Rádio Câmara

Reportagem Especial

Plano Nacional do Desporto: nação esportiva

03/12/2018 -

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“Nação verdadeiramente esportiva”. O que vem à sua mente ao ouvir essa expressão? Eu aposto que é a imagem de vários atletas especialmente fortes e habilidosos com medalhas olímpicas no peito. Bem, isso é apenas parte do que propõe o Plano Nacional do Desporto, elaborado pela Comissão de Esporte da Câmara e aprovado pelo Conselho Nacional do Esporte. Manter o Brasil entre os 15 primeiros colocados no quadro de medalhas nos Jogos Olímpicos de 2020 e colocar o País entre os cinco primeiros colocados nos Jogos Paralímpicos do mesmo ano são apenas duas das 21 metas do plano. O relator do documento, deputado Evandro Roman, do PSD do Paraná, apresenta outros públicos que devem ser beneficiados pelas políticas públicas de esporte.

Evandro Roman: “Nem sempre quando você produz um trabalho voltado pro esporte você visa unicamente o esporte de alto rendimento, mas busca-se também aquela pessoa que na infância cria o hábito da prática da atividade física por uma modalidade esportiva e que futuramente venha a desenvolver o gosto pela prática da atividade física, minimizando os problemas de saúde provocados pelo sedentarismo e também provocados pela obesidade.”

A Comissão se apoiou em dados que mostram que apenas 22% da nossa população pode ser considerada praticante regular de atividade física nos moldes propostos pela Organização Mundial da Saúde. E que 65% dos alunos de 13 a 17 anos tiveram em 2015, no máximo, uma aula de educação física na semana, enquanto estudos realizados nos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália apontam a necessidade de três aulas por semana.

Diante desse cenário, o Plano propõe diretrizes, metas e ações para o esporte nacional considerando as quatro manifestações do esporte presentes na Lei Pelé: desporto educacional, geralmente realizado na aula de Educação Física; desporto de participação, que é aquele praticado de modo voluntário, buscando o lazer, a saúde e a qualidade de vida; desporto de rendimento, que é o esporte de competição e profissional; e desporto de formação, que busca promover o aperfeiçoamento da prática desportiva. O diretor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília, Fernando Mascarenhas, defende que a aula de Educação Física não seja um espaço para garimpar campeões.

Fernando Mascarenhas: “Nossas crianças são educadas sob o ponto de vista da formação esportiva para se tornar um grande atleta. Então o que experimentam, em grande medida, é a frustração porque muito poucos vão ser identificados como um talento, muito poucos vão ter habilidade suficiente para prosseguir na sua experiência com as práticas corporais segundo a lógica do alto rendimento. Então o que acontece é que essas crianças não desenvolvem o gosto pela atividade física ou pelo esporte. Então, quando elas chegam na fase adulta, se elas não têm gosto, elas abandonam a atividade física.”

Essa nação verdadeiramente esportiva, nas palavras do presidente da Associação Brasileira dos Secretários Municipais de Esporte e Lazer, Humberto Panzetti, não é feita só de medalhas de ouro, mas de pessoas praticando esporte com finalidade educativa, de lazer e de promoção da saúde. E, para isso, é preciso haver planejamento e investimento em políticas públicas.

Humberto Panzetti: “Primeiro que eu acho uma grande besteira o legado ser medalhas de ouro. Se isso provasse melhoria de sociedade, qualidade de sociedade, os Estados Unidos, que é o grande ganhador de medalhas, não teria problema de obesidade e todos os problemas que ele tem. Nós queríamos que o legado aumentasse como aumento em Sidney e Barcelona, efetivamente, o valor de investimento ao esporte educacional.”

Em dezembro de 2016, as Nações Unidas aprovaram uma resolução em que reconhecem o esporte como meio de promoção da educação, da saúde, do desenvolvimento e da paz. Em 2017, o escritório do Pnud no Brasil, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, publicou o Relatório de Desenvolvimento Humano sobre Atividades Físicas e Esportivas, o primeiro do mundo sobre o tema, em que defende as atividades físicas e esportivas como um vetor de desenvolvimento humano.

No Brasil, segundo Panzetti, o que se vê após a chamada década esportiva, com a realização de diversos megaeventos internacionais, é a redução da importância política e orçamentária do esporte, com o fechamento de diversas secretarias municipais e estaduais e o fim do Ministério do Esporte como pasta autônoma.

Humberto Panzetti: “Política pública só se faz com orçamento. Política pública sem orçamento é discurso político e qualquer mentira serve. Esporte é bom pra isso, esporte resolve aquilo, esporte tira a criança da rua, mas ter política pública é ter orçamento pra isso. Estamos num país em que, dos 6 mil municípios, 32% sequer têm orçamento pro esporte. Dois mil municípios não têm orçamento pro esporte! Dos 4 mil que sobram, 95% deles tem menos de 0,5% atrelado ao esporte.”

Para 2019, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou a criação do Ministério da Cidadania, que vai reunir as atuais pastas do Desenvolvimento Social, Esporte e Cultura.

O deputado Danrlei de Deus Hinterholz, do PSD do Rio Grande do Sul, que presidiu a Subcomissão Especial do Plano Nacional do Desporto, se diz contrário ao fechamento do Ministério do Esporte, mas acredita que a mudança não afetará a aprovação do Plano, que ainda precisa voltar para a Câmara dos Deputados na forma de um projeto de lei de iniciativa do Poder Executivo.

Danrlei de Deus Hinterholz: “Embaixo do ministério que estiver vai ter pessoas pra cuidar do esporte, pelo menos eu espero. A ideia é que a gente converse com ele e tenha noção do que ele imagina do esporte, do que ele pensa. Passar pra ele também o plano, aquilo que a gente gostaria que pudesse acontecer com o esporte, que ele desse o apoio ao esporte porque ele realmente é uma grande arma. No momento que você trabalha o esporte, você está pensando no futuro, no futuro da educação e no futuro da saúde.”

Por meio de sua conta no Twitter, o presidente eleito afirmou que, como professor formado na Escola de Educação Física do Exército, tem consciência do valor do esporte na vida de todos, principalmente na busca de empregos, na saúde e no combate à criminalidade e ao uso de drogas.

No segundo capítulo da série, entenda o que é esporte de participação.

Reportagem - Verônica Lima
Produção - Lucélia Cristina
Edição - Marcello Larcher e Ana Raquel Macedo
Trabalhos Técnicos - Nilton Gomes e Carlos Augusto de Paiva

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h