajar.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Que data foi essa, a senhora se lembra?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Trinta e um de dezembro foi quando a gente viajou. A gente passou o Natal em Nova York, dias 23 e 24 de dezembro. Então, deve ter sido na semana do comecinho de dezembro, 20, 21, 22.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Final de dezembro.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - De 2004. Não, desculpa, de 2003 para 2004. Na vez dos 500 mil dólares, fomos ao show do Julio Iglesias...
 (Intervenção inaudível.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, ele recebeu de volta. Um dia ele falou para mim: "Vou buscar o dinheiro". Mas não sei como era feito isso, ele é quem tem que responder. Ele é que tem a expertise em cassino, não sou eu. A terceira vez foi no show do Julio Iglesias, em Punta del Este. Dessa vez, eu me levantei da mesa, porque, na hora que levantei da mesa, ele já tinha perdido 300 mil dólares. A gente teve uma discussão. Havia várias pessoas, é só ver quem estava em Punta del Este nessa época, porque foi uma coisa meio patente. Falei: "Olha, acho um absurdo uma pessoa perder isso". Levantei e fui para o quarto. Ele foi atrás de mim e ficou uma hora no quarto. Ele voltou para o cassino e ficou jogando até as 8 da manhã. A hora que desci, ele falou para mim: "Perdi 500 mil dólares". Depois disso, ele foi de novo a cassino. Eu ainda estava casada com ele, mas eu não quis ir.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, só para completar. Esses 500 mil dólares, foi a senhora quem ajudou a transportar na viagem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu, não.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E como é que apareceu esse dinheiro? Os 500 mil dólares apareceram como?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Lá no cassino?
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tem que perguntar para o cassino como é que eles fazem.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não, como é que ele paga. Como é que ele pagou os 500 mil?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei. Pergunte para ele.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora não estava com ele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Como funcionava?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não sei, confesso que não sei.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele ia lá no caixa, pegava as fichinhas e assinava um papelzinho. Daí, o cassino guarda esse papelzinho.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Confesso que talvez aqui alguém conheça mais do que eu essa questão. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Srs. Deputados, com a palavra o advogado do representado, Dr. Luiz Francisco.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Obrigado, Sr. Presidente. Eminente Relator, ilustres advogados da testemunha e do representante,...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Por favor, peço silêncio.

O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA -... com destaque a honra de ter entre nós a presença do eminente Prof. Paulo José da Costa Júnior, a quem saúdo. Sr. Presidente, gostaria de dirigir algumas questões à Sra. Maria Christina. Mas, antes, a defesa do Deputado Roberto Jefferson quer se regozijar com V.Exa. e com o eminente Relator, e destacadamente com os ilustres Deputados da bancada do PL, que hoje, como vem tentando a defesa há bastante tempo, resolveram aderir à sustentação de que tem que haver, sim, correlação entre o fato da acusação e a defesa. Ouvimos todos o protesto quanto ao suposto afastamento da testemunha do tema da acusação, e nós queremos nos associar a isso que pareceu ser um protesto da bancada do PL, porque, afinal, vimos defendendo isso desde o início. A ilustre testemunha, dona Maria Christina...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Quero só deixar claro que não fui aqui advogado do PL.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ao contrário, refiro-me aos ilustres Deputados, à minha direita, que sustentaram que ela tinha que se ater ao fato da acusação e não a novidades, como eu protestei anteriormente, no caso do Deputado Jefferson. A ilustre testemunha, ao iniciar seu depoimento, referiu-se a divergências entre posições suas — dela, testemunha — e opções de vida, expressão por ela usada, do Deputado Valdemar Costa Neto. Pergunto se ela poderia ser mais específica quanto a essas opções de vida.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, eu já falei as opções de vida.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Não, não falou, não.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Então, o senhor podia ser mais específico na sua pergunta?
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Eu não sei, porque a senhora disse que havia uma divergência com relação ao seu ex-marido, em função de opções de vida dele, com as quais a senhora não compartilhava, mas não esclareceu que opções de vida seriam essas que causavam as divergências. É esse o sentido.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Desculpe, que interessem ao nosso estudo.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sim, que interessem à causa, é claro.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Então, todas aquelas que interessam à causa eu já falei. As outras são pessoais.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Nenhuma outra que interesse à causa?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Está bem. A testemunha também se referiu, Sr. Presidente, a uma busca e apreensão que estaria em andamento ou teve andamento na 16ª Vara. Pergunto se ela pode informar na 16ª Vara de onde, de que Comarca.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu passo o número do processo sem o menor problema.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Não, mas o lugar em que foi...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Brasília.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Brasília, 16ª Vara de Brasília. E também se ela pode informar quem é Jacinto Lamas, a quem ela se referiu como presente num jantar no restaurante Piantella, em final de 2002, quando estavam lá também os taiwaneses.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, esqueci, outra esquisitice. O Jacinto Lamas, algumas vezes eu vi o Valdemar pedir para o Jacinto ir para Belo Horizonte buscar a mala, ir para não sei onde buscar a mala, ir para... Eu acho que o Jacinto deveria ser convocado.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas quem é ele?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É o ex-Tesoureiro do PL.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah, do PL.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele vai poder ajudá-los muito mais do que eu.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Que malas são essas?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Aquelas que têm andado por aí ultimamente.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas se refere a malas de dinheiro.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não posso falar o que eu nunca vi.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas as que andam por aí sendo faladas são malas de dinheiro.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E outras malas também.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Dessas eu não soube.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele vai poder falar para o senhor mais do que eu.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Belo Horizonte, a senhora disse?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Belo Horizonte.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Belo Horizonte. A propósito, a senhora...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que deveriam ser investigadas não só as idas dele ao Banco Rural de Brasília, mas também as idas dele a Belo Horizonte.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Do Sr. Jacinto Lamas?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ham.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Em qual banco, em Belo Horizonte?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, isso eu não sei.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Se a ilustre testemunha, se referindo ao caso de Taiwan, a visita oficial, aquele jantar e as contribuições que teriam sido feitas em favor de um partido ou candidatura, se essas contribuições seriam do Governo taiwanês ou de pessoas taiwanesas que tenham empreendimento lá querendo penetrar aqui no Brasil.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O pedido de explicação me foi feito dentro de um órgão oficial de Taiwan. Agora, detalhes, a melhor pessoa para explicar para os senhores seria o Chuong, que foi quem intermediou.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ele mora no Brasil?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mora em Mogi das Cruzes.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Qual é a atividade dele lá?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Acho que ele planta cogumelo.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - É agricultor?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, mas ele é primo de políticos de Taiwan.
 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sim. Entre esses empresários presentes no jantar, qual era a área de atividade desses empresários taiwaneses lá presentes? Eram industriais, eram comerciantes, eram agricultores?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Um era banqueiro e o outro era industrial. Eu tenho os nomes, os senhores podem pesquisar e ver isso.

 O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Esse que era industrial, qual  era o ramo de indústria dele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Creio que eram vários, mas, entre outros, farmacêutico.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - E havia entre esses empresários, ou esse mesmo, algum que fosse investidor de jogos eletrônicos?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei dizer.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A ilustre testemunha, Sr. Presidente, também se referiu a uma transferência de 100 mil dólares norte‑americanos e a uma outra que não entendi bem se era transferência ou débito contraído num cassino de 500 mil dólares. Pergunto se essa transferência significando crédito do Brasil para o destino no exterior foi feita em nome de quem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi feita em nome do Deputado Valdemar.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - No nome dele. E onde foi feita?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Em São Paulo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Em São Paulo.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Quando foi feita?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Um pouco antes da nossa viagem, porque, quando chegamos no Caesars Park, o Alejandro Pariente recebeu o Valdemar.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Isso por ocasião do casamento?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. E deu para ele um cartão.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sim, o crédito do cassino.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - E dos 500 mil dólares também?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Dos 500 mil dólares, eu o vi perder parte, não sei como pagou.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Que jogo era esse?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Bacarat.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Bacarat. A senhora conhece o Deputado Sandro Mabel?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Conheço.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Em que circunstâncias?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Várias vezes o Deputado Sandro Mabel jantou em minha casa, almoçou em minha casa. O Deputado Edmar Moreira e a mulher dele, Júlia, de quem gosto muito, também jantaram e almoçaram na minha casa. E eu gosto muito do Deputado Sandro Mabel e da mulher dele, Cláudia, também.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - O Deputado José Janene também?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Pode até ser, mas não o conheço.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - E seu assessor ou chefe de gabinete, Sr. Genu?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tem pessoas que não conheço.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - E o Deputado e ex-Ministro José Dirceu?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Esteve na minha casa uma vez, só, inclusive foi a meu pedido, eu liguei.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A que título?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu liguei para a Maria Rita, mulher do Deputado, pedindo para que eles fossem a um jantar na minha casa.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah, era um convite social?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. Ele esteve uma vez. Quero deixar claro que o Deputado José Dirceu não gosta do Deputado Valdemar Costa Neto.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah, é?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Tá bom. (Risos.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E eu ... tudo bem que o mundo desacredita nele, mas eu pessoalmente tenho grande admiração pelo Deputado José Dirceu.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A senhora e milhares de paulistas que o trouxeram a esta Casa como Deputado. A senhora é paulista?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Sou paulista.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Então. E o Sr. Marcos Valério, já que falamos em Belo Horizonte, já esteve na sua casa? A senhora o conhece?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Nunca o vi.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Nem nunca antes tinha ouvido falar dele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Penso que estou satisfeito. Meu colega... Não? Posso prosseguir? Então, vou prosseguir, com a tolerância de V.Exa. e a paciência da ilustre testemunha; ilustre e encantadora. (Manifestação do Plenário.) (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - V.Exa. vai continuar?
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Pretendo.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Com todo o decoro...
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A senhora pode informar se seu ex-marido, o Deputado Valdemar Costa Neto, costuma usar cheques, cartões de crédito?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Nada em cheque e cartão de crédito. Começou a usar um Visa Elétron que era debitado na conta do partido depois que eu dei um monte de chilique, porque falei que não existia, que nunca tinha visto uma coisas dessas.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ele anda com dinheiro no bolso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele anda com dinheiro no bolso.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Moeda nacional?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Moeda nacional e moeda internacional também. Quando viajávamos, ele pagava tudo em cash.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sei. E ele viajava transportando esse dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, ou eu, sem saber.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A senhora também?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele não colocou na minha bolsa uma vez?
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - O quê?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ué, vindo do cassino.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah, isso era mais de 10 mil dólares?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quando eu trouxe, eram 60.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Foi declarado o ingresso disso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ham? Desculpe-me.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Foi declarado o ingresso disso no País?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - E, quando saiu, também não?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não saiu, saiu em fichinha.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Aquela transferência de 100 mil foi transferida de um banco para lá?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, isso já não sei. Não, não deve ter sido, não é?
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A senhora não tinha acesso à declaração de renda do seu marido?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.

O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Não sabe se ele declarava isso ?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Era feita alguma transferência de dinheiro nessas suas viagens ao exterior com ele em seu nome?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Nunca houve isso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Feita no nome dele.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sempre no nome dele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É. Não, se tivesse sido no meu nome, eu tinha separado antes, não é?
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas, certamente, além de ter separado, teria recibo disso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, mas nunca foi.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah, está certo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sou ética, doutor.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas se fosse em seu nome, teria recibo ou não teria?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, mas não deixaria acontecer.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Está certo. Desculpe, pode lhe parecer que minha pergunta tenha outro sentido que não o de esclarecer a verdade. Mas é que, havendo essas movimentações de moeda estrangeira para o exterior, ingresso ou evasão, ou coisa e tal, e se esses recibos fossem em nome da testemunha, provavelmente involuntariamente, se ela fosse usada, recairia sobre ela essa responsabilidade. Por isso, é uma oportunidade que ela teria de dizer que não é com ela.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O máximo de conivência que fiz foi levar na minha bolsa foram os 60 mil dólares que ele ganhou.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sim, mas isso lá fora no cassino, não é?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, como no cassino? Do cassino para o Brasil.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas eu não sabia que era ilícito.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Está certo. (Risos.) A senhora se referiu a um acidente aéreo, caiu um avião.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Nesse avião tinha uma mala de dinheiro a bordo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, nesse avião não tinha uma mala de dinheiro a bordo, porém, já que eu acho que os senhores estão aqui para investigar, os senhores deveriam investigar os vôos do avião do Fernando Simões.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Fernando Simões? Quem é Fernando Simões?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E a utilização desse avião pelo Deputado Valdemar Costa Neto, porque algumas vezes ele mandava eu e o chofer, o chofer me pegava, pegava ele e íamos a uma garagem na Rua Gomes de Carvalho, e ele descia...
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Em São Paulo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É. E algumas vezes ele descia com mala. Coincidentemente, era utilizado esse avião e não era utilizado avião de carreira.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Isso no Campo de Marte ou em Congonhas?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Às vezes decolava do Campo de Marte e outras decolava de Congonhas.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - E quem é Fernando Simões?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É um amigo do Deputado Valdemar Costa Neto, que tem empresa de ônibus e de lixo.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Onde?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, não sei onde.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Em São Paulo ?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, ele mora em Mogi das Cruzes no mesmo prédio.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah, em Mogi das Cruzes.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, mas não sei onde são as empresas.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A senhora disse lixo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Lixo.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Pois não. E havia alguma relação mais próxima entre o seu ex-marido, Deputado Valdemar Costa Neto, com o Deputado Sandro Mabel?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O Sandro era Líder do partido.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Decorria tão só do exercício mandato e do fato de ele ser Presidente. É isso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que o Sandro penava tanto quanto o Presidente Lula pena e quanto eu penei.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - E o Bispo Rodrigues?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu preciso responder isso?
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Se lhe for possível.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Vou levar outra queixa‑crime, agora da Igreja Universal.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas tenho certeza de que o Conselho saberá defendê-la. A senhora está prestando homenagem à verdade aqui, merece nosso aplauso, não é isso Sr. Relator?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho é que não... Eu tenho de me ater a fatos, não posso dizer "eu acho".
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A senhora diz e vemos o que é.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho possível que o PT não tenha absolutamente nada a ver com isso, mas tenha sido uma coisa montada pelo Bispo Rodrigues, Valdemar Costa Neto e Delúbio Soares.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Contra? Montada contra? Não entendi, não me situei bem. Que coisa que foi montada?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A Operação Mensalão.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - A Operação Mensalão. Então, a senhora já tinha ouvido falar?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, mas não estou afirmando.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sim, a senhora tem essa impressão. E por que a senhora tem essa impressão?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Pelos flashes de situações que vi.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Por exemplo?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Já falei alguns. Conversas telefônicas do Deputado.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Aquelas do hotel?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Entendi. E por que fariam as pessoas mencionadas isso contra o Partido dos Trabalhadores ou o Governo? Qual seria a motivação deles?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele pode ter feito com o Delúbio.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas, tanto quanto sei, o Sr. Delúbio Soares é do Partido dos Trabalhadores. Por que ele faria isso contra o partido?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E o Deputado Valdemar Costa Neto é Presidente do PL, não casei com o PL, mas fui processada pelo PL.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Sim, mas ele não é contra o seu casamento, enquanto ele existiu. Agora a senhora está dizendo, se entendi bem, que essas 3 pessoas ou mais teriam se associado para inventar uma história para cima do Partido dos Trabalhadores. Foi isso que entendi.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu acho que eles podem ter inventado uma operação para...
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Quis dizer uma operação.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ... para beneficiar a eles próprios.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Ah, e dizendo que seria um tal de mensalão. Isso significa que eles teriam amealhado dinheiro e ficado com dinheiro para eles?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei, os senhores que têm de investigar.
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Mas essa foi a impressão do que a senhora falou.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei, os senhores que têm de investigar. Pelo que tenho acompanhado...
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Nós estamos investigando; isto aqui é uma investigação.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas, pelo que tenho acompanhado, metade do PT não sabia dos empréstimos que foram feitos; então, por que eles poderiam também não saber disso?
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - Está certo. Meu colega vai prosseguir.
Muito obrigado.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, Sr. Relator, nobre depoente, Dr. José Paulo da Costa Júnior, Dr. Fernando, Sras. e Srs. Deputados, a depoente nos informou que foram realizadas compras com cheque particular, pessoal dela, e as notas fiscais foram emitidas ao PL, como se as compras tivessem sido feitas ao PL, materiais que foram colocados em sua residência. Entendi bem, Sr. Presidente? Dirijo-me ao Sr. Presidente, com todo o respeito à senhora, por uma questão regimental.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Entendeu bem, sim. Tenho a microfilmagens de todos os cheques.
O SR. ITAPUÂ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, se ela tem informação se o Partido Liberal, se ela entende que esse ato, esse gesto dela foi uma contribuição para com o PL.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O quê?
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - O fato, Sr. Presidente, de ela ter comprado alguns bens, que ela não disse quais foram. Quais foram esses bens?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu nunca fiz contribuição ao PL, não. Mas eu comprei, eram meus, eu morava na casa, a casa era minha.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - E por que a nota, Sr. Presidente, saiu para o PL?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Só o PL pode responder por isso.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, gostaria de requerer a V.Exa. ou então indagar a depoente se, na prestação de contas do PL, foram consignados esses bens como doação no ano em que ela... A que ano se refere, Sr. Presidente?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi 2003.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - O.k., Sr. Presidente, continuando. Sr. Presidente, na revista Veja desta semana saiu uma matéria que vou fracionando e perguntando à nobre depoente. Diz assim, matéria do jornalista Otávio Cabral: "No dia 25 de fevereiro do ano passado, duas semanas depois da queda de Waldomiro Diniz, o assessor da Casa Civil flagrado achacando um empresário..." Primeira pergunta. Pelo conhecimento dela havia, na época, alguma proximidade entre o Dr. Valdemar Costa Neto e o senhor Waldomiro Diniz?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não tenho idéia.

O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, diz a matéria: "Miro Teixeira foi ao Palácio do Planalto reclamar ao Presidente sobre o mensalão. Waldomiro Diniz, na condição de braço direito de José Dirceu, era quem cuidava da relação do Governo com o Congresso. Com sua demissão, os credores do mensalão entraram em polvorosa. Miro Teixeira, que havia assumido a Liderança do Governo na Câmara há 3 semanas, começou a ser procurado pela tropa interessada em saber como seria paga a mesada dali em diante. O Deputado ficou estupefacto, não sabia o que era mensalão. Entre os dias 17 e 19 de fevereiro, Miro Teixeira recebeu várias sondagens. Numa delas, na manhã do dia 17, a pressão veio em comitiva, eram 3 Deputados juntos querendo saber do futuro financeiro; foi numa manhã. Eram eles: Valdemar Costa Neto, Presidente do PL; Sandro Mabel, Líder do PL, e Pedro Henry, Líder do PP".
Primeira pergunta: Sr. Presidente, essa comitiva teria saído da casa dela ou teria saído — se ela tem informação a respeito da montagem dessa reunião — dos diálogos que houve com Miro Teixeira? Se ela tem alguma informação a respeito disso.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não tenho idéia.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, alguma vez ela ouviu reclamações do Deputado Valdemar de que a bancada do PL, de que alguns Deputados do PL ou de que o Governo havia suspendido ou estava fazendo a liberação do mensalão, que ela já admitiu que sabia existir?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele falou, tanto que era ajuda para alguns Parlamentares do PL. Mas isso não quer dizer que sejam todos. Queria deixar claro que eu acho que em todos os partidos existem pessoas...
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS -  Exceções. Não é isso? Regras e exceções. Estou entendendo. Ela está preservando a maioria do PL ou determinado número. Estou entendendo, todos estão entendendo.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, peço licença. Dona Maria Christina, essa indagação é muito importante, e é preciso que V.Sa. declare a verdade do que sabe a respeito, não de ouvir dizer ou de que a imprensa está divulgando. A senhora tem conhecimento? De que modo tem conhecimento dessa história que ele questiona?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Como já falei, tenho conhecimento do mensalão pela conversa do Deputado Valdemar Costa Neto com o Bispo Carlos Rodrigues, na minha casa. O Deputado estava ao telefone e o Deputado Carlos Rodrigues, não sei onde estava, do outro lado.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS -  Nesse momento ainda não havia sido suspenso o mensalão? Ou a reclamação era ‘o dinheiro está indo ou está vindo’?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Mas aí eu já não era mais casada com ele, quando, pelo jeito...
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS -  Isso. Era essa a resposta que imaginei realmente. Quer dizer que foi antes dos fatos. É isso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu me separei em julho de 2004. Eu não teria como saber isso.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - A conversa foi antes de julho?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Entendi. Sr. Presidente, nesse diálogo de que ela se recorda entre o Deputado Valdemar Costa Neto e o ex-Bispo Carlos Rodrigues, ela se recorda por acaso do tipo da discussão, se a mala estava indo, se a mala estava vindo? Ela lembra da história do mensalão, mas ela se recorda como era, se tinha acabado ou se o dinheiro estava chegando? Como era?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS -  Não se recorda desses fatos?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. E não tinha ...
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - A expressão.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ...essa expressão "a mala". Eu só ouvi a "mala" com o Jacinto.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS -  Entendi. Alguma vez, Sr. Presidente, a depoente presenciou alguma reunião do Dr. Valdemar Costa Neto com Silvio Pereira ou participou de alguma discussão de indicação de cargos do Governo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Nunca participei de nenhuma, mas sei que ele, às vezes, se encontrava com Silvio Pereira.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS -  Mas os motivos, a senhora não sabe quais eram?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Desconheço. E pelo que uma vez o Valdemar comentou, o Silvio Pereira estava fazendo a parte de cargos, ele não tem nada a ver com dinheiro, mensalão ou esse tipo de coisa.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS -  Quer dizer que, naquela oportunidade, pelo o que a senhora ouviu o Deputado Valdemar Costa Neto comentar, ele excluía o Sr. Silvio Pereira da parte financeira?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Ele tinha de levar uns currículos para o Silvio Pereira, porque os currículos tinham de ser pré‑aprovados, não era assim uma indicação total.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - E quem pré-aprovava esses currículos era o Silvio Pereira?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei. Devia ser. Eram entregues a ele, agora quem que pré-aprovava não sei.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, a princípio, estou satisfeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o nobre Deputado Chico Alencar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sra. Maria Christina, vou me basear primeiro numa matéria do jornal Folha de S.Paulo, de 24 de junho, em que a senhora disse que estava fazendo exercício de memória para anotar vários aspectos que interessam a esta investigação, a este processo, partindo de sua convivência com o Deputado Valdemar Costa Neto, acusado pelo representado, Deputado Roberto Jefferson, de receber propinas mensais e somas grandes para votar com o Governo, para corromper Parlamentares, acusações as quais ele reagiu no próprio depoimento inicial do Deputado Roberto Jefferson, com muita veemência, numa troca de acusações, inclusive, que fugiam, aí sim, da matéria que estamos examinando. A senhora disse que está recebendo ameaças: de quem, como, qual a origem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Agora elas pararam. Recebi logo depois que fui arrolada como testemunha do Deputado Roberto Jefferson, recebi algumas ameaças por telefone.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E qual o teor dessas ameaças?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - De que, se eu não calasse a boca, iriam me matar, esse tipo de coisa. Tenho um boletim de ocorrência. Inclusive são muito parecidas com as que eu recebia no passado.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - No passado?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Há um ano atrás.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ainda casada com o Deputado?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Quando eu resolvi me separar.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E a voz a senhora identificou como sendo a mesma?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Não é ele que me liga, conheço a voz dele.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora disse nessa mesma matéria...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Deputado, V.Exa. me permite?
  O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Pois não.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora tem a identificação dessas ligações telefônicas, dos números?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, mas se os senhores quiserem, podem quebrar meu sigilo. Dessas coisas não entendo muito, mas...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora fornece as informações telefônicas das suas contas?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Forneço todos os telefonemas que recebi.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora pode apontar quando ocorreu a ligação, a partir da listagem?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Posso dar mais ou menos uma semana, um período, mas...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Então nós agradecemos.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Os pontos que anotei mais relevantes das suas declarações e impressões dizem respeito, por exemplo, à suposta compra — e têm a ver com nosso trabalho aqui — de um partido que pelo que entendi seria o PST?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - O Sr. Marcílio seria o Presidente.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Marcílio Duarte, acho que é o nome dele.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Presidente do PST, Partido Social Trabalhista?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Há tantos que nem sabemos o nome.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É só ver os 2 que incorporaram. Um é de uma pessoa superética, que eu saiba, que é o Canindé Pegado.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Correto. Agora a senhora disse que, quando houve o acidente do avião, o Deputado Valdemar comentou que ele quase teve um enfarte.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quase enfartou.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Por quê?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Porque o filho dele, o filho do Marcílio viu na televisão que o avião... Porque antes de aparecer as imagens, começaram a falar que caiu um avião com o Deputado, o Presidente do PL. Daí o filho do Marcílio ligou para ele para falar que o avião tinha caído.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Vocês estavam voltando da festa...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Da festa da fazenda do Delúbio.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Da festa da fazenda do pai do Delúbio Soares.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E esses 5 milhões estariam num avião?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ah, sim, porque o suposto pagador, o comprador do partido é que morreria?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ah, sim. É que eu tinha entendido que os 5 milhões estavam no avião; são tantas malas, tantos aviões, que sempre achamos isso.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora declarou...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Deputado Chico, perdão.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Permite V.Exa. a palavra ao Relator?
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - É evidente.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sra. Maria Christina, desculpe-me insistir nesse ponto, porque é muito importante. Ocorreu o acidente e houve socorro à senhora e ao Deputado Valdemar Costa Neto?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ocorreu o acidente, mas o Deputado Valdemar Costa Neto estava bêbado. Então, eu quis entrar num táxi. A gente desceu do avião, eu entrei no táxi. Daí veio até o bombeiro e falou: "Mas, minha senhora, os procedimentos normais são ir para o hospital e fazer exames", etc. E aí falei — o senhor já viu ex-mulher histérica? —: "Não vamos nada". E a gente entrou num táxi e fomos para minha casa. Quando chegou na minha casa, minha empregada fez um monte de café para ele, e ele deu a entrevista no Jornal Nacional.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E a bagagem foi junto?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E não havia nada de anormal na bagagem?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Existia, sim, uma sacola, mas era uma coisa minha.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nenhum vestígio de dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Era uma pinga que eu ganhei do Delúbio e a bandeirinha.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Continuando então, Sr. Presidente, vocês foram e voltaram no mesmo dia a essa festa.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.  
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Esse jatinho era de propriedade de quem?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Fernando Simões.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sim, o que é empresário de ônibus e de coleta de lixo?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Amigo de seu ex-marido.

 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. E era o avião no qual a gente voava regularmente.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sim. E alguém mais além de vocês 2 ou 3? Quem mais estava nesse vôo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, nesse vôo, só nós 2.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ele caiu na volta, já em São Paulo, num  acidente sem maior gravidade? 
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Na realidade, ele pousou e ficou sem freio. Daí o piloto não quis puxar — parece que tem um negócio de emergência que você puxa e trava o avião, estoura as rodas, mas daí o avião só sai no guincho. E ele não queria fechar o aeroporto. Então ele desligou o avião na hora em que ele viu que não tinha freio, e o avião deu um cavalo de pau e foi parar na 23 de Maio.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora ouviu, alguma vez, pelo menos flashes, trechos de algumas conversas de Parlamentares falando de mensalão ou de compra de Deputados ou dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ouvi várias vezes o Valdemar falar que aqui nada é por amor, é tudo por grana.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas a senhora ouviu isso por telefone ou conversando com outras pessoas?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Isso pessoalmente. Dito para mim também inclusive.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas se referindo a quê? Eram conversas com outros Parlamentares, com o Deputado Carlos Rodrigues, que não é mais Bispo da Igreja Universal.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Isso era uma coisa que ele repetia sempre.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas, por exemplo, a senhora presenciou alguma conversa dele com outros Parlamentares para quebrar resistências do PTB, presidido pelo Deputado Roberto Jefferson, quanto a essa operação que a senhora mencionou entender ser exclusiva do Delúbio, do seu ex‑marido e do Carlos Rodrigues?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. O que sei do mensalão é pela conversa dele com o Bispo Carlos Rodrigues.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Foi uma vez só?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não foi uma, não. Foram umas 4. Porque para cair a ficha para mim é meio lento.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Deputado Chico Alencar, permita‑me. (Pausa.) Sra. Maria Christina, dentro desse assunto, o jornal Correio Braziliense de hoje, em matéria intitulada As revelações da ex-mulher, diz assim: "Maria Christina, que enfrenta Valdemar no ruidoso processo de separação, falará, por exemplo, da reunião do ex-marido com os Deputados Pedro Henry, Carlos Rodrigues e o Líder do PTB, José Lúcio Monteiro. Nela, PP e PL teriam tentado convencer o PTB a aderir ao esquema de mensalão". E abre aspas, referindo‑se a V.Sa.: "Vou falar tudo. Tudo que me perguntarem eu vou responder — avisou Maria Christina, recusando-se a adiantar o teor do depoimento". A senhora confirma que houve essa reunião e houve essa história que está aqui?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Confirmo que houve essa reunião na minha casa. Nunca falei com o Correio Braziliense.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E a reunião foi para tentar conquistar a adesão do PTB ao esquema mensalão, que está escrito na matéria?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso o senhor tem de perguntar ao ...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não. Estou perguntando a V.Sa. para dizer que a matéria não é verdadeira.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora assistiu, ouviu?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu não dei nenhuma entrevista para o ...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não é o jornal que está dizendo que teria havido essa reunião com esses personagens, dando a entender que a senhora teria participado da reunião, teria escutado essa conversa para conquistar a adesão do PTB.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu não participei dessa reunião.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Prosseguindo, Sra. Maria Christina, a senhora conheceu na sua casa ou em qualquer outro ambiente o Deputado Roberto Jefferson?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Encontrei o Deputado Roberto Jefferson uma vez, no Porcão.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Só uma vez.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Estava acompanhada do meu marido.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Nesses jantares ou cafés da manhã, onde a senhora inclusive disse que ouvia do Deputado Valdemar Costa Neto, creio eu, não sei se dele ou do Bispo Carlos Rodrigues, a afirmação de que o PL seria o maior partido do Brasil, havia uma preocupação para que a senhora não participasse das conversas e colocá-la à parte?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Havia.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E qual era o argumento normalmente utilizado, suponho, pelo seu marido anfitrião?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas eu também não fazia muita questão de participar. Então as coisas que eu ouvi, ouvi por acaso, não é que... Eu trabalhava, tinha outras coisas para fazer.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quando a senhora diz que o que é normal na atividade privada não é normal na atividade política, a senhora poderia dar 2 ou 3 exemplos exatamente disso, dessa conclusão a que a senhora chegou na convivência com um Parlamentar?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É normal uma empresa comprar outra empresa, não é?
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - É normal dentro das regras capitalistas.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É normal um partido comprar outro?
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Não. É anormal. Quando a senhora falou: "Em Brasília não há cheque". Claro que há um elemento de ironia aí. Por que a senhora afirma isso? Por causa do cofre?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Porque eu fui casada com o Deputado Valdemar, e ele praticamente pagava tudo em dinheiro.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - No cofre a que a senhora fez referência — a senhora, claro, nunca contabilizou o que lá estava —, a senhora percebeu, em algum momento, se eram reais, dólares, euros...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Dólares e reais.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Dólares e reais. A senhora disse que ouviu o seu ex-marido falar com o Deputado Carlos Rodrigues que o Delúbio Soares teria doações para outros partidos. Eu entendi bem?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora não falou isso?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quando a senhora diz que "o Delúbio estaria envolvido numa operação, digamos esquisita, estranha, inusitada", aí a senhora isenta, o que me conforta, o PT e o Governo. Por que a senhora afirma isso, já que o Delúbio Soares era o nosso tesoureiro até duas semanas atrás?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Como isento também todos os Parlamentares do PL...
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sim, mas a senhora, então,...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ... nos processos que o Deputado Valdemar está pondo contra mim. Ele era o Presidente e ele fez. Ele pode ter feito coisas sem os senhores saberem, como meu ex-marido pode ter feito coisas sem outros Deputados saberem.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora só esteve com o Delúbio Soares apenas uma vez, não é?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Uma vez na fazenda.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas sabia de encontros dele com o Deputado Valdemar?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, isso eram constantes.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora deduzia, então, que ele agia mais numa operação pessoal, individual, do que partidária?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. É porque eu sabia que alguns membros do PT, que eu pessoalmente me dava, eu sabia que o Valdemar não gostava deles. Inclusive é aquilo que eu falei. Ele falava várias vezes para mim: "Não sei como você fica andando com essa gente que não é gente que nem a gente".
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sim. E aí a senhora poderia lembrar algumas dessas personas non gratas do PT, por exemplo?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A Bete, mulher do Gushiken, eu gosto muito, muito minha amiga. A Márcia é muito minha amiga.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Qual Márcia?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A mulher do João Paulo. É uma coisa engraçada até isso. Não vem ao caso, mas eu queria dizer. Mas depois da minha separação, as únicas mulheres que foram leais e me deram apoio foram as mulheres de esquerda. Foi a mulher do Aldo Rebelo, foi a mulher do Gushiken e foi a mulher do João Paulo.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas e outros Deputados que não eram confiáveis, digamos assim, dentro dessas supostas negociações?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas eu me dava com as mulheres. Eu não me dava com os homens.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas ele citou alguns?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, não. Mas ele não gosta de vocês não. (Risos.)
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas, em geral, Deputados do PT.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele falava o tempo inteiro.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Os Deputados do PT não são confiáveis?
A senhora aproxima a postura do Delúbio Soares ao do também, creio eu, ex‑Tesoureiro do PL, Jacinto Lamas? Ou era diferente? Qual a diferença?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. O Jacinto Lamas era mais manipulável.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas com ele a senhora teve mais contato? Ele ia mais à sua casa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Jacinto Lamas ia sempre. O Jacinto Lamas era meio que um office-boy. Ele era uma pessoa que executava as coisas que o Valdemar... Na realidade, todas as pessoas que trabalham no PL são meio que empregadas do Valdemar. Vamos dizer assim, eles não têm muito acho, ou penso, ou faço.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora tinha informações de que uma das agências bancárias freqüentadas por esse mundo da política que a senhora conheceu lateralmente era do Banco Rural ou nunca ouvira falar desse banco?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu sabia das malas de BH.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sabia, na ocasião, até julho do ano passado?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. De o Valdemar ter mandado o Jacinto ir buscar a mala em BH, só que até aí para mim não representava nada. Inclusive quem passou para a imprensa investigar o Jacinto fui eu.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora, então, ouviu algumas vezes o ...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Só que eu achava que era em BH, não sabia que, além de BH, também tinha o Banco Rural.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas a senhora ouviu essa formulação, essa expressão?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Duas ou três vezes.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Solicitação para que o Jacinto, que era bastante dedicado,...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Duas ou 3 vezes.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - ... pegasse malas em BH.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É. "Você vai buscar, em Belo Horizonte, a mala e encontra em São Paulo".
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora nunca teve, na ocasião, curiosidade de saber que malas eram essas?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A mesma pouca curiosidade que eu tive de pegar o cofre e reter para mim.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Poderia me explicar melhor: pegar o cofre... Eu não acompanhei o noticiário no detalhe.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu ainda morava na casa quando o Valdemar mandou retirar o cofre de lá. Então, são coisas dele. Eu acho que existe um limite entre...
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - O cofre era dele ou da residência que seria do Partido Liberal, ou alugada pelo Partido Liberal?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O meu casamento eu acho que é um dos poucos casamentos institucionais e governamentais que já existiu neste País.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Não, quem está na atividade política, se serve como consolo, sempre ouve do cônjuge que talvez a gente tenha se casado mais com o partido do que com a pessoa, pelo nível de compromisso e engajamento.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas daí é o senhor que casa com o partido. No meu caso, eu casei com uma pessoa física e o meu marido, no fim, era o jurídico.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Realmente deve ser desagradável.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Continuando, Deputado.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Continuando. A senhora afirmou, nessa mesma reportagem a que fiz referência, que a suposta compra dos partidos que se incorporaram ao PL teria sido com dinheiro repassado por uma agência de publicidade que tem conta de uma estatal?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não me lembro disso. O Valdemar pode ter falado isso. Eu não me lembro. Eu tenho feito — aliás, como eu disse, são flashes — um grande trabalho assim de escrever e pegar minhas agendas e olhar e tentar lembrar de coisas porque eu não tinha objetivos políticos nas coisas.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Com relação a Taiwan, queria precisar melhor a participação do Sr. Delúbio Soares nesses negócios em Taiwan. Ao contrário do que se propalou, ele não fez essa viagem de jeito nenhum junto com vocês.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, ele nunca teria... Não, não. Ele nunca fez essa viagem.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Porque isso chegou a ser colocado na imprensa.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não. Eu posso dar uma sugestão? Eu me lembrei agora de uma situação: parece que um pouco antes da nossa viagem houve uma troca de telefonema entre o Chuong e o Delúbio. Se vocês... Porque o Valdemar falou que a gente tinha que ir. Quando ele falou que ele estava sendo pressionado, ele falou que a gente tinha que ir, porque o Chuong já tinha ligado para o Delúbio para cobrar. Então, eu acho que, se vocês cruzarem isso de telefonema, vocês vão achar algumas coisas.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora falou desse almoço: Valdemar, Carlos Rodrigues, Roberto Jefferson e José Múcio?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Roberto Jefferson nunca esteve na minha casa.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR  -  Mas o José Múcio,...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Sim.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR  - ... não sei se Líder do PTB?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Sim.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E aí a senhora ouviu alguma conversa?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu ouvi a história do mensalão, como eu já falei, no telefone, entre o Valdemar e o Bispo Rodrigues.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Só para ajudar,...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Agora, eu posso fornecer para o senhor alguns empregados que estavam durante esse período na casa, porque eles podem ter ouvido.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Certo. Só para lembrar, a senhora, numa entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, mencionou — aí é textual, entre aspas, uma declaração sua que peço que a senhora confirme — a compra de um partido: "Mas ele conseguiu comprar um partido nanico de São Paulo com dinheiro repassado por uma agência de publicidade que tem a conta de uma estatal". Acho que o Conselho de Ética precisa investigar a adesão, por exemplo, do PST. Então, a senhora relembra isso, não é?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que o Conselho de Ética tem que investigar isso.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas então a senhora fala que os recursos...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu não falei isso.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ah, não?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então, as declarações que têm no jornal a senhora não falou?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu falei que ele comprou o partido nanico, sim. Em relação à agência de publicidade, deve ter sido dedução da jornalista. Ou talvez eu tenha... Os jornalistas, eles são... Ou talvez eles tenham perguntado para mim: "Ah, então foi num esquema assim, assim?" E eu tenha falado: "Não sei". O que eu afirmo e reafirmo é que o partido foi comprado. Como foi pago, tem que perguntar para o Deputado Valdemar.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - O Dr. Adhemar Gomes foi seu advogado?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele foi meu advogado durante 2 dias.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ele declarou que o Deputado Valdemar Costa Neto teria ficado com parte da doação de Taiwan de 400 mil dólares. A senhora confirma isso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não sei exatamente com quanto ele ficou, mas que ele ficou com parte da doação ele ficou, porque era exatamente a história da... Ele tinha... Eu já falei isso aqui, mas talvez o senhor não estivesse...
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Eu tive de dar uma saída.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Por causa do processo da verticalização das eleições — chama-se assim aquilo?
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sim.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foram prejudicados alguns Parlamentares do PL, e ele tinha feito um acordo com o Delúbio que ele ia ajudar esses Parlamentares com uma ajuda financeira na campanha, e o PT, ou o Delúbio, não estava honrando o compromisso. Então, ele intermediou essa situação para garantir que ele recebesse esse dinheiro.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Por fim, ainda o Deputado Carlos Rodrigues. A senhora fica muito reticente ao falar dele, declaradamente por temer uma ação da Igreja Universal, da qual ele não é mais titular, ou bispo, embora fiel — disse aqui. Mas por que a senhora afirma que ele é um dos operadores de esquemas esquisitos, estranhos, inusitados na política, que, agora, para a senhora, fazem mais sentido com todas essas denúncias a que o País assiste?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Pelas conversas que eu ouvi; uma especialmente, que foi a mais importante, foi essa no telefone, mas houve outras situações em que ouvi alguns outros elementos.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora conviveu também com atividades políticas de seu ex-marido em Mogi das Cruzes, sua terra natal? Tem informações sobre operações políticas lá?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Muito pouco.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ele estando empenhado em que o PT retirasse a candidatura do partido à Prefeitura lá, a partir dessa idéia dos acordos políticos?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Está bem, Sr. Presidente.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o Deputado Edmar Moreira.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sr. Presidente, só um detalhe.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pois não.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Só para efeito de nossos trabalhos, a senhora poderia, de forma bem objetiva, dizer com que Deputados a senhora conviveu mais nesses contatos, que a senhora se lembre. E também a senhora falou que na festa na fazenda do pai do Delúbio havia alguns políticos, mas a senhora não mencionou os nomes.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, mas eu não sei quem são; eu não conheço.
 O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Não conhece, não é?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Muito pouco.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas na sua convivência lá, nesse ano e meio, quem mais freqüentava?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Basicamente mais os Parlamentares do PL. Havia um moço que ia sempre tomar café da manhã que é o Juquinha — acho que se chama Juquinha. Havia um outro que é do Porto de Santos que ia sempre lá, mas que não sei o nome, Carlos alguma coisa — acho que se chama Carlos. E os Parlamentares do PL. Mas eles tinham a sala deles, que eles almoçavam ali. O Deputado Edmar eu recebi algumas vezes, que eu gosto muito da mulher dele, a Júlia. O Sandro com a Cláudia também, porque eu gosto muito dela. Então, basicamente os do PL.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o nobre Deputado Edmar Moreira.

O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Itapuã, representante do representado, realmente eu me sinto neste momento absolutamente constrangido. A dona Maria Christina sabe da amizade e do respeito que nós sempre tivemos por ela, e até me honrou em me nominar e a minha esposa por duas vezes.
Mas eu queria dizer a este Conselho que dona Maria Christina hoje está dando um exemplo, acima de tudo, de honestidade, de imparcialidade e de ponderação. Vejam os senhores: nós estamos, diuturnamente, escutando mentiras, histórias, e dona Maria Christina vem a este Conselho de Ética com o coração ainda — permita-me a intimidade — não sei se já de todo cicatrizado — mas a senhora disse que era apaixonada pelo Valdemar, e nós bem sabíamos desse relacionamento, dessa paixão. E a senhora aqui está tendo um comportamento absolutamente ponderado. E mais ainda: eu tenho uma relação de 7 ações que o Valdemar move contra a senhora: 16ª Vara Cível, 11ª Vara, 8ª Vara Criminal, 3º Juizado...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Desculpe-me, Deputado. A 16ª Vara Cível é do Partido Liberal contra mim.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Eu vou passar à mão do Relator.
Eu preferiria até não entrar no mérito, mas eu estou dizendo dessas ações e mais, parece‑me, uma ação cível da 18ª Vara — para dizer da sua atitude, porque, com certeza, uma outra pessoa, meu caro Dr. Itapuã, mal-intencionada, dispararia aqui um elenco de mentiras. E daí? Hoje vale quem acusa. O ônus da prova hoje é do acusado. Então, eu louvo e respeito esse seu comportamento, que, para mim, não poderia absolutamente ser diferente.
Agora, tenho para mim — permita-me a nobre defesa do representado — que a essas alturas os senhores já se arrependeram de ter trazido dona Maria Christina como testemunha, porque, com certeza, numa análise muito superficial, ela trouxe a verdade à baila e disse "não", "não" e "não".
Eu gostaria, dona Maria Christina, com todo respeito, que quem não a conhece, se fizesse um julgamento assim mais precipitado acerca de sua conduta, poderia argüir a sua suspeição por esses fatos que eu acabei de narrar. Porque a pessoa, a senhora está sob juramento, e a pessoa não pode depor se for julgada suspeita. A suspeição não implica isenção. Com certeza a senhora não fez nenhuma referência afirmativa, a senhora negou, então eu quero parabenizá-la...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Deputado, eu não neguei que existe o mensalão.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Bem, isso vai ficar a critério dos que ouviram, do nosso Relator e deste Plenário, porque a senhora disse, a senhora disse que ouviu uma ligação telefônica entre o Valdemar e outro Deputado e que eles estariam falando sobre mensalão. Eu diria até que essa ligação, leia-se, pode ser até sinônimo de extensão, mas eu não quero entrar nesse mérito.
Mas eu gostaria de fazer alguns reparos aqui. A senhora há de convir que — eu confesso de público, sem nenhum constrangimento — a amizade que eu tenho pelo Valdemar Costa Neto, independentemente de política, que eu era amigo dele bem antes da política.

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sei, inclusive ele foi visitar o castelo do senhor em Minas Gerais.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - E gostaria até de fazer uns reparos sobre o que a senhora falou aqui, com todo respeito. Primeiro, quando houve esse acidente de avião, o Valdemar não estava bêbado porque, ato contínuo ao acidente, ele foi entrevistado ainda ali, na beirada do canteiro da 23 de Maio, e ele estava...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, Deputado. Sinto muito. Ele foi entrevistado na minha casa e ele estava bêbado...
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, por favor, não cabe aparte.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, está bem.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, não. Christina, você pode me interromper à vontade.
Mas, então, o que eu queria ponderar com a senhora: quem sabe talvez o susto tenha tido um efeito imediato para ele voltar — levou o susto, estava embriagado, não está mais. Muito bem.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não foi o susto, não. Foram 4 cafés com um pote para o café árabe, na minha casa.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas nós não estamos julgando aqui o teor etílico do dia e a embriaguez do Valdemar. Isso é absolutamente irrelevante.
Eu anotei aqui que 9 coisas esquisitas aconteceram. Eu anotei. Coisas esquisitas: é o sobrenatural de Almeida. Esse avião caiu 4 vezes: o avião caiu, o avião caiu, o avião caiu, o avião tornou a cair — o avião caiu 4 vezes.
A senhora disse que antes de se casar com o Valdemar tinha uma paquera, um namoro, um interesse aí, parece-me que 7 anos antes, correto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Dele por mim.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - É prova de que ele é persistente.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Por isso ele conseguiu ser Presidente do partido, não?
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Exatamente.
Agora — para não ser repetitivo, Sr. Relator, e vou acabar sendo —, com relação ao mensalão, que a senhora diz que ouviu esse diálogo no telefone, esse mensalão, o que era isso? O que mais a senhora ouviu nesse dia, nessa hora?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Sr. Presidente, eu gostaria de pedir ao senhor o seguinte: eu estou juntando algumas provas, que, a hora em que tiver a CPI do Mensalão, essas provas vão ser entregues à CPI do Mensalão. Eu acho que o que eu ouvi nessa conversa já foi passado para o Deputado, ou eu preciso continuar?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - A senhora não tem essas provas?
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Pela ordem, Sr. Presidente.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Ela vai conseguir, Deputado. Vai conseguir.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Só para informar que a CPI foi instalada hoje, e eu e a Deputada Zulaiê somos membros dessa CPI.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Sim. De qualquer forma, nobre Deputado, se realmente existir algumas provas, eu gostaria que fossem entregues ao Conselho de Ética.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas eu preciso de algum tempo porque o que eu estou fazendo é o seguinte: eu estou pegando todas as minhas agendas do passado, eu estou pegando todas as pessoas que estavam presentes em algumas situações e vou dar sugestões para os senhores investigarem algumas pessoas e algumas situações e algumas declarações assinadas, só que eu preciso de algum tempo para isso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Só aqui há 3 membros da CPI.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o Deputado Edmar Moreira.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Honram-me muito os apartes concedidos, mas tudo bem.
Dona Maria Christina, a senhora, e eu acredito na senhora — somente "sim" ou "não" —, alguma vez presenciou, esteve presente em alguma transação em dinheiro que o PL tenha feito com algum Deputado? A senhora viu? Estava presente?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Estive presente, mas não era mensalão. Mas eu estive presente, foi um dinheiro que o Valdemar entregou ao Remi Trinta, em São Paulo, no flat.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Entregou?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Entregou para quem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Para o... que é lá do... lá de São Luís...
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Remi Trinta foi o nome que ela citou. Ele é Deputado atualmente? Se não é, foi Deputado.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele é Secretário de Saúde agora, não é?
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Entregou onde?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - No flat dele.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Estava embrulhado em quê?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O segurança do Deputado Valdemar trouxe, e eu voei junto com o Valdemar, com o Remi Trinta e com a mulher dele e...
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, estou em São Paulo ainda. Desculpe-me.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não, não. Eu estou saindo de Brasília. Quem levou foi um segurança do Deputado Valdemar e entregou ao Remi Trinta, no flat dele, em São Paulo.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Entregou o quê?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O dinheiro. A única vez que eu vi dinheiro.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas quanto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, não sei, Deputado.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, tudo bem.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não me interessa, não é meu.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não sabe?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não sei.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, tudo bem. Entregou o dinheiro, mas não sabe.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Bastante.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Bastante?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - O bastante para a senhora é quanto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Bastante é tipo uma mala daquelas que os senhores ganham aqui cheia de dinheiro. (Risos.)
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, não, não, eu não ganho mala.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ganha sim. Todos os Deputados ganham uma mala, sim. Todo ano. Não ganham?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pasta executiva.
(Não identificado) - Todo ano não. No início da Legislatura.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É. Então é essa. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Vazia.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É aquela.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Desculpa, desculpa, desculpa. Eu, como...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O senhor ganhou, não ganhou?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Vazia.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Eu ganhei essa mala em 1991.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas todo ano acho que dão uma nova.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Depois não procurei mais, depois não procurei mais. Mas se se refere a essa mala que a Câmara dos Deputados dá quando inicia a Legislatura...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Essa própria.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Quero deixar bem claro que essa mala vem vazia. (Risos.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas aquela estava cheia.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Então, vamos lá.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Deputado Edmar, com a palavra V.Exa.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Estou com a palavra. Dra. Maria Christina, eu acho que a senhora não merece passar por esse constrangimento que a senhora está passando aqui, apesar da sua intenção e com certeza a senhora está prestando um serviço a esta Casa e um serviço ao Brasil. Mas, por conhecê-la como conheço, a senhora não merece esse constrangimento de passar pelo que está passando. Agora, eu lhe pergunto com relação a essa entrega. A senhora diz que não viu, mas era bastante. Isso estava condicionado em alguma coisa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, não sei. O senhor tem que chamar aqui agora o Remi Trinta e o Valdemar para falarem.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, mas se a senhora viu, a senhora sabe.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, mas eu vi, Deputado, eu vi flashes, como eu disse, eu não vi...
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - A senhora não viu o dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, o dinheiro eu vi.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas, então, estava na mão o dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, o segurança levou o dinheiro, a mala foi aberta, e eu vi que tinha o dinheiro dentro.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Quanto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei, não sou banqueira, não entendo de dinheiro. Pago tudo com cartão de crédito e com cheque.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Desculpe-me, Sr. Relator, mas eu acho que isso é relevante. E que dimensões tinha essa mala, mais ou menos?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Já falei: a mala que os senhores ganham. É aquela.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Ah, muito pequena, muito pequena. (Risos.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eles sabem; todos.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Chega Edmar, na mala.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o Relator, Deputado Jairo Carneiro.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sra. Maria Christina, essa mala foi entregue ao segurança onde?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. O segurança encontrou conosco no flat do Valdemar com a mala, entregou para o...
(Intervenção inaudível.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A gente voou de Brasília para São Paulo...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Foram para o flat?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foram para o flat direto, e essa mala foi entregue a ele.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E a senhora assistiu à entrega?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu assisti à entrega da mala.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Ele a abriu?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Abriu a mala.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - O dinheiro não estava acondicionado, enrolado?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Arrumadinho.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim. Era que moeda?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Dólar.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Dólar. E, na hora, não se falou quanto era nem disse a que título estava sendo entregue aquele dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Lembra-se da data e do nome do hotel?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, o nome do hotel eu sei, é o flat que é do Valdemar, que é na Rua Guarará.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - O nome?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Première, eu acho que chama.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E a data, lembra-se?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei, mas é só procurar nos vôos, o vôo que tenha Valdemar, eu, Remi e a mulher...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Vôo de carreira ou no vôo...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É isso que eu não me lembro, eu não me lembro se a gente estava no jatinho ou se estava no vôo de carreira. Mas eu posso procurar. Eu já sei como saber. Depois disso, à noite, a gente foi jantar no Tambui, e foi o dia que o Valdemar demitiu o ex-motorista dele. É só ver o dia que o Valdemar demitiu o ex-motorista dele.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - O nome do ex-motorista?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não me lembro.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Ele nunca transportou a senhora?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Esse motorista?
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Transportou, mas eu não me lembro do nome dele.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas com alguma freqüência? Aqui em Brasília?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Lá em São Paulo.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - São Paulo. Mas não se lembra do nome?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Mas eu posso procurar nas minhas coisas.

O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - É importante.
O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Pela ordem, Sr. Presidente. Gostaria que o Sr. Relator, como não está na minha...
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Sr. Presidente, eu não terminei.
O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Pela ordem, Sr. Deputado.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Pois não.
O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Não está na minha vez de fazer o questionamento, mas eu gostaria que o Sr. Relator pudesse questionar a depoente para saber como foi, no momento em que foi entregue a mala: se quem recebeu falou "muito obrigado", cumpriu o combinado, alguma coisa dessa natureza.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não me lembro. Eu só vi a... Tem coisas de que a gente se lembra porque a gente não está acostumada a ver, não é? Mas tem coisas de que não me lembro. Mas eu sei que foi entregue. A gente, nesse mesmo, dia jantou no Tambui; e ele demitiu o motorista dele, porque a gente saiu do restaurante e o motorista tinha desaparecido. Aí é fácil achar a data.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Continua a palavra com o Deputado Edmar Moreira.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Eu vou finalizar, Sr. Deputado. Mas, antes de finalizar, pedindo desculpas à dona Maria Christina se, de qualquer forma, eu me tenha excedido ou tenha sido deselegante.
Vou lhe fazer um último questionamento. Parece-me que havia uma expectativa de acordo da senhora com o Valdemar em torno de 500 mil reais, como pedida inicial.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não existia. Existe, sim, uma ação de interdito proibitório, que é a única ação que foi feita da minha pessoa contra ele, que, na realidade, foi o Demarest que moveu essa ação — é da área cível. Está aqui em Brasília; é só levantarem essa ação. E nessa ação pede-se uma indenização; porque o Partido Liberal pediu à CEB que cortasse a luz da minha casa — no poste, com policiais. Eu tenho todas as fotografias.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, não precisa entrar no mérito da ação. Eu só queria que a senhora confirmasse os números. Parece-me, pelo menos no que tem no processo, que inicialmente seria uma tratativa de 500 mil reais.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. É uma indenização de perdas e danos morais e de abuso de poder.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - De quanto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei. Eu contratei o advogado para não ter esse tipo de problema. Não sei.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas o que consta, Sr. Relator, Sr. Presidente, é que havia uma expectativa de um acordo de 500 mil reais para se encerrarem todas as demandas.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Deputado, deixa eu falar uma coisa para o senhor.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Pois não.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Se eu quisesse algum dinheiro do Deputado Valdemar eu teria entrado na Vara...
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas não é dele; é do PL. Seu questionamento é com o PL.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu teria entrado na Vara de Família ou teria ficado com o "cofrão".
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Qual "cofrão"?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O "cofrão" que saiu de casa cheio de dinheiro!
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Relativamente ao citado "cofrão", Sr. Relator, eu quero entregar a esta Relatoria... Está aqui a foto do cofre. E a transportadora que fez o transporte... O transporte foi tão sub-reptício! Foi entregue a uma transportadora, que levou o cofre para esse endereço que aqui está. Então, não houve absolutamente nenhuma intenção de ocultar esse ou aquele móvel. 
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Também não tinha como, porque o "cofrão" pesa 180 quilos; tinha que ser mesmo uma transportadora para levar — vazio.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Pesa 180, vazio. Estava vazio o cofre?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que não, porque teve aquelas maquininhas para subir, para pegar; eu estava em casa e vi o cofre sair. E deixei o cofre sair.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - A senhora tinha o segredo do cofre?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O cofre não era meu.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas como é que a senhora pode fazer uma avaliação acerca do que tinha no interior do cofre?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Porque eu já tinha visto 2 vezes o que tinha no interior do cofre.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - O que tinha no interior do cofre?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Dólares e reais.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Quanto?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Em 70% do cofre. O senhor deve entender mais de dinheiro que eu porque é empresário. Um cofre desse tamanho com 70%, sendo que 50% era em dólar e 20% em real, quanto cabe aí dentro?
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Depende, se for nota de 1 dólar, é uma determinada importância... (Risos.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. O Deputado Valdemar não andava com notas de 1 dólar, mas de 100 dólares.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não — e eu estou respondendo à senhora —, não se conta dinheiro por volume.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, Deputado. Mas não era o "cofrinho do porquinho"; era o "cofrão".

O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Eu estou respondendo, Sr. Relator, e  isso é absolutamente pertinente. Porque ela não sabe precisar a quantia que existia no cofre. E, quando ela alega em termos de volume... Ora, o volume às vezes, Christina, engana, porque um volume de notas de 100 dólares dá uma determinada quantia, e esse mesmo volume em notas de 50 dólares, com certeza, é o mesmo volume, mas...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O Valdemar só tinha notas de 100 dólares.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Tudo bem.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Se o senhor quiser, a gente faz o seguinte: a gente pega um cofre desse tamanho, traz ele aqui, enche ele de papelzinho, e eu mostro para o senhor; daí a gente conta quanto tinha lá dentro.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Está bom.
Para encerrar, Sr. Presidente, eu faço uma pergunta, apesar de repetitiva: no seu entendimento, a seu juízo, qual foi a afirmação que a senhora fez (ou negativa), que tenha trazido para este Conselho de Ética, para que nós possamos elucidar esse nosso propósito, que é o motivo desta representação?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O mensalão existe e o Valdemar recebia.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas a senhora já viu ele receber? Presidente, ela está fazendo uma acusação grave de que existe e que ele recebia. Então eu pergunto: a senhora já falou inúmeras vezes que nunca presenciou ele receber, mas a senhora já viu ele recebendo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu gostaria que os senhores anotassem um endereço...
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - A pergunta...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ...em São Paulo. Porque eu tive uma vez que encontrá-lo com um táxi. Por isso eu vou fornecer aos senhores, e daí os senhores podiam pedir a alguém que entrasse nesse escritório para pegar os registros; e daí os senhores... Vai ajudar muito nas investigações. Sr. Alípio Gusmão, na Rua Gomes de Carvalho, 1.306 - 8º andar.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, pela ordem. Eu gostaria apenas de...
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Dona Maria Christina, eu fiz uma pergunta à senhora. A senhora diz que o Deputado Valdemar recebia mensalão. A senhora já presenciou ele recendo? Sim ou não?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu já presenciei ele viajando com malas no avião do Fernando Simões. E eu presenciei um "cofrão" cheio de dólares. Os dólares não voavam até minha casa e entravam no "cofrão", sendo que só ele abria o "cofrão". Eu não tinha a senha do "cofrão"; e os empregados também não tinham a senha do "cofrão".
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas como esses dólares chegaram lá na casa da senhora?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Se ele é o único que tem a senha do "cofrão"... O "cofrão" é dele e ele entra com as malas. O senhor acha que o dinheiro chegou como?!
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Ele não poderia pôr o dinheiro no guarda-roupa e a roupa no cofre? Partindo desse princípio, o seu raciocínio bate. (Risos.)
Sr. Presidente, eu estou satisfeito.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Agora, eu tenho certeza de que o senhor não recebia mensalão.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Olha aqui. Eu agradeço essa sua afirmação, mas o próprio Deputado Roberto Jefferson teve a oportunidade, parece que na TV Cultura e no Jornal do Brasil, de dizer também que eu não recebia. Mas com isso ele fez uma grande injustiça nesta Casa, porque eu preferia que ele nominasse as pessoas que receberam; porque os que não receberam eu também sei: são algumas centenas de pessoas honestas nesta Casa, de homens e mulheres. Então, ao invés de ele excepcionalizar alguém... E eu fico agradecido: excepcionalizou meu nome, tudo bem...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu daria uma sugestão ao senhor. O senhor pertence ao Partido Liberal. O senhor podia pedir ao Deputado Valdemar Costa Neto que dissesse ao senhor quem são os Parlamentares que recebem o mensalão.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Não, eu estou dentro do que a senhora diz: que eu não recebia. Mas eu quero fazer uma adendo a essa sua afirmação para dizer à senhora que eu nunca presenciei no PL e nunca ninguém ousou me fazer nenhum tipo de proposta nesse sentido; e tenho certeza de que os meus companheiros do PL não participaram desse esquema de mensalão.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu tenho certeza de que o senhor não participou porque eu conheço a sua ética.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o Relator.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Apenas para esclarecimento. Este Conselho aprovou, semana passada, o requerimento. O Presidente hoje já assinou um ofício dirigido ao Deputado Roberto Jefferson para que ele forneça a relação dos nomes dos Parlamentares que receberam. O advogado deve estar recebendo; inclusive ficou muito satisfeito com a iniciativa nossa de propor ao Plenário...

O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Mas Sr. Relator, esse meu questionamento é em relação à Casa como um todo.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - É isso mesmo. Todos os partidos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra a nobre Deputada Angela Guadagnin.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Maria Christina, você foi convidada para vir conversar conosco, participar deste interrogatório como testemunha do Deputado Roberto Jefferson.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Deputada, nós não estamos ouvindo. Se você puder falar um pouquinho mais alto...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E eu falo alto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Agora o som está ligado.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - A senhora veio a este Conselho de Ética como testemunha do Roberto Jefferson. O Roberto Jefferson está sendo questionado...
(Tumulto.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Por favor! Eu peço silêncio aí no fundo, por favor! Se possível, fechar a porta.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Este Conselho está se reunindo para analisar uma representação que o Presidente do PL fez, o Deputado Valdemar Costa Neto, contra o Deputado Roberto Jefferson. Como cada um tem uma versão e nós, do Conselho, queremos chegar à verdade, nós temos que interrogar as pessoas que vêm aqui depor, e a senhora está vindo como testemunha. Conforme a senhora foi falando, fui anotando algumas coisas. E, se você observasse, vira e mexe eu perguntava até para o Relator e o Presidente. É porque, às vezes, não ficavam claras algumas coisas. Por isso é que vou repetir algumas perguntas.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tá.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Teve uma horinha, rapidamente, no meio da conversa, em que você falou assim: "porque eu trabalhava e não tinha tempo de ficar acompanhando essas reuniões".
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você continua trabalhando?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Agora trabalho de novo. Eu fiquei um ano sem trabalhar.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Enquanto estava casada com ele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Enquanto estava casada com ele, eu trabalhei em São Paulo numa agência que se chama Kalias Função. A agência, quando ganhou uma conta no Banco do Brasil, eu fui contratada pelo Presidente da Kalias Função para tocar um projeto. O Banco do Brasil tem um projeto, aliás que é o máximo, que se chama Balcão de Comércio Exterior, que é uma coisa que faz desde a inserção digital até toda a logística de exportação e toda a parte financeira também para microempresas poderem exportar. E a minha função era desenvolver esse projeto dentro da agência. Coincidentemente, eu fui demitida da agência; apesar de ter conseguido meu emprego sozinha,. Eu fui demitida do meu emprego na mesma semana em que a luz foi cortada da minha casa e que meu nome foi exposto na mídia.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então, enquanto a senhora estava casada com ele, a senhora trabalhava nessa empresa, fazia esse projeto e ficou um ano sem trabalhar.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não consegui trabalho porque eu trabalho com marketing estratégico, ou em agências de publicidade. Eu trabalhei muito tempo na revista Vogue também, mas marketing estratégico é uma coisa que as pessoas dão coisas cruciais para a empresa, para você desenvolver. E depois que o Deputado me acusou de extorsão, ficou meio complicado conseguir trabalhar com marketing estratégico. Hoje estou trabalhando. E adoro o meu trabalho: é o máximo! Faz um mês e meio, e espero poder continuar trabalhando porque eu tenho um monte de dívida por causa da época da minha separação, e eu quero poder pagá-las.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então, no relacionamento que a senhora tinha com ele, a senhora vivia do seu salário, quer dizer, pagava as contas com cheque, cartões de crédito...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele nunca me deu um tostão! Ele nunca me deu nem presente de aniversário. (Risos.)
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E andando com malas de dinheiro para baixo e para cima?!
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. Aliás, ele até pegou um relógio que um ex-namorado me deu que eu gostaria que ele me devolvesse! Um Mont Blanc. (Risos.)
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Eu não entendi também a questão das notas, como foi perguntado pelo advogado do Roberto Jefferson: que você têm as notas e que você mostra no talão de cheques que você pagou. Eu não entendi isso.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tá. O que aconteceu foi o seguinte...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Que tipo de compra? Eu não entendi isso...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tá. A casa inteira foi mobiliada. Parte daquilo era meu, de família, coisas minhas que eu trouxe; parte daquilo foi comprado pelo PL; e parte daquilo foi comprado por mim, como mulher, pessoa que ganhava o seu salário e que comprava o que quisesse para a minha casa.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Lógico.

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quando eu me separei, eu recebi essas notas. E quem entregou essas notas — não é que eu guardei essas notas e arquivei para um dia usar. O Partido Liberou entrou numa ação. Porque... O que aconteceu? O Valdemar saiu da casa, acho que no dia 6 de julho. Ele mandou buscar as roupas dele. E 2 dias depois ele mandou buscar o "cofrão". E que dia que é o "cofrão"? Acho que é 2 dias antes de ele sair de casa. Em julho de 2004, não é?
O SR. LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA - É.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E, logo depois, ele mandou cortar a luz da casa. E eu contratei um gerador de festa. Acho que todo mundo soube dessa história. Fiquei sem luz, contratei um gerador de festas... Porque não é assim que se faz: mandar a polícia cortar a luz no poste da casa da ex-mulher. Um partido contra uma mulher sozinha! Minha intenção nunca foi ficar na casa. Minha intenção nunca foi usufruir nada do Partido Liberal.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Eu só não entendi a questão das notas. Você pagou alguma? E pagou com dinheiro? Como é que as notas estavam na mão do PL?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Aí eles... O que eles fizeram? Eles entraram com pedido de busca e apreensão para tirar as coisas da casa. Quando ele entraram com esse pedido de busca e apreensão, eu recebi as notas fiscais. Por exemplo, tem pratarias compradas da St. James com fotografias de pratas da Cristofle, que são minhas, de família. As notas fiscais eram do seguinte: a logística de transporte... Muitas coisas foram compradas em São Paulo. Foram escolhidas, sim, por mim; algumas do partido, outras minhas. Só que a logística de transporte era feita pelo PL. Então, às vezes, eu comprei...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então eram notas do transporte?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Esse, em especial, é um conjunto de sofás que comprei na Atlântica Móveis; fiz um financiamento no meu nome. Os cheques são meus, e a nota fiscal veio em nome do PL, porque eu ia e comprava. Só que aí o partido se incumbia do transporte. A nota tinha que acompanhar a mercadoria. Quando eu comprava, eu... Esse, por exemplo, eu paguei com meu dinheiro; eu não saí com a nota na minha mão, porque a nota tinha que acompanhar o sofá.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Entendi.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E eu não precisava da nota, porque era um sofá para minha casa. Para mim tanto fazia.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Além desse sofá que você falou, dê um exemplo...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E tem um monte de coisas. Um monte!
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas, assim, nessa ordem de grandeza que você está falando, de um sofá que é transportado... Mas e as outras coisas em que vão notas?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Um monte, um monte de coisas. Esse calhamaço que o Deputado deu.... Acho que há muitas coisas que os Deputados do PL não sabem. Mas, se vocês pegarem a ação de busca e apreensão, é um negócio pelo menos umas 6 vezes maior do que isso. E minha casa inteira foi fotografada. E fotografadas coisas... Por exemplo, tinha assim um biombo, uma nota de um biombo e a fotografia de um biombo que foi da minha mãe. Eu tenho foto com 5 anos de idade com o biombo fotografado. Pratarias da Cristofle, nota fiscal da St. James com foto da prataria da Cristofle e com a caixinha Cristofle. Quer dizer... Então, quem me deu isso foi o PL. Quem me entregou essas notas fiscais, essas fotografias, isso tudo foi o Partido Liberal através da ação de busca e apreensão.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Agora, como o Partido Liberal tinha nota de uma coisa que não era aquilo que estava na mercadoria?
A SRA. DEPUTADA ZULAIÊ COBRA - Do transporte. Ela acabou de falar.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei.
A SRA. DEPUTADA ZULAIÊ COBRA - Ela acabou de falar: era do transporte.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Na época que eu me separei, eu pedi inclusive que fizessem uma investigação, uma auditoria de contas em cima dessas coisas. Mas ninguém fez nada.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Bom, a senhora falou também, Maria Christina, que teve vários almoços com Deputados, e citou alguns que foram aí. Quantas pessoas normalmente participavam desses almoços?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, variava entre... Tinha café da manhã, muito, e também almoço. Mas, em geral, era assim de 4 a 8, 10 pessoas.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - A senhora reparou se era um jantar social, em que foi fulano, fulano e fulano, um almoço político?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Almoço político era numa salinha, num canto, em que tinha uma entrada separada.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Desses almoços políticos quantas pessoas participavam?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, tipo 8, 9. Teve uma ou duas ocasiões em que estiveram todos os Deputados do PL lá na minha casa. Mas só.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E você nunca participava desses almoços?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Desses políticos, não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E não sabia o que era tratado?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Algumas vezes eu ouvia algumas coisas, porque eu passava e, às vezes, ouvia algumas coisas; ou vinha dar um recado e ouvia algumas coisas.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - A senhora, nesses almoços, alguma vez em que a senhora entrava ou passava, foi apresentada aos participantes?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sempre era apresentada. Sempre cumprimentava os participantes.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E com que freqüência ocorriam esses almoços?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Ah, eram constantes. Era uma coisa praticamente diária. Aconteciam.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E eram só com os Deputados do PL, ou com outros Deputados, assim, constantes?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - É que os do PL eu conheço a maioria. Tem uns que eu não conheço. Estiveram empresários também que almoçaram na minha casa. Quer dizer...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Agora vamos viajar de novo para Taiwan. Você disse que, pelo que ele falou, não teria sido arrumado recurso para pagar, para acertar as contas ou ajudar alguns Deputados do PL.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E que então ele fez a intermediação com o Delúbio, para o Delúbio receber esse dinheiro de Taiwan.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E a senhora colocou que tem certeza que ele teria ficado com uma parcela desse dinheiro.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Ah! Disso eu tenho certeza!
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Por que não seria mais fácil para ele pegar o dinheiro de Taiwan em vez de fazer essa intermediação com o Delúbio?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Porque eu acho que, na realidade, Taiwan tinha interesse em abrir, facilitar as relações comerciais. Não era uma doação para ele, pessoal. Esse é o meu modesto entendimento. Eu não sei.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Porque o raciocínio que estou fazendo é assim: ele pegou o dinheiro, não é? Ele ficou com parte do dinheiro e entregou a outro...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Não, não. Eu acho que eles, taiwaneses, vieram para o Brasil e entregaram o dinheiro.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Para ele? Para o Valdemar?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Eu não sei se foi para o Valdemar, sozinho, ou se foi para o Valdemar e o Delúbio. Acho que seria interessante vocês quebrarem o telefone do Chuong ou chamar o Chuong e ver isso. E ver as entradas.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você não sabe como foi pago esse dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Não. Mas deve ter sido...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Nem a quem foi pago esse dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Não, não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E essa intermediação, complicada também, você não sabe como foi feita?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Não. O que eu posso dar são os cartões das pessoas que estavam na mesa nesse almoço. Não deve ser muito difícil achar esse Chuong. É o filho, não é o pai. O pai também foi para Taiwan. Ah! O Senador Aelton sabe quem é o Chuong! Pronto! Ele viajou junto.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ele foi também nessa viagem?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Foi. Mas, coitado, ele não tem nada a ver com isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Nessa viagem para Taiwan vocês foram de avião de carreira ou foram de jatinho?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - A gente foi em avião de carreira.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Avião de carreira. Qual a empresa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  VARIG.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você foram no avião da VARIG.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - VARIG e Lufthansa.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. Aí fizeram baldeação?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  A gente ficou 2 dias em Hong Kong e, depois, foi para Taiwan.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. Vocês foram de VARIG até Hong Kong?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Não. A gente foi de VARIG até Frankfurt. Acho. Aí, de Frankfurt, para Hong  Kong, de Lufthansa. Aí, depois, de Hong Kong para Taiwan foi numa China Airs, alguma coisa assim.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Deixa eu perguntar uma outra coisa. Você declarou que ele viajava e pagava sempre em dinheiro. Não tinha traveller cheque, não tinha cartão de crédito, nada disso? Era sempre em dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Todas as vezes em que vocês viajavam com ele com dinheiro era avião de carreira?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Avião de carreira.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E como é que não passava esse dinheiro nos raios X?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Não sei.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E ele também nunca declarava assim: "Tem mais de-não-sei-quanto de dinheiro?"
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Não, não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ele nunca fez essas declarações? Passava com dinheiro sem nunca ter feito essas declarações.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  É.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. E quando você passou também com aquele dinheiro que veio lá do cassino, o Raios X também não detectou?
 SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. Então, você não tem noção de como é que ele levava esse dinheiro para o exterior.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Não. Ele punha na pasta dele.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então ele viajava para o exterior com a pasta de dinheiro?! Ele nunca falou para você como é que... Você nunca perguntou para ele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Ah, não! Só esse, por exemplo, do cassino; que a gente chegou lá e o crédito estava lá.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. Mas a pergunta é assim: você viajava com ele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E você tem o costume de pagar com cheque e cartão de crédito?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Só cartão. É.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você nunca perguntou para ele: "por que você paga com dinheiro? de onde vem esse dinheiro? você não paga com cartão de crédito?"
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Eu perguntei para ele um monte de vezes por que ele não pagava com cartão de crédito, se ele tinha o AMEX Gold, porque ele ficava pagando em dinheiro as coisas.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Hã, hã.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Porque ele preferia.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você nunca perguntou para ele de onde vinha o dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  Sabe por quê? No empresariado, 70% das vezes o dinheiro vem...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Vem...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  -  ...vem da empresa da pessoa. Então...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ele tem empresa?

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA  - Não. Ele, não. Mas eu venho de uma família da iniciativa privada. Então  é normal o empresário gastar o dinheiro dele. São coisas assim. Eu demorei algum tempo para perceber certas coisas. Eu não tenho nenhum parente político. Eu não tenho referenciais assim.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então você acha normal as pessoas viajarem com muito dinheiro.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu acho normal as pessoas viajarem com cartão de crédito.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas você acabou de declarar que acha normal as pessoas gastarem muito dinheiro.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu acho que, a partir do momento em que a pessoa ganha ilicitamente, ela pode...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Não, não é essa a pergunta, do lícito e do ilícito. É se é normal pagar em dinheiro as contas.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. E tanto não acho que eu reclamava disso para ele. E ele brigava comigo.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você disse que empresário paga as contas com dinheiro.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. O que eu estou falando é assim: que eu não perguntava de onde vinha o dinheiro. É isso. Me estranhava ele pagar as coisas em dinheiro. Mas eu não perguntava de onde vinha o dinheiro. Porque eu venho de meio empresarial e isso é natural; a pessoa que ganha o dinheiro gasta o dinheiro. Mas o dinheiro é ganho na empresa. Se eu for viajar com o João Paulo Diniz, por exemplo, e se ele for gastar 100 mil, 200 mil, porque ele tem, então ele pode gastar.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas ele gasta em dinheiro? Ele leva em dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele paga em cartão, como eu. Eu, às vezes, não tenho dinheiro nem para táxi. Às vezes, eu pago multa, porque quando a gente dá cheque abaixo de 20 reais a gente paga multa de 5 reais — acho. Então, era uma coisa que me estranhava. Mas entre ser estranho a ser ilícito demora um tempo.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - O que levou você a pensar que era ilícito?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tantas coisas estranhas juntas!
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Que tantas coisas estranhas juntas?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Eu tinha feito essa pergunta, das esquisitices e tal, mas, como você falou que eram coisas pessoais, eu tirei tipo de violência, opção de vida; eu tirei essas questões pessoais para não perguntar.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Tá, tá. Quando eu casei com o Valdemar eu não me preocupei em saber o Imposto de Renda dele, não me preocupei em saber se ele era rico ou pobre.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Quando você casou com o Valdemar, ele morava em Brasília ou em São Paulo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Morava na Academia de Tênis.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Academia de Tênis. E aí vocês casaram e montaram uma casa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A gente começou a morar juntos na Academia e Tênis. Daí ele resolveu montar a casa, a sede social do PL.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Em um relação conjugal, assim, sobre montar uma casa, a gente discute, conversa sobre onde vai alugar, como é que você aluga. Isso não acontecia?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu escolhi a casa. Por isso eu estou falando. A casa era minha. Eu escolhi a casa, eu fiz...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você não discutiu com ele: "Olha, quanto que a gente pode pagar de aluguel por essa casa?" Porque em uma relação conjugal, se você vai alugar uma casa, você tem que saber quanto vai pagar de aluguel.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu perguntei para ele: o aluguel vai de quanto a quanto? E fui procurar a casa. É o que uma mulher normal faz com o marido.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Uma mulher normal discute qual é o dinheiro, onde paga, quanto não paga, de onde vem o dinheiro... Quanto era o aluguel?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - De 10 mil reais, que o partido pagava. E o Valdemar dava 60 mil por fora para o dono da casa.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Não entendi; explica de novo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O aluguel custava 16 mil reais, mais 6 mil por fora. Mas ele dava de uma vez só o ano todo, quando era fechado o contrato. Foi fechado uma vez.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Agora duas perguntas. Você perguntou para ele: "quanto é o aluguel? de quanto que eu vou procurar a casa?" Você sabia que ele era Deputado. E, mais ou menos, você sabe quanto é o salário de Deputado. Você alugar uma casa por 16 mil reais, que é mais do que o salário do Deputado, é normal? Você considerou normal procurar uma casa de 16 mil reais?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele vivia... Eu não tinha referências sobre se ele vivia só do salário de Deputado. Porque ele punha um jatinho à disposição o tempo inteiro...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Um jatinho dele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Do Fernando Simões.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ah! do Fernando Simões, empresário.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O que eu vim a saber depois. Mas eu não tenho como... A senhora tem que entender o seguinte: eu venho de uma família de pessoas que têm posse. Então, eu estou acostumada com um tipo de vida que eu sempre tive. Então, assim, eu não vou perguntar para a pessoa: "escuta, deixa eu ver o seu Imposto de Renda, querido, para saber se..." Isso foram coisas que eu fui aprendendo com o tempo, foram cosias que eu fui entendendo com o tempo. Eu não sabia que o Valdemar era pobre ou rico. Eu sabia que eu me apaixonei por ele — tudo bem. Agora, esse tipo de discussão, eu acho, de orçamento etc., etc., é muito mais quando as pessoas...

A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - É coisa de pobre mesmo! Porque eu suo muito ao fazer as contas. (Risos.) Mas tudo bem. Você falou para a gente também a questão desse jatinho, que você viajava para baixo e para cima com esse jatinho. Vocês viajavam mais no jatinho ou em aviões de carreira? Com que freqüência vocês iam a São Paulo, iam e voltavam?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Grande.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Toda semana?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Toda semana.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Agora, você afirmou uma hora aí — que eu não entendi mesmo a relação —, você falou que o assessor dele ou o segurança dele pegou você no apartamento...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O chofer sempre me buscava. Mas é que... Hoje em dia certas coincidências eu acho que devem ser investigadas. Então, coincidentemente... Porque era um lugar a que eu ia muito, aquele endereço na Gomes de Carvalho. Ele me pegava porque eu tenho casa em São Paulo. O chofer me pegava e eu ia buscar o Valdemar nesse lugar. E eu esperava na garagem; eu nunca subi. E ele várias vezes não voou em avião de carreira, saindo de lá.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então vamos fazer a conexão. O motorista te pegava e levava; e você ficava esperando na garagem. Aí ele descia com uma mala...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Com a mala normal e com mais uma mala algumas vezes; outras, não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. Então ele descia com mala. Agora, esse dia era o que ele tinha chegado de avião?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, esse dia era o que a gente vinha de avião.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Não é isso. Eu ainda não entendi a conexão. Ele pegava você em algum canto e ia lá. Como é que entra o avião nessa história?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. A minha casa... Eu moro em São Paulo. E o que o chofer fazia? Ele ia me buscar na Consolação, onde é o meu apartamento, e eu ia buscar o Valdemar na Gomes de Carvalho. E a gente de lá ia para o aeroporto, para vir a Brasília.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ah, tá! Aí que é está a relação do avião que você falou e que eu não estava entendendo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Então o que estou falando é a coincidência de, várias vezes, a gente estar usando avião privado depois de ter passado na Gomes de Carvalho.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas você não acabou de dizer que ia com freqüência de avião privado e que não era toda vez que passava pela rua?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. Mas toda vez que se passava por lá vinha-se de avião privado.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Porque, uma hora, você fala que é com muita freqüência. Mas nesse dia você viajava de carreira.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não. A gente usava com freqüência — isso é fácil levantar. A gente usava avião de carreira, mas usava com freqüência esse outro avião. E, coincidentemente, várias vezes, após ter passado na Gomes de Carvalho, a gente voou em avião privado e não em avião de carreira. Ou seja, mais de 60% das vezes, ou mais de 70% foram de avião privado, não de avião de carreira.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E a senhora também estava acostumada a viajar de avião privado na sua vida pessoal? Também estava... Depois essa mala era levada para onde?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Essa mala...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ele pegava a mala, pegava o avião e vocês viajavam para Brasília.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Vinha para casa.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Aí você ia para sua casa. Você nunca viu ele botar dinheiro no cofre?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu vi o cofre aberto.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você viu o cofre aberto em que condições? em que circunstâncias?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Era uma salinha do lado do quarto, que é onde estavam a esteira e a bicicleta. Às vezes, eu andava na rua, mas, às vezes, eu fazia esteira. Então, algumas vezes eu vi o cofre aberto; eu ia fazer esteira e o cofre estava aberto.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ele tinha aberto o cofre.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É. Ele estava mexendo no cofre.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas a senhora nunca viu ele botar o dinheiro quando veio de mala?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Mas a única pessoa que tinha a...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - A chave, o segredo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não é de chave; é de segredo.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - De segredo. A senhora nunca viu? Quando vocês chegavam com essa mala ele ia lá: "agora eu vou lá no lugar da esteira botar no cofre o dinheiro".
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não prestava atenção.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Uma coisa que era tão repetida e a senhora nunca prestou atenção?!
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, porque era assim... Essa sala não era uma sala a que eu ia muito. Essa sala era assim: tinha o nosso quarto aqui; esse seria um outro quarto, só que aqui tinha uma porta que dava para o hall. Então, eu entrava e ia para o meu quarto; eu não precisava passar por ali. Então, assim, se eu chegasse e fosse para o meu quarto, e se ele fosse lá mexer, eu não ficava procurando, olhando. Foi casualmente que eu o vi algumas vezes, porque eu ia fazer esteira e estava o cofre aberto.

A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E estava o cofre aberto tipo assim: ele tinha chegado em casa com dinheiro ou ia sair com mala?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele estava mexendo no dinheiro. Era de manhã cedo, porque era a hora em que eu fazia esteira.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - É, porque fica essa história... Se ele vinha com mala, e a senhora ia para o quarto, ele ia para esse outro quarto, que tinha o cofre, e não lhe chamava a atenção que ele estava indo para o quarto. Não lhe chamava a atenção esse outro quarto com cofre.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA -  Não, porque o cofre era dele. Eu não tinha...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Isso é coisa de rico também.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã?
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Isso é coisa de rico também, não prestar atenção no cofre.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA -  Não, não é. É um problema dele, entendeu? Era uma coisa dele. Não é coisa de rico não; é coisa de... A senhora é casada?
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Sou, há 36 anos.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A senhora fica investigando se o seu marido vai ao banheiro, vai não sei aonde?
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Ir no banheiro não, mas a um quarto que tem cofre...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas é que...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas também o banheiro do meu quarto é de suite; então eu vejo ele ir ao banheiro.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas lá era grande o suficiente para não ter esse tipo de coisa.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Na minha casa, não. A gente vê ir ao banheiro. Outra coisa: a senhora declarou aqui que viu que houve ajuda para Deputados. A senhora confirma que viu darem ajuda para os Deputados, ou a senhora acha que houve ajuda para Deputados?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. A única coisa que eu ouvi foi a conversa...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Com o Carlos Rodrigues?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ...dessa história da verticalização, tatatá, tatatá...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Isso é antes, lá atrás.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. A única coisa que eu ouvi de dinheiro ser dado a Deputados foi dessa situação do dia de o motorista ser demitido depois do resultado — pronto! E eu não sei o porquê.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Agora, essa conversa com o Bispo Rodrigues...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Acho que era dívida de campanha mesmo.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Essa conversa com o Carlos Rodrigues, em que você falou por telefone, em que circunstância foi? O que foi exatamente que ele falou que lhe chamou atenção de que estava pagando para Deputado?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi essa coisa de ele falar que não, que agora a gente vai, que o PL vai ser o maior partido do Brasil, que a gente está montando esse esquema. E de ele depois ter retificado para mim o porquê do Crivella, o porquê do Bispo Rodrigues e não do Crivella, porque o Bispo Rodrigues estava montando uma operação financeira. Quer dizer, foram alguns fatos que me fizeram...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas então foi assim a conversa? Que o Carlos Rodrigues estava organizando uma situação financeira para fazer do PL o maior partido?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas a senhora não viu ele dar dinheiro, não viu Deputado nenhum pegar dinheiro. A senhora não viu isso.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Mas eu vi o dinheiro e ouvi a conversa.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E não viu. Confirma que não viu Deputado nenhum pegar dinheiro?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não vi.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Mas ouviu a história de o Deputado querer fazer do PL o maior partido.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E falar...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Da operação financeira.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, explicar, falar sobre essa operação financeira. Mas não me lembro dos termos.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Com que freqüência o Deputado mandava esse assessor ou ajudante ir a Belo Horizonte?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu presenciei, acho, umas 3 vezes isso.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Umas 3 vezes. E nunca lhe chamou a atenção como é que essa pessoa ia? se em aivão de carreira ou se nesse aviãozinho particular?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Provavelmente, devia ser de avião de carreira.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E depois ia para São Paulo também de avião de carreira. Isso não lhe chamou a atenção?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Você não percebeu nessas 3 vezes em que ele mandou o assessor a Belo Horizonte com a mala... Não lhe chamou a atenção a organização do processo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Aqui eu tinha anotado o dinheiro do cofre, mas a senhora já falou.
O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Deputada Angela, se o Presidente me permite. Tem a ver com suas perguntas. Eu só queria deixar registrado que eu entreguei ao Sr. Relator: esse cofre tem 82 centímetros por 39 e por 36. É o espaço cúbico do cofre: 82 por 39 e por 36. Senão pode-se admitir que é um cofre em que cabe uma jamanta. Está aí o cofre.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Está anotado, Sr. Deputado.
Continue, Deputada Angela Guadagnin.
DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Só voltando um pouquinho atrás, às reuniões que aconteciam nessa sala, em que a senhora nunca participou. Então a senhora não sabe o que era tratado nessas reuniões.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Não, não sabe. Então, essa ajuda para Deputado não era tratada nessas reuniões. A senhora afirma isso também.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Não sabe o que era tratado, então.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não posso afirmar nem que sim nem que não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então a senhora supõe que Deputado recebia ajuda por conta dessa conversa que estava ouvindo falar que se disse da montagem do sistema financeiro para montar o maior partido...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não é só essa conversa; são algumas situações, flashes que eu presenciei que me fazem chegar a essa conclusão. Mas assim, porque não é uma... Essa, em especial, foi uma a que eu prestei atenção. Mas foram várias situações. Eu acho que pode até ter coisas que ainda eu me lembre, porque agora eu comecei a pegar as agendas, comecei a olhar coisas, comecei a tentar fazer um trabalho de lembrar. Porque uma coisa é você ouvir uma coisa de que você não tem referência nenhuma; e, então, talvez não faça sentido. Outra coisa é ouvir uma coisa que faz sentido. É muito diferente.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Assim como: ah! já ouvi falar sobre isso.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É muito diferente.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. A senhora falou agora de agenda. A senhora costuma fazer a sua agenda pessoal: tal dia vou a tal lugar?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mais ou menos; é meio bagunçada.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Meio bagunçada. Você faz a sua agenda pessoal ou fazia a agenda do Deputado?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, a dele não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então, o que tem nessa sua agenda que poderia estar relacionado com essas pessoas que estavam na casa?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Por exemplo, datas da viagem a Taiwan, que, de repente, têm código de reserva na agenda; de repente. Tem o telefone da... Estou procurando o telefone da intérprete que estava com a gente em Taiwan. Eu estou olhando tudo. Se a senhora quiser, a senhora dá uma olhada na agenda do ano passado: é uma bagunça, mas há coisas que possam me fazer lembrar de algumas situações.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Estou falando na agenda para poder fazer a relação, porque a senhora disse aqui: "Eu vou estudar a minha agenda". Pergunto se na agenda a senhora marcava as pessoas que estavam na sua casa.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, nunca.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Então, a senhora não vai ter, pela sua agenda, essa informação.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Deputada, continuando...
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - É a última pergunta. Outra coisa: por diversas vezes, quando foi interrogada por alguns Deputados ou mesmo pelo Relator a respeito da sua declaração, escrita, ao Estadão, escrita, ao Correio, entre aspas. E a senhora fala: "Não foi isso o que eu falei para o jornalista. O jornalista..." Aí a senhora ia falar alguma coisa e parou. Eu pergunto: a senhora falou aquilo para o jornalista ou não falou aquilo para o jornalista?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Porque o jornalista botou entre aspas. O entre-aspas são as suas palavras.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sei. Eu falei para o jornalista que o Valdemar comprou um partido nanico.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá. Agora como é que o jornal coloca na sua boca — porque botou entre aspas — o resto da afirmação?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei. Deve acontecer isso com muita gente.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Que não é aquilo que você falou, por duas vezes, no Estadão e no Correio de hoje. A senhora não falou aquilo que está...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu nunca falei com o Correio.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Com o Estadão falou?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu falei com o Estadão.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - E não é aquilo que a senhora falou?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Obrigada.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É quase aquilo, mas não era aquilo.
A SRA. DEPUTADA ANGELA GUADAGNIN - Tá.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o Deputado Jairo Carneiro.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, para não que não caia no esquecimento.
Dona Maria Christina, a senhora se ofereceu para trazer a este Conselho cópia do seu passaporte...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Está aqui o passaporte.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Certo. Essas questões judiciais que existem, cópias desses processos. Eu não me lembro se...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que seria interessante para o senhor também esse da 16ª Vara.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, e outras anotações que a senhora disse que vai trazer...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO -...com base na sua agenda. Se a senhora pudesse fixar um prazo para trazer esses outros elementos, seria importante para nós ter essas outras informações das agendas.
O SR. PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR - Em 30 dias?
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Seria melhor que fosse menos.
O SR. PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR - Ou 20 dias?
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Em 20 dias... 0.k. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Com a palavra o nobre Deputado Josias Quintal.
O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sra. Christina, eu tenho acompanhado atentamente o seu depoimento, tirando, evidentemente, as minhas conclusões. De toda a oitiva da senhora a gente verifica muitas acusações ao Deputado Valdemar Costa Neto: sua conduta pessoal com relação à bebida...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Deputado, um minutinho só. É para a depoente pegar uns documentos na bolsa dela.

O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Pois não.

 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Deputado, pode continuar, por favor.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Continuando, a senhora faz muitas referências ao seu marido, como a senhora chama, Valdemar Costa Neto, essa questão de bebida, essa questão de envolvimento com o jogo, essa questão de levar dólares em viagens, trazer dólares em viagens, o que tipifica crime, se isso não for declarado. Então, penso que, como esse fato vem aqui a público, esse depoimento é feito diante desta Comissão, Sr. Presidente, eu quero requerer a V.Exa. que extraia cópia desse depoimento, desse relato, e encaminhe para a Corregedoria e para a Polícia Federal, se for o caso, para que o Deputado Valdemar Costa Neto seja investigado, porque essa conduta, certamente, não se coaduna com o cargo público que exerce. Então, desse depoimento dela, nós tiramos claramente essa conclusão, e creio que deva ser uma responsabilidade nossa tomar essa iniciativa. Há muitas notícias, mas não sei se os órgãos encarregados, que têm essa atribuição, tomaram essa iniciativa. Se não, nós devemos tomar essa iniciativa para fazer esse encaminhamento. Vou perguntar à Sra. Maria Christina alguma coisa que me passou despercebida aqui, como, por exemplo, o nome do segurança que teria levado essa mala para o Remi Trinta, foi um segurança... A senhora sabe o nome desse segurança que levou essa mala? Porque esse é um ponto para investigar.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi o segurança... Ele se chama Moacir, junto com o Tadeu Candelária.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Moacir, com Tadeu Candelária?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Então, são nomes que devem ser investigados. A senhora fala de vôos do Fernando Simões. Em um certo momento, a senhora fala que Fernando Simões é tipo um office-boy, mas um office-boy de luxo, que tem avião, que tem empresa...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Não? É só para esclarecer.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu falo que o Jacinto Lamas é um office-boy de luxo.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Ah, sim. É Lamas. E o Fernando Simões, do lixo. Então, lama com lixo, é mais ou menos... A senhora se casou com o Valdemar Costa Neto num cassino?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Casei no cassino.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Tinha padre, pastor?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu tenho a certidão de casamento, e a testemunha era o gerente de jogo do cassino.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Realmente, é muito esquisito. Bem, a senhora se diz uma mulher inteligente, culta, estudou nos Estados Unidos, fala fluentemente inglês, nós percebemos que a senhora é, de fato, uma pessoa muito perspicaz, mas, do seu depoimento, da sua convivência com o Valdemar Costa Neto nesses 2 anos ou quase 2 anos, na verdade, na verdade, para o fim desta Comissão, que é apurar essa história, se é verdadeira ou não a afirmação do Deputado Roberto Jefferson com relação ao mensalão, não ficou nada de muito concreto. A sua máquina parece que ela tem muito flash, mas tem pouco filme.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas é porque eu sou ex‑mulher, eu não sou nem Ministério Público nem Polícia Federal. E eu não tenho essa... Eu tinha muito menos do que tenho hoje, mas eu não tinha essa expertise, malícia, nas coisas que eu estava vivenciando. Então, eu estou fazendo o máximo que eu posso. Mais que isso, não tem como.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Na verdade, eu faço essa colocação para dizer para a senhora também das dificuldades que são passadas para esta Comissão para investigar essa questão tão delicada, quer dizer, não sabemos quem foram os Deputados que freqüentavam a sua casa, não sabemos, de fato, se havia mensalão, com que freqüência havia a presença de Deputados ou de pessoas possivelmente envolvidas com essa história. Quando se fala em mensalão, presume-se que seja alguma coisa que ocorra mensalmente, então, se isso era pago no partido, na casa dele, como ele fazia isso...

A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei, mas na casa que eu morava não era, porque senão eu teria visto uma movimentação razoavelmente, que você...
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Enfim...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Onde era eu não sei.
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Na verdade, os Deputados e o Relator, de uma forma bastante exaustiva, eles tentaram, de todas as formas possíveis, obter da senhora esse testemunho, essas informações. Eu creio que não ficou, para o fim desta Comissão, não ficou nada de concreto. Ficou, sim, uma grande dificuldade para todos nós investigarmos. O que fica para valer mesmo, eu quero reiterar aqui, são acusações com relação à conduta não compatível do Deputado Valdemar Costa Neto que deve ser motivo de uma investigação. Quanto à possibilidade da existência desse mensalão, desse envolvimento dele, do Deputado com mensalão, essas coisas, fica assim uma grande dúvida ainda para nós, uma grande dificuldade. Então, eu, na verdade, não tenho mais perguntas. Acho que o depoimento seu já está por demais exaustivo e não avançamos muito nesse sentido.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Queria pedir desculpas, mas...
 O SR. DEPUTADO JOSIAS QUINTAL - Não, absolutamente.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Eu convido o Deputado Josias Quintal para presidir os trabalhos por alguns minutos. Com a palavra o nobre Deputado Orlando Fantazzini.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Sr. Presidente, muito obrigado pela palavra. Quero, desde já, agradecer a Sra. Maria Christina pela colaboração. Eu vou tentar ser o mais breve, porque eu acho que praticamente se esgotaram, com as perguntas do nobre Relator, da defesa do Deputado Roberto Jefferson e dos demais Deputados, os questionamentos. Mas eu só queria alguns esclarecimentos, para que eu possa fazer o meu juízo de valor. Eu me lembro que a senhora disse que o Valdemar com o Bispo Rodrigues tinham assim um acordo e tinham a perspectiva de aumentar o partido em razão de uma operação financeira.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - A senhora podia esclarecer um pouquinho mais o que seria essa operação financeira e qual era o acordo? Para mim não ficou muito claro. É para eu entender.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Pelo que eu entendi e assim, vamos dizer assim, meu entendimento vem, como eu já disse várias vezes, de flashes de situações que eu vi e a situação atual, que têm cenas que se encaixam, eles teriam montado uma estrutura para captação de Deputados, pagando algum dinheiro a eles, e quem montou isso seria o...
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - O Bispo Rodrigues?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O Bispo Rodrigues com o Valdemar, inclusive porque existiu uma grande pressão do Edir Macedo, como eu disse, para que o Marcelo Crivella assumisse o PL no Rio.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Então, dos flashes, o que a senhora pressupõe é que eles estavam cooptando Deputados?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Flashes com coincidências.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Sim.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O partido aumentou e etc., etc.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Desculpe-me, colega.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Pois não, à vontade, Relator.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E cita também o Sr. Delúbio, não é?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, é.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - E envolvia também o Sr. Delúbio. Era uma triangulação, então?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso, isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Uma outra coisa que eu quero clarificar mais é a conversa que a senhora traduziu num jantar em Taiwan.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Almoço.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Almoço. Um almoço em Taiwan. Do que eu depreendi, a pessoa que havia assumido o compromisso, e parece-me que cumpriu o compromisso, estava fazendo um pleito que a outra parte também deveria cumprir.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Exatamente.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Ou seja, uma vez que houve liberação de recursos, o que nós estamos esperando é que agora cumpra-se a parte.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Foi falado em valores? A senhora fez tradução em valores?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Dois milhões de dólares.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Dois milhões de dólares. Para quem?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi o dinheiro que foi doado, foi o que eu traduzi.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Mas foi doado a quem?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi entregue ao Valdemar e... Segundo a pessoa de Taiwan, foi entregue ao Valdemar. E depois o Valdemar veio me dizer que foi feita uma operação dele com o Delúbio. Agora, eu acho que vocês podem cruzar os telefonemas e cruzar a época que esses taiwaneses estiveram aqui no Brasil, porque eles devem ter trazido. Daí essa pessoa de Taiwan estava cobrando que ninguém do PT tinha ido a Taiwan até então e que, muito pelo contrário, o PT estava tendo uma relação muito mais próxima com a China.

O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Então, estou pressupondo que esses recursos não foram entregues em Taiwan, foram entregues aqui no Brasil. Quer dizer, não foi o Deputado Valdemar que transportou de Taiwan para cá.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Pelo que a senhora depreendeu no diálogo, já tinha sido...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, nessa viagem, não. Ele estava cobrando uma coisa que ele já tinha feito.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Ou seja, entregamos os 2 milhões de dólares...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Esperávamos em contrapartida uma melhor relação.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Entretanto, a relação está mais estreita com a China do que conosco?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso, exatamente. É isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Pois não, Relator.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E quem a senhora acha que pode provar que o dinheiro foi entregue? A senhora citou o nome de um estrangeiro aí.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Chong, não é?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Chuong. Esse Chuong foi a pessoa que intermediou. Eu acho que vocês deveriam chamá-lo. E eu acho que... Cruzam-se telefonemas, não é? Se realmente houve telefonema entre o Chuong e Delúbio, isso é registrado, não é?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - As informações sobre essa pessoa a senhora pode fornecer ao Conselho?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu tenho... Do Chuong eu não tenho o cartão. Eu tenho o cartão das pessoas que estavam na mesa desse almoço, tenho o nome do Michel.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sim, por aí nós poderemos chegar até ele?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, o Chuong, é só perguntar para o Senador Aelton Freitas, que ele viajou junto com o Chuong, no mesmo vôo, para Taiwan.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Senador...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Aelton Freitas. Mas o Senador não tem nada a ver com isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Não, sim, mas é que ele sabe o nome, não é?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, ele foi junto com o Chuong. O Chuong deve ter o endereço ... O Aelton deve ter o endereço, tudo dele.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - E, só para concluir nesse aspecto aqui de Taiwan, e os recursos todos ficaram supostamente para o Sr. Delúbio ou...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não. Parte...
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Quanto?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Segundo o Valdemar, para mim, 20% ele reteve. Mas isso tudo são coisas que ele falou para mim.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Não, eu vou dizer por que perguntei. Eu, provavelmente, quando a senhora estava falando, eu tinha uma compreensão de que naquele jantar aqui se receberam 400 mil dólares para trazer. Então, por isso que eu estou... Eu agora...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, no almoço...
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - É, no almoço. Então, agora, eu tenho a convicção...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - No almoço, no Ministério da... No almoço... (Pausa.) Esse é o assessor do Michel, Office of the Deputy Political Minister of Foreign Affairs, de Taiwan.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Não, é que eu não tinha entendido essa questão da conversa e dos valores. Mas agora a senhora...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, ele só cobrou...
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Sim, agora para mim está claríssimo. Eu já compreendi perfeitamente. (Pausa.) Bom, a data... A senhora está deixando já a cópia do passaporte, não é? Eu vou fazer uma pergunta que talvez seja um tanto quanto, não sei, constrangedora. Até o nosso colega disse que a senhora não precisava passar por esse constrangimento. Eu acho que a senhora não está sendo constrangida, mas também não quero constrangê-la. Mas, antes de formular uma pergunta... Tem momentos nas nossas vidas que são momentos difíceis. Eu, por exemplo, sou católico. E, nesses momentos difíceis, eu sempre procuro fazer as minhas preces, as minhas orações e pedir que eu possa ser iluminado para poder encontrar o melhor caminho. A senhora veio aqui hoje. A senhora também tem fé, procurou também...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu fui na missa do Padre Júlio na Igreja do Perpétuo Socorro. A missa exorcista, o senhor conhece?
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Não, não conheço. Eu estou lhe perguntando isso porque a senhora fez uma certa menção sobre não falar muito sobre o Deputado Bispo Rodrigues, em razão que poderia ter toda a Igreja Universal contra a senhora.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu sou católica.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Sim, não, mas não é nessa perspectiva que eu estou falando, porque que quero entrar numa pergunta justamente relativa ao Bispo Rodrigues. Eu não sei se a senhora assistiu ou acompanhou, mas o Bispo Rodrigues esteve aqui prestando depoimento.

 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não tenho acompanhado, Deputado, porque, como eu falei, fiquei um ano sem trabalhar e há um mês eu comecei a trabalhar. Eu estou tentando pôr um programa de televisão no ar, e inclusive pedi aqui no Conselho se eu poderia depor em agosto, porque o programa vai estrear agora no fim de julho e eu deveria estar trabalhando lá.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Mas, então, eu vou tentar relatar para a senhora o ocorrido. O nosso Relator obviamente iniciou os seus questionamentos esclarecendo qual era o papel que compete ao Relator, sem fazer nenhum prejulgamento. Questionou o Bispo Rodrigues sobre a questão da saída dele da Igreja Universal e em que condições. E o Bispo Rodrigues caiu em prantos aqui prestando seu depoimento, manifestando ser um homem de fé e que para ele doeu muito esse fato, esse episódio, e assim por diante. E também o Relator perguntou a ele se ele já tinha ouvido falar do mensalão. Ele disse: "Não. A primeira vez que eu ouvi falar do mensalão foi justamente quando o Deputado Roberto Jefferson fez a denúncia aqui". O Relator também perguntou a ele o que ele tinha a dizer sobre ele ser o mentor e o idealizador do mensalão, como o Deputado Roberto Jefferson havia feito declarações de que ele que introduziu o mensalão aqui e trouxe da Assembléia Legislativa. Também ele negou, reafirmou que não, que nunca tinha ouvido falar do mensalão, exceto a partir da data que o Deputado Roberto Jefferson passou a denunciar. A senhora, sob o compromisso de dizer a verdade, nos disse aqui hoje: "Eu ouvi conversas telefônicas". Aí perguntaram: "Uma?" Eu me recordo que a senhora falou: "Não, no mínimo umas 4 entre o Deputado Valdemar Costa Neto e o Bispo Rodrigues tratando do mensalão". É isso?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. Mas, quem sabe, eles chamavam de outra coisa.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Qual é a outra coisa, então?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Uma ajuda mensal, uma facilidade a Deputados, pode ter outro nome.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Desencravar unha?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quem sabe ele nunca ouviu mensalão.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Mas, quando a senhora disse aqui que ouviu o seu ex-marido telefonando para o Deputado Rodrigues, eles estavam tratando e...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eles estavam tratando do mensalão, isso não quer dizer que eles chamavam de mensalão.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Ah, então, isso.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quem sabe o Deputado Roberto Jefferson foi o primeiro a apelidar de mensalão.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Mas, nas conversas, então, o diálogo não era: "Olha, vai sair o mensalão. Olha, quem recebeu o mensalão". A conversa era de outro tom?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O fato era o mensalão. O nome não era mensalão.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Mas o fato era?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Dona Maria Christina, mas a senhora ouviu, então, qual foi a expressão usada na conversação?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não lembro de detalhes, mas eu me lembro de um conteúdo todo. Era uma ajuda mensal a Deputados para fazer com que o partido crescesse e aumentasse.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora também disse que ofereceria a nós a relação de todas as ligações telefônicas desse período de todas as suas contas?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso, isso.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Para que os advogados providenciem para esse Conselho?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso. Eu acho que poderia ser interessante também a relação dos empregados que trabalharam na minha casa, porque talvez alguns deles tenham ouvido também alguma coisa.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Sem dúvida, sem dúvida. Mas o fato de a senhora ter esclarecido agora esse diálogo para mim já é esclarecedor, até porque, de fato, o Bispo Rodrigues pode nunca ter ouvido falar mesmo a palavra mensalão. A última, para encerrar. Vocês, a senhora, o seu ex-marido, o Deputado Valdemar, mais o seu Remi Trinta e a esposa, saíram de Brasília e foram para um flat em São Paulo?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - E o segurança transportou uma mala...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, o segurança encontrou conosco no flat.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Ah, então já estava lá?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Eles não...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Quer dizer, a mala já estava em São Paulo?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
 O SR. DEPUTADO ORLANDO FANTAZZINI - Ah, então, só isso, obrigado. Muito obrigado, Sra. Maria Christina.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Josias Quintal) - Eu queria informar ao Plenário, aos Srs. Deputados, para controle: nós temos inscritos para falar, em seguida, o Deputado José Carlos Araújo; após, o Deputado Moroni Torgan e, finalmente, o Deputado Carlos Sampaio. Isso é para que todos nós possamos nos organizar com relação a esta sessão. Então, com a palavra o Deputado José Carlos Araújo.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, Deputado Josias Quintal, nobre Relator Jairo Carneiro, senhores advogados, dona Maria Christina, de uma coisa não podemos acusar o Deputado Valdemar Costa Neto, de ter mal gosto. Isso, sem dúvida nenhuma, não é verdade. O Deputado Valdemar Costa Neto é um homem de bom gosto. Dona Maria Christina, a senhora, ao conversar aqui, disse que o Deputado Valdemar Costa Neto teria comprado 2 partidos.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, um.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Um partido.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Que ele teria incorporado 2 partidos e comprado um.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sim, mas teria comprado um. Tinha incorporado 2 e comprou 1.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Está bom. Nessa época, o fundo partidário do PL era de 131 mil reais.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E passou para quanto?
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não... Nessa época... Eu faço perguntas à senhora.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Desculpe-me.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - A senhora responde às perguntas que eu fizer para a senhora. O partido, nessa época, recebia R$131.512,73. Foram incorporados 2 partidos, o PGT e o PST. Não sei qual dos 2 a senhora conhece. Esses partidos não tinham nenhum Parlamentar. Essa incorporação foi única e exclusivamente para fazer com que o PL passasse a ter os 5%, que a lei exige, dos votos em todo o Brasil e seja votado em 7 Estados, como manda a lei. Então, com a incorporação desses 2 partidos, o PL conseguiu os 5% dos votos. Não envolvia dinheiro. Hoje, depois das eleições, que o PL passou a ter 52 Deputados, o PL tem hoje 526 mil reais/mês, que divide com todos os Estados brasileiros, que são 27. Então, qualquer pessoa em sã consciência, qualquer empresário que souber fazer conta vai ver que não seria um bom negócio pagar 5 milhões por essa incorporação. A senhora deve ter errado nos números, pelo menos.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu queria perguntar ao senhor o seguinte: a partir do momento em que ele teve os 5%, quanto passou a ser...
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Eu disse para a senhora. Ele passou a ter, depois das eleições — porque conta depois da eleição, o que teve na eleição —, o que tem hoje, 526 mil reais.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ou seja, em 10 meses, ele paga...
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não, senhora. Isso se esse dinheiro fosse só para ele dividir. Mas ele tem que mandar... O PL tem que mandar o fundo partidário para todos os PLs, de todos os Estados. Ele não pode pegar esse dinheiro e fazer, à revelia do partido, ao seu bel-prazer, essa divisão de pagar os 5 milhões. Então, a conta está um pouco errada. Mas vamos lá. Estava até preocupado, quando a senhora falou...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Desculpe-me, Deputado, mas minha única alegação foi a seguinte: que ele fez a incorporação do partido para atingir um número, um coeficiente que fazia com que a verba partidária passava de um número que eu não sabia, achava que era 30, mas é 131, para 500 mil. Foi isso que eu falei.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - É, a senhora disse que ele pagou 5 milhões para isso.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Esse é outro fato.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não, pagou 5 milhões para os partidos, porque o cidadão pensou que ele tinha morrido no acidente que houve em Congonhas, se não me engano...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - E que o avião derrapou na pista.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - A senhora disse Júlio Simões, é isso? Júlio Simões?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não falei Júlio Simões, falei Fernando Simões.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Fernando Simões. Fernando Simões que é o dono dos aviões que emprestava a Valdemar?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Isso. Muito bem. Na verdade, Fernando Simões deve ser da família Simões, que por acaso tem a empresa JS Táxi Aéreo, da qual o PL alugou as aeronaves. Quantas viagens a senhora fez de avião particular?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Deputado, eu fiz algumas, só para levar meu cachorro. O PL pagou? Porque meu cachorro não gosta de viajar embaixo.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Deixe-me dizer à senhora que seu cachorro tem mais prestígio do que eu, porque eu viajo de avião de carreira. Deixe-me falar...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas esse é um problema que o senhor tem que reclamar com o Presidente.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Dona Christina, preste atenção, eu cheguei ao PL há apenas 40 dias. Cheguei no dia 20 de maio deste ano. Cheguei agora, não conhecia nem o Valdemar Costa Neto, como a senhora conhece. A senhora foi casada com o Valdemar, tem filhos com o Valdemar?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não teve filhos com o Valdemar?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - A senhora tem filhos?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não tem filhos.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Mas anteriormente foi casada?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Fui casada, meu ex‑marido, aliás, adoraria que ligassem para ele, porque ele pode dizer quem eu sou.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não, eu não estou questionando, muito pelo contrário. Sei que a senhora é uma mulher de berço, que foi bem criada. A senhora foi criada em Paris, não é isso? Morou um tempo no hotel... Como é o nome do hotel que a senhora morou quando era criança, na suíte do hotel em Paris...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Plaza Athénée?
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Isso, tinha um Rolls-Royce à sua disposição. Essas coisas a gente sabe. A senhora é colunável, está nas colunas dos jornais.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu diria que sou nascida numa família rica, porque eu trabalho mais ou menos tanto quanto o senhor e eu não tenho as férias de janeiro, julho e não sei o quê. Nem recebo salário em dobro.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - A senhora veio aqui para responder os questionamentos. A senhora não veio aqui para atingir Deputado. A senhora veio aqui para prestar depoimento. Aliás, foi o Roberto Jefferson que procurou a senhora ou a senhora o procurou?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Josias Quintal) - Deputado, quero advertir a Sra. Christina que temos procurado ter uma postura bastante liberal, bastante democrática, deixar que as pessoas fiquem inteiramente à vontade, porque o que se quer é a busca da verdade. Mas evidentemente precisamos manter o depoimento e o comportamento dentro de um padrão de maior respeito possível. Quero considerar a observação do Deputado José Carlos e pedir que a senhora seja um pouco mais cuidadosa ao responder o Deputado, limitando-se, se possível, a responder às perguntas que lhe façam.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Vejo que a senhora, como disse, é bem nascida, bem-criada. A senhora, parece, tem um passaporte...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Queria pedir desculpas ao Deputado, que, inclusive, na época, nem... Eu não cheguei a conhecê-lo, ele nem participava do PL. Então, ele nem poderia saber o que estava acontecendo.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Eu? Claro que não, comecei há 40 dias. Tenho 16 anos no PFL, votei, em todas essas votações, contra o Governo. Portanto, nada pode ter em mim. Como eu estava dizendo, a senhora foi bem criada. Vejo que a senhora tem passaporte diplomático. Não é isso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Foi o Deputado Valdemar que me deu o passaporte.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Tirou quando a senhora era casada com ele. É verdade?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Agora, quando a senhora não é mais casada, não pode mais usar passaporte diplomático. Então, continuando nosso questionamento, quando a senhora fala em cofrão, as pessoas tomam um susto, parece que é um cofre de banco, que cabe uma fortuna. É um cofre, numa residência particular, que tem 80 centímetros de altura, por fora, externamente. As paredes do cofre devem ter uns 5 centímetros, então deve ter 70 centímetros por 30, é um cofre normal, não deve caber essa fortuna toda. E a senhora quando fala... Vejo que a bolsa da senhora é bem grande. Será que cabem aí 60 mil dólares, na sua bolsa, em notas de 100?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Josias Quintal) - Atenção, Plenário, o Relator está me lembrando para pedir um pouco de silêncio, para que prestemos mais atenção. É um pedido do Relator.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - A bolsa que a senhora está usando é bem grande. Será que cabem aí 60 mil dólares?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que cabem.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Cabem? Mas é arriscado passar com 60 mil dólares numa bolsa dessas num raio X e ser detectado.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu era casada com um Parlamentar. Quem sabe de leis é ele, não eu.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sim, mas estou dizendo do risco que se corre. Uma pessoa foi detectada no aeroporto de São Paulo com uma sacola com dinheiro. Dificilmente alguém poderia passar com 60 mil dólares para lá e para cá num aeroporto internacional sem que esse dinheiro fosse detectado. Então, é uma história um pouco montada. As coisas, na nossa cabeça, não estão batendo.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É muito fácil. É só o senhor pedir para o cassino informar o quanto ele ganhou e retirou...
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - O Valdemar é um homem... Eu não era desta Casa, mas já ouvi coisas interessantes, Deputado ganhar 10 vezes na loteria. Agora, eu não sabia que o Valdemar tinha essa sorte toda para ganhar 60 mil dólares em um cassino e perder 500 mil dólares e assinar um papel num país estranho, assinar um papel de 500 mil dólares. Quer dizer, é uma coisa difícil de caber na cabeça de um pobre mortal como eu.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O senhor freqüenta cassino?
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não, não sei jogar.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu também não freqüentava. Então, essas coisas acontecem.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não sei, eu nunca joguei no cassino. Agora, a senhora há de convir que é difícil a gente montar um quebra‑cabeça na cabeça da gente de uma história de que 60 mil dólares na bolsa de uma mulher, por mais bonita que ela seja, passem incólumes, sem serem detectados, e que alguém possa perder 500 mil dólares em um cassino, assinar um papel, ir embora e ficar tranqüilamente. Quer dizer, são coisas difíceis de a gente ver. Agora, eu fiquei insatisfeito, Dona Christina, com o seguinte... Quando eu questionar a senhora...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu entendi, eu fui 4 vezes em cassino. Então, assim, eu não entendo muito, mas eu entendo um pouquinho mais. É tudo filmado, tudo, por causa de problemas de roubar ou esse tipo de coisa. Então, é tudo filmado o tempo inteiro, os cassinos filmam tudo.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Agora, dona Christina, quando a senhora falou aqui há pouco tempo atrás — e não fui só eu que percebi, outros Deputados perceberam —, a senhora falou que na Operação Taiwan foram 400 mil dólares. Eu ouvi, anotei, outros Deputados anotaram 400 mil dólares.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - A doação foi de 2 milhões de dólares. O Valdemar teria ficado com 20%...
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Permita-me a senhora, por favor. Na primeira versão do seu depoimento, foram 400 mil dólares que a senhora falou. Eu anotei. Podemos recorrer, Sr. Relator...
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Quatrocentos mil para o Deputado Valdemar, pela palavra dela. E de 2 milhões teria sido a doação.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Essa é a segunda versão, Sr. Deputado.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - O que eu me lembro de ter ouvido foi isso.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Relator, V.Exa. pode ter uma memória melhor do que a minha, eu acredito nisso.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso, inclusive, foi publicado no O Estado de S.Paulo.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Por favor. Na versão da Dra. Christina, num primeiro instante, no primeiro depoimento, na primeira versão do seu depoimento, ela falou em 400 mil dólares, certo?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Pode ser que ela tenha cometido um pequeno equívoco.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Na segunda versão, quando foi falado aqui, passou a ser 2 milhões.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E 400 mil para o Deputado Valdemar, isso ela disse.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Nós vamos ver as notas taquigráficas, Sr. Relator. Cabe uma interrogação. É difícil entrar na cabeça, não consegui ainda montar esse quebra-cabeça. Como em um país, uma pessoa de um país estranho, desconfiados como são, poderia trazer 2 milhões de dólares para cá, para entregar esse dinheiro ao Valdemar Costa Neto, e o Valdemar garantir a ela apenas facilidades no relacionamento. Tempos depois, ele vai a Taiwan para poder dizer que o dinheiro tinha sido entregue ou que não tinha sido entregue e que as coisas não estavam acontecendo. Quer dizer, são coisas em que não há consistência, dona Christina. A verdade é que não dá consistência para poder montar... Nós estamos tentando montar um quebra-cabeça, e quando a senhora diz, por exemplo, que esse dinheiro viria para o Delúbio, que tinha um acerto com o Valdemar... Eu não posso separar o Delúbio do PT. Eu não posso separar o Valdemar do PL. Da mesma forma, eu não posso separar um do outro. Quando se fala em Valdemar, fala-se em PL; quando se fala em Delúbio, fala-se em PT. Então, esse dinheiro viria para o PT.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso eu já não sei. Eu posso falar para o senhor o que eu sei, o que eu ouvi.

 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Pois é, as coisas não se encaixam na cabeça da gente, porque, quanto ao táxi aéreo, a senhora fala que andava para baixo e para cima, o PL alugou, o PL alugou algumas vezes. Tenho 5 notas fiscais aqui da época. A senhora falou que foi alugado e pago pelo PL o jato que transportou, pago pelo PL, e outros tantos de 2004, que também foram pagos pelo PL e que estão na prestação de contas do PL, como fui informado por sua assessoria. Eu estou querendo saber da senhora, porque eu estou montando um quebra-cabeça para poder entender onde é que eu estou. Eu entrei no PL tem 40, 50 dias. Eu estou querendo saber onde é que eu estou.
 (Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Pois é, foi muito antes disso, eu estou tranqüilo. Nós concordamos, advogado, em alguns pontos, nós estamos concordando aqui, inclusive no seu bom gosto. Então, entendo, dona Fernanda, de que essas coisas, e a senhora tem que entender que a senhora está aqui sob juramento, sob juramento. Algumas coisas que foram ditas aqui podem, amanhã... Temos aqui hoje, agora, 2 Parlamentares que fazem parte da CPI do Mensalão. Parte desse depoimento da senhora nós vamos levar para a Comissão do Mensalão, a CPMI do Mensalão. Sem dúvida nenhuma, teremos de levar. E muitas coisas poderão ser comprovadas tanto pelo Conselho de Ética quanto pela CPMI do Mensalão. E, caso a senhora não tenha falado toda a verdade, como diz aí, as coisas...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Deputado, o meu advogado escreveu um livro sobre falso testemunho. Então, ele explicou direitinho para mim quais seriam as penas que eu teria em falso testemunho. Ele tem um livro escrito.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Que bom, que bom. Eu... Veja como são as coisas. A senhora tem um advogado. Eu tive que ir hoje pegar o Código Penal para ler o art. 342, que diz: "Falso testemunho ou falsa perícia. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete" — V.Sa. foi até intérprete — "em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa". Eu também tive o cuidado. Como a senhora tem um advogado criminalista e se cercou de todos os cuidados, nós também viemos para cá também cercados dos cuidados de saber como é que as coisas são. Então, uma pergunta que eu queria... A senhora afirmou categoricamente que nunca viu Valdemar transacionar dinheiro com nenhum Deputado, a não ser esse episódio da mala que o segurança transportou, não é verdade?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - E o outro episódio é que eu via o cofre cheio de dinheiro, e a única pessoa que tinha o segredo do cofre era ele.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não, o cofre, se estava cheio de dinheiro... Agora, o interessante é que, quando foi transportar, geralmente... a transportadora deve ter mandado abrir o cofre, porque a transportadora não transporta um cofre...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, a transportadora não abriu o cofre, o cofre foi transportado pela transportadora com 2 funcionários do PL acompanhando o tempo inteiro, que é o Amaro e o Chiquinho. Inclusive, um dos funcionários do PL era chofer da minha casa.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Então, esse cofre que a senhora viu algumas vezes com dinheiro... Eu pergunto à senhora: por que a senhora, um ano atrás, quando se separou, não denunciou tudo isso que está denunciando aqui agora?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Primeiro, porque eu não tinha...
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - A sua separação não foi uma separação normal, tranqüila, foi uma separação litigiosa, de briga, de Justiça, não é?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, não foi, porque não teve Vara de Família absolutamente.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - A senhora fala, por exemplo, que foi o PL que entrou com a ação contra a senhora. Não, o PL entrou com duas ações contra a senhora.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Ação de busca e apreensão.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Na Sexta Vara Cível?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Décima Sexta.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Na Décima Sexta. São duas da Décima Sexta Vara Cível que o PL entrou. E Valdemar Costa Neto...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Com a advogada do Partido Liberal assinando.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - O advogado, os advogados estão aqui, pode ser o advogado do Roberto Jefferson e pode ser do advogado... A gente não tem recurso para contratar advogado da envergadura de V.Sa., mas, se for necessário, eles podiam... Como o advogado da senhora, amanhã, se eu puder contratá-lo, poderá ser meu advogado também. Não obriga exclusividade. Não tem advogado exclusivo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas emprego público não tem...
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - O PL não é emprego público, não há exclusividade.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, está bom.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Então, a senhora não tem o privilégio de ter um advogado como... A não ser que a senhora... Lógico, se o advogado não quiser o cliente... Mas, se amanhã eu precisar de um advogado e recorrer aos serviços do Dr. Fernando José da Costa, acredito que serei atendido, acredito. Portanto, não há exclusividade. Então, o Valdemar pode ter uma advogada que foi do PL ou que é do PL. Agora, ele entrou também na Oitava Vara Crime com ação de queixa-crime por difamação e calúnia. Entrou também... Está ajuizada no Terceiro Juizado Especial Criminal outra ação, outra ação também criminal. Na Primeira Vara Criminal também tem outra ação. Todas do Valdemar. E também na Décima Quarta Criminal há outra ação do Valdemar. Então, na verdade, do PL foram duas ações, e 5 do Valdemar.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não é verdade?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Então, o que a senhora... O PL... Na verdade, aqui a senhora está como testemunha do Roberto Jefferson. A senhora veio... Eu pergunto à senhora: se a senhora tivesse se separado do Valdemar normalmente, a senhora estaria hoje aqui, depondo?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Estaria.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - O que parece mais, o que deixa claro para a gente é que a senhora ficou com raiva de Valdemar, com suas razões — mandou cortar luz e tal —, e, em represália a tudo isso, se prontificou, procurou o Roberto Jefferson...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu já respondi...
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Calma. Prontificou‑se ao Roberto Jefferson de vir depor no Conselho de Ética como testemunha do Roberto Jefferson.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu respondo para o senhor o que eu respondi para o Dr. Itapuã: eu sou uma pessoa ética. Eu respondi isso para o advogado do Roberto Jefferson e eu estou respondendo a mesma coisa para o senhor.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Agora, eu estranho por que, no ano passado, ano em que ele entrou com ação contra a senhora — a senhora ficou irritada, cortou a luz, e brigou, e fez tudo isso —, a senhora não denunciou tudo isso.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu denunciei. Ninguém quis ouvir.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Não, a senhora não denunciou isso. A senhora não denunciou essas coisas. A senhora podia ter vindo a esta Casa, ter denunciado o Valdemar. Talvez as coisas não tivessem acontecido...
 O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, o Deputado está constrangendo a testemunha. É uma testemunha da defesa. Perdoe-me V.Exa...
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - O senhor não pode falar.
O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Mas é uma questão de ordem. É uma testemunha da defesa. O Código de Processo Penal estabelece o direito da testemunha. A testemunha está sendo constrangida. É uma senhora de respeito. Eu agradeço a V.Exa.
O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Sr. Presidente, eu não posso permitir que o advogado do acusado esteja a interferir no meu pronunciamento. O advogado da testemunha está ao lado e... Longe de mim constranger a dona Christina. Longe de mim constrangê-la.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu vou fazer o seguinte. Eu vou imprimir o que eu tenho no meu computador e que eu denunciei ano passado e entrego para o senhor.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Mas nesta Casa a senhora não esteve. Não denunciou o Valdemar.
 (Intervenção inaudível.)
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Espere aí. Sr. Presidente, protesto contra a interferência do advogado. Dona Christina, eu acho que, se a senhora tivesse denunciado um ano atrás e fosse verdadeiro, fosse comprovado, talvez muitos Deputados não estivessem no PL, muitas coisas não tivessem acontecido.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Deputado, eu estou entrando amanhã com uma queixa-crime contra o Valdemar Costa Neto. E todas as documentações, a partir de hoje, eu vou... Pelo seguinte: eu fui casada, a primeira vez, e eu não tenho problema nenhum com meu primeiro marido. E a minha... Apesar do escândalo que foi a minha separação, a minha postura foi de não processá-lo. Inclusive, o senhor deve ter visto isso. E eu poderia já ter entrado com esta queixa-crime, que estou entrando amanhã, ano passado. Mas agora vou entrar no Ministério Público pedindo que a justiça seja feita; com queixa-crime no Supremo e mais tudo o que eu puder fazer. Está bem respondido?
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Está, dona Christina. Então, fica claro para todos nós, para mim...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Porque, durante um ano, ele continua me perseguindo.
 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Eu sei que a senhora está magoada, eu entendo. Eu entendo.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu não...

 O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ARAÚJO - Eu entendo que a senhora esteja magoada, constrangida. O Valdemar... Essa coisa de marido e mulher realmente nós não devemos nos meter. Briga de marido e mulher é uma coisa realmente chata e que não deve ser discutida nesta Casa, é verdade. O que nós queríamos saber não conseguimos saber: se realmente o mensalão foi tratado na casa da senhora; se os Deputados foram lá receber. Era isso que nós queríamos saber, e não conseguimos. Infelizmente, não conseguimos saber a verdade dos fatos, porque o que a senhora conta é uma coisa, e o que as outras pessoas contam é outra. Então, vai ser a palavra da senhora contra a palavra de outros. A senhora não trouxe nenhum fato relevante, insofismável, que pudesse deixar claro para a gente, para este Conselho de Ética.
Era isso, Sr. Presidente. Eu agradeço.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - O último Deputado inscrito é o nobre Deputado Moroni Torgan.
Com a palavra V.Exa., Deputado.
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados; senhora depoente, senhores advogados; em primeiro lugar, dona Maria Christina, eu quero dizer que a nossa tarefa aqui sempre vai ser difícil, pois é uma tarefa em que nós temos de averiguar se existem provas que comprovem a culpabilidade de algum Deputado.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - É claro que a premissa legal em nosso País — e felizmente é assim — é a de que a pessoa é inocente até que se prove o contrário. Então, através das oitivas, através dos documentos é que nós vamos ver se tem prova em contrário e se essas pessoas, que a princípio são inocentes, são culpadas disso. É interessante, e foi bom a senhora ver tudo isso, porque os detalhes vão ser fundamentais. Claro que, quanto ao aspecto do seu rompimento matrimonial, nós não temos nada a ver com isso. Esse é um problema pessoal de vocês. Vocês vão resolver. De certa forma, descredencia um pouco o seu depoimento, porque isso mostra...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sei.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Até isso que a senhora falou agora, no fim, descredencia um pouco o seu depoimento. Se ficar só no depoimento, vai ficar aquele negócio: "Ah, está brava comigo" e tal. Quer dizer, nós vamos ter a sua versão, a versão do Deputado, e vai ficar só uma versão contra a outra, sem ter a convicção.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Nós estamos buscando aqui a convicção de coisas graves, e talvez a senhora tenha detalhes dessas coisas graves. Não buscamos isso com alegria. Agora, se elas existem, buscamos com responsabilidade de identificar e de colocar a responsabilidade naquele que a tem. O menos que nós queremos aqui é pegar o inocente e crucificar só para dizer para a opinião pública: "Esse cara aqui foi crucificado. Está tudo certo". O que nós queremos não é crucificar ninguém, mas responsabilizar quem realmente foi o culpado. Então, as suas agendas serão importantes. A senhora vai ter de fazer um levantamento. Esse negócio de Taiwan é gravíssimo, na minha opinião.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - A senhora foi testemunha... Isso a senhora não ouviu falar porque a senhora foi testemunha. É entrada de dinheiro estrangeiro para corromper o nosso País.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Quer dizer, se a corrupção interna já é ruim, a corrupção de vender o País para um estrangeiro é pior ainda.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - É pior ainda. Então, todos os detalhes que tiver sobre isso são importantes, porque, se isso existiu, é gravíssimo.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - É gravíssimo mesmo. Inclusive a nossa legislação é muito clara: ela não admite nada disso. Ela não admite que governo estrangeiro, pessoa estrangeira colabore com qualquer campanha, com qualquer partido ou coisa parecida, justamente porque nós temos de ter a independência do nosso País. Nós temos de ter respeitadas as características de independência no nosso País. Então, todos os detalhes que tiver sobre isso, apesar de a senhora ser testemunha, mas se não tiver outra testemunha... Por exemplo: se tiver duas testemunhas, já fica corroborada a prova.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Já fica mais forte. Se tiver agendas, bilhetes, coisas que comprovem isso, fica mais forte ainda. Por exemplo, eles não iam dar 2 milhões de graça, nem para o governo ser bonzinho com Taiwan e não ser bonzinho com a China. Eles dariam 2 milhões porque eles têm negócios que deveriam ser feitos com o Brasil e porque eles queriam facilidade nesses negócios.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Não é? É esse o ... E nós temos de saber se foi feito, se não foi feito.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Está.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Então, esses detalhes, se a senhora se lembrar depois e puder nos remeter, serão fundamentais.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.

O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Porque se esses negócios foram feitos, ou já tinha sido feita uma parte, de repente... Porque esse Sr. Chuong, pelo que a senhora disse, é estabelecido no Brasil.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Quer dizer, de repente teve alguma facilidade. Eu não estou afirmando que tenha tido, mas... Porque eu acho estranho o cara dar dinheiro na frente, antes. Geralmente, eles dão depois de concretizado algum negócio.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.

O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Agora, isso é fundamental. Outro detalhe: o Jacinto Lamas. A senhora insinua que ele foi buscar uma mala que não era de roupa nem de comida, era de dinheiro mesmo. Então, é fundamental saber em que dia ele foi, para que a gente possa levantar, no aeroporto, se foi vôo comercial ou coisa parecida.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso eu não vou ter... Isso vocês teriam de pedir para o partido a lista de emissão de passagens.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Ele foi... Certamente quem emitiu a passagem foi o partido? (Pausa.)
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - (Inaudível)... que sim.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Acredita que sim?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, e...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - E essa passagem foi de São Paulo para Belo Horizonte?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não: Brasília/Belo Horizonte/Belo Horizonte/São Paulo.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Ah, então é Brasília/Belo Horizonte/Belo Horizonte/São Paulo? Geralmente era sempre assim, quando acontecia?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - O período? O período?
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - O período em que isso aconteceu.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu já estava na casa, não estava mais na academia. Então... Eu mudei para a casa em agosto de 2004...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Dois mil e quatro, não; deve ter sido 2003.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Agosto de 2003, desculpe. Agosto de 2003. Deve ter sido comecinho... Acho que é comecinho de 2004.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Começo de 2004. Mas é nesse período aí. Eu acho que fica fácil tentar um levantamento nas empresas aéreas nesse sentido para saber se esse roteiro foi feito, o que vem... A senhora tem de saber que essas provas circunstanciais vão corroborar o seu testemunho.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Se por um lado fica debilitado devido a uma briga passional, por outro lado fica corroborado se as provas circunstanciais...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Por isso é que eu pedi para o senhor para ver...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - ... confirmarem.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ... coisas tipo cruzamento de telefones, ligações, entrada dos taiwaneses aqui — eu vou fornecer alguns nomes —, esse tipo de coisa.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Essa mala de dinheiro. Esse dinheiro tinha alguma tarja, alguma coisa assim?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, elastiquinho.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Só elastiquinho mesmo. Então, não tem como saber que origem tinha.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Desculpe. Qual dinheiro, nobre Deputado?
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Do Remi Trinta, que era dólar.
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Ah, sim, do Remi Trinta.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Aí fica difícil de saber. Esse dinheiro... Tinha alguma casa de câmbio ou coisa assim que fornecia, que a senhora saiba?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Não sabe nada nesse sentido?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - O Deputado Valdemar tinha alguma renda extra fora a de Deputado?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, ele...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Não?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Acho que não. Ele é administrador de empresas, acho.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Então, a senhora não tem conhecimento de ...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - ... qualquer atividade extra nesse sentido. A senhora diz que o Bispo Rodrigues, o Deputado Valdemar e o Sr. Delúbio organizaram esse mensalão com outro título qualquer: subsídio mensal a Deputado ou coisa parecida nesse sentido e que foi através do telefone e outras situações... Eu gostaria de saber se a senhora lembra de alguma coisa dessas outras situações, porque, de telefone, a senhora já esmiuçou várias vezes.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Várias vezes eles faziam café da manhã na minha casa. Essa coisa ficou mais patente nessa época do Crivella, quando o Edir Macedo queria que o Crivella fosse o Presidente do PL no Rio. E daí eles faziam muito café da manhã. Mas a casa era uma casa grande, com um monte de empregados. Então, assim...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Eles quem? Quem fazia esses cafés da manhã?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - O Valdemar, o Bispo Rodrigues e, algumas vezes, o Crivella. O Valdemar e o Bispo Rodrigues, nessa época, nesse período, na época em que ele foi exonerado da igreja, eles... A pessoa que mais freqüentava a minha casa era o Bispo Rodrigues. E eu acho que assim...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - E o que lhe dá a convicção do Delúbio, por exemplo?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Porque o Delúbio era a pessoa com que o Valdemar se encontrava o tempo inteiro, no PT.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Era sempre com ele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, às vezes... Toda vez que ele me ligava e falava que estava com alguém do PT, ele falava: "Estou aqui no hotel, esperando o..."
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - O Delúbio?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ... o Delúbio". Esse tipo de coisa, entendeu? Não era, ele não tinha...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Então, o contato maior sempre era o Delúbio, nesse sentido?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso, isso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Porque fica... O sentido é que a gente tem de saber. O Bispo, quer dizer, o Deputado Carlos Rodrigues, que não é mais bispo, ele quando falava — estou falando em suposição — com o Deputado Valdemar... Esse dinheiro tinha de vir de algum canto.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Não é? E justamente não devia ser da conta deles. Então, tem de ser da conta..., alguma conta de governo ou de empresa relacionada a governo, não é isso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso, isso. Não sei.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Esses empresários que iam, eles iam com o propósito de quê? De conseguir contrato com o Governo e coisa parecida?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quais? Quais empresários?
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Que iam muitas vezes na sua casa ou coisa parecida?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei. Não sei, porque eles almoçavam naquela..., nessa salinha. Se o senhor quiser, eu vejo se a gente pede uma planta da casa, e eu mostro como é que é. O café da manhã, às vezes, eu ouvia mais, porque o café da manhã eles tomavam numa sala que era mais perto de onde eu passava sempre.

O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - E se a senhora conseguir saber também alguma coisa, lembrar de alguma coisa, talvez durante as traduções, sobre qual o interesse desses empresários de Taiwan aqui, para saber se esse interesse foi suprido ou não.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, isso.., isso eu me lembro. Isso ele falou: é facilitar as relações comerciais.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Sim, mas aí tem de ter alguma coisa mais objetiva. Que tipo de empresário era? Eram empresários de construção? Eram empresários de...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu vou fazer o seguinte: eu vou levantar todos os cartões e todas as pessoas com quem eu estive lá...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Isso. Isso torna mais objetivo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - ... e os nomes todos. Por exemplo, tem uns que eu tenho o da mulher, mas assim..., pela mulher vocês chegam a uma... E daí...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Porque aí pode-se saber se isso foi concretizado, se teve...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - ... tinha uma relação ou coisa parecida. Porque senão fica muito subjetivo.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu acho que é possível também... Foi uma viagem oficial. Então, é possível... Eu não sei se tem isso, mas quanto a viagens oficiais, em geral, eles passam um relatório, ou não? Porque o Senador Aelton, ele pediu...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Geralmente têm.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele pediu para ir oficialmente. Então, provavelmente o Governo de Taiwan mandou..., deve mandar algo tipo 9h, 10h, que pode ajudar...
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Certo. Agora, com certeza não foi o Governo de Taiwan que deu os 2 milhões. Devem ter sido pessoas, empresários que tinham interesses aqui.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA -  Não sei. Quem cobrou... quem cobrou foi o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Quem cobrou?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Quem cobrou. E foi uma semana antes da campanha presidencial, que era muito importante para eles, porque era época da campanha... A gente foi lá um pouco antes da campanha daquele Presidente que foi eleito.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - É muito grave isso, porque se tiver uma relação de governo dando dinheiro por baixo do pano é um  negócio gravíssimo. Não estou dizendo que acontece. Estou dizendo que tem de ser investigado, e o que tiver de detalhe deve ser... A senhora falou muito que toda vez que passava na Rua Gomes de Carvalho, nº 1.306, 8º andar...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, eu nunca subi.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Sim, mas sempre que passava na garagem saía com a mala de dinheiro...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, algumas vezes... Algumas vezes saía com uma mala — e eu não falei o que tinha dentro. Eu falei: com uma mala a mais e que, coincidentemente, algumas das vezes, a maioria das vezes, mais que 60%, 70% das vezes a gente voltava em avião privado para Brasília.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Certo. Quem é o Sr. Alípio Gusmão?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não tenho idéia. Nunca encontrei.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - A senhora sabe que o escritório era dele?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Era de advocacia, alguma coisa assim?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não tenho idéia.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Não tinha... Não tem idéia?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não tenho idéia do que faz.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Só sabe que esse senhor trabalhava lá...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - ... no 8º andar desse número dessa rua?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - E que tinha essa ligação. A senhora já falou que não lembra de qualquer detalhe sobre distribuição desse dinheiro. Quer dizer, só lembrou do Remi Trinta, uma vez.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Então...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Mas o Remi Trinta foi antes. Foi há mais..., foi logo depois da campanha.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Em 2003, por aí? Início de 2003?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - É, logo depois da campanha.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Início de 2003, mais ou menos, que era... Agora, me diga uma coisa: dessas reuniões que tinha na sua casa, tinha algum tipo de registro? Tinha, por exemplo, sistema de circuito interno na sua casa ou não?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Não tem nenhum circuito desses que... Poderia ter e poderia ser interessante. Tem... Por exemplo, contratava bufê ou coisa parecida? Lembrar disso?
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, mas tinha alguns empregados — e eu vou fornecer para vocês o telefone deles todos.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Por exemplo: reuniões, as reuniões que a senhora considera mais importante no sentido de poder tratar do assunto mensalão...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Está.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Dessa reunião seria interessante ter mais testemunhas porque... É aquilo que eu digo: fica muito tênue a prova de um testemunho contra o outro.
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu sei.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Fica muito tênue, e nós temos de... Veja, nós temos de fazer com a maior responsabilidade isso. Eu sei que tem...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu tenho certeza disso.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Eu sei que tem um drama nesse episódio. Eu sei que tem coisas hilárias, mas não é hilário condenar um inocente e não é hilário deixar um culpado solto...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Hã, hã.
O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - ... e não ser responsabilizado. Então, nós temos de fazer com a maior responsabilidade. Por isso eu peço — mesmo na CPI do Mensalão e aqui no Conselho de Ética, que sempre tem agido com a maior responsabilidade, tanto o Presidente quanto o Relator — que todos os detalhes que a senhora possa se lembrar, olhando suas agendas, olhando suas passagens, olhando os cartõezinhos...
A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu vou mandar para os senhores tudo o que eu tenho e vou separar mais ou menos por época, porque pode ter coisas, como eu disse, que para mim não fazem sentido nenhum mas para os senhores fazem.

O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Agora, é interessante a senhora dar sua versão sobre cada episódio.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Está. Não, não...
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Porque só mandar o documento solto assim pode não significar muita coisa.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, tudo bem. Está bom.
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN  - Então, eu faço essa a solicitação. Agradeço a presença da senhora aqui e digo que...
 (Intervenção inaudível.)
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN  - Pois é. Ela leu até. Ele tem dúvida sobre aquele cartão que a senhora leu de Taiwan, ali que seria a pessoa...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Já pegou xerox.
 (Não identificado) - Ela já vai apresentar.
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN  - Já pegou xerox e tal. Ela disse o nome. Se não me engano, ela disse o nome e tudo. Ela leu o cartão, mas pode ler de novo.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ah, é: "James C. K. Tien, Director Office of the Deputy Political Ministry of Foreign Affairs".
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Essa seria a pessoa que reuniu os 2 milhões. Seria isso?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Esse é o assessor do Michel, que é quem cobrou.
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Que é quem cobrou sobre o problema dos 2 milhões?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO MORONI TORGAN - Eu agradeço a V.Sa.
 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Sr. Presidente, pela ordem.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Pela ordem, Deputado.
 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Sr. Presidente, eu acredito, para que fiquemos despreocupados e para resolver essa peleja aí Brasil X Taiwan, que fosse oficiado o Itamaraty, para que nós possamos realmente identificar essas pessoas e, à época, o que elas faziam da vida, porque realmente é preocupante. Isso pode causar uma crise internacional, esses 2 milhões que vieram via...
 (Intervenção inaudível.)
 O SR. DEPUTADO EDMAR MOREIRA - Supostamente. É, supostamente. Ninguém viu. Ninguém sabe, mas eu acho absolutamente procedente que o Itamaraty seja envolvido nessa contenda.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Srs. Deputados, antes de encerrarmos, eu gostaria de ouvir o Relator e de fazermos, posteriormente, a programação da semana que vem e do mês que vem. Com  a palavra o Relator.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sr. Presidente, nobres colegas, Sra. Maria Christina, algumas questões muito rápidas. Nessa viagem a Taiwan, que a senhora disse que teve cunho oficial, somente representaram o Brasil ou o Congresso Nacional o Deputado Valdemar e o Senador ou houve mais pessoas integrando a comitiva?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Não tinha mais nenhum Parlamentar.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Os 5 milhões seriam os recursos utilizados para a cooptação do partido, e a senhora, creio, não nos deu a pista. Qual seria a origem desse dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não sei.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO  - Não sabe. Nem como chegou a quem, ao destinatário? Também não sabe?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO  - Quem levou nem quem recebeu?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Os 2 milhões, dos quais que ficaram 400 mil para o Deputado Valdemar, a senhora viu esses 400 mil chegarem às mãos dele?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu não vi o dinheiro.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nunca viu esse dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não. Eu traduzi uma cobrança de uma pessoa em Taiwan.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - O cofre, a senhora viu aberto, mas via entrar dinheiro no cofre, sair dinheiro do cofre?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu via o Valdemar, agachado, mexendo no cofre.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas não via ele colocar nem tirar dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Eu não ficava olhando o que ele estava fazendo no cofre.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora disse que ele sempre pagava tudo com dinheiro, real ou dólar.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E não via, então, ele colocar dinheiro no bolso, numa sacola, para sair, para viajar?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, ele ia, abria o cofre, pegava coisas, mas eu não estava sempre nessa sala da esteira. As vezes que eu fui a essa sala... Porque o cofre ficava numa salinha, onde ficavam a esteira e a bicicleta. Então, eu não ia lá toda hora. Às vezes, o Valdemar ia lá e fazia o que ele tinha de fazer.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Porque a senhora disse que ele não usava cheque, não usava cartão de crédito...
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Usava muito pouco.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Só usava fundamentalmente dinheiro, dinheiro vivo.
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Isso.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Mas não via ele colocar nos bolsos ao sair de casa?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, porque ele fazia isso nessa sala, na frente do cofre. Eu vi duas vezes o cofre aberto. E eu vi que tinha dinheiro lá.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E quando saía com a senhora para restaurante ou para viagem, para pagar hotel, ele sempre pagava com dinheiro?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Cash.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora sabe se ele é empresário? Se ele é um homem bem de vida? Não sabe?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Ele nunca lhe disse se é titular de empresa, se é sócio de empresa?

 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Ele disse que tinha uma mineradora. Acho.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E não sabe dos rendimentos? Se é um negócio superavitário? Não tem informações?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E ele adquiria, com habitualidade ou de vez em quando, bens de valor considerável, durante a sua convivência com ele?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Como assim?
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Bem de qualquer natureza, uma escuna, um avião, carros de luxo, fazendas, apartamento de luxo
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não, os carros que ele usa estão todos no nome do partido.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Não via ele adquirir bens?
 A SRA. MARIA CHRISTINA MENDES CALDEIRA - Não.
 O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Obrigado.
 O SR. ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS - Sr. Presidente, antes que V.Exa. encerre, eu gostaria, em nome do Deputado Roberto Jefferson, de agradecer a dona  Maria Christina pela sua disposição em vir aqui, em se comportar da maneira como se comportou, por trazer as informações que trouxe, e fazer um registro. Com todo respeito, mas as mulheres têm ocupado um papel especial nesta Comissão, tanto a dona Maria Christina, quanto a Karina Somaggio, quanto a Deputada do Estado de Goiás, Raquel Teixeira, que também veio aqui, colaboraram muito na apuração da verdade. Principalmente a senhora. Meus parabéns. Muito obrigado.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Srs. Deputados...
 O SR. PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR - Sr. Presidente, pela ordem. Só uma manifestação da defesa. Em primeiro lugar, sem dúvida nenhuma...
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) - Eu não poderia, mas vamos aceitar.
 O SR. PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR - Eu agradeço a exceção. A testemunha foi muito bem tratada e respeitada por todos os Deputados aqui presentes, mas, algumas vezes, a defesa ouviu calada algumas afirmações de que a testemunha não trouxe provas que incriminassem determinadas pessoas. A testemunha aqui está não por livre e expontânea vontade. Aqui está por ter sido arrolada como testemunha. A partir de então, tem o deve de aqui comparecer. Em segundo lugar, na qualidade de testemunha, tem a única e exclusiva obrigação legal de dizer a verdade sobre fatos por ela presenciados ou ouvidos e nada mais. Não cabe a ela o dever de incriminar ou absolver determinadas pessoas. E, para ser sincero, ela lamenta a sua presença aqui, porque, uma vez mais, tem a sua vida íntima devassada. Muito obrigado, Sr. Presidente.
 O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Izar) -  Srs. Deputados, a próxima reunião plenária do Conselho de Ética será dia 2, às 15h, oitiva do Deputado José Dirceu. Dia 2, às 15h. A semana que vem, o Relator e eu, com a ajuda da Assessoria, vamos nos reunir 3 dias seguidos para fazer o levantamento de toda a documentação, prepararmos e encaminharmos cópia a todos os membros do Conselho.
 Está encerrada a reunião.