Camilo Maria Ferreira Armond
Camilo Maria Ferreira Armond, barão e VISCONDE DE PRADOS, depois conde (MG) - (3/8/1864 a 9/8/1866) — (16/12/1878 a 18/1/1882)
Camilo Maria Ferreira Armond, barão, depois visconde e conde de Prados. Filho de Marcelino José Ferreira Armond, Barão de Pitanguy. Nasceu na cidade de Barbacena (MG), em 7 de agosto de 1815 e faleceu no Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1882.
Em 1828, aos 13 anos de idade, deixa a casa paterna para estudar no Colégio da Serra do Caraça, onde faz seus estudos preparatórios e os conclui com êxito que tão bem prognosticava-lhe o brilhante futuro literário e científico a que estava destinado. Em 14 de maio de 1832 parte para a França e matricula-se na Academia de Medicina de Paris. Para aprofundar seus conhecimentos em Química, cria um modesto laboratório onde leciona gratuitamente a grande número de estudantes. Ali conhece o Dr. Devergie, antigo professor de clínica no Hotel-Dieu e, nesse tempo, abalisado médico-legista do Bureau Central de Paris que, apreciando devidamente o mérito já notável de Camilo Armond, convida-o para seu ajudante-preparador, confiando-lhe sempre as substâncias suspeitas para serem analisadas nos casos de pesquisas médico-legais.
Continuando seu curso médico com a maior distinção, conclui-o, brilhantemente, a 27 de novembro de 1837, dia que em defendeu sua tese inaugural — Essai sur l'étude de la vie, trabalho original que prova ao mesmo tempo os sérios estudos e as energias ousadas de seu talentoso autor. Foram ali exaradas, com a coragem das convicções profundas, proposições inteiramente contrárias às doutrinas então dominantes (escola de Broussais) e por isso mesmo consideradas como verdadeiros paradoxos. O tempo veio, porém, em breve justificar as idéias enunciadas pelo pesquisador Camilo Armond, consagrando-as como verdades científicas. Se a tese foi destarte uma magnífica vitória, triunfo não menor obteve em sua defesa, e tão assinalado que causou sensação entre os julgadores: o professor Rostan, presidente do ato, declarou que sobre ela faria uma lição, convidando o jovem doutorando a assisti-la, seguindo-se estrondosa manifestação por parte dos estudantes que acompanharão o esperançoso e laureado mineiro até sua residência.
Regressa ao Brasil em 1838, fixando-se em sua cidade natal, onde dedica-se infatigavelmente ao exercício da medicina até 1851, ano em que falece seu pai. Desgostoso, abandona a clínica, não deixando, entretanto, de atender em sua residência aos numerosos doentes que vinham consultá-lo de todos os pontos de Minas Gerais, e mesmo fora dela, até de Goiás e da Bahia.
Perdura ainda a extraordinária e merecida fama que tinha como médico, e quanto aos sentimentos caridosos com que sabia exercer sua profissão temos um depoimento que vale, pela sua origem respeitável, como o manifesto de uma população inteira. É o seguinte trecho de uma carta referente ao ilustre Conde de Prados, escrita a 4 de novembro de 1887 a seu digno genro e sobrinho, o Dr. Camilo Maria Ferreira da Fonseca, pelo sacerdote e distinto poeta mineiro, o Revmo. Padre José Joaquim Corrêa de Almeida. Diz ele: "Não estou habilitado para confirmar a opinião de que, como médico, não havia outro que o excedesse neste Império, mas posso afirmar, com pleno conhecimento, que, no desinteresse com que exerceu sua nobre profissão, é difícil achar-se outro que o iguale ou dele se aproxime." Há ainda outros e não menos eloqüentes testemunhos dos profundos sentimentos filantrópicos do Dr. Camilo Armond. Entre eles destaca-se o magnífico Hospital de Misericórdia de Barbacena, fundado em 1856 e instalado no dia 1º de janeiro de 1858. Pode-se dizer que esse estabelecimento foi feito a expensas suas, visto haver recusado a herança que lhe oferecera seu respeitável tio e padrinho, o Sr. Antônio José Ferreira Armond, aconselhando-o que a aplicasse na fundação de uma casa de caridade, de cujo plano, construção e organização de serviços ainda generosamente se encarregou.
Registra-se ainda que o seu mais belo e grandioso gesto de sentimento filantrópico e de caridade cristã está no fato de que libertou mais de 500 cativos, evitando sempre, com o maior cuidado, a publicidade dos atos com que resgatava os infelizes da ignomínia e dos horrores da escravidão.
Não contente com as láureas de médico notabilíssimo, uma das sumidades de sua classe no Brasil, o Dr. Camilo Armond cultivou, com êxito extraordinário, outros e nos mais variados ramos do conhecimento humano: as Ciências Naturais e Matemáticas, especialmente a Astronomia, e as Ciências Sociais, entretendo relações com sábios europeus, como o eminente botânico professor Martius, a quem auxiliou, classificando e preparando a flora do Planalto da Mantiqueira. Do estimado astrônomo francês professor Liais, ao ausentar-se este para a Europa quando o governo brasileiro tratava de reorganizar o Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, partiu a indicação de seu nome para substituí-lo na direção daquele importante estabelecimento. Serviu durante quatro anos nesse elevado cargo, recusando receber os ordenados consideráveis que lhe competiam, e ainda doando ao referido observatório instrumentos de expressivo valor. O filântropo era um sábio, e o sábio era um patriota exemplar.
Foi político e político notável. Ora lidador ativo e fervoroso na imprensa e nos acampamentos revolucionários, ora legislador adiantado e prudente, honrando sua cadeira no parlamento brasileiro; ora à frente do governo, impulsionando criteriosamente a administração pública, ora no Conselho de Estado, do qual, finalmente, foi membro digníssimo, dos mais operosos e instruídos.
Reorganizou o partido liberal de Barbacena em 1840 e no mesmo ano fundou ali, em apoio à revolução parlamentar da Maioridade de D. Pedro II, a folha "Echo da Razão", logo após órgão oposicionista, que é redigido habilmente até o início do movimento revolucionário iniciado naquela cidade a 10 de junho de 1842, movimento que teve no Dr. Camilo Armond um de seus principais líderes, juntamente com Teófilo Otoni.
Denunciado como um dos líderes, logo após o término da rebelião liberal, esteve preso alguns meses, mas foi unanimente absolvido por ocasião de seu julgamento, permanecendo inflexível em suas crenças políticas, embora se afastando das lutas partidárias. Mais tarde voltou a elas, prestando ao Partido Liberal, ao qual sempre pertenceu, notáveis e assinalados serviços. Em reconhecimento destes não lhe faltaram solenes provas de apreço e de confiança de seus correligionários, que o elegeram, pela primeira vez, em março de 1842, para deputado à Assembléia Geral Legislativa legislatura (dissolvida por decreto de 1º de maio desse mesmo ano), sendo reeleito em seis legislaturas, ocupando em três delas o alto cargo de presidente da Câmara dos Deputados, magistratura que soube exercer, a contento de amigos e de adversários, pela imparcialidade e retidão com que nela invariavelmente procedia.
Em diversas eleições senatoriais de Minas, seu nome recebeu numerosos votos, e se não conseguiu eleger-se, temos do fato explicação cabal nas seguintes palavras firmadas pelos seu ilustre conterrâneo e amigo, a quem já nos referimos, o Revmo. Padre Corrêa de Almeida: "Os amigos altamente colocados nunca o quiseram por companheiro nas combinações de lista senatorial, porque sabiam que o Imperador lhe tinha predileção, e desconfiavam que o escolheria."
Em janeiro de 1878 foi nomeado presidente da Província do Rio de Janeiro, e a 18 deste mês empossou-se no cargo em cujo exercício, sem faltar à lealdade devida aos correligionários, conciliou habilmente, pela moderação e justiça de seu procedimento de governo, idêntica atitude dos adversários. Era conservadora a maioria da Assembléia Legislativa provincial. Não obstante, obteve dela amplos meios para bem gerir os serviços públicos, inclusive avultados créditos que lhe pedira com a intenção de custear ou iniciar melhoramentos de grande alcançe para a administração fluminense.
Por decreto de 5 de abril de 1879 foi nomeado conselheiro de Estado, e na seção de fazenda, da qual era freqüentemente relator, deu pareceres notáveis, mesmo em assuntos que não eram, até então, objeto de seus habituais estudos, como os que se referem a finanças, Direito Fiscal e Mercantil, questões econômicas, organização bancária, etc. Os seus pareceres e votos foram reunidos em opúsculo. Nesses trabalhos, escritos, aliás, sem preocupações de erudição, transparecem os sólidos e variados conhecimentos do autor, mesmo nas matérias de seus novos estudos, a par do mais apurado bom senso no modo de considerá-las e de apreciações sempre lúcidas e corretas dos fatos e dos princípios que investigava. Demonstram ainda o mérito do honrado estadista: a respeitabilidade se seu caráter, constantemente íntegro e zeloso na defesa da lei e dos interesses nacionais, resistindo sempre, com firmeza e austeridade exemplar, a pretenções de empresas ou de indivíduos não justificadas ou não justificáveis à luz do direito.
O Dr. Camilo Maria Ferreira Armond recebeu as seguintes comendas e títulos: Comendador da Ordem de Cristo, Dignitário da Rosa, Barão, Visconde e Conde de Pradosa.
Representou a província de Minas Gerais nas seguintes legislaturas da Assembléia Geral Legislativa do Império do Brasil:
1842 — eleito, não tomou posse. A Câmara dos Deputados foi dissolvida por o Decreto de 1º de maio de 1842, do Imperador D. Pedro II.
3/5/1848 a 19/2/1849 — 7ª leg.
1/1/1864 a 16/9/1866 — 12ª leg.
22/5/1867 a 18/7/1868 — 13ª leg.
15/12/1878 a 30/6/1881 — 17ª leg.
Foi eleito presidente da Câmara dos Deputados por oito (8) vezes seguida no período de 3 de agosto de 1864 a 9 de agosto de 1866 e por quatorze vezes seguida no período de 16 de dezembro de 1878 a 18 de janeiro de 1882.
Seu nome é destaque em outras obras:
1 — Octaciano Nogueira e João Sereno Firmo, Parlamentares do Império. p. 70, 583, 587, 588 e 590.
2 — José Pedro Xavier da Veiga, Efemérides Mineiras. vol. III pp. 240 a 246.
3 - Ministério da Justiça e Negócios Interiores, Arquivo Nacional, Organizações e Programas Ministeriais. 2ª ed. 1962, pp. 297, 306, 338, 345, 368, 427, 446 e 469.
4 - Carlos Tavares de Lyra, Presidentes da Câmara dos Deputados Durante o Império — 1826 a 1889.1976.
5 - Coordenação de Publicações, Mesas da Câmara dos Deputados — 1826 a 1982. pp. 193 a 201 e 249 a 262.
6 - Neto, Casimiro Pedro da Silva Neto. A Construção da Democracia. Brasília. 2003. 751p.
cd/br/cpsn/nov/2005.