Texto II

 

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

 

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

 

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

 

PROGRAMA MEMÓRIA POLÍTICA - TV CÂMARA

EVENTO: Entrevista

N°: ESP007/01

DATA: 16/11/2001

INÍCIO:

TÉRMINO:

DURAÇÃO: 6min

TEMPO DE GRAVAÇÃO: 6min

PÁGINAS: 2

QUARTOS: 2

 

 

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

 

 

 

 

SUMÁRIO: Entrevista com Lígia Prestes, tia de Anita Leocádia Prestes - Parte 2.

 

 

OBSERVAÇÕES

 

 

 

 Conferência da fidelidade de conteúdo – NHIST 08/02/2010

 

 

            A SRA. ENTREVISTADORA (Ana Maria Lopes de Almeida) - Dona Lígia, a senhora vai contar tudo para a gente das suas emoções, como é que foi a entrega...

            O SR. ENTREVISTADOR (Ivan Santos) - Exatamente. Como é que foi essa epopeia.

            A SRA. ENTREVISTADORA (Ana Maria Lopes de Almeida) - Como é que foi? A senhora chegou para receber Anita?

            O SR. ENTREVISTADOR (Ivan Santos) - Ou até um pouco antes, quando elas saíram da França, a senhora e a sua mãe.

            A SRA. LÍGIA PRESTES - Nós havíamos estado na Alemanha várias vezes para tentar ver a Olga. Minha mãe esteve 3 vezes na Alemanha, e 2 vezes eu a acompanhei.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

            A SRA. ENTREVISTADORA (Ana Maria Lopes de Almeida) - Então, D. Lígia, como é que foi?

            A SRA. LÍGIA PRESTES - Nós chegamos à Alemanha em janeiro de 1921. Não, 21 não...

            A SRA. ANITA LEOCÁDIA PRESTES - O que você está falando? Em janeiro de 1938.

            A SRA. LÍGIA PRESTES - Em 21 de janeiro de 1938, já com a informação de que iam nos entregar a Anita.

Nós fomos à GESTAPO, acompanhadas por um advogado francês, que nos acompanhou desde Paris, Drujon. Lá na GESTAPO minha mãe e eu pedimos, por favor, por tudo quanto havia, que nos permitissem que a Olga nos entregasse Anita pessoalmente, para que ela visse que Anita passava dos braços dela para os braços da avó. Disseram que a mamãe pedia impossíveis. Aí, à vista disso, nós esperamos e veio uma funcionária lá da prisão, trazendo Anita no colo; a Anita chorando, coitadinha, com as lágrimas escorrendo ainda, naturalmente da separação da mãe. Imagino que deve ter sido um momento muito trágico para a Olga, e isso se refletiu na criança, que não entendia o que estava acontecendo, mas estava com a carinha toda molhada de lágrimas, assustada.

Aí nos entregaram a Anita. Minha mãe tomou-a nos braços, mas ela era bastante pesada já nessa época, com 1 ano já era uma criança forte, crescida. Minha mãe aguentou com ela até o táxi, até o carro que nos esperava na porta. Aí saímos, tomamos o carro e, até o hotel, apavoradas, com medo que fosse uma cilada, que de repente nos tirassem a criança.

Tivemos que esperar várias horas no hotel, porque o trem para Paris só saía à noite. Então, nós ficamos até às 7, 8 horas da noite naquela angústia. A cada vez que batiam à porta do quarto do hotel, a gente pensava que já era a GESTAPO que vinha buscar a Anita. Fomos para a estação na mesma situação, porque imaginavámos que fossem agentes secretos da GESTAPO que circulavam ali em torno de nós, na estação, e nós com um medo terrível que nos arrancassem a criança.

Tomamos o trem, com Anita no colo. Eu me lembro que subi com Anita no colo. Sentamos na cabine e, a cada vez que batiam à porta da cabine, era aquela angústia, com medo que fosse a polícia, a GESTAPO. Só fomos respirar um pouco depois que passamos a fronteira; minha mãe, sentada na cama abraçada com Anita, e eu em pé, ao lado dela.

Depois que passou a fronteira, a situação acalmou um pouco. Chegamos a Paris, os amigos nos esperavam na estação, mas aqueles momentos, aquelas horas que mediaram entre a entrega da Anita e a nossa passagem à fronteira jamais esquecerei. Foram momentos de muita, muita angústia. Angústia da pessoa que se sente impotente contra um perigo iminente e você não sabe como se defender nem o que fazer.

Foi assim a saída da Anita. Ela, felizmente, era uma criança bastante dócil, digamos assim, porque eu não me lembro... Ela estranhou, evidentemente, mas chorou pouco pelo trauma que ela devia estar passando com a separação da mãe.

A SRA. ENTREVISTADORA (Ana Maria Lopes de Almeida) Tá bom, né? Senão ela vai ficar muito emocionada. A Senhora que dizer mais alguma coisa?

A SRA. ANITA LEOCÁDIA PRESTES – Quer falar mais alguma coisa?

            A SRA. LÍGIA PRESTES - Não, de receber Anita, não há mais nada a dizer; foi somente isso. Parece tão pouco, mas foi tão pesado!

            O SR. ENTREVISTADOR (Ivan Santos) - Nossa senhora!  Eu vivi cada momento que a senhora...

            A SRA. LÍGIA PRESTES - Foi terrível.