Martim Francisco Ribeiro de Andrada
MARTIM FRANCISCO Ribeiro de Andrada, pai (SP) - (04-05 a 02-07-1831)
MARTIM FRANCISCO Ribeiro de Andrada nasceu na cidade de Santos (SP) a 27 de junho de 1775. Filho do coronel Bonifácio José de Andrada e D. Maria Bárbara da Silva, e irmão de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva e José Bonifácio de Andrada e Silva. Era casado com sua sobrinha, D. Gabriela Frederica Ribeiro de Andrada, segunda filha do Patriarca da Independência (José Bonifácio). Deixou os seguintes filhos: Martim Francisco Ribeiro de Andrada, José Bonifácio de Andrada e Silva, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada - do qual descende o ramo mineiro dos Andradas, entre os quais se destaca o Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada, 26º presidente da Câmara dos Deputados (1968-1969) - Maria Flora de Andrada e Narcisa de Andrada.
Tal como seus irmãos mais velhos, foi na própria vila de Santos que fez os estudos primários, orientados pelo pai. Os secundários já se realizaram em São Paulo, sob a direção de Frei Manuel da Ressurreição. Aí aprendeu rapidamente as disciplinas do curso, que constava de Filosofia, Lógica, Moral e Língua Francesa. Os recursos da família possibilitaram-lhe a vantagem de seguir, como seus dois irmãos, a carreira literária. Não se sabe ao certo em que ano viajou para Portugal, onde, pela Universidade de Coimbra, em 1798, obteve o diploma de Bacharel em Matemática e Doutorado em Ciências Naturais. Nesse mesmo ano o Governo português o nomeia para, juntamente com seu irmão José Bonifácio e o Tenente-General Napion, realizar trabalhos de exploração minerográfica pela Província de Estremadura até Coimbra. Por designação de seus companheiros, Martim Francisco encarrega-se de descrever e redigir os trabalhos da Comissão à medida que esta se fosse realizando.
Por Carta Régia de 17 de agosto de 1801, com o ordenado anual de 800$000 réis, além de 200$000 réis, também anuais, para ajuda de custo, é nomeado Diretor-Geral das Minas e Matas de São Paulo. Pela mesma Carta ficava ainda incumbido, no posto de Sargento-Mor de Milícias, da inspeção da Fábrica de Ferro de Ipanema. Em conseqüência desses encargos e já de regresso ao Brasil, realiza importantes excursões científicas pelas regiões de Barueri, Paranaíba, Itú, Sorocaba, Porto Feliz, Itapetininga, Apiaí, Rio Verde, Curitiba, no interior, e também pela região litorânea de Itanhaém, Peruíbe, Iguape e Cananéia. Ainda em 1822 encontrava-se no desempenho desse cargo técnico, do qual pediu demissão ao Governo Provisório, após os acontecimentos sediciosos de 23 de maio daquele ano. Com menos de trinta anos de idade já realizara obra da mais alta responsabilidade.
Dessa fase de sua carreira no Brasil conhecem-se as descrições de suas viagens mineralógicas pela então Capitania de São Paulo. Antes, ainda em Portugal, traduzira do francês um "Tratado sobre o cânhamo", de Mercandier, editado em 1799; e o "Manual do mineralógico ou Esboço do reino mineral", de Ferber. Em 1821 foi nomeado secretário do Governo Provisório de São Paulo.
Em 1820 acompanhou seu irmão José Bonifácio (que no ano antecedente voltara de Portugal) a uma excursão montanística por parte da Província de São Paulo para determinar seus terrenos auríferos. Neste mesmo ano foi nomeado secretário do governo provisório da Província de São Paulo, do qual ele era vice-presidente. Com a expedição dos decretos de 29 de setembro de 1821 pelas Cortes portuguesas visando a recolonização do Brasil, José Bonifácio e Martim Francisco contribuem com a gloriosa representação de 24 de dezembro do mesmo ano, que foi o primeiro grito do patriotismo contra a prepotência da metrópole. A partir daí seu nome começa a transpor as fronteiras da província e impor à admiração, ao respeito e ao reconhecimento de seus concidadãos.
Em janeiro de 1822, tendo chegado à Corte do Rio de Janeiro, seu irmão José Bonifácio é chamado à administração dos negócios públicos, e começa a sua grande obra de organizar o país e divulgar os ideais de Independência. O passado porém ainda estava de pé: o poder lusitano ainda dominava. As medidas impolíticas das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa haviam lançado o germe da discórdia entre os brasileiros. Na Província de São Paulo, o movimento retrógrado das idéias lusitanas, apoiado pelo general João Carlos, conseguira interromper o progresso da liberdade constitucional, que a nova ordem tentava implantar no país. Como representante das novas idéias, que tinha em José Bonifácio o seu maior defensor, é Martim Francisco expulso do governo provisório de sua província, e conduzido preso para a corte, tal era ainda a força das idéias regressistas. Chegado ao Rio de Janeiro, aguardava-o um brilhante triunfo: seu nome ia ligar-se para sempre ao grande drama de nossa libertação política. A luta em prol da independência era um empreitada difícil e incerta: desorganizado pelas Cortes portuguesas, o Brasil entrava em combate com uma potência constituída, que o dominara por três séculos. Todos os recursos são empenhados e prova a extraordinária firmeza com que são conduzidos os negócios administrativos - com prudência e patriotismo -, consumando-se na independência do Brasil do jugo lusitano. A época porém é crítica. As circunstâncias do país punham em contribuição todos os recursos políticos e a vontade de mudanças de todos os cidadãos. A nova ordem constitucional reclamava sobretudo um bom administrador financeiro, que pudesse, por acertadas medidas, fazer face às avultadas despesas, que exigiam acontecimentos extraordinários. Esse homem apareceu em Martim Francisco. É chamado para a secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda (1º Gabinete - Primeiro Período Imperial - 16-01-1822 a 17-07-1823). Foi assim, cronologicamente, o primeiro titular dessa pasta, após a proclamação do Império. Permanece ainda no governo no período de 04 de julho a 28 de outubro de 1822, quando acontece a primeira demissão dos "Andradas". No dia 30 de outubro (48 horas depois) são readmitidos, atendendo a representações dos procuradores gerais e comandantes das guarnições. Reassume José Bonifácio de Andrada e Silva com plenos poderes e com a disposição de poder realizar o seu programa de "centralizar a união e prevenir as desordens". Este primeiro ministério dura 18 meses, sendo marcado pela disputa de poder entre este e o grupo da maçonaria, sob o comando de Joaquim Gonçalves Lêdo.
Quando Martim Francisco assumiu a pasta da Fazenda no dia 4 de julho, encontrou o Tesouro completamente exaurido. É que, desde 1808, com a vinda da Família Real para o Brasil, acumulavam-se as dificuldades de ordem financeira e econômica. Em 1822 tais dificuldades alcançaram o seu ápice. Era mesmo difícil a situação econômico-financeira, agravada com o retorno de D. João VI e a Corte para Portugal e a decisão de levar todos os valores existentes no Erário Régio e no Banco do Brasil. Fato esse acrescido com a criação de nova máquina administrativa. O saldo existente em caixa era de apenas quatro contos de réis e as despesas urgentes reclamavam recursos vultosos e imediatos. Não se atemoriza. Encarando de frente as dificuldades e, acastelado em sua inatacável probidade, vence-as, uma a uma, com energia, com tenacidade, com patriotismo inexcedíveis. Institui em 3 de agosto um empréstimo público (interno) dirigido aos comerciantes e homens de fortuna da Corte, para enfrentar a situação e organiza o aparelho fiscal, criando a Administração das Rendas Públicas. Notabilizou-se pela execução de um programa francamente nacionalista, mediante o qual eram fortemente taxados os produtos importados. Neste período assina o Decreto de 30 de dezembro de 1822, para que os gêneros de indústria estrangeira e com especialidade manufatura portuguesa (excluída apenas a indústria inglesa) paguem nas alfândegas vinte e quatro por cento; e também o Decreto de 4 de fevereiro de 1823 criando uma administração na mesa do Consulado para a fiscalização dos impostos do tabaco, do café, etc., seguido das instruções. Aberta a Assembéia Geral Constituinte e Legislativa (03-05 a 12-11-1823) a sua personalidade se agiganta tornando sua administração nos negócios da Fazenda irretocável.
No decorrer do ano de 1823 muitas foram as providências tomadas por Martim Francisco como Ministro da Fazenda em relação aos serviços e interesses de sua pasta. Grande foi a sua atividade, por exemplo, diante das repartições arrecadadoras, ora recomendando e insistindo pelo exame rigoroso e economia na despesa pública, ora aconselhando e esclarecendo sobre medidas e processos arrecadadores.
A situação do meio circulante, cuja gravidade tinha uma de suas causas nas emissões contínuas do Banco do Brasil, foi também objeto de providências de parte do Ministro Martim Francisco. Obstar, ou, ao menos, embaraçar essas emissões valia por adotar medida relevante para o saneamento do meio circulante, tão fundamentalmente comprometido. Já com a Portaria de 5 de outubro de 1822 dera o primeiro passo visando a tal fim. Seus efeitos foram bons, pois as emissões cessaram.
Mas a excelente administração Martim Francisco à frente do Ministério da Fazenda havia de durar pouco. A energia dos "Andradas" em uma época crítica, travada de paixões e preconceitos de nacionalidade, acarretou-lhes inimigos ardentes. Uma oposição surgiu logo na cena política, que procurava embaraçar-lhes a ação. Depois de algumas divergências o primeiro e glorioso ministério da Independência cai. Mas, os talentos dos "Andradas" porém marcavam-lhes ainda um lugar distinto na arena política. Retirados do poder organizaram uma vigorosa campanha oposicionista no Parlamento e pelas colunas dos jornais "O Tamoio" e o "Sentinela da Liberdade à Beira do Mar da Praia Grande", ambos fundados em agosto de 1823, que somava os recursos da imprensa e a eloqüência da tribuna na cobrança dos desvios do poder constituído. Martim Francisco havia sido eleito deputado para a Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil pela Província do Rio de Janeiro. É um orador de forte envergadura, às vezes suscetível e genioso, que não se cala diante de conveniências, não transige com injustiças, não se acovarda em face das agressões. Nesta mesma Assembléia é eleito presidente da Casa para o período de 01 a 31 de outubro de 1823. Sua palavra ecoava com a majestade do tribuno do povo. No caso do boticário Davi Pamplona Real, sua voz elevou-se à altura de uma nobre indignação e na tribuna da Assembléia brada com energia, conforme registro nos Anais Parlamentares: "Legisladores! Trata-se de um dos maiores atentados, de um atentado que ataca a segurança e dignidade nacional, e indiretamente o sistema político por nós adotado, e jurado. Quando se fez a leitura de semelhante atrocidade, um silêncio de gelo foi nossa única resposta, e o justo receio de iguais insultos à nossa representação nem sequer fez assomar em nossos rostos os naturais sentimentos de horror e indignação. Dar-se-á caso, que submergidos na escuridão das trevas tememos encarar a luz? Que amamentados com o leite impuro do despotismo amamos ainda seus ferros e suas cadeias? Ou que, vergados sob o peso de novas opressões, emudecemos de susto e não sabemos deitar mão da trombeta da verdade, e com ela bradar aos povos: "Sois traídos!". Infames! Assim agradecem o ar que respiram, o alimento que os nutre, a casa que os abriga, e o honorífico encargo de nossos defensores, a que indiscretamente os elevamos? Que fatalidade, brasileiros! Vivem entre nós estes monstros, e vivem para nos devorarem! (...) Grande Deus! É crime amar o Brasil, ser nele nascido, e pugnar pela sua Independência e pela suas leis! Ainda vivem, ainda suportamos em nosso seio semelhantes feras!". Esse discurso, pronunciado na sessão de 10 de novembro de 1823, portanto às vésperas do decreto de dissolução da Assembléia, foi, no dizer de Sisson, o testamento político da Constituinte. Suas palavras, incendiadas pelo entusiasmo ardente do patriotismo ofendido, feriram o poder, e os nomes dos que as proferiram foram inscritos nas tábuas da proscrição. A 12 de novembro de 1823 a Assembléia Constituinte era dissolvida à força pelo poder imperial.
Decretada sua dissolução pelo Imperador D. Pedro II, vários deputados são presos, entre eles está Martim Francisco juntamente com os seus irmãos José Bonifácio de Andrada e Silva e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva. Estes e mais os ex-deputados José Joaquim da Rocha, Belchior Pinheiro de Oliveira (padre), e Francisco Gê Acaiaba Montezuma são conservados em prisão até o dia 20, data em que, desterrados, juntamente com seus familiares, embarcam com destino ao porto do Havre, em França, a bordo de uma velha charrua, de nome "Lucônia", sob o comando do capitão-tenente Joaquim Estanislau Barbosa.
No dia 24 de novembro de 1823 é baixado um decreto mandando tirar devassa sobre os fatos sediciosos dos dias 10, 11, e 12 do mesmo mês. Martim Francisco e Antônio Carlos são relacionados na horrorosa inquisição, a que então se procedeu. Seus discursos na Constituinte, as cartas por eles escritas do desterro à família, aí figuravam como provas de criminalidade, e essas cartas o governo apreendera, violara seu segredo, e mandara por portaria de 9 de outubro de 1824 apensá-las ao processo. Em 1828, o processo que inculpava Martim Francisco do crime de sedição, ia ser enviado à Justiça. O ilustre proscrito embarca com seu irmão Antônio Carlos de volta para a Província do Rio de Janeiro para empreender sua defesa. Chegando à sua pátria, é encerrado em uma masmorra da Ilha das Cobras, onde devia expiar o crime de haver amado a sua pátria. A 6 de setembro de 1828 a Relação do Rio de Janeiro firma a sentença de absolvição que lava a afronta feita aos Andradas. Saindo da prisão, neste mesmo ano, retoma suas atividades políticas, muito embora, desgostoso por tantas decepções, amargurado com a vida pública, tivesse jurando nunca mais retornar a ela. Tanto assim que, no início do ano de 1830, recusa-se a entrar para o Conselho da Coroa, a que o chamava o Imperador, já arrependido de seu erro. Martim Francisco e seus irmãos perdoaram a D. Pedro I pelas ofensas recebidas, e foram na adversidade os únicos amigos que encontrou o Imperador. Logo depois, em 1831, recusa servir sob a Regência, porque, aceitando o 7 de abril como um fato consumado, não queria assumir a responsabilidade de um governo saído de uma revolução por ele reprovada. Mas ainda em 1830 elege-se deputado pela Província de Minas Gerais para a 2ª Legislatura (03-05-1830 a 06-10-1833). É o mesmo homem. Os sofrimentos no exílio não haviam enfraquecido sua fibra de lutador. Os acontecimento sucedem com rapidez e o 7 de abril de 1831 deixa a Nação sem o seu primero imperador.
A 2ª Legislatura (1830-1833) teria de deliberar sobre relevantes e complexos problemas de ordem econômica e financeira. Instalada a Legislatura, em 7 de junho de 1830 pronunciou Martim Francisco memorável discurso, no qual, fundamentando o projeto de criação do novo Banco do Brasil, refutou as razões por força das quais se votara a extinção. Esse é outro de seus discursos que, além de perfeito na exposição da doutrina financeira, revela-se modelar pelos primores da forma, constituindo exemplo de eloqüência parlamentar esmeradamente cultivada pelos estadistas da época.
Em 17 de setembro de 1830 intervém nos debates da Câmara dos Deputados para propor a supressão dos dízimos, tributo anacrônico e prejudicial, e a sua substituição por direitos sobre a exportação dos produtos, cobrados em dinheiro. Apresentou emendas ao projeto do Deputado Lobo de Sousa, as quais foram aprovadas e acabaram com o antiquado imposto.
A sessão legislativa de 1832 decorreu em meio de fortes rajadas das paixões políticas: a reforma constitucional; a defesa do irmão José Bonifácio, contra quem se agitava, violentamente, a campanha de que resultou ser-lhe tirada a tutoria dos príncipes; a anistia aos sediciosos do Maranhão - tais foram os assuntos que absorveram o espírito de Martim Francisco, para quem forçosamente se tinham esvaziado de interesse outros casos ou questões, que não se prendiam tão de perto à luta a que fora arrastado e em que era um dos poucos aguerridos combatentes na tribuna. Nesta época de apreensões e sustos, os atos do tutor dos príncipes, pareceram aos olhos suspeitosos da revolução um crime e o governo propõe às Assembléia Geral Legislativa a remoção de José Bonifácio da tutoria, mas Martim Francisco ocupa a tribuna em honrosa defesa do seu irmão.
Em junho de 1832, sem embargo dos assuntos políticos, tratou também de finanças. Dentre os projetos dessa última natureza figurou, nas sessões daquele mês, o que permitia às Câmaras Municipais contrair empréstimos, cujo produto fosse empregado em obras de utilidade pública. Martim Francisco combateu esse projeto por duas razões: 1) por violar o art. 83, § 3º, da Constituição Política do Império do Brasil; e 2) conforme suas palavras "por ser inimigo de empréstimos, estando sempre disposto a opor-se a eles, exceto nos casos imprevistos e urgentes, porque são eles que tem levado a nação à situação extrema e a têm tornado endividada". Esse projeto foi rejeitado na sessão de 20 de junho de 1832.
Para a 3ª Legislatura (03-05-1836 a 15-10-1837) não conseguiu eleger-se. Mas como suplente, eleito pela Província de São Paulo, tomou assento, em virtude da morte do titular, durante as sessões de 1836 e 1837. Em 26 de agosto de 1936 pronunciou o mais importante dos discursos, que sobre assuntos econômicos e financeiros lhe foi dado proferir durante a deputação como suplente. Discutia-se o recente tratado com Portugal, em revisão de anteriores, e nos quais se visava especialmente regular o comércio entre as duas nações. Suas tendências, desde o Ministério de 1822-1823, foram pelo livre câmbio. Nesse tempo, como em 1830, a plena liberdade de comércio, a par da inteira equiparação de todas as nações em face do Brasil, foi para ele objetivo constante.
Voltou como deputado efetivo pela Província de São Paulo para a 4ª Legislatura (03-05-1838 a 18-10-1841). Foi nessa Legislatura, bastante agitada, que se deu o episódio histórico, o grande movimento da Maioridade de D. Pedro II em 1840. Em torno dessa aspiração girou a atividade dos mais importantes políticos da época. Dentre esses políticos, Martim Francisco alcançou destaque máximo. Apóia com o prestígio de sua palavra respeitável essa idéia, que se mostrava à nação como o símbolo da salvação pública. Seus discursos na Câmara em favor da "Maioridade" foram incessantes e vigorosos, comor era do seu temperamento. Em muitos deles a eloqüência e a perfeição da forma ombreiam com as expansões do mais ardente e sincero patriotismo. Assim foi na sessão de 16 de julho de 1840, em que defendia a Maioridade: "Quero que o monarca suba ao trono não por amor ao poder, porque nunca o procurei, nem o procuro; não por amor de honras, pequenos nadas, fúteis frivolidades da vaidade humana, porque eu tenho títulos meus nas ações minhas; não por amor de riquezas, paixõ baixa e vil, a que nunca queimei incenso, mas por amor da Pátria, paixão nobre, que arde em meu coração, puro como o fogo de Vesta. Quero o monarca no trono, porque estou persuadido que ele será o anjo da paz, que virá salvar-nos do abismo que nos ameaça; quero que o monarca suba ao trono, porque suponho que é a única medida que pode trazer remédio aos nossos males; quero que o monarca suba ao trono, porque amo essa augusta família, senhores, para cuja defesa e glória tenho contribuído com todo cabedal das minhas forças. Quero, finalmente, para cumprir a promessa dada a um respeitável velho, que jaz hoje na Eternidade, meu falecido irmão, tão injustamente maltratado por tantos, o qual no resto de seus dias dizia não poder morrer contente senão vendo o Senhor D. Pedro II no trono e o sistema constitucional consolidado. Ah! senhores, se eu consigo ver isto, os meus votos estão satisfeitos, e cheio de júbilo posso exclamar com o poeta: oh, Pátria, ainda esta glória me consentes!?"
Verifica-se dos Anais de 1838 e 1839 que lhe foi dado ensejo de reafirmar as idéias por que sempre lutou, o mesmo sucedendo no correr das sessões de 1840. Nestas destacou-se Martim Francisco especialmente ao se debaterem as emendas que o Senado aprovara ao orçamento para 1840-1841. Tais emendas foram discutidas na Câmara em sessão extraordinária para esse fim convocada. Martim Francisco as impugnou, por aumentarem a despesa, o que lhe parecia escapar à competência do Senado. Lendo-se os resumos taquigráficos constantes dos Anais e relativos às sessões a partir de 13 de abril de 1840 observa-se, com interesse, o desenvolvimento dos raciocínios, apoiado nos quais o representante paulista negava à Câmara Alta tão importante contribuição. Ainda por essa época coube-lhe na Câmara parte efetiva no debate do projeto de orçamento para 1840-1842. Além do orçamento foi alvo de grande debate, nas sessões de 1840, a proposta do Governo para aumento da quantia de vários créditos constantes das leis orçamentárias para 1839-1840 e 1840-1841. O debate sobre a proposta, apresentada a 13 de agosto, travou-se nas sessões de 26 a 30 do mesmo mês.
A 23 de julho de 1840 a maioridade é uma realidade, e o ilustre paulista era com o seu irmão Antônio Carlos chamado para o Conselho da Coroa pelo jovem imperador. O mesmo gênio, que tinha assistido o Império nos dias da Independência, fora pela Providência fadado para inaugurar o reinado do segundo imperador dos brasileiros. Retorna ao ministério como secretário e ministro de Estado dos Negócios da Fazenda (1º Gabinete - 2º Império - 24-07-1840 a 23-03-1841) sendo o primeiro ministro desta pasta da Maioridade, como em 1822 fora o primeiro da independência. Martim Francisco atravessara 18 anos de infortúnio para cumprir sua nova missão como Ministro da Fazenda no primeiro ministério do terceiro período imperial. É também difícil a situação financeira do País. Confiante na recuperação da economia, apela para o recurso do empréstimo externo, a fim de cobrir a falta de recursos, resultante do déficit que se verificava nas contas nacionais. Nos dois gabinetes, um governante exemplar, ressaltado nos elogios do escritor Pinto da Rocha no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: "Era proverbial a severidade de seus costumes: corriam parelhas a austeridade, a lucidez do engenho, a energia da vontade e a limpeza das mãos". Para sua glória bastava-lhe a honra de seu nome. A sua segunda passagem pela pasta das Finanças durou menos de nove meses, pois deixou o poder em 1841.
A respeito da obra de financista de Martim Francisco em favor do Brasil, assim escreveu um outro Andrada (Antônio Carlos Ribeiro de Andrada), em seu livro "O ministro da Fazenda da Independência": "Como de tantos outros financistas do Império, tem-se a impressão, diante do seu austero feitio moral, da sua inteiriça envergadura de administrador, da sólida competência e segura visão política, sempre reveladas nos atos com que assinalou sua trajetória pela gestão da Fazenda - de que, se lhe fora dado permanecer demoradamente nos posto, a que ascendeu pelo seu mérito e virtudes, teria edificado uma grande obra, capaz de assegurar ao país, pelo decurso dos anos, no domínio das finanças, tempos mais prósperos, aos invés dos dias sombrios que a nossa história financeira rememora e lastima".
O ministério da Maioridade marcou a última etapa da colaboração assídua de Martim Francisco no debate parlamentar ou na ação administrativa quanto a assuntos de finanças. Dessa colaboração há evidentemente, e ainda hoje, ensinamentos a colher. Mesmo porque todos os seus atos sempre se caracterizaram por uma perfeita integridade moral e um grande valor de estadista. Continuou a militar na política, e em 1841 é eleito membro da Assembléia Geral e Legislativa e da Assembléia Provincial de São Paulo.
Nenhuma parte tomou nos acontecimentos da "Revolta Liberal", em 1842, ocorridos em São Paulo e Minas Gerais, em decorrência das mudanças ministeriais que caracterizaram os primeiros tempos do terceiro período imperial. Não obstante, tanto ele como seu irmão Antônio Carlos foram afastados das honras de camarista do Imperador.
Exerceu a presidência da Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil de 3 a 31 de outubro de 1823. Foi eleito, também, Vice-Presidente, durante o mês de setembro daquele mesmo ano, em segundo escrutínio, no dia 2 do mesmo mês. Foi Presidente da Câmara dos Deputados no período de 04 de maio a 02 de julho de 1831, e de 25 de abril de 1842 a 02 de janeiro de 1843. Era do Conselho de S. M. o Imperador, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Cavaleiro da Ordem de Cristo.
De uma severidade de costumes superior a toda sedução, conservou-se sempre pobre, sem honras. Faleceu no dia 23 de fevereiro de 1844, em Santos, sua terra natal, onde está sepultado.
Deixou escrito:
Manual de minerologia ou esboço do reino mineral, disposto segundo a análise de mr. Forben Bergman, etc.; traduzido por Martim Francisco Ribeiro de Andrada e publicado por frei José Mariano da Conceição Vellozo. Lisboa. 1799-1800, 2 tomos.
Tratado sobre o cânhamo, composto em francês por mr. Morcandier, traduzido em português, etc. Lisboa, 1799, 97 páginas.
Diário de uma viagem mineralógica pela Província de São Paulo no ano de 1805 - Revista do Instituto, tomo 9º, 1847, págs. 527 a 548 e antes na Gazeta Oficial deste ano, não sendo concluído porque "o restante do Diário ou foi distraído ou consumido" como diz a redação desta folha. Dificilmente pode a mesma redação coordenar esse trabalho, escrito em fragmentos de papel e com a letra já gasta pelo tempo, constando de notas que o autor fazia no decurso da viagem, sem as ter corrigido. Não se deve, portanto, procurar nesse trabalho mérito literário, pois o seu mérito está na perspicácia e na exatidão das observações.
Amerique meridionale. Voyage mineralogique dans la province de Saint Paul, du Bresil. Duas partes em um volume. Extraído do Journal des Voyages, 1827, e reimpresso no Bulletim des sciences naturelles, 1829, e por último em apêndice à tradução feita por José Bonifácio da "geologia elementar aplicada à agricultura, com um dicionário dos termos geológicos" de Nereo Boubée, em 1846. A viagem de que se trata é de 1820 pelos dois irmãos e o escrito é feito por ambos.
Jornaes das viagens pela Capitania de São Paulo, de Martim Francisco Ribeiro de Andrada, estipendiado como inspetor das minas e matas e naturalista da mesma capitania em 1803 e 1804. É uma cópia do original que possuia o visconde de Porto Seguro. Está inédito no Instituto Histórico.
Falla que dirigiu aos negociantes e capitalistas desta praça, relativa aos empréstimo de quatrocentos contos de réis para urgências da Província do Rio de Janeiro (1822), 2 folhas. Seguem-se as condições do empréstimo.
Discursos pronunciado na Câmara dos Deputados depois do Relatório do secretário e ministro de Estado dos Negócios da Justiça. Rio de Janeiro. 1832; pronunciado na sessão de 12 de maio de 1832. Rio de Janeiro. 1832; resposta dada em sessão de 15 de maio de 1832 por ocasião de um parecer da Mesa, e discurso pronunciado no mesmo dia, discutindo o voto de graças. Rio de Janeiro. 1832; pronunciado na sessão de 17 de maio de 1832, continuando a discussão do voto de graças. Rio de Janeiro. 1832; pronunciado na sessão de 19 de maio de 1832. Rio de Janeiro. 1832.
Refutação da defesa do Sr. Joaquim Estanislau Barbosa. Rio de Janeiro. 1829. É um opúsculo anônimo, atribuído a este autor e também a seus irmãos. O capitão-tenente Joaquim Estanislau Barbosa era o comandante da charrua "Lucônia" que recebeu os presos José Bonifácio de Andrada e Silva com sua mulher,
Memória sobre a estatística ou análise dos verdadeiros princípios desta ciência, e sua aplicação à riqueza, forças e poder do Brasil - Manuscrito de 85 folhas e pertence ao Instituto Histórico.
Cartas Andradinas. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Vol. XIV, págs. 51 a 69. 1890.
Faleceu a 23 de fevereiro de 1844, em Santos, sua terra natal.
Seu nome é destaque em outras obras:
1 - Nogueira, Octaciano & Firmo, João Sereno. Parlamentares do Império. Brasília, Senado Federal, 1973, v.I, p.59.
2 - Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Arquivo Nacional. Organizações e Programas Ministeriais. 2ª ed. 1962.
3 - Lyra, Carlos Tavares de. Presidentes da Câmara dos Deputados durante o Império - 1826 a 1889.
4 - Lyra, A. Tavares de. Os ministros de Estado da Independência à República. Separata do Vol. 193 da Revista do Instituto Histórico. Rio de Janeiro. Imprensa Nacional. 1949. PP. 84-85.
5 - Coordenação de Publicações. Mesas da Câmara dos Deputados - 1826 a 1982.
6 - Museu da Fazenda Federal. Ministério da Fazenda. Ministros da Fazenda, 1808 - 1983. Rio de Janeiro. 1983. P. 28.
7 - Blake, Augusto Victorino Alves. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Vol. VI, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1900, PP. 244-245.
8 - Sisson, S. A. Galeria dos Brasileiros Ilustres. Vol. II. Senado Federal, Brasília, 1999, PP. 21-30.
9 - Neto, Casimiro Pedro da Silva. A Construção da Democracia. Brasília. Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações. 2003. 751 p.
cd/br/cpsn/fev/2005.